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Dias de fábula com um fim frustrante: o 2017 do Botafogo

Rodrigo Pimpão, do Botafogo, contra Colo Colo

A busca incessante por títulos, conquistas, a fome que mantém o pulsar de um grande clube por vezes provocam uma miopia. Impedem o torcedor de comemorar um retalho de emoções que compõe a história particular de cada um com o clube. Mal poderia imaginar o botafoguense que em 2017 acompanharia o time em uma fábula sul-americana que o faria escancarar o sorriso. Mal poderia, também, cogitar o torcedor que os momentos de alegria seriam os responsáveis por gerar uma frustração amarga ao fim de ano.

A temporada alvinegra começou no dia 25 de janeiro. Precoce, ainda com um time reserva contra Madureira pelo Campeonato Carioca. Enquanto todos os rivais ainda treinavam, ajustavam ponteiros e a parte física, o Botafogo estava em campo. Com pressa. Sede. Foi afoito. E jogou com seu coração. A arrancada que livrou o time do rebaixamento em 2016 continuou pela América em 2017. Em primeiro de fevereiro, lá estava o time em um Nilton Santos cheio diante do Colo-Colo. De novo, na maior competição sul-americana. Motivo de orgulho.

A organização quase militar da equipe de Jair Ventura fez o Botafogo surpreender rivais e, um a um, derrubá-los para desbravar caminhos longos na América. Foi, sempre, um time organizado e dedicado, características fundamentais na Libertadores, competição que tão bem compreendeu ao fazê-la o seu norte. Diziam que Botafogo não passaria do primeiro mata-mata da fase preliminar. Passou. Não chegaria nem no segundo. Passou pelo Olimpia de forma épica com as mãos de Gatito. Certamente fracassaria, então, em um grupo com Atlético Nacional, Barcelona de Guayaquil e Estudiantes. Classificou-se em primeiro lugar. O Botafogo de 2017 pôs-se a desafiar.

Mas é claro que haveria um limite. O clube mais endividado do país teria dificuldades com um elenco tão enxuto. O Botafogo encontrou o seu na Libertadores de forma digna, contra o Grêmio, nas quartas de final. Parecia, então, que iria parar na temporada. Mais uma vez, surpreendeu. Não parou. Foi adiante. Até quando conseguiu. Pois, claro, houve problemas enormes ao longo do ano. Jair mostrou capacidade de formar um time fatal no contra-ataque e bem postado defensivamente, quase sempre no 4-4-2. Fez de Rodrigo Pimpão, na esquerda, e principalmente Bruno Silva, na direita, grandes armas. Mas faltaram peças. Na lateral direita, até a chegada de Arnaldo, os zagueiros Marcelo e Emerson Santos cansaram de fazer as vezes na posição diante das lesões de Luis Ricardo, Jonas e Marcinho.

Mas o clube gerenciou mal algumas questões. A incapacidade física de Montillo e sua saída deixavam claro que o time dependeria de Camilo para ter o mínimo de qualidade na criação. João Paulo quebrou o galho na função de homem mais próximo a Roger, mas, assim como o elenco, tinha o seu limite. Desfazer-se de Camilo para se livrar de um jogador insatisfeito e confiar em Leo Valencia custou um preço. Na reta final da temporada faltou fôlego ao Botafogo. Sem pernas e peças para girar o elenco, Jair viu o time naturalmente se desorganizar. A doença de Roger e o seu consequente desentendimento com a diretoria completaram a desestabilização. Abatido, o Botafogo foi incapaz de se superar mais uma vez.

O time que chegou às quartas da Libertadores e à semifinal da Copa do Brasil não tinha mais condições de manter o pique. Dedicou-se demais nas guerras sul-americanas. Desgastou-se demais. Com três derrotas e dois empates nas últimas cinco rodadas do Campeonato Brasileiro, o desejo de voltar à Libertadores foi encerrado. Causou natural frustração. Mas em um exercício de bom senso o botafoguense deve entender o momento do clube, ainda mais arrastado por dívidas depois da gestão de Maurício Assumpção. Carlos Eduardo Pereira fez o possível para manter o Botafogo competitivo. Passa a bola agora para Nelson Mufarrej. Sem Libertadores, o investimento tende a ser reduzido. 2017 deu ao botafoguense boas histórias para contar. Um time que flertou com a glória, mas acabou vitimado com a expectativa do próprio sucesso. Ser um frequentador assíduo da Libertadores não é, ao menos por agora, a realidade do Botafogo.

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