Pedro Flamengo Fla-Flu final Carioca 2020 primeiro jogo
Um diferente e desconfortável Flamengo vence um agressivo Fluminense
12 julho 22:50
Gabigol Flamengo Atlético-GO
Paciência é via de mão dupla: afoito, Dome põe digitais e implode Flamengo em Goiânia
13 agosto 02:04

A travessia é dura: Flamengo cai diante do Atlético-MG na estreia de Domènec

Filipe Luis estreia Brasileiro 2020

Alexandre Vidal / Flamengo

Domènec Torrent Flamengo estreia Maracanã

Alexandre Vidal / Flamengo

A saída de Jorge Jesus confrontou o Flamengo com uma das mais duras tarefas no futebol: interromper uma era de ouro. É possível, claro, construir outra. A transição obrigatória se apresenta como o maior desafio no processo. É preciso paciência, aceitar o fim de uma química estabelecida para dar espaço a novas ideias. O time de Jorge Jesus ficou marcado na História. Mas é passado. A realidade tem Domènec Torrent com a missão de fazer ajustes finos em um avião em pleno céu de brigadeiro. Qualquer mínima turbulência será sentida. O Flamengo, sim, sentiu. Sofreu a primeira derrota no Maracanã quando nem mais lembrava o gosto do revés em seus domínios. Cometeu erros em um panorama favorável ao adversário, o Atlético-MG. A derrota rubro-negra por 1 a 0 em casa não alarma. Apenas avisa a quem não tinha percebido: mudou. É preciso tempo para adaptar.

O pacote que se apresentou para a estreia de Dome no Flamengo foi mais hostil do que o de Jorge Jesus há um ano. Apenas a falta de tempo para treinamento – uma mera semana – já desequilibra a balança. Acostumado às elites, Torrent teria de entender melhor a característica de cada um no elenco além mar. Não teve, tampouco, o grande pulsar da equipe do português: a faísca da arquibancada que incendiava em tempos sem pandemia e transformava o Flamengo num time voraz, predador sedento em casa. Proteger-se num primeiro momento, então, indicaria manter o avião num piloto automático para não encarar sobressaltos. Assim foi feito. Pouquíssimas indicações distintas. Estava lá o Flamengo no início da defesa do título brasileiro em um 4-4-2. Adiantado, buscava agredir. Indicava os movimentos já absorvidos pelos jogadores. Automático, mesmo.

Um dos grandes problemas para Dome foi não ter um rival mais tranquilo, capaz de permiti-lo amaciar o time ao seu gosto já com placar favorável. Do outro lado estava o Atlético-MG de Jorge Sampaoli, alguns meses de trabalho e ao menos um ano de conhecimento sobre o Flamengo de ouro, a quem vendeu de forma duríssima a derrota no mesmo Maracanã na temporada anterior com o Santos. Mandou a campo um Galo no 3-4-3, com Nathan como falso nove pressionado a saída de bola rubro-negra, Marquinhos espetado às costas de Rafinha, sem ritmo pelo longo tempo de lesão. Arana, ótima opção técnica, também forçava no setor. Por ali o Atlético alcançou espaços para atacar.

Flamengo no início: estilo era Jesus

A estratégia de Sampaoli, no entanto, aceita riscos para vencer. Com um time tão adiantado para pressionar a bola, o encaixe da defesa deve beirar a perfeição. Igor Rabello, à direita, tinha incrível dificuldade para acompanhar para fechar espaço para Bruno Henrique. Não à toa se confundiu e trombou com Rafael com minutos de jogo após o atacante do Flamengo roubar a bola. O gol não saiu por preciosismo do Camisa 27. Em vez de passar de perna esquerda para Gabigol, livre na pequena área, ajeitou o corpo e perdeu preciosos segundos. A chegada de Alonso fechou o espaço para o passe preciso e Bruno Henrique só teve, mesmo, a opção de finalizar. A bola, no capricho, beijou o pé da trave. Gerson tinha um latifúndio para trabalhar e distribuir passes, com um Gabriel cada vez mais confuso no posicionamento. O jogo era bom. Agressivo, com duas equipes taticamente organizadas e repleta de bons jogadores. Se o Galo pressionava a saída rubro-negra e dificultava Arão pelo centro com Nathan, o Flamengo devolveu na mesma medida.

Passou a pressionar mais o Atlético-MG, num raro duelo de coragem no futebol brasileiro. Instintivamente, o Flamengo retomava a bola e acelerava para o gol. É o que faz há um ano. Movimenta-se, troca posições no ataque. Confunde o adversário. Mas os 24 dias sem jogos emperraram uma parte razoável da intensidade da equipe. Os movimentos para arrematar a jogada eram bem mais lentos do que o usual. Havia troca de golpes com o Galo. O Flamengo tinha a posse, mas não sufocava completamente o rival. Sofria pressão. Aos 23 minutos, falhou. Filipe Luís tentou cortar cruzamento de Arana, errou a medida e mandou para a própria rede. 1 a 0 quando o Flamengo já era bem superior no jogo. Dominante. O gol sofrido fez o time ser ainda mais agressivo. Vertical, buscando finalizar as jogadas. Aprendeu assim com Jorge Jesus. Ainda que Dome indique um time de maior trabalho de bola antes da espetada final, o Flamengo já tem seus próprios instintos. É natural trocar passes rápidos, para frente, atacar. Mas a técnica…

Galo no início: Nathan de falso nove, pressão na saída e força na esquerda

Arrascaeta, geralmente lúcido com simplicidade, perdeu duas chances claríssimas na frente de Rafael. Everton Ribeiro passou a ocupar mais o centro, passou à esquerda. Havia espaço e Sampaoli percebeu. Com a vantagem no bolso, não esperou o intervalo para consertar. Sacou Gabriel, amarelado, entrou com Jair pelo meio para diminuir os espaços de Gerson, que conduzia o time com a fluidez já conhecida. Everton Ribeiro e Gabigol tentaram de longe, assustaram Rafael. Era um Rubro-Negro presente, disposto a envolver mais o adversário até o golpe fatal. Mas que falhava. Léo Pereira, por vezes, alternou a posição com Rodrigo Caio quase instintivamente. Abria espaço aos sair à caça de Nathan. Em um deles, o meia aproveitou o buraco e lançou Savariano livre, na entrada da área, que bateu forte em cima de Diego Alves. O Flamengo foi bem superior no primeiro tempo e, por pouco, não desceu para o vestiário com uma derrota de 3 a 0.

Fla ao fim: atacantes empilhados, sem meias construtivos

Com um Atlético-MG melhor encaixado em um 4-3-3 e a marcação ainda mais adiantada, dificultou o Flamengo e forçou erros. As bolas esticadas do time aumentaram, já fugindo à característica. Geralmente intenso, com muita movimentação, o Flamengo já sentia a falta de ritmo dos 24 dias sem jogos claramente. Jogadores tinham dificuldades para o arranque, bem diferentes da leveza de um time em alto ritmo de competição. Faz diferença. Domènec Torrent tentou suprir a dificuldade com substituições, mas demonstrou ainda necessitar conhecer melhor as características dos atletas. Natural. Mas fez escolhas ruins. Empilhou atacantes e esvaziou o meio. Arrascaeta, Everton Ribeiro, Gerson deixaram o time, fato raríssimo na Era Jesus. A desorganização seria inevitável. O Flamengo atuava numa espécie de 4-2-4, com Bruno Henrique e Michael abertos nas pontas, Vitinho e Arão por dentro, com Filipe Luís tentando auxiliar na construção. Vitinho e Bruno Henrique revezavam por dentro e fora. O Atlético, já posicionado em um 5-3-2, fechava os espaços pelos lados. Tinha Keno e Marrony para saídas rápidas ao retomar a bola. Por dentro faltavam jogadores criativos ao Flamengo. Ficou por aí.

Galo ao fim: linha de cinco para bloquear o Flamengo sem meias

Domènec Torrent teve até números interessantes em sua estreia, com 62% de posse de bola, 17 finalizações – apenas duas no alvo e 527 passes trocados*. Foi um Flamengo de bom jogo, superior aos desempenhos contra o Fluminense na final do Carioca no primeiro tempo. Com poucas mudanças em relação a Jesus. No segundo tempo, um time que lançou bolas na área, empilhou atacantes e não respeitou as próprias características. Faltou, também, ritmo competitivo depois de tanto tempo. Dome teve uma semana para enfrentar o melhor rival no campo tático que deve conhecer em terras brasileiras. Seria insano e injusto condená-lo. A era de ouro de Jorge Jesus ficou para trás, o time sofre um processo de transição de ideias. Terá dificuldades, algo raro no último ano de cinco taças e quatro derrotas. É parte do jogo. A travessia é, mesmo, difícil.

FICHA TÉCNICA
FLAMENGO 0X1 ATLÉTICO-MG
Local: Maracanã
Data: 9 de agosto de 2020
Árbitro: Raphael Claus (SP – Fifa)
VAR: Thiago Duarte Peixoto (SP)
Público e renda: portões fechados
Cartões amarelos: Bruno Henrique, Rafinha, Pedro (FLA) e Jorge Sampaoli, Allan (ATL)
Gol: Filipe Luís (FLA – contra), aos 23 minutos do primeiro tempo

FLAMENGO: Diego Alves, Rafinha, Rodrigo Caio, Léo Pereira e Filipe Luís; Willian Arão, Gerson, (Vitinho, 34’/2T), Arrascaeta (Pedro, 15’/2T), Everton Ribeiro (Michael 27’/2T); Bruno Henrique e Gabigol
Técnico: Domènec Torrent

ATLÉTICO-MG: Rafael, Igor Rabello, Gabriel (Jair, 43’/1T) e Alonso; Guga, Franco (Yohan, 22’/2T), Allan e Arana; Savarino (Bueno, 22’/2T), Nathan (Keno, 33’/2T) e Marquinhos (Marrony, 38’/2T)
Técnico: Jorge Sampaoli

Os comentários estão encerrados.