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Alma, honra e organização: a fábula botafoguense continua pela América

Bruno Silva Botafogo 2017 Libertadores

Bruno Silva Botafogo 2017 Libertadores

Haverá um dia em que um botafoguense saberá dimensionar e contar com precisão a fábula dourada na Libertadores de 2017 como uma cantiga de ninar para os seus. Dirá que era um time dotado de honra, vontade e organização, com jogadores que ao fim dos jogos chegavam perto de sua gente e tremulavam a bandeira com os próprios punhos para celebrar mais uma conquista. Imagem simbólica que ganhou recantos do mundo e estacionou nas mentes dos fãs mais apaixonados. Um a um, os campeões da América caem aos pés do Botafogo. Nesta quinta-feira, mais um deles, o uruguaio Nacional, resistiu apenas cinco minutos no escrever de mais um capítulo da saga alvinegra.

Botafogo no início: bem postado como sempre

O time dirigido por Jair Ventura tem uma mistura vencedora, dada a equipes que marcam seu momento no decorrer da História do clube. Dirá algum incrédulo, até com boa dose de razão, que falta técnica a variados jogadores do elenco. Mas há alma. Há honra. Há garra. E há, acima de tudo, disciplina quase militar para cumprir uma organização tática que faz o time avançar casas e se concentrar nos objetivos. Em seus domínios, o Botafogo sabe esperar, mas também entende quando morder. Avançar, atacar. Surpreendeu o Nacional assim.

Geralmente o time da reduzida posse de bola, do contra-ataque fulminante, o Botafogo tentou fazer o serviço nos minutos iniciais. Entendia que tinha de abater o rival logo na saída de jogo. A blitz deu resultado e um escanteio com dois minutos pôs a bola na cabeça de Bruno Silva e dali para o gol. 1 a 0. Cenário dos sonhos. Parecia impossível melhorar. Mas esse Botafogo está determinado a fazer História. Flerta com a identidade do clube, sabe trabalhar no sofrimento. É, no entanto, capaz de inverter a lógica ao tornar um jogo que se anunciava de tensão excruciante em um navegar tranquilo com apenas cinco minutos.

Pois foi com este tempo reduzido que Pimpão, disposto até a última gota de suor, pressionou Rogel pela esquerda e o fez recuar mal para o goleiro Conde. Na dividida, o botafoguense levou a melhor e a bola, mansamente, foi percorrendo o caminho rumo ao gol, em segundos angustiantes. Mas o sofrimento estaria encerrado por ali. Sem mais delongas, o Botafogo estava classificado para as quartas de final da Libertadores da América. Claro, há coisas que só acontecem ao Botafogo. Mas não a este Botafogo.

Até mesmo as viradas inusitadas, os fracassos retumbantes ocorrem no momento mais adequado ao clube. Contra o São Paulo, em pontos corridos, a virada súbita em oito minutos assustou. Mas o impacto na temporada é mínimo. Na campanha épica da Libertadores não há espaço para isso. Sabiamente dirá o desconfiado botafoguense da arquibancada, com camisa surrada de 89, radinho de pilha no ouvido e dono de um vira-lata chamado Biriba que fosse em outros tempos o esperado seria mesmo um fracasso desses na América. Não para um Botafogo que tem uma fábula para contar.

Botafogo ao fim: estrutura mantida

Seria até um desperdício detalhar por demais algum detalhe tático ou técnico do jogo a partir do segundo tempo, digníssimo leitor. Você, seguidor do Botafogo, sabe como o time se porta. Fecha-se em dois blocos de quatro, mantém Roger e João Paulo mais avançados, atrai o rival e espeta suas jogadas prediletas. Esticada no Pimpão pela esquerda, por exemplo, para inversão rápida para a direta com a infiltração de Bruno Silva na área. Ou então a ultrapassagem em velocidade pelo lado esquerdo de Victor Luís. Tudo isso esteve em campo. O Nacional? Um coadjuvante pobre de jogo e pobre de alma.

Por mais que não houvesse tanto espaço para trabalhar e a inaptidão para o ataque seja algo característico do limitado time uruguaio, uma brecha ou outra aparecia raramente, mas Gatito estava pronto para resolver, como no chute de Viúdez no segundo tempo. Era mesmo um futebol ralo do Nacional, que, ciente de que não conseguiria a classificação na bola, apelou para a pancada tentando evitar o espetáculo. Victor Luís acabou expulso injustamente após sofrer uma cotovelada. Nada que intimidasse.

Foi o quinto campeão da América derrubado pelo Botafogo no maior torneio continental. Uma fábula improvável, com saídas de candidatos a protagonistas, grupo da morte, herois improváveis como Gatito e Pimpão. O caminho está aberto, há o Grêmio de Renato Gaúcho, o futebol bem jogado, um duelo de estilos de pela frente. Mas quem, em sã consciência, duvidaria de onde pode chegar este Botafogo tão bem comandado por Jair Ventura, o melhor trabalho do futebol brasileiro? Talvez algum próprio botafoguense, ainda incrédulo com o que 2017 lhe reservou. Pois sente na arquibancada, tente se acalmar. Há mais por vir. Certeza, mesmo, é de que há uma incrível fábula em curso para contar no futuro aos que não podem acompanhar cenas como a bandeira gloriosa tremulando nas mãos de Pimpão.

FICHA TÉCNICA:
BOTAFOGO 2×0 NACIONAL

Local: Estádio Nilton Santos, o Engenhão
Data: 10 de agosto de 2017
Horário: 21h45
Árbitro: Wilmar Rondán (COL)
Público e renda: 36.133 pagantes / 40.050 presentes / R$ 2.479.795,00
Cartões amarelos: Matheus Fernandes, João Paulo, Roger e Dudu Cearense (BOT) e Kevin Ramírez, Silveira e Sebastián Rodríguez (NAC)
Cartões vermelhos: Polenta  e Sebastian Rodríguez (NAC), aos 43 minutos do segundo tempo e Aguirre (NAC), aos 47 minutos do segundo tempo
Gols: Bruno Silva (BOT), aos dois minutos e Rodrigo Pimpão (BOT), aos cinco minutos minutos do primeiro tempo

BOTAFOGO: Gatito; Luis Ricardo, Carli, Igor Rabello e Victor Luis; Bruno Silva, Rodrigo Lindoso, Matheus Fernandes (Dudu Cearense, 30’/2T) e Rodrigo Pimpão (Guilherme, 20’/2T); Roger (Gilson, 42’/2T)
Técnico: Jair Ventura

NACIONAL: Conde, Fucile (Barcia, 25’/2T), Rogel, Polenta e Espino; Arismendi, Álvaro González (Hugo Silveira, 34’/2T) e Sebastián Rodríguez; Viúdez, Rodrigo Aguirre e Sebástian Fernández (Kevin Ramírez / Intervalo)
Técnico: Martín Lasarte

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