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‘Seremos’: Flamengo revive sonho em Lima e é tetra da Libertadores

Flamengo campeão Libertadores 2025 taça

(Gilvan de Souza e Adriano Fontes / Flamengo)

Flamengo gol campeão Libertadores 2025 Danilo

(Gilvan de Souza e Adriano Fontes / Flamengo)

De repente o mundo para. A bola viaja pelo alto rumo ao encontro com uma camisa rubro-negra. Lembra 2019. Mas é 2025. Tudo parece levitar. A energia que emana de Lima, claro, é em vermelho e preto. “Seremos”, berram intimamente almas espalhadas pelo mundo. O grito abafado está louco para sair. Expandir. Ganhar casas, ruas, prédios. Todos menos alguns. A redonda, que coisa, vai mesmo na testa de um flamenguista. É Danilo, de Bicas. Poderia ser Arthur, do Rio. Gabriel, de São Bernardo do Campo. João, do Cedro de São João. São mesmo todos menos alguns. A pelota, marota, se entrega à rede num mergulho gostoso, rolando pela bochecha e pelo fundo. O mundo volta, acelerado. Explode. 90 minutos no Monumental de Lima é muito tempo. Mas parece pouco para tanta história. Um gol. 1 a 0. Mais uma taça. A quarta. Quem tem mais, tem quatro.

A cada conquista de Libertadores o Flamengo pode atribuir uma característica. Em 81, a primeira, histórica. Em 2019, a fábula espetacular. Em 2022, a campanha perfeita. Em 2025…um time copeiro. À la Boca Juniors em sua época dourada com Bianchi, Riquelme e companhia. Pois este Flamengo, amigos, é isso. Um clube épico em Libertadores, temido em canchas de sudamérica. Quatro finais em sete anos. Três plaquinhas na taça. O primeiro tetracampeão brasileiro. Não é pouco.

Flamengo no primeiro tempo: Varela por dentro, Lino com vigor físico

Impossível negar o desejo de grande parte dos rubro-negros por uma vingança por 2021. Mesmo dentro do elenco havia seus personagens. Bruno Henrique, Arrascaeta, Michael e Filipe Luís. Antes jogador, agora técnico. O símbolo de uma sobriedade difícil de encontrar no comando rubro-negro em décadas. Conhece o clube e comanda a equipe sem arroubos. É até cobrado por isso. Pois Filipe sente. Sabe. Não se tratava de uma mera decisão. Um confronto diante de um grande, o Palmeiras, tão papão nas Américas nos últimos anos como o próprio Flamengo. Mas Lima é rubro-negra em essência. Nas calles, no campo, na energia quase palpável do Monumental. Fez-se rubro-negra por gosto. Não há rubro-negro que não leve lembranças daquela tarde de 23 de novembro de 2019.

Preparado, o Flamengo precisava jogar futebol. Ter um plano, ficar aquém da efervescência das calles e da arquibancada, pulsante. Foi a campo no 4-4-2 usual, Bruno Henrique e Arrascaeta por dentro. Lino pela esquerda para usar toda vitalidade em avanços verdes. Carrascal à direita, caindo por dentro, por fora. Um colombiano que baila, a parecer descompromissado como um garoto que disputa pelada nas ruas de Cartagena. Mais atrás, Jorginho e Pulgar no revezamento para fazer a saída de bola. E a defesa por vezes intransponível. Mas com Danilo. Ter a posse seria essencial. E o Palmeiras contribuiu.

Palmeiras no início: sem volante de origem, espaço pelo meio

Abel Ferreira flertou com o blefe ao poupar todo o time pelo Campeonato Brasileiro. Parecia improvável dar a escalação completa a Filipe Luís com tanta antecedência. Mas deu. Um 3-5-2 com Khellven e Piquerez como alas. Bruno Fuchs à direita, Gómez por dentro. Pela frnete, nenhum volante ofício. Raphael Veiga e Allan mais adiantados. a dupla Flaco López e Flaco López. E ele, Andreas Pereira, quase como um primeiro volante. Emocionalmente, Andreas não conseguiu atuar. Sentiu o peso de uma arquibancada que o xingava constantemente. E Abel, então, entregou o que queria o Flamengo. Posse e espaço no meio pouco combativo. Havia um buraco para o trabalho rubro-negro. Filipe pensou bem. Acionar Varela, o melhor em campo. Bruno Henrique arrastava Murilo, o meio sobrava. O uruguaio aparecia. Solto, leve. E impossível.

Por ali o Flamengo teve oportunidades, como a de Bruno Henrique logo no início da partida, em chute para cima. O Palmeiras estava resignado com a bola longa invariavelmente para Vitor Roque correr em cima de Danilo. Por vezes, o jovem atacante conseguia dominar, girar. Mas era um Flamengo tão presente, tão encarnado do desejo de vencer que logo era desarmado ao ser cercado. Jogo pobre, aquém de tantos milhões e badalação. É verdade, claro, que o árbitro Dario Herrera deveria ter expulsado Pulgar por entrada incompreensível em Bruno Fuchs. Poderia, ali, pôr tudo a perder. Contou com a benevolência do apito. Assim como Raphael Veiga por entrada em Carrascal ainda antes. Lance um pouco mais leve, mas também passível de vermelho. Reflexos, talvez, do desejo de negar ao rival o doce gosto do tetra.

Se o primeiro tempo foi truncado, o segundo trouxe times mais dispostos a correr riscos. E o Flamengo, taticamente superior, foi que mais se aproximou da vitória todo o tempo. Alternava os lados, tentava atrair o Palmeiras e aproveitar os lados. Abel insistia em ter seu time a apostar em bola longa contra a linha defensiva rubro-negra. Em vão. Allan era a melhor opção. Garoto arisco, habilidoso, responsável pela classificação diante da LDU. Quando começou a levar vantagem diante de Samuel Lino e Alex Sandro acabou inexplicavelmente sacado logo após o gol de Danilo. O reflexo de 2021 ainda era tão palpável que tão logo Murilo errou uma saída de bola – e Arrascaeta quase marcou – a lembrança de Andreas Pereira e o maior erro esportivo da história rubro-negra imediatamente foram rememorados.

Fla ao fim: time renovado, com físico em dia e Carrascal por dentro

O voo de Danilo permitiu ao Palmeiras, enfim, se libertar. Assumir o gosto pelo jogo mais rudimentar, com as insistentes levantadas de bola na área e o posicionamento dos zagueiros como centroavantes. Gómez foi bem na defesa, mas dificilmente teria como acrescentar no ataque. Eram necessárias ideias. Filipe as tinha. Tão logo Arrascaeta abaixou o ritmo, Luiz Araújo entrou. O mesmo ocorreu com Lino e Cebolinha. Cheio de gás, oxigenado, o Camisa 11 passou a dialogar com a arquibancada. Prendia a bola, driblava. Enervava o Flamengo. Era difícil pensar em uma epopeia verde em Lima. Quando Vitor Roque chutou chance clara e foi travado por Danilo, ficou provado. O território, definitivamente, é rubro-negro.

Palmeiras ao fim: bola na área e zagueiros como centroavantes

Em vários momentos, o elenco demonstrou que sabia dialogar com a massa. Não apenas pelo desejo da taça. Juninho, geralmente preterido, entrou e perseguiu Andreas. Trombou, por duas vezes, com o agora palmeirense. Seduziu a torcida pelo gestos. Um Flamengo inteiro, muito melhor preparado física e, especialmente, taticamente para o embate em relação a 2021. Teve 60% de posse, trocou 443 passes contra 281 do Palmeiras e não sofreu nenhuma finalização no gol. Imponente.

Difícil dizer qual o lugar na História deste Flamengo. Fácil dizer qual o lugar de Lima na História rubro-negra. Foi lá que a segunda grande era de ouro em vermelho e preto se abriu nos cinco minutos mágicos de 2019. Lá que os caminhos se abriram para o tricampeonato em 2022. Lá que a quarta placa foi conquistada. Em um dia 29, como em 2002. Em novembro, como em 81. No Monumental, como na fábula de 2019. Ao fechar o olho, qualquer alma rubro-negra vai lembrar como Danilo cabeceou no canto, chegou a sentir o gosto de Zico e Gabigol. Vai entender que a rampa do Maracanã ganhou mais uma lendária história para ser saboreada entre gerações. Baixinho, o rubro-negro falava a outro: “Seremos”. Agora, o tempo verbal muda. “Somos”. Tetracampeões da América.

FICHA TÉCNICA
PALMEIRAS 0X1 FLAMENGO

Data: 29 de novembro de 2025
Local: Monumental, em Lima (PER)
Árbitro: Darío Herrera (ARG)
VAR: Héctor Paletta (ARG)
Acréscimos: 3’/1T e 5’/2T
Público e renda:
Cartões amarelos: Raphael Veiga, Piquerez, Murilo, Mauricio (PAL) e Arrascaeta, Pulgar, Jorginho (FLA)
Gols: Danilo (FLA), aos 21 minutos do segundo tempo

PALMEIRAS: Carlos Miguel, Bruno Fuchs, Gustavo Gómez e Murilo (Giay, 32’/2T); Khellven (Ramon Sosa, 32’/2T), Andreas Pereira, Allan (Facundo Torres, 26’/2T), Raphael Veiga (Felipe Anderson, 26’/2T e depois Mauricio, 41’/2T) e Piquerez; Flaco López e Vitor Roque
Técnico: Abel Ferreira

FLAMENGO: Rossi, Varela, Danilo, Léo Pereira e Alex Sandro; Pulgar, Jorginho, Carrascal e Samuel Lino (Everton Cebolinha, 22’/2T); Arrascaeta (Luiz Araújo, 34’/2T) e Bruno Henrique (Juninho, 39’/2T)
Técnico: Filipe Luís