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Croniquetas da Copa – dia 1: a língua da Copa do Mundo

Copa 2010 Nelson Mandela Square

Arquivo

Copa 2010 Nelson Mandela Square

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Véspera da estreia da Copa de 2010. Nelson Mandela Square, em Joanesburgo. Já há alguns dias na África do Sul era capaz de sentir o clima de Copa do Mundo. Banners, carros com bandeiras dos países nos retrovisores. Era um clima quase palpável. Mas, então, neste ponto de encontro de Joanesburgo, nos pés de uma enorme estátua de Nelson Mandela, a língua da Copa se apresentou. É universal. De quatro em quatro anos, ela aparece e junta todos, até quem não simpatiza tanto assim com futebol. De repente, a praça se encheu. Vários sul-africanos e inúmeros mexicanos. Um duelo de gritos característicos de cada país. Energia pulsante. Mais pessoas foram chegando. O barulho foi aumentando. A língua se tornou uma só. Festa pura. Alguém, de repente, apareceu com réplicas da taça da Copa. Elétricos, sul-africanos a erguiam como o capitão da seleção campeã. Não era um devaneio. O símbolo de uma conquista. A língua da Copa estava ali. Viva.

Chega o dia da finalíssima. O nhoque era bom demais e já tinha preenchido vazios em algumas noites frias de Joanesburgo. Assim que entrei no restaurante, uma cantina italiana toda envidraçada, senti a expectativa quase palpável. Faltavam minutos para estreia da Copa. Era diferente. Pela primeira vez estava na sede de um Mundial, in loco. A trabalho. Mas com um prazer imenso. África do Sul, 2010. Não estava escalado para cobrir o primeiro embate, entre os Bafana Bafana e o México. Quis, então, desfrutar a língua da Copa. Falar o idioma local do evento máximo do esporte tão presente na minha vida que me fez seguir profissão atrás dele.

Nas ruas as vuvuzelas explodiam. “Shosholoza!” para lá e para cá. Clima contagiante. Em Melville, bairro onde estávamos hospedados, as casas tinham várias decorações. O clima de Copa era latente desde o dia em que pisamos no aeroporto de Joanesburgo. O dono do estabelecimento, um turco parrudo torcedor do Fenerbahçe e que odiava o chileno Maldonado com todas as forças, era simpático. Sorriso largo apesar de andar com uma arma na cintura, visível sempre que ele se recostava da cadeira. No meio da sua cantina, ele estava lá, de braços cruzados, em frente a uma mesa com um laptop. Conversava sobre futebol e mais nada. Falava a língua da Copa. Estava ansioso.

Ao seu lado os funcionários, todos com camisas com as cores da África do Sul, riam a emendavam uma dancinha ou outra. Clima vivo de Copa. Satisfação imensa por ter um Mundial ali em sua terra. Copa do Mundo. Um evento que tem língua universal. Promove a integração. Mexe com expectativas. Duvida? Pois sabe aquela tia que não lembra nem em qual time o Neymar joga? Então. Durante a Copa, ela começa a falar a mesma língua do que você, que acompanha futebol todos os dias. No dia de estreia da Seleção, entre uma carne e outra no churrasco, pergunta a ela sobre o Cheryshev, destaque russo na partida de abertura desta Copa de 2018. Capaz dela levantar a ficha dele para você. Língua de Copa.

Nos últimos meses o papo era de que a Copa do Mundo da Rússia não pegaria. Perguntavam sobre as ruas pintadas, os bares decorados, as enormes campanhas publicitárias. Mas está tudo aí. O mundo apenas que mudou, se tornou mais imediatista. Estamos sempre às voltas com nossos smartphones, redes sociais, abastecidos de informações e esperamos algo ocorrer para, de fato, vivenciá-lo. Pois então, estamos vivenciando a Copa. Está certo que a abertura, um Rússia x Arábia Saudita, é pouco cativante para os iniciados. Mas todo mundo está falando a mesma língua. Manda um zap para o primo e pergunta o que ele achou do camisa 8 dos sauditas. Ele vai ter uma opinião. Vai comentar sobre a leve zoada do Putin no príncipe saudita, com o presidente da Fifa no meio. Vai falar, por um mês, a língua da Copa.

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Neste mês de Copa, o Chute Cruzado vai tentar viajar em palavras sobre o torneio e toda sua atmosfera mesmo de longe, com croniquetas diárias. Contamos, sempre, com a participação dos leitores. Começou!

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