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A bonança: Flamengo devolve pancada ao Del Valle e abre horizonte para a temporada

Bruno Henrique Flamengo Independiente del Valle maracana

(Alexandre Vidal / Flamengo)

Pedro Flamengo gols Maracanã

(Alexandre Vidal / Flamengo)

A goleada de 5 a 0 sofrida para o Independiente Del Valle em Quito abriu feridas e questionamentos. Capacidade de Domènec Torrent, dúvidas sobre jogadores. Trouxe de volta ao Ninho do Urubu uma insegurança típica dos tempos anteriores à Era Jorge Jesus. Deixou em xeque o horizonte, ao menos nessa exótica e pandêmica temporada. Ainda mais agravado pelo surto de covid. Pois o chavão do futebol funciona. Nada como um jogo atrás do outro. Pouco mais de dez dias depois, um Flamengo desfalcado, com defesa de garotos, conseguiu devolver a pancada ao rival com um 4 a 0 retumbante no Maracanã vazio de tempos de pandemia nesta Libertadores. Reencontrar as próprias forças e ampliar horizontes em seus garotos e peças desta temporada. Hora de bonança.

Fla no primeiro tempo: Gerson e Thiago Maia acionando os pontas

Obviamente o futuro próximo proporcionará um desenho mais fiel do que é este Flamengo de Domènec Torrent. A sintonia, porém, parece ter começado a surgir na adversidade. Como se necessário fosse um choque para que o universo do clube, não apenas jogadores e diretoria, entendesse que era necessário deixar o histórico 2019 no corredor de glórias. É um Flamengo em construção. Em reconstrução. A exigência da manutenção do alto padrão em meio a novas ideias resultou em irregularidade. Tática, mental, técnica e, claro, física. O Flamengo precisava de um bom resultado contra o Del Valle no Maracanã. Não apenas para confirmar a classificação e colher a calmaria dos resultados. Mentalmente seria importante demonstrar um time capaz de chacoalhar de novo o campeão da Sul-Americana como já fizera na Recopa no início do ano. Crer em si uma vez mais.

Del Valle no início: adiantado, com espaços pelos lados

Domènec Torrent, ainda em recuperação da covid, mandou a campo um Flamengo no 4-2-3-1, alternando ao 4-4-2 ao defender. E vale, claro, um parênteses: como soam desrespeitosos e até infantis comentários de que Jordi Guerrero seria o único responsável pelo bom desempenho nos dois últimos jogos. É óbvio que o plano de jogo passa por toda a comissão liderada por Dome. Ignorar ou menosprezar esse quesito é fechar os olhos de forma injusta ao comandante catalão. Há decisões importantes tomadas na passada em que se conhece o elenco: Hugo, o Neneca, efetivado como titular mesmo com César em condições é uma delas. O garoto de 21 anos e seguro, frio e imponente diante dos adversários. Não é pouco para quem abraçou os profissionais. Uma defesa de guris por circunstância da covid. Matheuzinho, Noga, Natan e Ramon. Daí para frente a prova da fartura do elenco: trinca com Thiago Maia e Gerson alinhados, com Arrascaeta próximo aos atacantes. Lincoln aberto à esquerda, Gabigol à direita e Pedro por dentro, com alternância entre os dois últimos. O Flamengo de Dome mostrou ter aprendido em Quito.

É preciso aproveitar o espaço dado pelo time de Miguel Ángel Ramírez e sua agressividade ao adiantar-se completamente ao campo adversário. Retomar a bola e partir em velocidade, também agressivo, disposto a definir a jogada. Uma característica de sucesso em 2019. O Flamengo, então, alternou pressão. Por breves momentos tentou apertar a saída de bola, principalmente para dificultar o escape Pellerano. Mas rapidamente deixava a equipe mais atrás, com postura forte na intermediária. Gabigol e, principalmente, Lincoln. O garoto sempre sob críticas, muitas delas justas, apresentou um de seus melhores jogos nos profissionais. Teve inteligência e disposição aliadas à técnica. Não só fechava os espaços para Guerrero e Landazuri. Ao ter a bola procurava arrancar e enfiar passes com inteligência. Buscava protegê-la dos rivais. Fez ótimo jogo.

O Del Valle de Ramírez estava desfalcado apenas de dois jogadores na goleada de 5 a 0. Murillo e Beder Caicedo fora, Landazuri e Ortiz na equipe. Um 4-1-4-1 com Pellerano responsável por iniciar o jogo entre os zagueiros, mas que na prática se refletia em um 4-1-2-3, com Faravelli e Moises Caicedo por dentro na articulação. O Flamengo chamou, sim, o Del Valle a seu campo. Bloqueou na intermediária e passou a tramar as bolas aceleradas para surpreender pelos lados e complicar os solitários Schunke e Segovia. Era estratégia acertada, principalmente pela qualidade de seus volantes. Gerson e Thiago Maia jogam em todo o campo. Têm qualidade no passe. Ao receber as bolas, a esticada com qualidade para Lincoln e Gabigol era imediata. Era um jogo franco, com convites a apostas ofensivas. E uma jogador-chave: Pedro. Inteligente, o atacante dá fluidez ao time. E sabe o momento de dar passos atrás para abrir espaços para as entradas em diagonal de Gabigol e Lincoln, além do avanço de Arrascaeta por dentro. Um Flamengo que, de novo, ataca em bloco.

Ao fim, Fla ainda com velocidade dos lados e Michael solto por dentro

O gol saiu exatamente nesta movimentação. Pedro deu passes atrás, teve a bola na intermediária e enxergou Gabigol. O atacante errou o domínio, mas Matheuzinho ultrapassou com espaço nas costas de Preciado. E foi muito inteligente: observou Lincoln entrar na área para dar o cruzamento caprichado, de primeira, por trás da defesa. O garoto ajeitou a passada e finalizou com força, no canto, bola difícil que teve ajuda de Pinos. 1 a 0. O Flamengo em campo tinha orgulho de si. Claramente uma faísca havia despertado desde o jogo contra o Barcelona. “Quanto mais fodidos, mais fortes”, disse Dome no vestiário em Guayaquil. Não parece da boca para fora. Há revigor em um elenco que parecia de ressaca com o fim da última era. Jogadores mais atentos, fisicamente mais inteiros. Em uma estreia na Libertadores, Noga e Natan tiveram boas posturas, com seriedade e alternância entre a necessidade de sair jogando e a capacidade de explodir uma bola sem receios – característica, aliás, típica de Pablo Marí.

Não surpreendeu, portanto, o gol sair de maneira tão rápida. O Del Valle fiel às ideias de Miguel Ángel Ramírez não recuou para especular a partida. Seguiu adiantado, com os zagueiros quase no meio, os laterais adiantados e a dupla Faravelli e Moises Caicedo por dentro. O Flamengo já tinha entendido o jogo. Lincoln fez desarme na intermediária, Gabigol disparou pela esquerda. Sabia que Thiago Maia já o havia enxergado. O tapa com classe foi uma pintura de encher os olhos. E Gabigol, fominha em alguns lances anteriores, voltou a ter gosto em ser garçom: na frente de Pinos, rolada para o lado. Pedro, com a convicção de quem sabe fazer gol, ajeitou a passada para estufar a rede. 2 a 0. Então houve uma vítima: o tornozelo direito de Gabigol se prendeu no gramado e irritou, com razão, o camisa 9. O segundo jogador recém-recuperado de covid entraria em campo. Bruno Henrique assumiu o lado esquerdo, Lincoln passou à direita, Pedro continuou por dentro. Ainda houve tempo de Hugo Neneca crescer para cima de Guerrero e abafar uma boa chance em raro vacilo da defesa. O intervalo trouxe tranquilidade. O segundo tempo, um Flamengo ainda voraz.

Ao fim, um Del Valle com postura parecida, mesmo goleado

Talvez motivado para devolver a derrota acachapante em Quito, talvez por ter recuperado a satisfação de jogar de maneira organizada, o time seguiu a estratégia. Recuperar a bola rápido no campo e disparar. Aí a grande notícia: Bruno Henrique relembrou os tempos pré-pandemia. Ainda que mais ao lado, teve liberdade para ocupar o espaço por dentro, justamente nas costas do volante. Dali fez ótimas jogadas com Jesus, com arremates de fora da área ou passes para companheiros – o empate na final da Libertadores é de fácil lembrança. Diante do Del Valle, repetiu a ideia de forma parecida. Recebeu por dentro, indicou o passe à direita e já havia observado a ultrapassagem de Ramon pela esquerda.

O lateral-esquerdo, outro com ótima apresentação, tocou na medida para Arrascaeta. O uruguaio dominou, bateu para o rebote de Pinos e Bruno Henrique bateu com furor, como o melhor jogador da Libertadores e do Brasileiro no último ano. 3 a 0. A partida, então, estava definida. Arrascaeta de novo deu ritmo ao time como nos dois últimos jogos. Marca, acha os espaços entre volantes e zagueiros, dá muita fluidez ao jogo principalmente acompanhado de Thiago Maia e Gerson no centro. Ao receber de Gerson, lançou por cima de primeira para Bruno Henrique disparar nas costas da defesa. O corte para dentro tirou Pinos, desesperado quase fora da área, da jogada. O toque para o gol resultou no vapo coletivo. 4 a 0. Um Flamengo apaziguado.

Jordi Guerrero fez trocas apenas para rodar a equipe e segurar o ritmo diante da maratona insana do calendário. Àquela altura, o Flamengo já estava classificado por antecipação para as oitavas de final, algo raro na história recente do clube. Um time diferente, com postura de esperar mais o adversário e ter pouca posse de bola, com apenas 32%. Mas que teve mais finalizações ao gol do que o adversário – 8 a 7. O Flamengo que constantemente olhou para fora na última janela, agora pode observar internamente valores para encorpar ainda mais na caminhada. Hugo Neneca, Ramon, Noga, Natan, Otávio, Lincoln, Guilherme Bala. Opções para variar e aumentar o cardápio para o rodízio de Dome. A sintonia aumenta. A tempestade passa. Foi noite de bonança na Libertadores. O horizonte voltou a reabrir para o Flamengo.

FICHA TÉCNICA
FLAMENGO 4×0 INDEPENDIENTE DEL VALLE

Local: Maracanã
Data: 30 de setembro de 2020
Árbitro: Fernando Rapallini (ARG)
VAR:
Público e renda: Portões fechados
Cartões amarelos: Noga (FLA) e Torres, Guerrero, Gabriel Torres e Alvarado (IND)
Gols: Lincoln (FLA), aos 25 minutos, Pedro (FLA), aos 30 minutos do primeiro tempo e Bruno Henrique (FLA), aos cinco e aos 26 minutos do segundo tempo

FLAMENGO: Hugo Neneca, Matheuzinho (Guilherme Bala, 25’/2T), Noga, Natan e Ramon; Thiago Maia (Diego, 32’/2T) e Gerson; Gabigol (Bruno Henrique, 45’/2T), Arrascaeta e Lincoln (Isla, 25’/2T); Pedro (Michael, 32’/2T)
Técnico: Jordi Guerrero

INDEPENDIENTE DEL VALLE: Pinos, Landazuri, Schunke, Segovia e Angelo Preciado; Pellerano (Montaño, 13’/2T), Moises Caicedo e Faravelli; Guerrero (Alvarado, 37’/2T), Gabriel Torres (Chávez, 37’/2T) e Ortiz (Jhon Sánchez, 18’/2T)
Técnico: Miguel Ángel Ramírez

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