A estreia na Libertadores após oito anos de ausência já tinha dado um sinal positivo. Empate e pressão sobre o River Plate, o bicho-papão das Américas. A ansiedade foi embora. E nesta quarta-feira, na Colômbia, o Fluminense arrancou uma ótima vitória sobre o Independiente Santa Fe por 2 a 1. Não valeu apenas a liderança do Grupo D. Foi, também, uma cartilha da Libertadores para a equipe. Guerreiro, o time conseguiu superar a barreira causada pela boba expulsão de Egídio.
O gol logo de saída, claro, facilita – e como. Atrapalha o adversário mental e taticamente. Pois bastou uma bela jogada de Kayky pela direita, o toque genial de letra de Nenê e a capacidade de finalização de Fred. O Santa Fe mal piscara dentro de campo, ainda tentava se organizar e já estava atrás do placar. 1 a 0. Roger Machado repetiu a equipe do confronto com o River Plate. 4-2-3-1, com Kayky e Luiz Henrique pelos lados, Nenê ao centro, Yago e Martinelli por trás. A ideia, de novo, de bloquear os lados com os avanços dos laterais rivais. Quase funcionou bem. Quase porque o Independiente Santa Fe fazia boas inversões de um lado a outro. Principalmente da direita para a esquerda, onde estavam o lateral Mosquera e Arias. Os colombianos também estavam postados em um 4-2-3-1, com Jorge Ramos à frente e Seijas por dentro. O lado esquerdo, no entanto, preocupava Calegari.
Roger percebeu as investidas da equipe colombiana pelo setor do lateral. Inverteu Luiz Henrique, de maior porte físico, com Kayky, em busca de maior ajuda a Calegari. Evitar as constantes subidas agressivas pelo lado direito. De certa maneira diminuiu o impacto do Santa Fe. Mas talvez instintivamente o Fluminense se recolheu demais. Indicou o posicionamento defensivo com 4-4-2, Fred e Nenê à frente. Mais avançado, o Santa Fe passou a pressionar a saída de bola tricolor e trabalhar o passe por dentro, Pico e Giraldo acionando Seijas para organizar o setor. O Tricolor ficou mais vulnerável. Porras, pela direita, fez belo cruzamento e Jorge Ramos não conseguiu alcançar a bola que passou pela pequena área. Um alívio.
Houve até resposta tricolor rápida, com uma carimbada de Kayky na trave, no lado esquerdo da grande área. Mas foi apenas um respiro. O time ainda sofria, dava espaços. Arias, em belo lance pela esquerda, rolou para Mosquera na risca da pequena área isolar por cima da meta. Na cartilha da Libertadores contar com sorte também é um dos principais itens. E o primeiro tempo terminou com vitória parcial tricolor.
Na volta do intervalo, Harold Rivera sacou Arias e pôs Valdes em campo. Modificou a configuração com dois homens no ataque, embora Jorge Ramos desse passos atrás com alguma constância para aproveitar o espaço às costas dos volantes. De novo não houve nem tempo para os colombianos. Kayky esticou bola para Egídio na ponta esquerda e o cruzamento saiu na medida para Frederico Chaves Guedes cabecear certeiro, na pequena área. Gol número 185 do Camisa 9, segundo maior artilheiro da História do Fluminense. Há relações construídas que não devem se desfazer nunca. 2 a 0.
O jogo parecia caminhar para um desenrolar tranquilo. Mas a cartilha da Libertadores exige atenção. Desde o primeiro tempo o Santa Fe tentava inverter bolas pelos lados, às costas dos laterais, e também da intermediária para a grande área, tentando surpreender os zagueiros. Em um desses lances, Palacios lançou por dentro para a infiltração de Giraldo. Egídio deu condição e Luccas Claro não combateu. O meio campista desviou de Marcos Felipe por cima e ainda completou para diminuir. 2 a 1. O alerta lembrava: é Libertadores.
Roger entendeu o momento e repetiu as mudanças que fizera contra o River Plate. Sacou Nenê para a entrada de Cazares e Kayky para pôr Gabriel Teixeira. Passe e maior cadência e velocidade para possíveis esticadas. O garoto, inclusive, conseguiu boa jogada pela esquerda após passe de Fred e só não transformou em gol por um bom abafa de Castellanos. O comandante tricolor voltou a sentir a necessidade de renovar o fôlego. Saíram Fred e Luiz Henrique para entrar Bobadilla e Caio Paulista. Manter a velocidade pelos lados para frear o Santa Fe e a disputa física mais à frente. Parecia que daria certo. Parecia.
Egídio vive seus altos e baixos. Consegue ser ótimo assistente como no cruzamento para o gol de Fred. E consegue derrubar Caballero com força além do necessário, ainda no meio de campo, mesmo com cartão amarelo. A expulsão foi um convite ao Santa Fe partir, ainda que de maneira desorganizada e aleatória, ao ataque. Roger sacou o escape de velocidade, Gabriel Teixeira, e pôs Danilo Barcelos para fechar a linha defensiva. Fazia sentido manter Bobadilla pela sua experiência, conhecimento sul-americano, porte físico para segurar a bola e, claro, a catimba. 4-4-1 clássico de uma equipe com um jogador a menos. Do outro lado, Rivera pôs velocidade pela direita, justamente no setor ainda sensível da defesa tricolor. Jersson González substituiu Osorio e deu trabalho. Por pouco não empatou a partida com um chute cruzado. O coração tricolor sustentou a insistência aleatória do rival com 31 cruzamentos para a grande área. O último deles, uma cabeçada fulminante de Jorge Ramos em que Marcos Felipe fez defesa espetacular, no chão. Vitória arrancada.
Aos poucos, o Fluminense é reintroduzido na competição sul-americana. Mostrou na Colômbia que sabe como disputá-la. Venceu logística pesada com a mudança do local da partida, expulsão infantil e pressão do adversário. Sobreviveu. Rezou a cartilha da Libertadores.
FICHA TÉCNICA:
INDEPENDIENTE SANTA FÉ 1X2 FLUMINENSE
Local: Estádio Nemesio Camacho, El Campin
Data: 28 de abril de 2021
Horário: 21h
Árbitro: Andres Cunha (URU)
VAR: não houve
Público e renda: portões fechados
Cartões amarelos: Jorge Ramos e Giraldo (IND) e Bobadilla (FLU)
Cartão vermelho: Egídio (FLU), aos 25 do segundo tempo
Gols: Fred (FLU), aos cinco minutos do primeiro tempo; Fred (FLU), a um minuto, Giraldo (IND), aos cinco minutos do segundo tempo
INDEPENDIENTE SANTA FE: Castellanos, Porras, Torijano, Palacios e Mosquera (Delgado, 46’/2T); Giraldo e Pico; Osorio (Jersson González, 30’/2T), Seijas (Caballero, 21’/2T) e Arias (Valdes / Intervalo); Jorge Ramos
Técnico: Harold Rivera
FLUMINENSE: Marcos Felipe; Calegari, Nino, Luccas Claro e Egídio; Martinelli e Yago Felipe; Kayky (Gabriel Teixeira, 15’/2T e depois Danilo Barcelos, 25’/2T), Nenê (Cazares, 15’/2T) e Luiz Henrique (Caio Paulista, 23’/2T); Fred (Bobadilla, 23’/2T)
Técnico: Roger Machado