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Com medo de vencer, um irregular Flamengo deixa dois pontos diante do América-MG

Everton Ribeiro Flamengo 2018 América-MG

Divulgação / Flamengo

Paquetá Diego Flamengo América-MG 2018

(Divulgação / Flamengo)

Uma das características essenciais de uma equipe campeã é a mentalidade forte. Um desejo latente de buscar o título que transparece em campo diante dos rivais. Futebol é um jogo tático, técnico, mas sobretudo mental. Em momentos decisivos, uma equipe opta instintivamente por avançar ou recuar. Ter o campo para si ou dar ao rival. Não se sabe, ao certo, em qual categoria se encaixa este Flamengo pós-Copa do Mundo. De um time envolvente, imponente e consistente antes do Mundial se transformou em uma equipe muito irregular, capaz de alternar ótimos jogos com momentos terríveis em questão de dias. Parece carregar uma dúvida sobre a própria capacidade. Com isso, dá brechas. E acende o rival. No empate em 2 a 2 com o América-MG, o time de Mauricio Barbieri apresentou seu maior declínio mental. No Independência, o Flamengo teve medo de ganhar o jogo. Duvidou demais de si. Recuou, entregou espaços, pareceu fragilizado. E viu dois pontos fundamentais na briga pelo título escorrerem pelas mãos a minutos do fim.

América-MG no início: pressão no campo rival e força com Magrão e Giovanni

É, claro, um problema grave para uma equipe que atravessa agosto em uma maratona de decisões que irá pontuar o encaixe da temporada de 2018 na história do clube. Diante de dificuldades é necessário buscar alternativas, novas possibilidades para criar barreiras aos rivais, tornar-se menos previsível. Nisso, Mauricio Barbieri tem falhado. O saldo do trabalho ainda é positivo, principalmente por ser a sua primeira passagem em um clube de massa. Em um futebol onde jogadores se vão como galões d´água em um dia escaldante e o calendário espreme o tempo, o técnico conseguiu um encaixe. Um 4-1-4-1 que se mostrou consistente nos tempos de Vinicius Junior. Mas que já se torna previsível. Quando decifrado, o técnico não apresenta novidades capazes de tirar o time das armadilhas. Diante do América-MG, Mauricio Barbieri viveu seu pior dia como técnico do Flamengo.

Em campo, o time chegou no seu 4-1-4-1 usual. E com minutos de jogo voltou a mostrar o defeito pós-Copa. Entrou devagar, mole. O América-MG de Adilson Batista, formatado de forma similar, tratou logo de adiantar a marcação. Pressionar a saída de bola do Flamengo para deixá-lo desconfortável com minutos de jogo. Paquetá, lento, disperso, perdeu por duas vezes a posse. Em minutos, Gerson Magrão já cruzava da esquerda para Giovanni, livre na grande área, perder gol de frente para Diego Alves. Era um alerta. O Flamengo precisava entrar na partida, jogar. Concentrar-se. Teve dificuldades. A ideia da equipe é se impôr e se defender com a bola nos pés. Quando não a tem, encontra muitas dificuldades.

Fla no início: no 4-1-4-1, com Vitinho muito ao lado, mas buscando o centro

A luz que norteia o Flamengo atualmente atende pelo nome de Everton Ribeiro. Em ótima fase, o meia tenta ditar o ritmo da equipe com dribles, passes, finalizações. Bastou uma leve desatenção do América-MG e um ótimo cruzamento de Renê pela esquerda para o camisa 7, na direita, contrariar o andamento do jogo e tocar de cabeça para o gol. 1 a 0. Resultado, no mínimo, míope. O Flamengo não estava bem. O América-MG, bem organizado, ainda tinha o maior controle do jogo. Wesley e Juninho tinham espaço para trabalhar no meio e avançar nas costas de Renê, sem auxílio efetivo de Vitinho. O atacante incorporou neste início a irregularidade da equipe. Alterna bons momentos com outros completamente alheios à partida. Depois da melhora contra o Vitória, a queda em Minas. Deixou de tentar o fundo, buscou sempre o meio, embolando por vezes com os avanços do Diego. Ações descoordenadas.

O América-MG, como dito, era organizado. Rafael Moura prendia os zagueiros rubro-negros, mas também buscava sair da área, às costas de Cuellar. Giovanni e Gerson Magrão indicavam o avanço e travavam. E lá voltava o He-Man para dentro da área, tentando surpreender os rivais. Até que conseguiu. Em um desses vaivéns, Rever rebateu mal a bola para fora da área. A bola voltou para Wesley que, tranquilamente, observou e lançou na cabeça de Rafael Moura, às costas de um distraído Léo Duarte, olhos fixados apenas na bola. A cabeçada, fulminante, não abriu espaço para reação de Diego Alves. 1 a 1.

A eterna irregularidade rubro-negra voltava a ser protagonista. Após ótimo jogo com o Vitória, uma apresentação claudicante no Independência. O time dava espaço ao América-MG, que girava a bola de um lado a outro procurando brechas, tentando avançar. A marcação era falha, distante. Impossível dizer se era apenas uma questão comportamental ou física diante da maratona de jogos. Vitinho, de longe, quase fez o segundo, mas João Ricardo conseguiu ótima defesa no ângulo no último lance perigoso da primeira etapa.

O segundo tempo trouxe um América-MG mais ousado, ciente do auto-questionamento do Flamengo sobre a própria capacidade. Marquinhos entrou na vaga de Wesley em buscar de mais velocidade em um setor pouco vigiado pelos rubro-negros, com Vitinho à frente. Barbieri não mexeu. Tentou uma troca de posicionamento, voltando um pouco à movimentação pré-Copa do Mundo. Na verdade, uma inversão dos dois meias por dentro. Diego caiu da esquerda para a direita, enquanto Paquetá fez o caminho contrário. Na prática houve pouca melhora. O América-MG, de novo, adiantou a marcação e tentou pressionar a saída de bola rubro-negra. Resultou em passos atrás justamente nas mexidas de Barbieri. Diego e Paquetá recuaram. O time espaçou ainda mais. E Everton Ribeiro, inconformado, tentou tomar o show para si.

Ao fim, América-MG todo ao campo rival, devidamente convidado pelo Flamengo

O meia, aliás, é bom exemplo de como paciência com a adaptação de grandes reforços são necessárias. Após um início no clube com muitas críticas e condições físicas que não suportavam mais o calendário brasileiro depois da temporada árabe, Everton Ribeiro está solto. Ágil, driblador. Garçom e finalizador. O porém é que há dias em que tem mesmo de jogar sozinho pelo lado direito. Rodinei, sempre mais avançado, titubeou demais por diversas vezes em que Ribeiro caiu para o meio e lhe abriu espaço para uma boa enfiada de bola. Pareceu frustrante. E Everton pareceu, também, tentar devolver na bola. Primeiro driblou três ou quatro adversários rumo ao gol rival e rolou para Dourado, que a protegeu de Paulão e no giro bateu para fora, perdendo boa chance.

Adilson entendeu que o Flamengo tentava pressionar o América-MG e modificou a estrutura da equipe. Sacou Giovanni e pôs Robinho, velocista. Queria velocidade para dar o bote na saída do rival. Antes teve de lidar com um porém: sofrer o segundo gol. Em saída rápida por dentro, Diego achou Rodinei na direita, que rolou para Everton Ribeiro. Ao trazer para dentro, ele já entendera: lançou na cabeça de Paquetá, que colocou o Flamengo à frente. 2 a 1. De novo, mera ilusão. O Flamengo estava longe de ser imponente, trocando passes, girando o jogo, procurando o melhor momento de atacar o rival. Dava espaços demais. Errava demais. Era disperso demais.

Três minutos depois, em cobrança de escanteio, João Ricardo deu um soco na bola. Na sobra, Vitinho tentou, em vez do domínio, um drible de primeira em Gerson Magrão, que o desarmou. A bola, leve, sobrou para Marquinhos. O tapa procurou Robinho, em disparada pelo centro. A bola já escapa de seu domínio, buscando a lateral, embora apenas com Diego Alves à frente. Mas Cuellar, à sua caça, não teve dúvidas. Optou por um puxão em vez da tentativa de desarme. O Flamengo tinha receio de ganhar o jogo. Duvidava de si. Tentava, a qualquer custo, impedir um obstáculo uma vez mais à frente. Decisão errada. O cartão vermelho bem aplicado ao colombiano deixaria o time em apuros.

Ao fim, Fla com três zagueiros e meio em desvantagem chamou o América-MG

Na simples reposição do volante, com a entrada de Piris da Motta, o Flamengo já mostrava estar com os nervos à flor da pele. Dourado, escolhido para ser sacrificado, fez questão de ficar em campo para ajudar na bola parada em falta cobrada na área rubro-negra. Não sem antes bater boca com o banco rubro-negro, com um Mauricio Barbieri aos berros, sobre o momento da saída. Acabou amarelado. Adilson logo acionou um meia, Matheusinho, no lugar de um volante, Juninho. E adiantou o time. Inicialmente, o Flamengo parecia indicar que suportaria bem. Um 4-4-1 com Vitinho solto à frente, Diego fechando o lado esquerdo, com Piris da Motta, Paquetá e Everton Ribeiro completando o restante do meio. O América-MG era mantido longe, na intermediária. Mas tudo mudou.

Era um dia ruim, também, de Mauricio Barbieri. O seu pior à frente do Flamengo. A partir daí, o técnico acumulou decisões erradas. Primeiro sacou Vitinho para a entrada de Willian Arão, jogador com ciclo virtualmente encerrado no clube devido a tamanho desgaste. Por característica, Arão não é um jogador que mantém a posse. Toca e infiltra, além de ter um poder de marcação reduzido. Deixou Paquetá, já cansado e com poucas condições de arrancar em contra-ataque, solitário na frente. Restavam ao menos 20 minutos de jogo. E o Flamengo já ameaçava convidar o América-MG a seu campo. O time mineiro girava a bola de um lado a outro, mas a rigor teve uma boa chance, em cruzamento rasteiro de Aderlan pela direita que Matheusinho furou na entrada da área.

Apesar disso, o Flamengo ainda respirava. Com o bloco de quatro à frente da defesa forçava o rival a girar a bola, sem permitir que ela entrasse na área, a não ser com lançamentos aleatórios. E conseguiu, ainda, dois bons contra-ataques com Everton Ribeiro pela direita. Em um deles, Paquetá perdeu chance clara ao bater em cima do goleiro. No outro, Matheus Ferraz arrastou a bola com a mão no chão em lance muito duvidoso. Barbieri tinha no banco de reservas a opção de Marlos Moreno para dar sobrevida ao time a um extenuado Paquetá. Mas decidiu por um erro fatal: desmanchar o meio.

Ao sacar Diego e colocar Rhodolfo, um terceiro zagueiro, ele tentou se precaver contra as bolas alçadas na área. Mas o meio de campo, esfarelado e em menor número, foi verde e preto. O América-MG entendeu que o convite feito pelo Flamengo. O time carioca tinha medo de vencer. A bola passou a rondar a área rubro-negra com uma facilidade bem maior. Duas bolas foram cruzadas até Renê dar um bico para frente para tentar aliviar a pressão. Na sobra, Leandro Donizete tocou de cabeça pelo centro, totalmente aberto. Sem nenhum rubro-negro, a bola pingou para Matheusinho, que rolou para Robinho. Léo Duarte, atabalhoado e lembrando seus piores dias, tentou antecipar e derrubou o atacante. A cobrança frontal de Marquinhos saiu forte, na trave direita de Diego Alves. O rebote voltou ao centro da área, com defensores do Flamengo e Gerson Magrão. O toque chegou livre, sem problemas, castigando o Flamengo. 2 a 2.

O jogo é, também, mental. Mesmo quando à frente do placar, o Flamengo teve dúvidas se poderia mesmo vencer. Com decisões erradas de Barbieri, o time só fez encolher quando poderia abrandar a situação, esfriar o rival. Mas trouxe o América-MG a seu campo. E viu, uma vez mais, o São Paulo abrir uma rodada de vantagem na disputa pelo título brasileiro. Para continuar a persegui-lo seriamente o Flamengo deve buscar alternativas a seu jogo, manter a concentração e tentar resolver a crise de confiança com a qual passou a conviver no pós-Copa. Talvez representada por Paquetá. Antes elétrico, onipresente, hoje displicente, mais lento. Menos decisivo. Irregular, o Flamengo segue em terceiro lugar no Campeonato Brasileiro. Mas até quando com esta sequência de altos e baixos, não se sabe.

FICHA TÉCNICA
AMÉRICA-MG 2X2 FLAMENGO

Local: Independência
Data: 26 de agosto de 2018
Horário: 16h
Árbitro: Jean Pierre Gonçalves Lima (RS)
Público e renda: 12.887 torcedores / R$ 166.008,00
Cartões Amarelos: Leandro Donizete, Carlinhos e Paulão (AME) e Henrique Dourado e Léo Duarte (FLA)
Cartão vermelho: Cuellar (FLA), aos 19 minutos do segundo tempo
Gols: Everton Ribeiro (FLA), aos 14 minutos e Rafael Moura (AME), aos 22 minutos do primeiro tempo e Lucas Paquetá (FLA), aos 16 minutos e Gerson Magrão (AME), aos 42 minutos do segundo tempo

AMÉRICA-MG: João Ricardo; Aderlan, Paulão, Matheus Ferraz e Carlinhos; Leandro Donizete, Wesley (Marquinhos / Intervalo), Juninho (Matheusinho, 23’/2T) e Giovanni (Robinho, 12’/2T); Gerson Magrão e Rafael Moura
Técnico: Enderson Moreira

FLAMENGO: Diego Alves; Rodinei, Léo Duarte, Léo Duarte e Renê; Cuellar; Everton Ribeiro, Lucas Paquetá, Diego (Rhodolfo, 38’/2T) e Vitinho (Willian Arão, 29’/2T); Henrique Dourado (Piris da Motta, 22’/2T)
Técnico: Mauricio Barbieri

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