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Análise: São Paulo goleia e expõe fragilidades do Flamengo no Maracanã

Gerson Flamengo São Paulo Maracanã Brasileiro 2020

(Alexandre Vidal / Flamengo)

Pedro Flamengo São Paulo Brasileiro 2020

(Alexandre Vidal / Flamengo)

“Falar por falar, que falem. Tem que analisar”. Foi o pedido feito pelo técnico Domènec Torrent à imprensa, em pergunta deste repórter, na coletiva após a goleada sofrida para o São Paulo por 4 a 1 no Maracanã. O desejo do técnico catalão já foi realizado algumas vezes neste espaço desde sua chegada ao Ninho do Urubu. Vamos a mais uma. Analisar o jogo, independentemente do resultado. Trata-se de uma opinião, passível de discordâncias. O fato: o Flamengo foi derrotado em mais um jogo importante no Campeonato Brasileiro e de forma enfática: 4 a 1. O trabalho de Domènec evolui, tem bons momentos e até contou com boa sequência, mas o revés deste domingo deixou claro que diante de adversários mais encorpados as deficiências ficam ainda mais expostas. 25 gols em 19 partidas no primeiro turno. O risco de insucesso aumenta com tamanha fragilidade defensiva. Foi o que fez o São Paulo de Fernando Diniz. Efetivo, aproveitou os seguidos defeitos apresentados e evitou qualquer chance de liderança rubro-negra com uma goleada.

Flamengo no início: espaçado, pressionado e aposta em bolas longas

A exibição do Flamengo, no geral, não foi totalmente ruim. Houve um segundo tempo abaixo, evidentemente, mas o time conseguiu equilibrar forças com o São Paulo no primeiro tempo ainda que com vários desfalques. Rodrigo Caio, Arrascaeta, Diego e Gabigol lesionados. Willian Arão e Thiago Maia suspensos. Não é pouco. Mas há elenco, ainda mais comparado aos rivais no Brasileiro. Com isso, Domènec Torrent escalou o Flamengo novamente no 4-2-3-1, com o garoto João Gomes ao lado de Gerson entre os volantes, Vitinho uma vez mais na função de Arrascaeta, por trás de Pedro. Teve problemas para iniciar seu jogo, assim como na partida contra o Internacional. Muito em conta, claro, da postura do São Paulo, bem parecida à do time gaúcho uma semana antes. Abafar o Flamengo em seu campo de defesa, dificultar ao máximo a saída de bola. Pressão nos escapes Filipe Luís e Gerson. O time da casa voltou a ter dificuldades.

Diniz montou o Tricolor Paulista no 4-4-2, Tchê Tchê na lateral direita, Daniel Alves e Luan por dentro, com Igor Gomes e Gabriel Sara abertos, mas com movimentação intensa e ocupação por dentro no espaço deixado pelos rubro-negros. À frente Brenner e muita movimentação de Luciano, que dava passos atrás para aproveitar o espaço ao lado de Igor Gomes e Gabriel Sara. Assim que o Flamengo iniciava o jogo, o São Paulo rapidamente adiantava a marcação. Pressionava. Incomodava. Irritava. Não raro o Flamengo passou a apostar na bola longa, uma tentativa de aproveitar a defesa adiantada.

São Paulo no início: pressão no campo rival, ataque pelo centro

Ao perder no meio com qualquer esticada, dava ao Tricolor o caminho para voltar ao ataque e aproveitar os espaços encontrados ao ver um Rubro-Negro na tentativa de se ajustar defensivamente. Não é um time que fecha o centro e induz o rival ao lado por ser tão agrupado. Ao contrário. Cede espaços por dentro e abre possibilidades para arremates da entrada da área sem tanta pressão. Flerta mais com a chance de sofrer gols. Mesmo neste panorama, o time da casa saiu na frente. Uma boa bola de Hugo, agora sem apelido, no centro para Vitinho ganhar na casquinha e Pedro, no domínio e na ginga, levar a melhor sobre Bruno Alves pouco depois do meio de campo. A batida foi do nível de excelência apresentado pelo atacante na temporada. Como contra o Inter, apenas de lado diferente. Chapa no canto direito de Volpi. 1 a 0.

Um ano antes, Fernando Diniz estreava pelo São Paulo num Maracanã chuvoso diante de um avassalador Flamengo de Jorge Jesus, que, à época, poupava Rafinha, Filipe Luís e Gerson devido à maratona. Sem tempo para nada, o técnico indicou um São Paulo apenas brigador, defensivo, pronto para picotar qualquer fluidez do rival. Desta vez, não. Com mais tempo no cargo, o São Paulo agora é mais fiel às ideias de que o comanda. Mesmo com revés no placar, o time insistiu em atacar. Ocupar o campo adversário. Mesmo que pressionado pelo Flamengo na defesa em alguns breves momentos, teve facilidade para sair jogando. Está mais preparado para isso. E, sendo repetitivo, teve espaços. Bastam segundos. Bruno Henrique auxiliou Filipe Luís para cobrir o lado esquerdo, principalmente nos avanços do lateral. Preenchia mais o setor. Mas um cochilo…

A bola já era mais do São Paulo, que trabalhava ciente de que o jogo estava ao seu feitio. Tinha mais volume, trocava passes e avançava, descolando o Flamengo em setores. A defesa mais empurrada ao próprio campo, preocupada com a pressão na saída de bola. O meio ainda perdido e os atacantes pouco combativos na pressão. Quando a bola saiu à esquerda com velocidade para Sara às costas de Isla, a defesa estava despreparada. O cruzamento rápido encontrou a cabeça de Natan. Mas o rebote ofereceu um latifúndio. Filipe Luís ainda voltava para se posicinar. Gustavo Henrique já tinha saído à direita. Bruno Henrique não acompanhou Tchê Tchê. Tranquilo, o volante improvisado de lateral dominou a sobra, observou o posicionamento de Hugo e bateu com extrema categoria, no alto. 1 a 1.

O São Paulo retomou o volume inicial da partida com o empate. Trabalhava a bola, de pé em pé, de um lado a outro, mas tentando acelerar por dentro, com trocas rápidas de passes. Gerson era insistentemente vigiado por Daniel Alves. Pressão forte, incômoda para tirar do eixo o cérebro do meio rubro-negro. Combativo e com bom passe, João Gomes efetuou bons desarmes e mandou bola na trave no segundo tempo. Mas marcava mais à frente de sua área, tentando em vão tapar os buracos que observava. O restante do time, descolado, contribuía para o volume são-paulino. Restava ao Flamengo saídas rápidas. Everton Ribeiro, vem vigiado por Igor Gomes nos avanços de Reinaldo, não tinha dia inspirado. Tecnicamente todo o Flamengo estava abaixo. Mas houve momentos, sempre com a bola a carimbar Pedro. Eu um desses lances, o artilheiro recuou, tabelou com Everton e deixou o Camisa 7 – ou melhor, o 007 em homenagem ao ator Sean Connery – ficou em boa condição na frente de Diego Costa. O drible foi certeiro e apenas o árbitro Caio Max, em tarde abaixo da crítica, necessitou de VAR para confirmar a penalidade. Bruno Henrique cobrou muito mal e Volpi não teve dificuldades para defender. Mentalmente, o São Paulo ganhou ali a partida.

Tecnicamente superior, o Flamengo tinha um dia de muitos erros e taticamente era desorganizado na parte defensiva. Concedia espaços a um time envolvente e extremamente organizado no Maracanã. Agrupado, o São Paulo atacava e defendia em bloco, sem descolar os setores. E passou a tocar bola no campo rubro-negro com mais confortavelmente. Assim, girou a bola até descolar boa jogada pela esquerda na qual Reinaldo cruzou rasteiro. Gustavo Henrique, em erro crasso, se preparava para adivinhar o caminho da bola e fechar o fundo. A pelota saiu às suas costas e, com o corpo torto, o toque não foi suficiente para afastar o perigo totalmente. No vacilo, Brenner aproveitou a sobra para fazer justiça no primeiro tempo. Sim, o São Paulo era melhor. E a virada colocou clareza no placar. 2 a 1 para fechar o primeiro tempo.

Fla ao fim: tentativa de maior presença no ataque, mas time ainda bem espaçado

O intervalo não trouxe mudanças. De novo um São Paulo muito comprometido no plano de jogo de Diniz, pressionando demais a saída rubro-negra. Mais do que aproveitar possíveis erros, provocava a insegurança da defesa ao sair jogando. Bola esticada, retomada de bola do São Paulo e o perigo a rondar a área rubro-negra com maior frequência. Abre-se, claro, a possibilidade de erros individuais diante de tamanha exposição. Em tarde complicada, Gustavo Henrique tentou bote no meio e falhou. Natan ainda se recuperou para tentar travar Igor Gomes na finalização. O árbitro errou e apontou escanteio. A bola saiu da área rubro-negra e voltou. E Gustavo Henrique, ao cometer pênalti sobre Bruno Alves em tentativa atabalhoada de desarme na grande área, comprometeu mais uma vez.

Caio Max, de novo, precisou do VAR em lance claro. Pênalti muito bem cobrado por Reinaldo. 3 a 1. Então o São Paulo resolveu poupar energias. Recuou, deu mais campo ao Flamengo e passou a fechar o centro do campo. Deixava como alternativas o lado. O jogo rubro-negro passou a ocorrer por ali como alternativa. Gerson foi até a linha de fundo na direita e em bela jogada individual acabou derrubado por Daniel Alves na área. Pedro cobrou mal e, assim como Bruno Henrique, facilitou demais a empreitada de Volpi.

São Paulo ao fim: mais atrás, pronto para aproveitar o contragolpe

O jogo indicava um São Paulo mais concentrado, consciente do tamanho da partida para a campanha no Campeonato Brasileiro. Domènec Torrent tentou variar. Sacou Vitinho, perigoso apenas em um chute de fora da área no primeiro tempo, e pôs Michael em campo. Aproximou Bruno Henrique de Pedro e tentou ter maior presença na área, assim como esgarçar a defesa do São Paulo e achar espaços para os passes de Gerson, um pouco mais avançado. Não funcionou. A única alternativa era mesmo adiantar para tentar pressionar o São Paulo, mas o time de Fernando Diniz foi frio o suficiente para se adaptar ao momento do jogo. Em belo lançamento de Tiago Volpi, Luciano aproveitou o cochilo de Gustavo Henrique ao permitir a posição legal e também o vacilo de Natan ao acompanhar mais a bola do que o adversário. Acabou batido na ginga e deu oportunidade para o atacante finalizar rasteiro, sacramentando o placar no Maracanã. 4 a 1. Uma impactante e merecida goleada sobre o atual campeão brasileiro.

A invencibilidade de 12 jogos do Flamengo chegou ao fim. Domènec Torrent faz bom trabalho à frente do time. Enfrenta um calendário insano, sem tempo minimamente adequado para implantar as ideias com maior solidez, inúmeros desfalques e teve um surto de covid no elenco. Impossível ignorar tamanhas barreiras. Sobreviveu à tempestade e recuperou em boa sequência. Melhorou o jogo ofensivo da equipe. Mas ainda há problemas, principalmente diante de adversários qualificados. Este Flamengo concede chances demais aos rivais. Permite espaços generosos entre seus setores. E, com isso, depende de um ataque excessivamente competente para não colocar o jogo em risco. Desta vez, a parte ofensiva falhou e o time sucumbiu.

Uma equipe que teve 53% de posse de bola, mas sofreu mais finalizações em sua meta – oito – do que ameaçou o adversário, com sete*. E que parece não ter compreendido a importância dos confrontos diretos com a parte de cima da tabela. Derrotas contra Atlético-MG e São Paulo. Empate contra o Internacional. Vitória apenas sobre o Fluminense diante dos cinco primeiros da tabela. Neste domingo esteve, de novo, em rotação inferior à competitividade do outro lado do campo. Não é falar por falar. É uma análise. As três frentes ainda estão abertas ao Flamengo. A maratona do Brasileiro é longa e, sim, está na metade. Mas é preciso maior consistência, no ataque e, principalmente, na defesa. Nem tudo está mal. Mas nem tudo está bem.

*Números app SoFa Score

FICHA TÉCNICA
FLAMENGO 1X4 SÃO PAULO

Local: Maracanã
Data: 01 de novembro de 2020
Árbitro: Caio Max Augusto Vieira (RN)
VAR: Pablo Ramon Gonçalves Pinheiro (AB)
Acréscimos: Quatro minutos no primeiro tempo, seis minutos no segundo tempo
Público e renda: Portões fechados
Cartões amarelos: Isla, João Gomes, Gerson, Gustavo Henrique (FLA), Diego Costa, Tiago Volpi e Daniel Alves (SAO)
Gols: Pedro (FLA), aos cinco minutos, Tchê Tchê (SAO), aos 16 minutos e Brenner (SAO), aos 45 minutos do primeiro tempo e Reinaldo (FLA), aos 13 minutos e Luciano (SAO), aos 36 minutos do segundo tempo

FLAMENGO: Hugo, Isla, Gustavo Henrique, Natan (Léo Pereira, 39’/2T) e Filipe Luís; João Gomes e Gerson; Everton Ribeiro (Lincoln, 39’/2T), Vitinho (Michael, 27’/2T) e Bruno Henrique; Pedro
Técnico: Domènec Torrent

SÃO PAULO: Tiago Volpi, Tchê Tchê, Diego Costa, Bruno Alves e Reinaldo (Léo Pelé, 38’/2T); Luan, Daniel Alves, Gabriel Sara e Igor Gomes (Vitor Bueno, 20’/2T); Luciano e Brenner (Pablo, 43’/2T)
Técnico: Fernando Diniz

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