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Depois da ressaca, a vitória e o alerta: abaixo do patamar, Flamengo supera Botafogo

Everton Ribeiro gol Flamengo Botafogo Brasileiro 2020

(Alexandre Vidal / Flamengo)

Willian Arão Botafogo Flamengo 2020

(ALexandre Vidal / Flamengo)

Deixar para trás uma ressaca de uma eliminação inesperada é uma das situações mais difíceis de digerir no futebol. Com o gosto amargo da queda precoce na Libertadores diante do Racing, claro que o Flamengo sofreria consequências ainda no clássico contra o Botafogo, neste sábado, no Estádio Nilton Santos, o Engenhão. A magra e suada vitória de 1 a 0, gol de Everton Ribeiro, foi importante para seguir a luta no agora único objetivo da temporada. Mas apontou um Flamengo que, ainda de ressaca, precisa subir o nível e retomar algo parecido com seus melhores momentos para disputar a taça. Absorver o impacto da decepção e tentar encontrar dias melhores nas semanas livres para treinamento que se abriram. O Botafogo, sem expectativas de reação, parece ser o caso de uma equipe fragilizada demais para lutar o suficiente e escapar. A luta é inglória diante de panorama tão hostil.

É daquelas fases que fazem entender o chavão de que há coisas que só acontecem ao Botafogo. Além de se ver obrigado a demitir o técnico – Ramon Díaz – que foi sem nunca ter sido e jamais estreou, também ficou sem o substituto, Eduardo Barroca, infectado por covid. De longe, Barroca fez o que pôde para dar ao time o mínimo de competitividade e não haveria mesmo outra alternativa. Um 4-1-4-1 bem agrupado, tentando fechar espaços ao Flamengo a partir da intermediária defensiva, com preocupação em travar qualquer jogada rubro-negra por dentro. Para esticar ao ataque, bolas longas para o pivô do gigante Pedro Raul, acionando Nazário ou Rhuan na velocidade pelos lados. Seria um jogo previsível e de paciência ao Botafogo. Caberia ao Flamengo responder com ideias distintas para sair do que se anunciava. Poucas vezes conseguiu.

Botafogo no início: bem fechado, tentando aproveitar contragolpes

No 4-4-2, Rogério Ceni mandou o Flamengo com formação semelhante ao que apresentou em tempos recentes. Bruno Henrique mais próximo de Pedro à frente, Arrascaeta e Everton Ribeiro puxando dos lados para dentro. Ocorre que o Flamengo parecia claramente distante, abatido pela eliminação de meio de semana. O time foi bem superior ao Racing, pressionou o argentino no campo ofensivo o tempo todo, mostrou intensidade, mas desperdiçou chances e caiu. Internamente o baque foi grande. É natural até que haja um tempo necessário para realinhar partes física, tática e mental. Assim o time apresentou lentidão para iniciar o jogo. Por mais que houvesse pressão do Botafogo a dificultar a saída de bola, o jogo da equipe era muito horizontal. A bola saía dos pés da defesa e ia aos lados, geralmente com Filipe Luís na esquerda. O Botafogo cercava, induzia o time rubro-negro aos lados e tentava fechar o corredor de Isla à direita. Assim, o time rubro-negro concentrou demais o jogo na esquerda. Bruno Henrique, Arrascaeta, Filipe Luís…mas pouca imaginação. 18 cruzamentos apenas no primeiro tempo.

Com a lentidão da saída de bola rubro-negra, o Botafogo tinha facilidade para se reorganizar defensivamente. O jogo ganhou caráter previsível: Arrascaeta recebia na esquerda, devolvia em Filipe Luís, ia para o centro. Bruno Henrique da esquerda para a área. Filipe Luís tinha o espaço e usava duas alternativas: ou cruzamento para a área ou recuar para Gerson e reiniciar o jogo horizontal, de um lado a outro. Era muito pouco. Rogério Ceni na área técnica pedia mais velocidade na troca de passes, um time mais aproximado para envolver o rival com movimentação e abrir brechas.

Flamengo no início: jogo pela esquerda, Filipe Luís por fora

A rigor, a melhor chance rubro-negra no primeiro tempo saiu quando Arrascaeta, por dentro, lançou Bruno Henrique entre os zagueiros. Ele dominou e tocou no contrapé de Diego Cavalieri, mas Marcelo Benevenuto conseguiu impedir o gol com um desvio providencial. O Botafogo, logo no apito inicial, tinha conseguido um bom chute com Pedro Raul depois de Bruno Nazário passar com facilidade por Gustavo Henrique na intermediária. O intervalo chegou com um primeiro tempo bem abaixo, quase sonolento.

O segundo tempo apresentou um Flamengo mais disposto a pressionar o Botafogo na saída de bola, aplicar intensidade no jogo. Mas ainda abaixo dos melhores momentos. Além disso: era uma tarde tecnicamente ruim da maioria dos jogadores. Erros de passe, dribles, domínio de bola e até colocação foram comuns. O jogo, porém, concentrou menos pelo lado esquerdo. Ainda assim com uma diferença fundamental: Filipe Luís mais encarregado de trabalhar por fora e ir ao fundo, sem buscar o passe por dentro – um dos grandes diferenciais do time de 2019, a eterna referência já destruída. À direita, Isla não tinha o fundo para explorar o corredor deixado por Everton Ribeiro: Rhuan estava sempre na sua cola. E o chileno, claro, não é Rafinha num ponto em especial: não tem a qualidade de construir o jogo por dentro. É agudo e, sem espaço, sua possibilidade de ser efetivamente ofensivo diminuiu. Além, claro, de também ser um dos atletas com desempenho técnico abaixo na tarde.

Com um Botafogo mais recuado no segundo tempo, ao chamar o Flamengo para explorar com velocidade as costas da defesa, o time rubro-negro subiu ainda mais. Aí o maior mérito do jogo. Pressionar o rival na saída de bola. Gerson se livrou da vigília constante de Honda e aproveitou passe mal recuado de Marcinho a Benevenuto, roubou a bola e tocou para o centro da área, onde Everton Ribeiro bateu de forma sutil no canto esquerdo de Cavalieri. Um belo gol. 1 a 0. O Flamengo ficou mais à vontade na partida, principalmente quando a dupla Felipe Lucena/Eduardo Barroca abriu mão de Zé Welinson na frente da defesa e pôs Mateus Babi à frente. Era, de fato, uma decisão arriscada com a necessidade da vitória. Rhuan também deixou o campo para a entrada de Kalou. Então o Botafogo perdeu a capacidade defensiva que apresentava no primeiro tempo.

Sem Rhuan na perseguição, Isla apareceu na partida com mais frequência e Everton Ribeiro pode tentar aproveitar mais o espaço por dentro, antes ocupado por Zé Welinson. A bola correu com mais calma pelos pés rubro-negros, mas o time foi menos faminto do que o usual. Tocou e girou à espera de uma brecha para aumentar o placar que não veio. O time voltou a apresentar lentidão ofensiva e por duas vezes sofreu grande risco de levar o empate. A primeira em cruzamento de Kalou da esquerda para Pedro Raul na área. Filipe Luís bloqueou o que fatalmente seria o gol. Sem Victor Luís, expulso depois de falta desclassificante em Rodrigo Muniz, o Botafogo apostava suas fichas no individual.

Botafogo ao fim do jogo: menos um e dois centroavantes

Kalou passou a tentar o jogo mais por dentro, na esperança de um lance de criatividade. Willian Arão vive uma fase de postura mista de 2019 e os anos anteriores. Em alguns jogos, como contra o Racing, mantém pegada defensiva forte, observa as alternativas de passe antes de receber a bola e dá boa saída de jogo. Em outros apenas cerca o rival, sem o combate mais efetivo. Ao fim da partida tentou apenas cercar Kalou, que girou e avançou facilmente. Rapidamente o camisa 8 do Botafogo achou o passe entre os zagueiros para Lucas Campos. Cara a cara com Diego Alves ele acabou puxado por Gustavo Henrique. Falta e cartão vermelho merecidos.

Flamengo ao fim: velocidade pelos lados e Muniz à frente

Kalou contribuiu ao cobrar a falta com potencial de perigo em cima de Diego Alves, mas vale o parênteses. A má fase de Gustavo Henrique é evidente, com erros claros em jogos recentes. Mas mesmo no jogo contra o Racing, quando falhou de forma crucial no gol argentino, o zagueiro cumpria boa partida, buscando a maior segurança possível enquanto Rodrigo Caio esteve em campo. Com a saída do companheiro se desestabilizou logo no lance seguinte, com o péssimo vício de tirar a bola de calcanhar. Neste sábado, porém, uma vez mais jogou sério e acabou por trocar um gol de empate muito provável. Jogou-se aos leões do público. Fato que merece críticas, mas perseguir o jogador que tem lastro de boas atuações no Santos é inútil. Talvez seja o caso de preservá-lo, o que obrigatoriamente vai acontecer na rodada seguinte, com expulsão. Com Willian Arão uma vez mais de zagueiro, o Flamengo terminou a partida com Gerson mais atrás, Arrascaeta por dentro, Vitinho e Michael pelas pontas, com velocidade, como gosta Rogério. 1 a 0 muito importante, mas com atuação abaixo, talvez a pior sob o comando do novo técnico ao lado do confronto com o Atlético-GO, no qual tinha mais desfalques.

Um Flamengo que teve 66% de posse de bola*, 14 finalizações, mas apenas três no gol. Trocou 572 passes contra 218 de um frágil Botafogo. Apresentou dificuldade com lentidão e um jogo mais previsível ao mesmo tempo que teve bons motivos para o futuro, como não ter sofrido gols e a pressão na saída adversária. Para espantar a ressaca, deu para o gasto. Mas para defender de fato o título brasileiro o nível do jogo precisa subir. Precisa ser agressivo e intenso durante todo tempo. Aproveitar as oportunidades com um jogo vertical. O Flamengo sabe e tem elenco para isso.

*Números do app Sofa Score

FICHA TECNICA
BOTAFOGO 0X1 FLAMENGO

Local:
Estádio Nilton Santos, o Engenhão
Data: 5 de dezembro de 2020
Árbitro: Anderson Daronco (RS – Fifa)
VAR: Daniel Nobre Bins (RS)
Acréscimos: três minutos no primeiro tempo e seis minutos no segundo tempo
Cartões amarelos: Rhuan (BOT) e Everton Ribeiro (FLA)
Cartões vermelhos: Victor Luís (BOT), aos 39 minutos e Gustavo Henrique (FLA), aos 42 minutos do segundo tempo
Gol: Everton Ribeiro (FLA), aos dez minutos do segundo tempo

BOTAFOGO: Diego Cavalieri, Marcinho (Barrandeguy, 23’/2T) Marcelo Benevenuto, Rafael Forster e Victor Luis; Zé Welinson (Matheus Babi, 17’/2T); Bruno Nazário (Lucas Campos, 30’/2T), Caio Alexandre (Luiz Otávio, 30’/2T), Honda e Rhuan (Kalou, 17’/2T); Pedro Raul
Técnico: Felipe Lucena

FLAMENGO: Diego Alves, Isla, Rodrigo Caio, Gustavo Henrique e Filipe Luís; Willian Arão, Gerson, Everton Ribeiro (Michael, 40’/2T) e Arrascaeta; Bruno Henrique (Vitinho, 32’/2T) e Pedro (Rodrigo Muniz, 36’/2T)
Técnico: Rogério Ceni

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