Arrascaeta gol Flamengo Supercopa do Brasil 2020
Um Flamengo soberbo: primeira taça de 2020 chega com pitadas de novidades
16 fevereiro 23:35
Everton Ribeiro gol Botafogo
Pela metade, Flamengo aponta distância para o Botafogo no clássico
08 março 01:17

Eficiente, mas abaixo do outro patamar: Flamengo bate Junior na estreia

Everton Ribeiro gols Junior Barranquilla Libertadores 2020

(Flamengo / Divulgação)

Gabigol Flamengo Libertadores estreia 2020

(Flamengo / Divulgação)

O padrão atingido pelo Flamengo com as seguidas conquistas em 2019 e já no início deste 2020 fez surgir uma ironia fina, com pitadas de orgulho, na arquibancada rubro-negra. “Esse time vai me acostumar mal…”, costuma dizer o torcedor com sorriso aberto, faixa no peito diante de tantas exibições de alto nível. Campeão da Libertadores, o Flamengo entrou em campo em Barranquilla para iniciar a defesa do título. Venceu o Junior por 2 a 1 de forma eficiente, mas é inegável apontar: o tão decantado outro patamar não foi atingido na Colômbia. Há pontos positivos e negativos em meio ao primeiro passo em busca do tri da América.

Obviamente é necessário ponderar que a perda de quatro titulares é impactante em qualquer equipe, principalmente na construção de seu jogo. Por melhores que sejam os reforços contratados para suprir as necessidades, o entendimento com apenas um mês de treinamentos não ocorre em sintonia fina como no time completo e ajustado por Jorge Jesus nos últimos oito meses. O português decidiu não tirar fórmula mirabolante da cartola. Sem Rafinha, João Lucas. Sem Bruno Henrique, Vitinho. Sem Willian Arão, Thiago Maia. Na zaga, Gustavo Henrique e Léo Pereira enquanto Rodrigo Caio segue fora. Num 4-4-2 – e alternâncias ao 4-2-3-1 – com Arrascaeta mais aproximado de Gabigol, o Flamengo entrou em campo de forma distinta no Metropolitano de Barranquilla.

Junior no início: criação fraca e lançamentos à dupla de frente

É comum observar no Maracanã um Flamengo intenso, feroz, tentando encurralar o rival como um predador faz com a presa. Desde o início em Barranquilla ficou claro que a aposta seria um pouco distinta: pressão mais atrás, na intermediária, buscando saídas muito rápidas ao ataque com velocidade. Assim, em cinco minutos a estratégia deu certo, embora o lance não tenha sido perfeito pela recuperação com a mão de João Lucas no início da jogada. O enrolado árbitro venezuelano nada marcou e o lance seguiu com Thiago Maia a Vitinho, daí a Arrascaeta na esquerda. A facilidade do uruguaio em esconder a bola do rival e vencê-lo facilmente é sempre de saltar os olhos. Numa ginga, o meia passou fácil por Piedrahita, foi ao fundo e rolou para trás. Everton Ribeiro, solitário na grande área, bateu com categoria no cantinho esquerdo. 1 a 0.

O Junior se assustou. Mal tinha iniciado a partida considerada especial pelos próprios dirigentes do clube e já saía atrás. Em um 4-4-2, o time tentava esticar bolas para a dupla Téo Gutiérrez e Borja, contando com as velocidades de Cetre e Hinestroza pelos lados. Carecia do mínimo de articulação e se incomodava ao ver o Flamengo tentar impôr seu jogo, com troca de passes, domínio no campo ofensivo. Os colombianos apostaram numa velha artimanha sul-americana, típica das canchas de Libertadores. Um jogo na base do elevar da temperatura. Entradas mais duras, intimidações. Seria a saída para equilibrar o desnível técnico entre as partes. João Lucas, novato na lateral direita, sentiu a estreia no maior torneio continental. Perdeu a passada e atropelou Fuentes, levando amarelo. Talvez até instintivamente, o Flamengo passou a trabalhar o início de seu jogo mais pelo lado esquerdo, evitando arriscar o lateral-direito em duelos arriscados a um vermelho. Fato é que a ausência de Rafinha pesava, principalmente pela inteligência do titular em iniciar a construção do jogo e dar opções ofensivas a Everton Ribeiro à frente.

Fla no início: Thiago Maia onipresente, Arrascaeta à frente

A rigor, o Junior teve uma chance clara no primeiro tempo, em falha displicente de Gerson, ao driblar para trás e perder a bola. Teo Gutiérrez perdeu chance clara ao finalizar em cima de Diego Alves. O atacante do Junior, aliás, foi protagonista da partida de maneira nada recomendável: deu cotovelada em Filipe Luís, fez falta por trás em Gerson e nem advertido foi pelo fraco árbitro venezuelano. Mesmo experiente, atual campeão, o Flamengo falhou ao entrar na pilha rival: Filipe Luís e Gabigol levaram amarelos até infantis em uma partida que era mais disputada do que jogada. Sobrava no Flamengo uma figura: Thiago Maia, perfeito na marcação pelo centro e com qualidade na saída de bola entre os zagueiros. Onipresente no campo defensivo, o volante foi figura destacada ao lado de Everton Ribeiro.

O segundo tempo trouxe as duas equipes com as mesmas formações. O Flamengo repetiu a estratégia da primeira etapa: 4-4-2 alternando ao 4-2-3-1 com centralização de Arrascaeta atrás de Gabigol, marcação mais recuada e saídas rápidas. Quase conseguiu ampliar em jogada idêntica ao gol do primeiro tempo, desta vez com cruzamento de Vitinho para Gabigol finalizar e triscar a trave. Gabigol, de novo, limpou três adversários e só não marcou seu décimo gol na temporada por um desvio de Rosero. A pilha havia baixado, o Flamengo se entendia melhor no jogo, que parecia controlado. Apenas parecia. O Junior passou a adiantar a equipe, trabalhar a bola no campo ofensivo, alternando de um lado ao outro, buscando as enfiadas de bola às costas dos laterais. Filipe Luís fez partida defensiva primorosa, mas João Lucas, natural, encontrou dificuldades.

Junior ao fim: Cardenas para organizar, Fuentes à frente

Comesaña alternou Hinestroza com Cetre, apostando nas investidas deste último no jovem lateral. O Flamengo já se posicionava atrás da linha do meio de campo, cena incomum. Jorge Jesus decidiu agir. Sacou Arrascaeta, esgotado, e pôs Michael em busca de velocidade do lado direito para frear as investidas de Fuentes pelo setor e ajudar João Lucas. Everton Ribeiro foi ao meio e assumiu a função de encostar em Gabigol. O Flamengo, então, respirou. E mostrou na dificuldade uma vantagem: apresentar variação de jogo. O time imponente, da bola no pé, buscou o contra-ataque, como já fizera na decisão da Recopa no Maracanã por extrema necessidade. As chances apareceram.

Fla ao fim: saída rápida com Michael, Ribeiro mais ao centro

Gabigol recebeu esticada do onipresente Thiago Maia, impecável nas antecipações no meio, e acabou travado na grande área por Fuentes. Bastava um acerto. Ele chegou na rápida virada de Gabigol, num recuo à direita, para Michael. O pequenino disparou e observou Everton Ribeiro ao centro, como um segundo atacante. Rolou com inteligência. Refinado, o Camisa 7 mostrou por que já foi apontado por Filipe Luís como o Messi deste Flamengo. Recebeu a bola, dominou e tocou por cima, com leveza, vencendo o goleiro. 2 a 0 e um alívio rubro-negro. Teo Gutiérrez até descontou no fim em bola lançada na área e um vacilo de Gerson, em uma atuação tecnicamente muito abaixo, na linha de impedimento. 2 a 1.

O Flamengo de Jorge Jesus venceu pela primeira vez um rival em seus domínios num torneio sul-americano – sempre bom lembrar que a final contra o River Plate foi em território neutro. É uma marca importante e mais uma barreira quebrada a um time que vai ter de se acostumar com as dificuldades de ser referência: será mais visado, mais provocado, mais pilhado para que a diferença aos rivais diminua. Os rubro-negros tiveram 53% de posse de bola*, finalizaram quatro vezes no gol, trocaram 359 passes contra 281 do rival. Ainda assim esteve aquém do seu padrão. É este o nível que o Flamengo de Jorge Jesus atingiu: venceu fora de casa, pela Libertadores, depois de três taças conquistadas apenas nesta temporada. Foi eficiente, mas deixou claro que ficou aquém do que pode apresentar. Acostumou mal. Coisas de quem está em outro patamar.

FICHA TÉCNICA
JUNIOR 1X2 FLAMENGO
Local: Metropolitano, em Barranquilla (COL)
Data: 4 de março de 2020
Árbitro: Alexis Herrera (VEN)
Cartões amarelos: Borja (JUN) e João Lucas, Filipe Luís, Gabigol, Diego Alves (FLA)
Gols: Everton Ribeiro (FLA), aos cinco minutos do primeiro tempo; Everton Ribeiro (FLA), aos 33 minutos e Teo Gutiérrez (JUN), aos 49 minutos do segundo tempo

JUNIOR: Viera, Piedrahita (Viafara, 38’/2T), Mera, Rosero e Fuentes; Didier Moreno, Sánchez, Cetre (Valencia, 27’/2T) e Hinestroza (Cardenas, 34’/2T); Teo Gutiérrez e Borja
Técnico: Julio Comesaña

FLAMENGO: Diego Alves, João Lucas, Gustavo Henrique, Léo Pereira e Filipe Luís; Thiago Maia, Gerson, Vitinho (Pedro, 45’/2T) e Everton Ribeiro; Arrascaeta (Michael, 17’/2T) e Gabigol
Técnico: Jorge Jesus

*Números do app Footstats Premium

Os comentários estão encerrados.