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Clássico entre Fluminense e Botafogo é um convite à reflexão do futebol carioca

Fluminense gol clássico Botafogo 2018

(Divulgação / Fluminense)

Fluminense gol clássico Botafogo 2018

(Divulgação / Fluminense)

As circunstâncias que envolveram o clássico entre Fluminense e Botafogo no Maracanã, neste domingo, deveriam levar a comunidade do futebol carioca a uma reflexão. Dirigentes, sócios, torcedores, jogadores. Um futebol sem qualidade em campo, uma arquibancada vazia e melancólica e um gramado precário, fazendo areia voar a cada lançamento ou passe. Uma agressão aos amantes do futebol do Rio de Janeiro. Claro, o estado e a capital estão maltratados há algum tempo, envolvidos na crise que arrasta o Brasil. O futebol perde em seu simbolismo, passa a ser ignorado até mesmo como evento secundário. Não desperta paixões, não trabalha por si. Enquanto os clubes e a federação trocam picuinhas, o futebol no estado naufraga diante de outras praças que, mesmo recheadas de rivalidade interna, compreendem a necessidade de avançar em bloco sobre esse inexplicável Rio de Janeiro. A magra vitória de 1×0 do Fluminense sobre o Botafogo foi o símbolo mais recente do esfarelar do futebol carioca.

Flu no início: Luciano por trás de Kayke e velocidade pelos lados

Foram apenas 10.031 pagantes, bem menos do que os 22 mil no Campeonato Carioca deste ano. Chega a ser ingênuo justificar a redução do público com os Estaduais. Não é o campeonato regional que se tornou pouco atrativo. O pacote do futebol carioca, no todo, causa quase aversão. O período atual relembra o início dos anos 2000. Em 2003, após a vitória do Vasco sobre o Fluminense por 1×0, gol do possante lateral-esquerdo Ozeia, um jornal carioca estampou na capa: “No futebol, o Rio só ganha dele mesmo”. Uma crítica feroz a um estado que, à época, tinha Flamengo, Fluminense e Vasco em jejum de vitórias e lutando contra o rebaixamento, além do Botafogo na Segunda Divisão. O papel no âmbito nacional era, apenas, de figurante.

Vá lá que o Flamengo recentemente tenha se reestruturado e ocupado o topo da tabela. Ainda assim, também parece não ter capacidade de se manter por lá ao se perder em erros internos primários. O panorama é desolador. Um dia antes deste Fluminense e Botafogo, este Flamengo encarou a Chapecoense no mesmo gramado desclassificante do Maracanã, em meio a areia, tufos e jogadores ralados a qualquer carrinho. É vergonhoso. Prejudica o jogo, independentemente dele ser mais ou menos técnico, muito ou pouco organizado. O espetáculo empobrece, a competitividade se iguala com equipes mais fracas. E pouco mais de quatro anos depois da Copa, o estádio de R$ 1,3 bi tem um campo semelhante ao de uma várzea. Difícil deixar se seduzir diante de tanto desleixo. Poucos mais de dez mil herois se dignaram ir ao Maracanã neste domingo. Pois, mesmo diante de tudo, houve um jogo.

Botafogo no início: trio de volantes não funcionou

Dois pontos acima do Botafogo na tabela, o Fluminense, imerso em enorme crise financeira e política, luta para sobreviver dignamente neste 2018. Sem Pedro, lesionado, e Sornoza, convocado, talvez fosse mais prudente para Marcelo Oliveira reforçar a marcação e buscar a velocidade dos contra-ataques. O técnico tricolor buscou uma mescla. Ser organizado defensivamente, mas não depender exclusivamente dos contragolpes. Teve, em alguns momentos, a bola. Mas sem um meia de ofício era mais difícil mantê-la, fazer o jogo girar. Tinha Everaldo e Jadson com saídas rápidas pelos lados e Luciano tentando achar espaço entre atrás dos três volantes botafoguenses. À frente, Kayke. Um 4-2-3-1 que tinha muito o apoio dos laterais, principalmente de Ayrton Lucas, grande arma ofensiva tricolor na ausência dos dois principais jogadores do elenco.

Ainda em seu início no Botafogo, Zé Ricardo parece tatear o elenco e buscar alternativas. Não há um comportamento uniforme, uma ideia clara. É um time que alterna suas pensatas jogo a jogo. Ao mandar o time a campo no 4-3-3, Zé decidiu manter um tripé de volantes no meio, dando qualidade na saída com Lindoso e maior aproximação de Bocheca e Matheus Fernandes. À frente, Erik para para explorar a velocidade às costas e Ayrton Lucas, Luiz Fernando do outro lado e Kieza com grande movimentação pelo meio. Ocorre que o time alvinegro pouco buscava o chão. Abusava demais de lançamentos e cruzamentos. A busca sempre pela bola mais longa para a correria dos pontas deu pouco resultado. Como o Fluminense, dito anteriormente, não contava com seu meia, o resultado foi um balé dos horrores somado ao péssimo estado do gramado: bola alta, com determinadas sequências de cabeçadas de parte a parte.

Ao fim, Flu valoriza a vitória e fecha a área para o Botafogo

O Fluminense, no entanto, era mais perigoso, ocupando bem os lados com velocidades e tentando alçar bolas à área para a conclusão de Kayke. Era curioso: o Botafogo fortaleceu o meio para marcar uma equipe que não tinha um meia de ofício e buscava sempre os lados. Deu, assim, espaços ao rival para chegar. Quando Luciano cobrou escanteio com 11 minutos, Bochecha rebateu mal, Everaldo tentou a bicicleta para o meio da área e Digão, atento, completou para o fundo da rede. 1 a 0. E o Fluminense se retraiu, tentando chamar o Botafogo e disparar em contragolpes. Não deu muito certo. Com mais posse, o Botafogo tomou o campo tricolor e passou a arriscar demais com Erik pelas costas de Ayrton Lucas. Por ali, criou duas boas oportunidades, paradas com presença de Julio Cesar no lance. O jogo era corrido, disputado, mas muito pobre.

Zé Ricardo entendeu que o time construía mal as jogadas e decidiu sacar Matheus Fernandes para a entrada de Rodrigo Pimpão no início do segundo tempo. Deixou o 4-3-3 de lado e partiu a um 4-2-3-1, com Erik por dentro, Luiz Fernando e Pimpão aos lados, atrás de Kieza. Melhorou. O time tinha jogo nas pontas e também por dentro, com a velocidade de Erik preocupando Richard e Dodi. Mas pouco agredia. Na verdade faltam opções a Zé Ricardo. O elenco é fraco e mesmo diante de um rival desfalcado apresenta dificuldades. Está longe, por exemplo, de ser competitivo em seu máximo como nos tempos de Jair Ventura. Uma exceção a toda a regra. Zé ainda lançou Luis Ricardo e Brenner ao fim, tentando forçar ao máximo pelo lado direito, com dois centroavantes. Mas, de novo, o time pouco tinha bola trabalhada pelo chão. De acordo com o Footstats foram 40 lançamentos alvinegros na partida. 30 deles errados, sem prosseguimento algum da jogada.

Ao fim, Botafogo mais adiantado, com dois centroavantes atrás do empate

Diante da pouca efetividade do rival, Marcelo Oliveira tentou encaminhar a vitória com a receita básica. Sacou Luciano e Everaldo e pôs Marcos Junior e Matheus Alessandro. Jadson, já cansado para acompanhar o vaivém do lado direito, se posicionou quase como um segundo atacante ao lado de Kayke, num 4-4-2. Seria o fim de jogo tranquilo não fosse, uma vez mais, a displicência de Ayrton Lucas, como ocorreu contra o São Paulo. Em cruzamento despretensioso de Erik da direita, ele abriu os braços de forma incompreensível e permitiu que o pênalti fosse corretamente assinalado por Leandro Vuaden. Lindoso cobrou e Rodolfo voou para fazer ótima defesa. No rebote, Erik teve o gol livre à frente, mas bateu por cima do travessão. Um show de horrores que completaria um clássico melancólico.

Diante de panorama tão desolador, o Fluminense deve comemorar, claro, o resultado que o deixa mais confortável, a sete pontos da zona de rebaixamento. Mesmo sem Pedro e Sornoza. Mas o elenco ainda é fraco para qualquer pretensão mais ousada na competição. O Botafogo, por outro lado, se aproxima perigosamente do desespero chamado zona de rebaixamento. É limitado, mas sem uma ideia sofre mais gols do que deveria. Pecado fatal para quem disputa no pelotão de baixo. E vale sempre repetir: foram apenas dez mil pagantes para assistir ao Clássico Vovô – uma instituição do futebol nacional, não apenas do Rio de Janeiro – no Maracanã no fim de semana. Com jogadores que não despertam paixões, um ambiente cinza. Com um gramado de pelada. O futebol carioca precisa de uma reflexão urgente se não quiser se consolidar apenas como figurante diante dos demais blocos regionais. O futuro é tenebroso.

FICHA TÉCNICA
FLUMINENSE 1X0 BOTAFOGO

Local: Maracanã
Data: 9 de setembro de 2018
Horário: 16h
Árbitro: Leandro Vuaden (RS)
Público e renda: 10.031 pagantes / 10.699 presentes / R$ 232.090,00
Cartões amarelos: Luciano, Digão e Ayrton Lucas (FLU) e Marcinho, Marcelo Benevenuto, Moisés e Erik (BOT)
Gol: Digão (FLU), aos 11 minutos do primeiro tempo

FLUMINENSE: Julio Cesar (Rodolfo /Intervalo), Gilberto, Gum, Digão e Ayrton Lucas; Richard, Dodi e Jadson; Everaldo (Matheus Alessandro, 33’/2T), Luciano (Marcos Junior, 26’/2T) e Kayke
Técnico: Marcelo Oliveira

BOTAFOGO: Saulo, Marcinho( Luis Ricardo, 22’/2T) Marcelo Benevenuto, Igor Rabello e Moisés; Rodrigo Lindoso, Matheus Fernandes(Rodrigo Pimpão, 12’/2T), Gustavo Bochecha; Erik, Luiz Fernando (Brenner, 32’/2T) e Kieza
Técnico: Zé Ricardo

  • Gleydstone Silveira

    Lamentável ver o futebol do Rio nessa situação. Sou Rubro Negro, mas precisamos também dos rivais fortes.