Quando Sergi Roberto tocou a bola para dentro da rede do PSG aos 49 minutos do segundo tempo, sacramentando o 6 a 1 e a classificação do Barcelona na Champions League, o narrador da tv aberta explodiu. “O time do impossível. O time de exceção. Não acredito no que os nossos olhos veem”. De fato, poderia ser tudo isso. Não fossem dois pênaltis inexistentes que construíram o placar e tiveram interferência direta na definição da vaga às quartas de final. Rapidamente, o mundo que respira o futebol, em sua maioria, agiu em blindagem aos erros. Para construir um conto de fadas, melhor ignorar os defeitos.
Obviamente, a partida no Camp Nou foi histórica. Um 6 a 1 o é, em quaisquer circunstâncias. Ainda mais se o time vencedor fora anteriormente o vencido, por 4 a 0, na partida de ida. Mas obras épicas e fantásticas se constroem dentro de uma normalidade. Não foi o que aconteceu na Catalunha. Pouco importa que o Paris Saint-Germain tenha se encolhido em campo, sido covarde e abraçado o resultado depois do gol de Cavani. Pouco importa que o Barcelona tenha convertido três gols em oito minutos. O princípio básico do esporte é a honestidade. Ela inexistiu na classificação do time de Neymar e companhia.
O tradicional apito amigo aos catalães é bem conhecido na Europa. Assim como seu jogo mágico, com Messi, Neymar e Suárez. Prezar pelo bom jogo, a pureza do futebol, as inovações é ótimo. Vendar os olhos de maneira intencional para erros escandalosos da arbitragem e exaltar um castelo construído sobre areia movediça, pelo contrário. É curioso o comportamento em relação à classificação do Barcelona justamente em um momento em que tanto se discute a utilização de recursos eletrônicos no futebol para minimizar erros. Evitar que times sejam prejudicados. E os dedos estão, em maioria, apontados para o PSG, o prejudicado. Mesmo que tivesse sido covarde, incapaz de segurar o ímpeto do Barcelona, o time francês acabou vitimado com dois gols de lances inexistentes. Teria saído com derrota de 4 a 1 no placar e a classificação debaixo do braço.
A necessidade de rotular o Barcelona como um time “à brasileira antiga” e encampar a torcida pelo maior jogador da seleção, Neymar, talvez explique um pouco o furor da blindagem ao time catalão. “O time da exceção”. Afinal, o coração nos faz ignorar os defeitos e exaltar os feitos. Pois é. É impossível contar a história da classificação do Barcelona diante do PSG sem apontar os dois erros crassos do árbitro. Qualificá-la como um milagre ou fantástica sem lembrar que Suárez simplesmente desabou na área no apagar das luzes para cavar uma penalidade sem sentido. Convém não abraçar erros. A desonestidade, ainda que não ocorra de forma intencional, não pode ser épica.