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Afinal, o Carioca deve mesmo acabar?

Maracanã final 2018 Carioca

(Flickr / Botafogo)

Botafogo taça Campeonato Carioca 2018 campeão

(Flickr / Botafogo)

Fim de jogo no Campeonato Carioca neste domingo, lancei uma breve provocação no Twitter: afinal, se 64 mil pessoas foram ao Maracanã para assistir à decisão do Campeonato, o dia teria sido difícil para quem tanto pede a sua extinção. Foi divertido. Uma enxurrada de tuiteiros caiu na brincadeira. Vários apareceram para detonar o Carioca com argumentos válidos, outros estavam raivosos e com boas questões também. A minoria só ironizou e vestiu carapuça de hater. Mas vamos lá. A provocação foi válida. E uma meia-verdade. Nem cá, nem lá. A final não significa, obviamente, que o Campeonato Carioca foi espetacular e deva ser mantido assim. Nem que deva acabar. Foi, sim, um indício de que algo ainda pulsa.

Em um Rio de Janeiro massacrado pela incúria das autoridades, com a falta de segurança e transporte públicos decentes, um evento que consegue mobilizar 64 mil torcedores no domingo à tarde no Maracanã deve ser visto com atenção. Sim, já diria o ex-chefia Eduardo Tironi, defensor do fim dos Estaduais, que os clubes são maiores do que o campeonato. Concordo e creio que a lógica valha para todas as competições. Mas o que ocorre cá no cercadinho do Carioca é outro ponto. É um produto maltratado, com muito menos apelo do que já teve em dias de glória, recheado de jogos sem sentido e que permitem o inchaço do calendário. Some-se a isso o absurdo de ser deficitário em seus borderôs, como mostra esta notícia neste Chute Cruzado: A Ferj lucrou R$ 1,2 milhão apenas com taxas enquanto todos os grandes clubes tiveram prejuízo na bilheteria. É alarmante e injustificável.

Compreendo quem defenda o fim deste modelo. E concordo. Mas não estou de acordo com quem pede o fim da competição. O Estaduais fazem parte da história do futebol brasileiro. Se bem trabalhados podem ter o seu momento de brilho em alguma parte do calendário. Em um formato mais enxuto: talvez com dez clubes e uma fórmula à la Copa das Confederações. Dois grupos de cinco, semifinais e final. Seis datas. Um esquenta para a temporada. É válido. Um tiro curto, aflorando a rivalidade esportiva. É nela que se sustenta o futebol. Foi com ela que grandes episódios surgiram no Rio. Isso para ficar apenas por aqui. Basta puxar na memória recente: Gol do Assis, Gol do Maurício, Gol do Cocada, Gol de Barriga, Gol do Rodrigo Mendes, Gol do Pet, a pilha do vice vascaíno, o Chororô, a cavadinha de Loco Abreu. Tudo na História.

Claro que para o Estadual se adequar aos dias atuais é necessário passar pelo campo político. Daí o grande entrave e que resulta em muita gente pedindo sua extinção. Sim, os Estaduais dão força às federações, que por sua vez mantêm a base da CBF e seus cartolas. Mas assim é, também, com o Campeonato Brasileiro. E os clubes, com raras exceções, até o momento não mostraram disposição de gritar independência de verdade. Romper com o poder. Isso é papo para outro post. Mas cá da trincheira em defesa da manutenção dos Estaduais, insisto: são campeonatos assim que abrem espaço para a iniciação no futebol da molecada que já se agarra a camisas de clubes europeus.

Sentir a experiência de sentar na arquibancada, ver seu time virar o jogo no fim, conquistar uma taça, dar volta olímpica. Claro que vale. Não tenho a audácia de dizer a um botafoguense de sete anos que esteve no Maracanã que aquilo não valeu nada. Seria arrogante, individualista. E mentiroso. É um campeonato que permite a clubes em dificuldades como o Botafogo atual de encorpar sua sala de trofeus. Mantém a chama acesa, ainda que num campeonato de menor escala. As 64 mil pessoas na tarde de domingo no Maracanã são um sinal. O pulso do Carioca ainda pulsa. Só clama por carinho, maior organização e adequação ao mundo atual. O caminho é reformular. Não acabar.

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