Flamengo campeão brasileiro 2025
Viver é melhor do que sonhar: Flamengo levanta o eneacampeonato
04 dezembro 23:43

Sobre Jorge e Filipe

Jorge Jesus Filipe Luís

(Alexandre Vidal / Flamengo)

Jorge Jesus Filipe Luís

(Alexandre Vidal / Flamengo)

Era inevitável. Aconteceria. Talvez não de maneira tão meteórica, mas está tudo posto na mesa. As comparações entre Jorge Jesus e Filipe Luís. Mestre e discípulo. Chega a ser curioso. Tipo físico, cabelos longos, paixão quase obsessiva por futebol e seus pormenores. Ambos se parecem, inegável. Divergem muito no jeito de levar a vida à beira do campo. Jorge Jesus é explosivo. Filipe, contido na maior parte do tempo. A imagem de Alexandre Vidal, então fotógrafo do Flamengo, na véspera da decisão da Libertadores de 2019, no estádio Monumental, em Lima, acabou por ser mesmo profética. O então presente olha para o futuro. Com a repetição do feito do velho JJ nas taças de Libertadores e Brasileiro há o questionamento em parte da torcida. Um superou o outro? Pois ouso aqui responder: não.

Simplesmente porque um é a extensão do outro. Como se fossem parte da mesma ideia, do mesmo processo. Jorge Jesus abriu os caminhos no futebol brasileiro. Não reinventou, mas chacoalhou o padrão do jogo praticado por aqui. Marcação pressão, futebol ofensivo, a volta de dois atacantes – e não pontas. A obsessão pela agressividade aliada à posse de bola. Dali tudo se partiu. Do futebol obsoleto do campeão Palmeiras sob a batuta de Luiz Felipe Scolari a um time encantador, capaz de aniquilar adversários já a partir de seu primeiro jogo no Maracanã. A dúvida sobre o Flamengo de 2019 era sempre sobre quanto seria o placar. A vitória, quase que inevitavelmente, estava garantida. Quantos estrangeiros não invadiram o futebol nacional a partir de Jesus? No próprio Flamengo Domenech Torrent, Paulo Sousa, Vitor Pereira. Por aí Artur Jorge, Pepa, Vojvoda, Milito, Antônio Oliveira, Pedro Caixinha, Luís Zubeldía, Palermo e, claro, Abel Ferreira.

É curioso e um detalhe nem sempre é lembrado: sem Jorge Jesus não existiria Abel. Contratado como terceira opção exibia uma credencial: ser o algoz de JJ, o técnico do time grego que bateu o experiente português já de volta ao Benfica. Jorge Jesus estabeleceu a famosa régua de 2019. Cinco títulos e quatro derrotas em um ano. Nem mesmo o papo surrado de que enfrentou adversários mais fracos cola. Estaria à frente do seu tempo caso fosse hoje. Pelé, afinal, não jogou contra fazendeiros. Aqui, o português se transformou numa espécie de Santo Graal da bola.

Filipe o sucede talvez no imaginário, possivelmente afasta a sombra do Bom Velhinho rubro-negro por ter conexão profunda com o clube e ter conseguido uma ascensão absolutamente meteórica. Seu time, no entanto, é menos agressivo, passional. Caracteriza-se mais por uma defesa quase intransponível, com calma para trocar passes. Em vez de fúria, racionalidade. Ainda assim há – vários – momentos de encanto. Pela frente, o Mundial de Clubes que faltou na parede de JJ. Filipe pode até conquistar o mundo de novo para os rubro-negros. Mas é o sucessor de Jorge. Não um substituto pronto para batê-lo diante de um panorama tático e um caráter emocional absolutamentes inesquecíveis. Sorte do Flamengo.