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Além da vaga, os meninos do Flu aliviaram a alma tricolor contra a LDU, em Quito

Gustavo Scarpa LDU Quito

Gustavo Scarpa LDU Quito

Esteve longe de ser um bom jogo do Fluminense. Mas há dias em que ainda que a técnica e a tática pouco funcionem, a comemoração deve ser efusiva pelo simples superar de um trauma. Mais do que a vaga para enfrentar o rival Flamengo nas quartas de final da Sul-Americana, o Fluminense volta de Quito com o alívio de ter deixado para trás um fantasma a minutos de vê-lo ficar ainda mais encorpado. Ainda que tenha sido derrotado por 2 a 1 pela LDU, um trauma a menos na conta do clube é importante não só para a alma do torcedor. É um ingrediente importante para o forjar de um time basicamente de garotos.

Haverá algum espírito de porco que tentará diminuir o alívio da alma tricolor. Dirá que o trauma só será superado, mesmo, quando o Fluminense vencer a LDU em uma final de competição sul-americana, vingando parcialmente as derrotas de 2008, na Libertadores, e de 2009, na Copa Sul-Americana. Talvez ignore o quão importante é deixar feridas para trás e respirar um fôlego novo ao bater os equatorianos pela primeira vez. O fator psicológico em um confronto com esse história é uma enorme barreira.

LDU no início: toda força pelos lados

Pois não é fácil enfrentar a LDU, ainda que longe de ser o time combativo do final da década passada, na altitude de 2.800 metros de Quito. Abel optou pelo jovem Peu na vaga do suspenso Henrique Dourado. Com minutos, quase deu certo. Latereio de Léo para a área, casquinha de cabeça do atacante e bola na trave de Nazareno. Um sopro de esperança de que tudo seria diferente naquele dia. Mas mesmo o mais otimista tricolor olhava para o campo e entendia que as semelhanças com os desastres anteriores eram grandes.

O Fluminense ia mal. Principalmente com a defesa. Nogueira e Frazan estavam perdidos no miolo de zaga. Muito em razão da velocidade fora do normal da bola cruzada na área na altitude. Perdiam sempre o tempo da redonda, o que gerava um enorme perigo com Barcos rondando o gol de Julio Cesar. A receita da LDU, postada em um 4-2-3-1, era clara: velocidade nos lados com Anderson Julio pela direita e Betancourt na esquerda, pelas costas de Lucas e, principalmente, Léo. O time equatoriano investia mais nas corridas quase fulminantes de Anderson Julio. Um ritmo impressionante de velocidade que deixava a defesa tonta. O cruzar da bola na área tricolor foi comum no primeiro tempo.

Flu no início: Peu nulo e avenida Léo

Abel, à beira do gramado, reclamava demais. O Fluminense errava quase toda saída de bola, entregando campo ao rival. Cevallos passeava pelas costas de um perdido Orejuela. Em um 4-1-4-1, Wellington e Wendel eram as saídas pelos lados. Mas não funcionava. Sofriam para acompanhar o ritmo da LDU. Bola longa, velocidade, chutes de longa distância. As velhas armas que fizeram estragos enormes em 2008 e 2009. Betancourt, na frente da área, quase marcou de primeira após bom cruzamento de Narváez da direita. A LDU tinha espaço. Tinha fome. Tinha chances. O intervalo chegar sem gols foi um alívio para um tonto Fluminense, já sem pernas para combater a correria do rival.

Na etapa final, Abel trocou Peu por Pedro. Uma tentativa de manter um pouco mais a bola no ataque, tentar permitir ao time ganhar fôlego e girar a bola de pé em pé para evitar a velocidade na altitude de Quito. Logo no início, Wendel lançou Scarpa, que invadiu a área e caiu ao ser desarmado por Tagliapietra. Um lance no mínimo discutível. Mas a LDU continuava melhor no jogo. Continuava a apostar pelos lados. Continuava a ser muito perigosa. Barcos, em dia ruim, errava domínios e arremates, mesmo com os espaços diante dos zagueiros. Mas tantas chances, fatalmente, se converteriam em gol em algum momento.

LDU ao fim: cruzamentos da intermediária

Foi quando Cevallos, de novo livre de marcação, levantou na área para o veterano atacante, que entrou livre e só teve de escolher o canto de Julio Cesar para cabecear. 1 a 0. E aí o trauma entrou em campo. Por mais que nenhum jogador tenha vivenciado as experiências de quase uma década antes. Há um temor no ar de que o pior possa acontecer. Um receio coletivo de falhar mais uma vez. Assim, travado, o Fluminense aceitou o segundo gol. Em jogada manjada. Anderson Julio passeou pela ponta direita e rolou para trás. Livre, sem incômodo algum de Orejuela ou algum zagueiro, Cevallos bateu com categoria no fundo da rede de Julio Cesar. 2 a 0.

O trauma parecia inevitável. Abel tentou sua cartada. Lançou Robinho em campo na vaga de um inoperante Wellington. Queria mais definição. Mas o Fluminense ainda forçava o jogo pelo meio, errava passes em demasia e possibilitava o contra-ataque muito veloz da LDU. Até que se adaptou. Formatou-se em um 4-2-3-1, com Wendel centralizado, Scarpa na esquerda, Robinho na direita. E seguidas tentativas de achar Pedro na grande área. Era um risco mais do que calculado. Com o time mais à frente, a chance de Anderson Julio disparar rumo ao gol de Julio Cesar era bem mais real. Mas às favas. O Fluminense precisava do gol. Precisava pôr fim a um trauma.

Flu ao fim: jogo pelos lados e cruzamentos

Vá lá que Pablo Repetto ajudou ao trocar Cevallos por Quintero e jogar Anderson Julio pela esquerda, além de ser burocrático substituindo Vega por Bolaños. A LDU deixou de explorar o fundo do campo e ter velocidade nas costas de Léo, apostando apenas em cruzamentos da intermediária direita, com Quintero. Havia jogo para o Fluminense. Da beira do campo, o auxiliar de Abel, Leomir, pedia calma ao time. Indicava que bastaria um gol para quebrar o trauma. Parecia muito diante das circunstâncias. Não era. Há dias em que a técnica e a tática pouco funcionam. Há traumas superados na vontade.

Com o jogo nas pontas, o Fluminense apostou no assustar a zaga da LDU. Robinho tentou uma bola levantada e a defesa afastou para escanteio. Na cobrança de Scarpa, o pé certeiro de Pedro, a cinco minutos do fim, fez a alma tricolor berrar. O fim da agonia era possível. Paupável. O gol deu ao Tricolor uma energia que talvez tenha faltado durante todo o jogo. Não era vontade, característica marcante dos meninos de Abel. Era, mesmo, uma energia diferente. Bem fechado, o Fluminense passou a fechar o meio, ocupar espaços da LDU, reduzir a sua arrogante certeza de que eliminaria mais uma vez o time carioca. Os cruzamentos da intermediária foram insuficientes. O apito final deu um bico no trauma.

Um feito e tanto para um time que terminou o jogo com sete garotos que até o fim de 2016 pouco tinham de experiência entre os profissionais. Que dirá em jogos internacionais. Um time valente, com a gana de Abel. Há dias em que não há tática, nem técnica. Nos quais o adversário é melhor, com 64% de posse de bola e 18 finalizações, de acordo com o Footstats. A defesa vai mal. A insegurança é incorporada ao cardápio. Talvez a jovialidade tricolor, aquele jeito destemido de quem pouco viveu o passado e nada tem a perder com o presente tenha ajudado. Pois a molecada de Xerém volta de Quito batendo no peito, com sorriso de orelha a orelha, orgulhosa de ter conseguido o que outros medalhões não alcançaram. Um tapa no trauma chamado LDU. Não é pouco.

FICHA TÉCNICA
LDU 2X1 FLUMINENSE

Local: Estádio Casa Blanca, em Quito
Data: 21 de setembro de 2017
Horário: 19h15
Árbitro: Fernando Rapallini (ARG)
Cartões Amarelos: Orejuela e Pedro (FLU) e Salaberry (LDU)
Gols: Barcos (LDU), aos 12 minutos, Cevallos (LDU), aos 15 minutos e Pedro (FLU), aos 41 minutos do segundo tempo

LDU: Nazareno; Narváez, Salaberry, Tagliapietra e Chalá; Vega (Bolaños, 29’/2T) e Intriago; Anderson Julio, Cevallos (Quintero, 33’/2T) e Betancourt (Cardenas, 10’/2T); Barcos
Técnico: Pablo Repetto

FLUMINENSE: Julio Cesar; Lucas, Nogueira, Frazan e Léo; Orejuela; Wellington (Robinho, 29’/2T), Gustavo Scarpa, Douglas (Marlon Freitas, 13’/2T) e Wendel; Peu (Pedro / Intervalo)
Técnico: Abel Braga

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