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Baforadas do estilo Eurico: as relações viscerais do cartola com seus ‘filhos’ da bola

Charuto Eurico Miranda Luis Fabiano
Luis Fabiano e Eurico Miranda no Vasco

Luis Fabiano ao lado de Eurico Miranda: jogador é o novo protegido do presidente e foi defendido durante apresentação

O jeito Eurico Miranda de comandar o Vasco vai além do personagem emblemático, com charuto entre os dedos e declarações enfáticas. O presidente, geralmente, escolhe “filhos” no elenco. Diante da mídia, os protege, lhes concede regalias no dia a dia e vive, também, relações de amor e ódio. São os seus escolhidos. Luis Fabiano, principal reforço desta temporada, teve o gosto doce do domínio de Eurico Miranda ao chegar ao clube nesta terça-feira. Foi tratado com status de estrela, recebido em meio a baforadas de charuto na sala da presidência em São Januário e escoltado na coletiva de imprensa na sede náutica da Lagoa.

“Comparar Luis Fabiano com Guerrero? Vocês estão de sacanagem. Ele está a anos-luz do Guerrero”, disparou Eurico ao lado de um sorridente Luis Fabiano.

De quebra, o presidente garantiu que Fabuloso estará em campo diante do rival Flamengo na, ainda indefinida, semifinal da Taça Guanabara. Mas Luis Fabiano que não se acostume. Há, também, o lado amargo. Afinal, o polêmico Eurico é dado a chuvas e trovoadas. Afaga e dá pito com a mesma intensidade, vive as relações com seus escolhidos de forma visceral. Nada o escapa. As maiores estrelas da história vascaína provaram esse gosto.

Em 1980, então assessor da presidência, Eurico Miranda moveu mundos e fundos para trazer Roberto Dinamite de volta ao Vasco. Dinamite, negociado com o Barcelona, pouco tinha chances na Espanha com o técnico Helenio Herrera. O craque, então, assinara um pré-contrato com o rival Flamengo. Inconformado, Eurico viajou até a Espanha, desfez o acordo com o rubro-negro e fechou a volta do ídolo a São Januário. Na reestreia, Dinamite marcou os cinco gols vascaínos na goleada de 5 a 2 sobre o Corinthians, no Maracanã. Após o jogo, agradeceu ao dirigente.

“Queria agradecer ao Eurico Miranda, o homem que me trouxe de Barcelona”, disse Dinamite.

Dinamite expulso tribuna Vasco

Dinamite lamenta expulsão da tribuna

Anos depois, rivalidades na política interna puseram ambos frente a frente. Aos berros, Eurico expulsou Dinamite e o filho da tribuna de honra de São Januário durante uma partida, em 2002. Cinco anos mais tarde, Roberto substituiu Eurico na presidência do clube. Depois, o cartola voltou ao cargo. Uma relação intempestiva como a que teve com Edmundo. Profissionalizado pelo Vasco, o Animal também viveu às turras com Eurico. Em 1997, após ser o craque do Brasileiro, o atacante contrariou o dirigente e pediu para ser negociado com a Fiorentina, da Itália.

Menos de dois anos depois, foi repatriado por 13 milhões de dólares. Recebido com festa, chegou a ser inscrito previamente no Campeonato Carioca, tal qual Luis Fabiano neste ano. No ano seguinte, no entanto, a relação começou a se desgastar. Preocupado com a disputa do Mundial, Eurico, então vice de futebol, suspendeu o contrato de imagem de Edmundo por algumas horas, alegando falta de compromisso. No Mundial, o atacante isolou o pênalti que sacramentou a derrota vascaína. Acabou confortado por Eurico. Meses depois, em guerra aberta com Romário, já de volta a São Januário, Edmundo acabou afastado.

Edmundo afastado do Vasco

Edmundo foi afastado por Eurico em 2000

“Ele vem tomando uma série de atitudes erradas, antes mesmo da chegada do Romário. Por último, foi visto numa boate quando deveria estar concentrado e deu declarações que deixaria o Vasco. Isso foi a gota d´água. Ele está suspenso e depois, provavelmente,o passe dele será posto à venda”, disse Eurico na época.

De fato, Edmundo deixou o Vasco no segundo semestre de 2000, rumo ao Santos. Em 2003, voltou ao clube sob a bênção de Eurico. No fim da temporada, deixou o Vasco, acionou o clube na Justiça por salários atrasados e chamou Eurico de mentiroso, que rebateu.

“Edmundo ama o Vasco mas gosta mesmo é de dinheiro. Ele é torcedor do clube, mas não me vem com essa história. Estou cheio dessas pessoas que dizem que amam o Vasco para tirar dinheiro”, disparou.

A briga durou cinco anos. Em 2008, o presidente vascaíno chamou Edmundo, já veterano, de volta.

“Almejava a volta dele. Isso é um reconhecimento a trajetória do Edmundo no Vasco. Quando ele efetivamente for parar de jogar, quero que seja de uma forma consagradora com a camisa do Vasco”, disse Eurico.

Edmundo careca 2008

Edmundo careca: aposentadoria proibida

No mesmo ano, o Animal perdeu o pênalti em São Januário que eliminou o Vasco diante do Sport, na semifinal da Copa do Brasil. Transtornado, Edmundo apareceu no dia seguinte em São Januário de cabelo raspado. Ao sair do vestiário, avisou que ia à sala do presidente rescindir o contrato. Foi demovido da ideia de maneira enfática.

“Ele veio me perguntar se eu concordava em rescindir o contrato dele. Eu não concordo. Nesta sexta ele estará treinando de manhã. E ponto final”, vociferou.–

Edmundo encerrou a carreira no fim de 2008, após o rebaixamento do Vasco, com o dirigente já afastado da presidência.

Romário, Petkovic e Marcelinho Carioca: pequenas rusgas

Além de Edmundo e Roberto Dinamite, Eurico conviveu com estrelas do quilate de Romário, Petkovic e Marcelinho Carioca. Com o primeiro, poucos atritos. Após trazê-lo após saída polêmica do rival Flamengo, Eurico permitiu Romário reinar em São Januário. Entre conquistas, encampou até a luta do jogador pelo milésimo gol, ocorrido em 2007, em São Januário. Romário ganhou até estátua e, em 2008, foi convidado a treinar o time. Aceitou. Mas durou pouco. Após se desentender sobre a escalação de Alan Kardec, no Carioca, Romário deixou o clube. Mas não rompeu com Eurico, a quem chamou de “pai”.

“Às vezes os pais brigam com os filhos. E posso dizer que ele (Eurico) é o meu pai no futebol. A gente teve um desentendimento. Mas daqui a pouco a gente volta”, disse Romário.

Romário e Eurico: relação próxima

Quem também o chamou de pai foi Marcelinho Carioca. Contratado no início de 2003, o meia, revelado pelo Flamengo, conquistou dirigente e torcida ao evitar pronunciar o nome do Rubro-Negro em sua apresentação. Tratou, sempre, como “rival”. Eurico, claro, adorou e protegeu Marcelinho até sua saída, após a conquista do Carioca, para o Al Nassr, da Arábia Saudita. Em 2004, Marcelinho voltou ao clube e trouxe polêmica.

Lesionado, demorou a retomar a forma. Eurico, irritado, deu apoio a a tratamentos distintos do repassados pelo departamento médico do clube. Revoltados, todos os médicos, com anos de casa, pediram demissão coletiva. Eurico deu de ombros e, menos de um mês depois, liberou Marcelinho para o Ajaccio, da França. Foram quatro jogos pelo clube em 2004, mas a relação com Eurico permaneceu intacta.

“Desde seu retorno, ele mostrou que o Vasco é a casa dele. As portas estão abertas para quando ele quiser voltar”, declarou o cartola.

Com Petkovic, mais um filho. Mas com rusgas. Ídolo do Flamengo e autor do gol do tricampeonato de 2001, o sérvio foi apresentado, de surpresa, na sede náutica da Lagoa, durante solenidade pelo aniversário de 104 anos do clube, em 2002. No ano seguinte, após a conquista do Estadual, Pet pediu liberação para jogar na China. Eurico, irritado, negou.

“Fui pego de surpresa. Ele e o procurador foram até a minha casa em Angra e me entregaram uma carta com o pedido de demissão. Mas, agora, temos um problema sério, pois eu não dou a liberação. Ele tem o direito de procurar o que é melhor para ele profissionalmente, mas o Vasco tem o direito de ser ressarcido pela quebra de contrato”, disse Eurico.

No fim das contas, Petkovic foi para a China, mesmo sob protesto de Eurico.

“O Vasco está fechado para ele. Não existe a menor chance dele voltar a vestir a camisa do Vasco”, declarou.

No ano seguinte, Petkovic voltou ao Vasco e, com belas atuações, salvou o time de ser rebaixado no Campeonato Brasileiro. A paz estava reestabelecida no reino de Eurico, assim como Luis Fabiano em 2017. Até agora.

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