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A democracia de estilos antagônicos: Fluminense consegue parar o Grêmio

Fluminense Maicon Pedro Grêmio Brasileiro 2018

(Flickr / Fluminense)

Fluminense Maicon Pedro Grêmio Brasileiro 2018

(Flickr / Fluminense)

Com um estilo vistoso, de farta troca de passes, tabelas e, ainda assim, competitivo, o Grêmio ganhou não só a Libertadores da América em 2017. Tornou-se exemplo de uma retomada do futebol brasileiro pós 7 a 1, bebendo na melhor fonte. Técnica, habilidade, ofensividade. Um enorme mérito e um reconhecimento justo. A maneira gremista, porém, não é a única existente para ser competitivo no futebol. O Fluminense de Abel Braga entra no papo como um contraponto. Protege-se e espera o rival antes do contragolpe. Torna-se um adversário à altura. Foi assim no empate sem gols em Porto Alegre, que lhe rendeu um valioso ponto na tabela.

Grêmio no início: posse e movimentação intensa para quebrar defesa carioca

Em uma sociedade tão dominada por bolhas que reverberam apenas o que o indivíduo considera positivo, o futebol sofre. As diferentes posturas em campo das equipes não são encaradas como apenas antagônicas, podendo ser assimiladas ora por um, ora por outro. As espadas saem da bainha para um confronto de bem contra o mal improdutivo, desnecessário. Pois os gremistas, destacadamente o ótimo atacante Luan, deixou o campo reclamando da postura tricolor, demasiadamente defensiva em sua visão. Futebol é um jogo simples, mas cada vez mais estudado com os poucos espaços em campos sistematicamente reduzidos. Abel mandou a campo um Fluminense no 5-4-1 que já apostou nesta temporada. Foi arma letal contra o Atlético-PR no Maracanã. Diante de um adversário com ideia de jogo bem similar, com muita posse, girando a bola de um lado ao outro, parecia ser o ideal.

O panorama inicial foi mesmo assim. Em um 4-2-3-1, mesmo desfalcado de Geromel, Arthur, Léo Moura, Ramiro e Jael, o Grêmio manteve as características. Posicionados como volantes, Maicon e Cícero iniciavam o jogo com qualidade. Obrigavam o Flu a recuar e trocavam passes para acionar os lados. Prioritariamente, Everton e Lima ocupavam as pontas, com Luan por dentro. Mas o Grêmio de Renato Gaúcho não é assim simplório. Troca de posições com extrema velocidade. Luan cai na área, depois à direita, sincronizando movimentação com o ponta. É um time bem treinado, experiente, até autossuficiente. Tinha pela frente um Fluminense bem postado, fechando meio e cantos. Mas não, como dizem os próprios gaúchos, acadelado. O Tricolor tentava sair ao jogo, essencialmente pelos lados. Dodi, a novidade de Abel, parecia sentir um pouco o jogo e guardava posição com os avanços de Cortês e a presença constante de Everton. Sornoza não caía tanto ao centro para tentar dialogar com Pedro. Claro, o Fluminense naturalmente tinha dificuldades contra o campeão da América.

Flu no início: três zagueiros e alas fechando o espaço pelos lados

O Grêmio tramava a bola de lado a lado, trocava posições, mas não tinha espaço por dentro. Por vezes impacientou-se e tentava o cruzamento à área: Kannemann, em bom cruzamento da direita, quase marcou ao cabecear por cima da meta de Julio Cesar. Everton, algumas vezes, tentou o arremate de fora da área, sem sucesso. Sem Marcos Junior, poupado, o Fluminense carecia de velocidade. Pedro, ainda que meio desajeitado, tentava dublar até essa função. Grandalhão, o atacante tricolor tem técnica. Sabe dominar a bola e tentar dribles curtos, servindo companheiros. Foi impiedosamente acompanhado pelos zagueiros gremistas, adiantados, que lhe davam sempre o bote com auxílio de Maicon. Com quase 70% de posse, o Grêmio desceu para o intervalo sem marcar e insatisfeito. O Flu, por sua vez, tinha conseguido a etapa inicial.

Não se trata de se acordavadar. Há, lembrem-se sempre, maneiras distintas de jogar futebol. Depois de uma temporada 2017 comprometida pela peneira na defesa, Abel trabalhou desde o início do ano com três zagueiros. Mas da trinca inicial, apenas Renato Chaves estava em campo. Luan Peres e Nathan Ribeiro chegaram no início do Brasileiro, mas conseguem mostrar segurança em um sistema defensivo que se entende. Marlon e Gilberto recuam para bloquear bem. É o jogo do Fluminense, gostem ou não torcedor e crítica. Torna o time competitivo. No segundo tempo, Abel não abriu mão dele. Talvez se o adversário fosse menos respeitável, o técnico tiraria 3-4-3 da gaveta. Mas manteve o posicionamento pronto ao contra-ataque. Arriscado, pois exige demais da parte física correr tanto atrás do time gremista. Que toca, trabalha, gira o jogo. Foram trocados 574 passes pelo time gaúcho, segundo o Footstats. O Fluminense trocou 187. Uma diferença considerável. Mas, claro, havia espaço para um pouco mais de ousadia do Tricolor carioca no segundo tempo.

Grêmio ao fim: time muito avançado para pressionar ao máximo a defesa

Abel liberou mais a presença de Marlon pelo lado esquerdo, tentando explorar a fragilidade de Madson. O lateral-direito ainda tem dificuldades de se enquadrar no Grêmio de Renato. Enquanto o time preza pela bola de pé em pé, pelo chão, Madson quase sempre se desconecta da filosofia do time e arrisca cruzamentos ou um passe de primeira, arriscado, sem segurança. A senha para o Fluminense buscar contra-ataques. Em uma dessas oportunidades, Pedro quase marcou, mas cabeceou em Kannemann. No rebote, a tentativa saiu fraca, nas mãos de Grohe. Mas o recado estava assimilado. O Fluminense não estava, mesmo, acadelado. Mas sofreu um baque ao perder Pedro lesionado. João Carlos, substituto, parece ainda ter muitas dificuldades ao lidar com um jogo pesado na elite nacional.

Ao fim, lado direito mais fechado, mas postura defensiva com contragolpes

Com um Fluminense mais à vontade no jogo, naturalmente a equipe tentou avançar e pressionar mais o Grêmio. Gilberto, peça ofensiva importante, chamava atenção por se resguardar. Mas bastaram momentos de maior avanço para compreender que sua função, neste jogo, deveria se restringir mesmo à defesa. Por ali, Everton passou a ter mais espaço. Recebia a bola, buscava o centro e o arremate. Maicon, inteligente, passou a cair daquele lado: Dodi, já cansado, também deixava a marcação bem menos intensa. A enfiada de bola para a ultrapassagem de Cortês foi linda. O cruzamento rasteiro foi rebatido, mas a bola sobrou limpa para Everton. Com o gol quase vazio e Julio Cesar praticamente batido, ele exagerou no preciosismo. Bateu de chapa na rede pelo lado de fora. Abel entendeu.

De uma vez só, sacou Gilberto e Dodi. Trocou o lado direito por Mateus Norton e Douglas, embora o segundo tenha ido à esquerda, com Sornoza ocupando a faixa de Dodi. O Fluminense se retraiu e aguardou um Grêmio que, impaciente com os 71% de posse que teria no jogo, tentava arrematar de qualquer jeito para transformar um ponto em três. Renato trocou o time três vezes, adiantou laterais, deu liberdade a Luan. Não houve jeito. O Fluminense, bem postado, jogou o campeonato, não apenas o jogo. O confronto com o Grêmio em Porto Alegre será indigesto para todas as outras 19 equipes. Organizado, o time de Abel Braga irritou gremistas, mas deixou claro: há outras maneiras de ser competitivo.

FICHA TÉCNICA
GRÊMIO 0X0 FLUMINENSE

Local: Arena Grêmio
Data: 30 de maio de 2018
Horário: 21h45
Árbitro: Luiz Flávio de Oliveira (SP)
Público e renda: 18.194 pagantes / 20.044 presentes / R$ 510.968,00
Cartões Amarelos: Kannemann (GRE) e Nathan Ribeiro, Sornoza, Renato Chaves, Dodi e Douglas (FLU)
Gols:

GRÊMIO: Marcelo Grohe; Madson (Thaciano, 39’/2T) Bressan, Kannemann e Cortês; Maicon e Cícero; Lima (Pepê, 17’/2T), Luan e Everton; André (Thonny Anderson, 38’/2T)
Técnico: Renato Gaúcho

FLUMINENSE: Júlio César; Gilberto (Mateus Norton, 33’/2T) Renato Chaves, Nathan Ribeiro, Luan Peres e Marlon; Dodi (Douglas, 32’/2T), Jadson, Richard e Sornoza; Pedro (João Carlos, 12’/2T)
Técnico: Abel Braga

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