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Além do ponto, a casca: líder, Flamengo amadurece no empate com o Palmeiras

Vinicius Junior Flamengo Palmeiras

(Gilvan de Souza / Flamengo)

Thuler gol Flamengo Palmeiras

(Gilvan de Souza / Flamengo)

Em um campeonato longo como o Brasileiro é necessário viver ciclos dentro da competição. Tentar manter a mínima regularidade diante das inevitáveis oscilações com suspensões e lesões. E criar cascas. Aturar pancadas que virão de vários lados. Adversários, arbitragens, possíveis desentendimentos no ambiente. O Flamengo fechou na noite desta quarta-feira, no empate em 1 a 1 contra o Palmeiras, o primeiro ciclo no Brasileiro. Líder, com quatro pontos de vantagem sobre o segundo colocado, Atlético-MG, na tabela. Mais importante do que isso: criou casca. Mesmo com garotos. Soube resistir a um ambiente hostil com uma arbitragem calamitosa e confusa. Um avanço considerável.

Ainda que no processo de maturação de um time e principalmente de garotos exista uma ideia de como se portar em determinadas situações, apenas a experiência in loco faz a equipe ter a exata dimensão do que enfrentar. De cara, o Flamengo soube. E talvez tenha pago um preço inicial por ter tantos jogadores jovens em campo. Experientes, com histórias de sucesso, mesmo, Diego Alves e Everton Ribeiro. Sem Diego, Barbieri apostou em mais um garoto. Jean Lucas. No 4-1-4-1, a ideia era de que o líder fizesse seu jogo de sempre. Troca farta de passes, aproximação até a área rival, movimentação entre os meias. Uma ideia. Na prática, não houve como. Assustado, impactado. Defina como quiser. Pois o Flamengo travou nos minutos iniciais diante do Palmeiras.

Palmeiras no início: velocidade pelos lados, mobilidade e abafa

O time paulista ainda carrega em sua identidade ares da passagem vitoriosa de Cuca em 2016. Com a necessidade da vitória latente para diminuir a distância na tabela, o início de jogo com furor. No 4-2-3-1, um começo pressionando o rival, empurrando até seu campo, explodindo no gogó da torcida. Um abafa. Tática velha em tempos modernos. Mas nem por isso ineficaz. Com a presença do incendiário Dudu, o Palmeiras tentou se aproveitar do melindre dos jovens rubro-negros. Conseguiu. Alternou bolas de um lado ao outro, alçou outras na área. Diego Alves salvou uma cabeçada de Willian de forma fantástica. Com seis minutos, não evitou de novo. Rodinei rebateu mal um cruzamento, no pé de Dudu. O 7 palmeirense ajeitou a pelota e, com espaço, cruzou no segundo pau para Bruno Henrique tocar de cabeça ao meio, onde Willian, sozinho, completou para a rede. 1 a 0.

Foram momentos de pânico para o Flamengo. Ali, na adversidade, tentando ganhar casca na marra. Pois o time, dominante em quase todo o Brasileiro, se viu dominado. A estratégia palmeirense passava por anular Paquetá. Geralmente, elétrico, onipresente, o camisa 11 pareceu cansado e até disperso. Mostrou lentidão rara e foi presa fácil para as pegadas de Bruno Henrique e Felipe Melo. O Palmeiras tentava ganhar a partida na intimidação. Aumentar o tom hostil do ambiente. Ganhar as divididas, pressionar o árbitro. Mas também jogar. O meio estava dominado pelos palmeirenses. Bote rápido na saída rubro-negra, acionando rapidamente a explosão de Dudu ou Hyoran. Foram 20 minutos longos para o Flamengo. Então, o Palmeiras arrefeceu a pressão inicial. Deu passos atrás, entregou campo. Convidado, o Flamengo foi.

Fla no início: Jean Lucas muito acionado, apostando no lado direito

Os nervos pareceram voltar ao lugar. Os garotos, enfim, com atitudes de homens. Mais calmos. Jean Lucas chamou atenção. Achou espaço para jogar, conduzir a bola e acionar, quase sempre, o lado direito. Era o que o Flamengo desejava. Com o meio bem bloqueado e Paquetá com dificuldades para ser o criador das jogadas, o camisa 18 assumiu o papel. E teve boa visão. Pelos lados, os laterais palmeirenses avançavam demais. Mas Rodinei era mais presente no ataque do que Renê. A predileção pela direita foi mais do que natural, com a possibilidade de atacar com mais opções. Everton Ribeiro caiu ao meio, nas costas de Felipe Melo, preocupado com Paquetá, e abria espaço para Rodinei e Jean Lucas. O Flamengo chegou bem por ali. E passou a exercer seu jogo: adiantou os zagueiros e passou a rodar a bola. Cuellar, Jean Lucas, Rodinei, Everton Ribeiro.

O jogo girava e Vinicius Junior passou a entrar nele para desespero de Marcos Rocha. Embora tivesse apoio de Hyoran, o lateral por vezes ficou no mano a mano com o garoto, que tem incrível facilidade para se livrar de marcadores. Assim, o Flamengo, mais maduro, apresentando o futebol que o tornou líder em pleno território palmeirense, já era superior. Com a ideia amadurecida de seu jogo. Quase empatou. Vinicius, por cobertura, perdeu grande chance após soco de Jailson para fora da área. Everton Ribeiro, de cabeça, quase na segunda trave após cruzamento de Jean Lucas pela esquerda. Os jogadores voltaram a se mover, a trocar posição, a confundir o adversário. O primeiro tempo terminou com a vantagem palmeirense, mas uma confiança rubro-negra.

Para tentar dissipar esse envolvimento do rival, o Palmeiras apostou na mesma fórmula do primeiro tempo. Intensidade, jogo forte, com muita velocidade, bolas cruzadas e finalizações. Novo abafa. O desespero rubro-negro voltara. A necessidade de ganhar casca, também. Aí um personagem fundamental, ausente em 2017, no processo de amadurecimento da equipe e dos meninos. Um goleiro confiável. Seguro. Líder. Embora até exagere em alguns momentos para esfriar os jogos, o camisa 1 exala segurança. Defendeu duas bolas incríveis. Uma em chute de Moisés na risca da pequena área, outra em cabeçada à queima-roupa de Edu Dracena, no chão, em velocidade. Providencial. Talvez a transformação do jogo em 2 a 0 abalaria demais um time com tantos jovens. Nas defesas do goleiro, o Flamengo voltou a crescer. O Palmeiras encolheu. Em minutos, o empate. Escanteio de Rodinei, Thuler passou como quis pelo alto por Thiago Martins e tocou no fundo da rede. 1 a 1.

Então o Palmeiras ficou nervoso. Irritadiço. Deu espaços, se desorganizou. Extremamente pilhado. Excessivamente até na figura de Felipe Melo. Aos 34 anos, o volante gosta de ostentar um invisível distintivo de xerife em campo. Deu duas chegadas fortes em Vinicius Junior para marcar território. Tem prazer pelo jogo mental. Os garotos do Flamengo entraram nele. Mas não da forma desejada por Felipe. Vinicius Junior e Paquetá são ariscos, até folgados. Um tipo de jogo que irrita os adversários. Mas válido, longe do episódio de firulas ocorrido no Fla-Flu. Toques rápidos, curtos, dribles secos, sempre fazendo a bola andar rumo ao gol rival. Irritado, Felipe Melo deu carrinho covarde no calcanhar de Vinicius Junior, um minuto depois de o garoto perder gol claro em rebote de Jailson, batendo em cima de Thiago Martins no gol descoberto. Foi um lance passível de expulsão e que contou com a conivência de Bráulio da Silva Machado.

Palmeiras ao fim: time pilhado e desorganizado na busca pela vitória

Sem controle algum da partida, ele apresentou o que a arbitragem brasileira tem de pior. Arrogância, lentidão nos lances, contradição nas decisões disciplinares e instinto caseiro. Reclamações rubro-negras foram, até justamente, punidas com cartões amarelos. Reclamações palmeirenses, principalmente de um eloquente Dudu, levadas com bate papo. Roger sentiu a perda do controle mental, reflexo direto da perda do controle do que acontecia em campo. O Flamengo, amadurecido na base da pancada, já tinha retomado o jogo para si. Explorava o lado esquerdo, tentando acionar Vizeu, em noite ruim na sua despedida do clube. Lucas Lima entrou na vaga de Hyoran, adiantando Moisés e jogando Willian para o lado direito. Um erro. Pois Cuellar, de novo bem, soube vigiar o disperso Lucas Lima. Vinicius Junior, sem a ajuda defensiva de Hyoran, ficou mais livre para desesperar Marcos Rocha, que tentava por vezes achar o guri, mas era desarmado em dribles secos. Espaçado, o Palmeiras defendia mal.

Barbieri tentou aumentar o poder de infiltração e presença na área do time ao trocar Jean Lucas por Arão, talvez tentando nova cartada como diante do Paraná. Não funcionou. Se antes o Flamengo se desenvolvia bem pelos lados, principalmente pela esquerda, graças à retomada de posse no meio de campo impedindo o contra-ataque palmeirense, a pegada de marcação diminuiu. Por dentro, o Palmeiras teve mais espaço para avançar. Quando Lucas Lima cortou para o meio num espaço vazio e bateu sobre o gol de Diego Alves da entrada da área, Barbieri entendeu. Sacou Everton Ribeiro, amarelado, e pôs Jonas. Paquetá assumiu a vaga de atacante, com Marlos Moreno e Vinicius aos lados, Cuellar e Arão por dentro. O Flamengo indicava ter maturidade para entender que o empate já era um bom resultado em um jogo escamado, com a vantagem de quatro pontos na liderança assegurada por um mês. Faltava, ainda, um capítulo para o fim deste primeiro ciclo.

Ao fim, um Fla mais protegido, consciente do bom resultado

Diante do excessivo jogo de pilha idealizado pelo Palmeiras, as jogadas se tornaram mais ríspidas ao fim. Um clima bélico não controlado pelo árbitro. Pelo contrário. Foi impulsionado com arbitragem tão confusa, contraditória e conivente. A faísca numa falta de Cuellar em Dudu iniciou um sururu daqueles que encorpam a alma de um time. Um duelo de espadas reprovável do ponto de vista de qualquer formalidade, mas capaz de tornar todo o ambiente um pacote ideal para formação de casca de jovens ainda em formação. Com três expulsões para cado lado, Bráulio da Silva Machado tentou dizer a todos que tinha uma autoridade que já perdera há muito tempo. Na volta, com o Palmeiras sem goleiro de ofício, convenientemente encerrou a partida com três minutos de acréscimo a cumprir. Um desastre completo.

O empate, no fim, foi um resultado justo no Allianz Parque. Um espetáculo prejudicado por não ter um árbitro de nível. Mas o Flamengo vai à parada da Copa líder, com ajustes e reposições, de Vinicius Junior e Vizeu, a fazer. Mas viu o ciclo encerrado por um time que oscilou dentro do jogo e, recheado de garotos, ganhou casca num jogo grande, em ambiente hostil. Não é pouco.

FICHA TÉCNICA
PALMEIRAS 1X1 FLAMENGO

Local: Allianz Parque
Data: 13 de junho de 2018
Árbitro: Bráulio da Silva Machado (SC)
Público e renda: 36.882 presentes / R$ 2.598.847,44
Cartões amarelos: Moisés, Victor Luis e Marcos Rocha (PAL) e Everton Ribeiro, Felipe Vizeu, Diego Alves e Vinicius Junior (FLA)
Cartões vermelhos: Jailson, Dudu e Luan (PAL) e Cuellar, Henrique Dourado e Jonas
Gols: Willian (PAL), aos seis minutos do primeiro tempo e Thuler (FLA), aos nove minutos do segundo tempo

PALMEIRAS: Jailson; Marcos Rocha, Edu Dracena, Thiago Martins e Victor Luis; Felipe Melo (Arthur, 29’/2T) e Bruno Henrique; Hyoran (Lucas Lima, 13’/2T), Moisés e Dudu; Willian (Papagaio, 40’/2T)
Técnico: Roger Machado

FLAMENGO: Diego Alves; Rodinei, Thuler, Léo Duarte e Renê; Cuellar; Everton Ribeiro (Jonas, 42’/2T), Jean Lucas (Willian Arão, 26’/2T) Lucas Paquetá e Vinicius Junior; Felipe Vizeu (Marlos Moreno, 38’/2T)
Técnico: Mauricio Barbieri

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