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Botafogo encontra seu limite diante do Grêmio, mas deixa América de cabeça erguida

Renato Gaúcho Grêmio Libertadores 2017

Renato Gaúcho Grêmio Libertadores 2017

Não haverá um torcedor do Botafogo capaz de ficar chateado com a postura do time na Libertadores. Pelo contrário. O mínimo de bom senso indica que o sentimento mais adequado é o orgulho. Há, claro, o amargo gosto com a eliminação na derrota de 1 a 0 para o Grêmio em Porto Alegre e o adeus a uma fábula escrita com caneta dourada na História do clube. Natural e até justo. Mas até na hora de dizer adeus ao seu maior sonho, o Botafogo teve dignidade. Diria o maior chavão que o time caiu de pé. Despediu-se sem adicionar vexame ou fracasso ao seu vocabulário. Esbarrou, mesmo, nas próprias limitações.

Grêmio já sem Léo Moura: Fernandinho melhor pela direita

Limites estes já apontados desde o início da temporada, com uma improvável classificação para a Libertadores, um orçamento muito mais enxuto do que os maiores rivais e um clube ainda asfixiado por dívidas passadas. A conta provavelmente chegaria em momentos mais decisivos. Este Botafogo, porém, tomou gosto em desafiar obviedades nesta Libertadores. Por isso não havia como duvidar de uma classificação à semifinal. O próprio time não duvidava. Entrou em campo convicto de que poderia superar o Grêmio em plena Arena. Acreditou. E foi mais ousado do que de costume.

Pois no rolar da bola Jair Ventura preferiu a escalação mais precavida que teve sucesso em outras fases. Um 4-4-2 com João Paulo como o jogador mais próximo de Roger. Parecia pouco para um time que precisava muito de um gol para encostar o rival na parede. Mas a postura da equipe ajudou. Foi um Botafogo mais agressivo, marcando o Grêmio logo na saída de bola, forçando o erro do adversário para retomar a posse e disparar rumo ao gol rival. Em casa, pressionado pela própria arquibancada, o Grêmio sentiu o início do jogo.

Botafogo no início: time adiantado, pressionando rival

Renato Gaúcho manteve praticamente a mesma escalação utilizada no Engenhão, uma semana antes. Ainda sem Luan, desta vez no banco graças a condições físicas insuficientes para o participar do jogo, repetiu a trinca atrás de Barrios com Fernandinho na esquerda, Ramiro no meio e Léo Moura na direita. Na partida de ida, o lateral funcionou na função de falso ponta nas costas de Gilson, um lateral alvinegro com gosto pelo ataque e que deixava uma avenida na defesa. Não era o que acontecia no Sul.

Com o Botafogo voraz, Léo Moura não teve tanto espaço diante de Victor Luís, suspenso no jogo de ida. E tampouco conseguiu ajudar Edilson a suportar as investidas seguidas com Pimpão pelo setor. O Grêmio ficou assustado. Geromel, de volta após um mês lesionado, cumpria má jornada técnica, assim como o companheiro Kannemmann. Ambos rebatiam bolas de forma perigosa, invariavelmente em pés botafoguenses. A subida em bloco proporcionava constantes tentativas de finalização do Botafogo.

Grohe passou a ter trabalho ao defender bolas atiradas ao seu gol por botafoguenses furiosos. De longe, Bruno Silva quase o venceu com uma bomba no travessão. Era curioso: o Botafogo, afeito ao contra-ataque, dominava a partida e empurrava o Grêmio em seu campo. Uma inversão de ideias e que ameaçava demais o time de Renato Gaúcho, com dificuldades para sair para o jogo. Ai´, um mérito grande de Jair: destaque absoluto do confronto de ida, o volante Arthur teve dificuldades para desenvolver seu jogo no meio. Matheus Fernandes e Lindoso se revezavam para travar o maior cérebro criativo gremista. Dava certo. O Botafogo era melhor. O Grêmio apenas assustou em um lance fortuito de Fernandinho, que mandou na trave de Gatito.

Grêmio ao fim: defesa total da vaga

Experiente, Renato percebeu que entregar-se continuamente à armadilha do Botafogo resultaria em um gol qualificado que o obrigaria a uma virada. Teve, então, coragem. Sacou Léo Moura antes do intervalo, entrando com Everton, que inverteu o lado de Fernandinho. Melhorou. Pois o atacante, canhoto, cortava para o meio, buscando um espaço nas costas dos volantes botafoguenses e fugindo de Victor Luís. Melhorou. O Grêmio respirou, acalmou a pressão botafoguense e desceu ao vestiário vivo no confronto. Uma chance que o Botafogo não poderia ter perdido.

Pois era claro que na segunda etapa Renato deixaria o seu time ao menos mais organizado. E, consequentemente, mais agressivo em casa. Dito e feito. Embora ainda tivesse dificuldade na criação com Ramiro centralizado, Arthur inverteu com Michel e caiu mais à esquerda, fugindo da primeira vigília de Matheus Fernandes. Obrigava, ali, um avanço de Rodrigo Lindoso e uma atenção maior de Bruno Silva. No espaço em frente à área, Fernandinho caiu com maior facilidade. E os laterais passaram a avançar.

Cortês pela esquerda, Edilson pela direita. No calor da arquibancada, o Grêmio alugou campo, adiantou casas e subiu para pressionar o rival, já incomodado com a maior posse do rival, que insistia em trocar passes de um lado para o outro. O nervosismo passou ao Botafogo. Igor Rabello, já intranquilo no primeiro tempo com pancadas desncessárias no meio de campo, repetiu o comportamento e derrubou Fernandinho na intermediária. Um erro fatal.

Botafogo ao fim: Carli no ataque

Na cobrança de Edilson, Barrios surgiu nas costas de Matheus Fernandes e tocou para a rede. 1 a 0. O Botafogo deveria sair de sua fórmula de segurança, até então eficiente na Arena do Grêmio. Era preciso jogar com o revés. E as deficiências custaram caro. Jair fez duas mudanças, sacando Pimpão e Matheus Fernandes para as entradas de Guilherme e Valencia. Centralizou o chileno, recusou João Paulo a volante e adiantou Bruno Silva, indicando um 4-2-3-1. Uma postura mais agressiva, mas menos assimilada pelos jogadores. Os movimentos são menos naturais, instintivos. O time passou a ter de prender mais a bola e titubear até achar o companheiro.

Um gol de qualquer lado fatalmente liquidaria a classificação. O jogo passou a ser nervoso. Picotado. Catimbado. Renato pareceu travar o Grêmio colocando Jailson, um volante, na vaga do extenuado Barrios. Mas Jailson inicialmente permaneceu no ataque, quase como o último homem. O Grêmio agora se fechava mais em um 4-4-2, à espera do Botafogo. Jair respondeu com Brener na vaga de João Paulo. Mas faltava técnica. Carli avançou à área, deixando Lindoso em seu lugar na zaga. Com a alta estatura pretendia ajudar Roger em uma bola alçada. Não havia criatividade. Era a aposta no aleatório. O preço da limitação alvinegra.

Aos poucos, o Grêmio acalmou e se fechou. Jailson trocou com Arthur e o volante fez as vezes de atacante. Até Renato colocar Luan nos minutos finais, na vaga de Ramiro. Um time fechado, sedento pela classificação que chegou após um festival de rebatidas na defesa com tantas bolas alçadas à área pelo Botafogo. Mas a classificação era mesmo gremista. Há limitações, sim, para este Botafogo.

Um time que escreveu uma de suas maiores fábulas pela América do Sul, eliminou campeões e se candidatou sempre a quebrar qualquer tipo de obviedade. Desta vez finalizou 13 vezes no gol do rival, mas, assim como na semifinal da Copa do Brasil diante do Flamengo, não conseguiu vazar o adversário uma vez sequer. É fatal em um mata-mata. Talvez aí o preço alto da grande limitação. O Botafogo foi quase sempre eficiente na defesa, mas nos maiores desafios o ataque praticamente não ajudou. A luta, no entanto, não foi em vão. Há pouco mais de 18 meses, o time estava na Segunda Divisão. O clube se reestrutura. Sim, o Botafogo caiu na Libertadores. Mas deixou sua marca. Permite ao torcedor olhar com orgulho no espelho. Deixou a América. Mas com a cabeça em pé.

FICHA TÉCNICA:
GRÊMIO 1X0 BOTAFOGO

Local: Arena do Grêmio
Data: 20 de setembro de 2017
Horário: 21h45
Árbitro: Patricio Loustau (ARG)
Público e renda:
Cartões amarelos: Igor Rabello, João Paulo e Rodrigo Lindoso, Roger e Guilherme (BOT) e Kannemman, Geromel, Cortês e Edilson (GRE)
Gols Barrios (GRE), aos 17 minutos do segundo tempo

GRÊMIO: Marcelo Grohe; Edilson, Geromel, Kannemann e Cortês; Michel e Arthur; Leo Moura (Everton, 37’/1T), Ramiro (Luan, 44’/2T) e Fernandinho; Barrios (Jailson, 35’/2T)
Técnico: Renato Gaúcho

BOTAFOGO: Gatito; Arnaldo, Carli, Igor Rabello e Victor Luis; Bruno Silva, Rodrigo Lindoso, Matheus Fernandes (Leo Valencia, 23’/2T) e Rodrigo Pimpão (Guilherme, 23’/2T); João Paulo (Brener, 36’/2T) e Roger
Técnico: Jair Ventura

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