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A arte de oferecer o que pode faz o Vasco arrancar aplausos e um empate com o Racing

Wagner Vasco Libertadores gol 2018 Racing

(Carlos Gregório / Vasco)

Wagner Vasco Libertadores gol 2018 Racing

(Carlos Gregório / Vasco)

Os dias posteriores à goleada sofrida pelo Vasco diante de um avassalador Racing em Buenos Aires foram em busca de motivação de forma quase mística. Aquela fé que apenas o fiel apaixonado é capaz de carregar ao lado da cruz de malta. Traçar coincidências como se o destino fosse tão caprichoso a ponto de ignorar enormes diferenças de qualidade. Lembravam, pois, que o Vasco de 98 também largou mal na fase de grupos da Libertadores da qual saiu campeão. Um “sí, se puede” bem à brasileira, como o único caminho para salvar a classificação. Claro, o panorama atual é bem menos açucarado do que a campanha histórica. Mas se a classificação parece improvável, o empate em 1 a 1 com o Racing em São Januário serviu para alentar o torcedor de uma única maneira: este elenco do Vasco deixa tudo em campo. Oferece o que de fato pode dar.

Vasco no início: laterais mais seguros, Rildo e Galhardo acelerando

Parece pouco – e de fato até mesmo é. Há de se convir, porém, que embora em um mundo utópico extrema dedicação seja algo básico, o futebol brasileiro foge bastante disso em sua realidade paralela. Por mais bem remunerados que sejam há várias equipes que entregam menos do que podem. O Vasco, não. Combalido com o caos político que quebrou sua espinha dorsal em dois pontos – Anderson Martins e Matheus Vital – o Vasco nem mesmo saberia se iria viajar para estrear na Libertadores. Mas está nela. Decepciona, claro, por apresentar um jogo fraco para duelar em um grupo tão forte. Mas é capaz de arrancar aplausos ao fim da peleja porque o torcedor, no fundo, sabe que a realidade é essa. O elenco entrega o que é possível.

Zé Ricardo mandou o Vasco a campo no 4-2-3-1 já tradicional. Rildo e Wagner pelos lados, tentando equilibrar velocidade e cadência. Thiago Galhardo, por dentro, indicava um time mais veloz e disposto a incomodar o Racing. Pikachu e Henrique, no entanto, se resguardavam mais do que o ideal. Claro, o trauma ainda era recente. 4 a 0 retumbantes, com dois pênaltis perdidos, mas o ataque feroz ainda estava ali. O Racing, ciente da superioridade, chegou ao Rio para cozinhar o jogo. Tocar de pé em pé. Por isso, trocou velocidade por maior cadência.

Racing no início: cadência e aceleração apenas com Centurión e Lautaro

Manteve o 4-1-3-2 de Avellaneda, mas trocou peças. Zaracho, um capeta em forma de guri na cancha portenha, e Solari sentaram ao banco para de Diego González e Neri Cardozo. O Racing cadenciava, mantinha a posse para só acelerar quando a bola caía nos pés de Centurión e Lautaro Martínez. O Vasco tentou fazer a pressão inicial, mas logo viu que o adversário mantinha a superioridade do primeiro jogo. Zé optou por manter Wagner à esquerda, mais cadenciado, para encarar o lateral Saravia, arma fundamental no jogo de ida. O argentino, no entanto, segurava o passo. Não precisava acelerar. A ideia era outra. Talvez Rildo, posicionado à direita, lhe desse mais trabalho. O Vasco lutava, corria, se movimentava. Mas era o Racing o dono do jogo. Tinha o controle absoluto. Mais veloz ou mais lento. Na dose exata.

Quando o Vasco conseguiu cercar a área, apelando para lançamentos e bolas longas, tomou o golpe. Lançou-se à frente, tentando empurrá-lo em seu campo. Erro fatal. Caiu na teia de Eduardo Coudet. Em um escanteio vascaíno, o rebote repousou nos pés de Centurión. Que deixou o jogo cadenciado de lado e acelerou pela direita. Desábato tentou acompanhá-lo. Paulão, que voltava desesperado da área rival, também. Ao trazer para dentro, ele não só fez os dois rivais trombarem como enxergou Lautaro Martínez, rápido, letal, entrar na área. Após a rolada suave, a primeira finalização do camisa 10 bateu em Martín. A segunda morreu no gol. 1 a 0.

A torcida vascaína, diga-se, não abriu mão de seu papel. Explodia na arquibancada, pulsava para empurrar o time. A fé na cruz de malta não poderia falhar. O time corria, se movimentava. Mas corria mais atrás da bola do que permanecia com ela. Não foi à toa que o Footstats apontou ao fim do primeiro tempo: 62% de posse para o time argentino, com duas finalizações no alvo contra nenhuma do time vascaíno.

Vasco ao fim: menos um, laterais liberados e pressão no ataque

O segundo tempo, talvez, convidasse a uma mudança. Um tudo ou nada pela melhora. A derrota praticamente sepultaria qualquer chance vascaína de seguir na Libertadores e ameaçaria seriamente até o terceiro lugar e a consequente vaga na Copa Sul-Americana. O Racing manteve o time, mas foi bem mais incisivo. Abandonou de vez o acelerar do jogo. Cadência, cadência e cadência. No conforto argentino, Desábato errou a passada e acabou expulso com o segundo amarelo logo com dez minutos. Então, a arquibancada, após minuto de silêncio, berrou. Tentou energizar o time. E Zé Ricardo demorou, mas enfim se rendeu.

Racing ao fim: estrutura mantida, mas bem menos interessado no jogo

No meio da segunda etapa, sacou Wellington, em má fase com muitos erros de passe e posicionamento aleatório, saiu para a entrada do atabalhoado Riascos. Representou bastante o que o Vasco precisava. Jogar-se ao ataque, a pleno coração. O problema foi a falta de quem cobrisse o time com o jogador a menos. Em dez minutos, Zé corrigiu. Pôs Bruno Silva no lugar do esgotado Rildo. À frente Wagner e Thiago Galhardo, com Riascos e Andrés Ríos, um símbolo de dedicação. Com um a menos em campo e um Racing claramente satisfeito com o placar mesmo com a entrada de Zaracho, o jogo vascaíno cresceu. Curioso que o time, após tantas tentativas com cruzamentos à área – seriam 36 ao fim da peleja – tenha chegado ao gol em jogada trabalhada. Pikachu avançou ao meio e recebeu de Bruno Silva. Tocou em Thiago Galhardo, centralizado, que avançou para achar Andrés Ríos. No giro do argentino, a batida forte que fez Musso espalmar nos pés de Wagner, que apenas completou. A dez minutos do fim, a Colina explodiu. 1 a 1.

Não havia ali a mínima lógica. E daí que o Racing era superior? E daí que mesmo com o empate a classificação ainda teria um caminho tortuoso? O Vasco se lançou. Deu tudo que podia. Sí, se puede. Fabrício ainda substituiu Thiago Galhardo. O Racing, pela primeira vez no confronto, se encolheu. Sentiu o galopar da arquibancada e arriscou perder o jogo. Não por ter um desafio técnico à altura. Mas, sim, porque o Vasco atual é um time que luta até o fim. As limitações técnicas são evidentes. A classificação é, sim, muito improvável. Mas o Vasco oferece tudo que pode. É digno. Mesmo no mundo irracional da arquibancada, às vezes pode ser o suficiente para arrancar aplausos.

FICHA TÉCNICA
VASCO 1X1 RACING

Local: São Januário
Data: 26 de abril de 2018
Horário: 21h30
Árbitro: Diego Raro (PER)
Público e renda: 9.911 pagantes / 10.379 presentes / R$ 596.528,00
Cartões Amarelos: Henrique, Werley (VAS) e Neri Cardozo, Barbieri, Soto e Zaracho (RAC)
Cartão vermelho: Desábato (VAS), aos 13 minutos do segundo tempo
Gols: Lautaro Martínez (RAC), aos 31 minutos do primeiro tempo e Wagner (VAS), aos 35 minutos do segundo tempo

VASCO: Martín Silva; Yago Pikachu, Paulão, Werley e Henrique; Desábato e Wellington (Riascos, 24’/2T); Rildo (Bruno Silva, 34’/2T), Thiago Galhardo (Fabrício, 41’/2T) e Wagner; Andrés Ríos
Técnico: Zé Ricardo

RACING: Musso; Saravia, Sigali (Barbieri / Intervalo), Donatti e Soto; Nery Domínguez; Centurión, Diego González, e Neri Cardozo; Lisandro López (Mansilla, 43’/2T) e Lautaro Martínez
Técnico: Eduardo Coudet

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