Elenco poupado e pernas descansadas não são suficientes para apresentar um bom futebol quando o nível de concentração parece ser baixíssimo. Assim, um tanto quanto perdido em campo, o Flamengo teve sua pior partida sob o comando de Reinaldo Rueda no empate sem gols com a Chapecoense, fora de casa, no jogo de ida válido pelas oitavas de final da Copa Sul-Americana. Uma apatia que saltou aos olhos.
A justificativa de Rueda ao poupar o time na derrota para o Botafogo no domingo, pelo Brasileiro, indicava observação de jogadores, mas também uma prioridade a uma das copas em disputa. Indicaria, também, uma disposição além do comum para buscar o título e, por consequência, desenvolver o jogo no início de trabalho de Rueda com maior minutagem do conjunto. Mas tudo isso requer concentração. Esteve longe de acontecer.
Pois o Flamengo que foi a Chapecó estava completinho, até mesmo com o goleiro Diego Alves. Rueda escolheu o que considera, no momento, seu time ideal. Foi pouco. No 4-2-3-1 de sempre, o time tentou girar a bola, tramar o seu jogo e…se distraía. Passou, por vezes, a imagem de equipe desinteressada no confronto. Bem diferente da atuação de uma semana antes, contra o Cruzeiro, pela Copa do Brasil. Ali trocava passes e passes até achar o mínimo espaço em busca de uma bola enfiada, uma finalização. Nesta quarta, a solução era bola longa.
O vício adquirido com a lesão de Diego durante a Libertadores, fazendo de Guerrero o único ponto de referência, com bolas longas para a ajeitada de pivô, estava de volta. Com os laterais pouco ofensivos à la Rueda, o Flamengo tinha espaço pelos lados para explorar a velocidade de Berrío e Everton. Isso porque a Chape estava também em um 4-2-3-1, mas Apodi e Reinaldo, os laterais, subiam demasiadamente, clamando por cobertura dos volantes, que preferiam manter o meio trancado, principalmente com vigília sobre Diego e atentos às infiltrações de Arão.
Era um Flamengo sem criatividade. Diego, em péssima fase técnica, errava tudo que tentava. Passes, viradas de jogo. Não vive bom momento, longe do meia que foi o eixo central contra a mesma Chapecoense na goleada pelo Campeonato Brasileiro. Um time dominante, maas, ironicamente, parecendo desinteressado em seu domínio. Talvez por isso a maior chance no primeiro tempo tenha sido da Chapecoense.
Uma saída rápida com Alan Ruschel pela esquerda, um chute forte rebatido por Diego Alves. A Chape realizava boa marcação pelos centro. Wellington Paulista, geralmente referência, batalhava com Pará ao atacar pelo lado direito. Túlio de Melo era o homem de referência. Por trás dele, Canteros, o volante argentino, com funções mais ofensivas, embora sem cacoete. Tentava apenas fazer a bola andar e ocupar a faixa central. Era pouco. Com quase 60% de insignificante posse de bola rubro-negra, o segundo tempo chegou ao fim.
Para a segunda etapa, Rueda poderia tentar alternativas em seu banco de reservas. Natural até entender que quisesse dar mais jogo ao time que pode jogar a final da Copa do Brasil, sem os reforços que chegaram por último e não puderam ser inscritos. Mas claramente o time precisava de criatividade, se não no lugar de Diego, ao menos alguém para ajudá-lo a produzir. E, além do mais, Diego Alves já estava em campo, fato que esvaziava por si só a tese. Everton Ribeiro era boa solução.
Mas por conta de alguma tese ainda não explicada, Rueda insiste em dizer que o meia disputa vaga com Diego, quando o encaixe de ambos é perfeitamente viável. Sem modificações, exceto pela entrada de Vinicius Junior na vaga de Everton ainda no primeiro tempo, o time voltou pior. Mais desconcentrado, mais espaçado. Então a Chapecoense, cansada por viagens ao redor do mundo, em crise no Campeonato Brasileiro e com um técnico interino, foi bem superior. Aproveitou os espaços dados pelo Flamengo e avançou o time.
Era óbvio que os lados eram grandes válvulas de escape do time catarinense. Mas o Flamengo não parecia estar preocupado em neutralizá-las. Tinha a bola, mas não conseguia desenvolver masi grande quantidade de passe. Cuellar, em noite ruim, chegava atrasado em lances de marcação. Emerson Cris, o interino da Chape, sentiu a necessidade de dar velocidade ao jogo.
Sacou Túlio de Melo, centralizou Wellington Paulista e colocou o abusado Penilla em campo, pela esquerda. Ruschel passou à direita e o time passou a acelerar. Rodinei, que tentava subir, passou a ter de vigiar Penilla. De longe, o equatoriano bateu forte, Diego Alves soltou e, no rebote, Reinaldo, sozinho na área, perdeu gol incrível ao chutar para fora. Emerson Cris sentiu o bom momento, tirou Ruschel, cansado, e colocou Luiz Antonio, ex-Flamengo, pelo lado direito. Forçaria pelas pontas, claramente. Quem disse que o Flamengo reagiu?
Uma certa apatia envolvia o time rubro-negro, sem poder de organização e gana para responder a Chapecoense. Canteros adiantou-se e passou a armar as jogadas pelo centro, praticamente sem combate. Em uma delas, deixou Penilla na cara de Diego Alves, mas o equatoriano bateu para fora. Ao Flamengo restou apenas uma cabeçada de Réver bem defendida por Jandrei em cobrança de escanteio de Diego. E só. A três minutos do fim, Rueda trocou Diego por Everton Ribeiro. Completamente desantenado do jogo, o camisa 7 só não foi expulso após chutar Reinaldo por benevolência do árbitro. O retrato de um Flamengo perdido.
As estatísticas do site Foostats apontaram um Flamengo com 58% de posse de bola no jogo, mas dez finalizações contra 16 da Chapecoense. Rueda pareceu ter detectado problemas no Flamengo com a entrevista pós-jogo e demonstrou até incômodo ao falar em necessidade de “guerrear”. Uma apatia que não interessa ninguém. O técnico, porém, apresenta também seu próprios problemas. A insistência em um duelo entre Diego e Everton Ribeiro não encontra sentido. Se quiser brigar pelas copas que ainda disputa, o Flamengo, no mínimo, deve entrar interessado e concentrado em seu objetivo nos jogos. Foi um time disperso. Característica incompatível com quem deseja ser campeão.
FICHA TÉCNICA:
CHAPECOENSE 0X0 FLAMENGO
Local: Arena Condá, em Chapecó (SC)
Data: 13 de setembro de 2017
Horário: 19h15
Árbitro: Gery Vargas (BOL)
Público e renda: 9.702 torcedores / R$ 279.770,00
Cartões amarelos: Reinaldo e Fabrício Bruno (CHA) e Guerrero, Cuellar, Réver e Everton Ribeiro (FLA)
Gols: –
CHAPECOENSE: Jandrei; Apodi, Douglas Grolli, Fabrício Bruno e Reinaldo; Moisés Ribeiro (Lucas Marques, 42’/2T) e Lucas Mineiro; Wellington Paulista, Canteros e Alan Ruschel (Luiz Antonio, 26’/2T); Túlio de Melo (Penilla, 15’/2T)
Técnico: Emerson Cris
FLAMENGO: Diego Alves; Rodinei, Réver, Juan e Pará; Cuellar e Willian Arão; Berrío (Lucas Paquetá, 34’/2T), Diego (Everton Ribeiro, 42’/2T) e Everton (Vinicius Júnior, 15’/2T); Guerrero
Técnico: Reinaldo Rueda