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A briga do Vasco

Dia 7 de dezembro de 2008. Estava prestes a sair da redação do LANCE! para ir a São Januário. O primeiro rebaixamento da história do Vasco era muito provável. Precisaria vencer o Vitória em casa e ainda de uma combinação de resultados. Em um bate-papo com o editor Plínio Rocha, sugeri a ideia de capa caso o time realmente caísse. Uma capa preta, faixa diagonal, a cruz-de-malta e o canto da torcida destacado: “O sentimento não pode parar”. Ele gostou. Mas, claro, torcíamos para ser uma ideia legal esquecida. Jornalismo tem disso.

Cobria o clube há um bom tempo e aquele canto sempre me chamava atenção. Era uma versão de um um grito de arquibancadas argentinas. Mas dizia muito. A caravela vascaína estava em mares revoltos. Brigas políticas, asfixia financeira. Eurico Miranda teve seu mandato cassado judicialmente meses antes. Roberto Dinamite assumira. A arquibancada pulsava a todo jogo, a cada sofrimento. O sentimento não pode parar. Era um pedido e uma tentativa de autoconvencimento. O Vasco, ali, já agonizava.

A história nos lembra que o Vitória ganhou naquele dia, o caos esperado em São Januário, com cenas de violência, não aconteceu. Em vez de revolta, abatimento. O Vasco fora rebaixado. Primeiro golpe. A capa do LANCE! foi às bancas, a frase pinçada da arquibancada virou slogan do departamento de marketing na retomada. O Vasco voltou em 2009, a torcida apoiou parecia ter orgulho. Mas caiu de novo. Mais duas vezes. Três na última década. Hoje, um pequeno vascaíno com dez anos viu o clube ser rebaixado em três deles e disputar a Série B em outros três. É pesado. Compromete a relação para o futuro. Deveria impactar. Mas o Vasco parece ter caído em um limbo, em um transe coletivo.

Vergonhas parecem não mais impactar. É derrotado pelo Macaé. Sofre para voltar da Série B. Cai diante do Vitória na Copa do Brasil em março. Seis mil pessoas na estreia da maior contratação do ano, Luis Fabiano. Difícil o sentimento acompanhar. Fica frio, distante. O Vasco, Gigante da Colina, temido pelos adversários, não existe atualmente. É um esboço. Um jornal que vive de seus arquivos gloriosos. O Vasco precisa ser salvo pelos vascaínos. É necessária uma mobilização para evitar o esfarelamento da imagem cruzmaltina, ano após ano. Um plano, de verdade, para recuperar o clube. Não que ele vá acabar. Mas se apequena. Diante dos rivais. Diante dos torcedores. Diante de si.

Em um ambiente tão conturbado, ainda com disputas políticas, dedos apontados, o time de futebol naufraga. Cristóvão Borges faz trabalho ruim, mas é também prejudicado pela chegada de jogadores em meio à temporada. Tenta trocar pneu com o carro ligado. Mas a caravela não sai nem do lugar. Está inserida em um ambiente nada favorável. A culpa é de Eurico, o velho cartola. É de Roberto Dinamite, o novo que se mostrou velho. De quem faz mais do mesmo. É de um sentimento que deixou o clube estacionar no tempo, perder a passada da vanguarda. Está travado. Todos brigam por si. Ninguém briga pelo Vasco. De nada adiantar apagar fogueiras constantemente. O olhar tem de ser macro, no grande incêndio. Essa é a briga atual do Vasco.

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