Arrascaeta Flamengo Fortaleza 2019 voleio
Sim, se pode: Flamengo usa talento dos meias, sobe o nível e passa pelo Fortaleza
02 junho 17:36
Gabigol gol Athletico PR
Ideias na mesa: Flamengo sofre, empata e vê bons indícios na estreia de Jorge Jesus
11 julho 18:37

Em duelo de gente grande, Flamengo derruba Corinthians e abre caminho para evolução

Rodrigo Caio gol Flamengo Corinthians Copa do Brasil

(Alexandre Vidal / Flamengo)

Bruno Henrique Flamengo Corinthians Junior Urso Copa do Brasil

(Alexandre Vidal / Flamengo)

Os investimentos mais vultosos no futebol do Flamengo indicaram a necessidade quase imediata não só de conquistas, mas de apresentações com bom futebol. Não basta vencer. Há de se vencer e bem. Ocorre que há maneiras de vencer bem. Ter participação à altura de sua história em jogos de grande porte era um dos quesitos que faltavam a este elenco rubro-negro. Ainda que tenha estado longe de ter uma atuação exuberante, o Flamengo atravessou com competência um duelo de gente grande com o Corinthians. Duas boas vitórias, esta última também de 1 a 0 num Maracanã lotado. Um triunfo que molda um grupo. Dá casca. Abre caminho para evolução.

Seria difícil imaginar uma nova apresentação de forma tão plástica como a que ocorreu contra o Fortaleza, dias antes, no Engenhão. Não só pelos desfalques pesados de Cuéllar e Arrascaeta, mas também por ter um rival bem mais pesado. Com menos espaços, maduro, capaz de ser traiçoeiro mesmo em campo rival. Sem os gringos a serviço das seleções colombiana e uruguaia – sem contar Trauco, no Peru – Marcelo Salles, o Fera, mandou a campo o Flamengo no 4-2-3-1 já tradicional. As características, porém, eram diferentes. Sem o trio de meias, o jogo mais refinado, com passes curtos, toques geralmente de primeira, em velocidade, cai consideravelmente. Bruno Henrique não é Arrascaeta. Em vez de acelerar com o passe, acelera ele próprio com a bola. Busca a explosão, o confronto com o rival. Mas havia pouco espaço para se desenvolver assim.

Fla no início: espaçado, com pouca ameaça ao rival

Nos 15 minutos iniciais, o Flamengo teve a bola. Por pouco mais de 60% de tempo a tinha nos pés, trocava passes diante de um rival mais recuado. Mas de forma mais lenta, pouco inspirada. Nada eficaz. Do outro lado, o Corinthians postado em um 4-1-4-1 aguardava. Avançava aos poucos. Inicialmente, alternando Sornoza e Júnior Urso nesse bote na defesa rubro-negra ao lado de Vagner Love. Ao perceber a dificuldade do Flamengo ao ser pressionado, subiu de vez. Clayson e Jadson avançaram pelos lados, Danilo Avelar ocupava o campo de ataque por dentro, enquanto Michel segurava o passo no lado oposto. Ralf mantinha a pressão por dentro, evitando qualquer tentativa rubro-negra na retomada de bola. Causou problemas aos rubro-negros, geralmente incomodados quando pressionados na saída de bola. E havia um porém: Piris da Motta, sem sintonia com o time, estava longe de fazer a cobertura de todo o espaço como realizado por Cuéllar. Errou alguns passes e também o posicionamento. Exigiu de Willian Arão uma postura mais combativa, tentando antecipar as investidas paulistas.

Corinthians no início: mais avançado, pressionando o Flamengo

Ao ter um Corinthians quase todo em seu campo, o Flamengo se encolheu. E passou a exibir os erros que indicaram um sistema defensivo tão frágil em 2019. Diego Alves errou saída de bola fácil, Clayson recuperou e chutou de longe, com perigo. Em seguida, dois lances perigosos: Sornoza cruzou na área, desvio em Piris exigiu de Diego Alves. Depois de novo escanteio de Sornoza, Ralf chegou limpo na entrada da área e carimbou, de primeira, no travessão. Ali outra deficiência rubro-negra: a facilidade com que rivais finalizam de frente da área. Em bloco, o Corinthians avançava, sentia o melhor momento.

Já a conviver com os resmungos seguidos da arquibancada, o Flamengo passou a errar com constância. Passes, botes, tentativas. Diego, bem marcado, pouco produzia. Buscou um jogo mais burocrático. O escape, como sempre, parava em Everton Ribeiro. Foi dele o lance perigoso do Flamengo no fim do primeiro tempo, ao completar de cabeça para o gol lançamento de Diego. Cássio fez boa defesa. O Corinthians entendia. Everton pegava a bola, andava de um lado a outro, pedia a troca de passes com companheiros e era invariavelmente perseguido. Derrubá-lo significava pôr fim à lucidez rubro-negra. Com domínio corintiano, o primeiro tempo chegou ao fim.

Ao fim, Fla já com a vaga na mão e postura mais equilibrada

O segundo tempo, no entanto, trouxe resposta de um Flamengo disposto a jogar o jogo de gente grande. Em vez de se pôr mais à defesa, trabalhando com a vantagem do regulamento que lhe garantia a vaga com o empate, o time se manteve avançado. Melhor: ajustou o desencontro entre Arão e Piris pelo meio. Houve maior proteção à defesa, consistência por dentro, evitando as entradas de Danilo Avelar e Jadson pelo setor. Pará, em boa noite, mostrou eficiência para combater Clayson no seu setor. Aos poucos, o Flamengo retomou a confiança e as rédeas do jogo. Um jogo de gente grande. Cascudo, o Corinthians também se manteve ofensivo dentro de suas limitações. Se encontrava dificuldade para trabalhar a bola pelo meio, ao contrário do primeiro tempo, apostou em soltar mais Michel pela direita. Invariavelmente, ele procurava Vagner Love na grande área. Aí um problema a ser corrigido: Love venceu todas as tentativas que teve ao fazer o pivô e girar em cima de Léo Duarte. Em uma delas, bateu forte, em cima de Diego Alves, e assustou.

Ao fim, Corinthians com três atacantes em campo, em busca do gol redentor

Mais organizado, o Flamengo pode proporcionar uma desenvoltura maior de Everton Ribeiro. O camisa 7, em grande fase, voltou a exibir características raras de um jogador no futebol brasileiro. Alterna entre o drible e a cadência, com facilidade para o passe. E, também, está combativo. Auxiliou Pará pelo lado direito, perseguindo Avelar ou Clayson se necessário. Chegou a três desarmes. Gabigol, incansável na frente, fez boa presença ao pressionar a saída corintiana. A balança do jogo equilibrou, o que, consequentemente, favorecia ao Flamengo, com a vantagem do empate no bolso. Carille se pôs a avançar o Corinthians. Sacou Sornoza, pôs Gustagol. Sacou Júnior Urso, pôs Boselli. Um tudo ou nada que esvaziou o meio e abriu maiores possibilidades ao Flamengo. Com pouco espaço diante de Michel, Bruno Henrique acabou substituído por Vitinho, em busca da jogada individual. Ronaldo fez as vezes de Arão ao dar maior consistência de defensiva. Um jogo de gente grande. De um grande.

Contratado com desconfiança no início da temporada, Rodrigo Caio é das gratas surpresas do pacotão rubro-negro para 2019. Demonstra liderança, facilidade para iniciar o jogo com sua qualidade de passe e mais: encontrou a sintonia com a arquibancada. Vibra, se joga ao ataque quando possível. Assim fez o gol, incrivelmente só validado pelo VAR, após um passe de Everton Ribeiro, pelo alto. Explodiu por duas vezes ao comemorar com a massa mais um tento redentor. No estufar da rede, fez a torcida chacoalhar o Maracanã com a certeza da classificação. Batido, o Corinthians ainda mandou bola na trave com Jadson em rebote de Diego Alves. Foi um jogo grande e igual. 50% de posse a cada lado, 318 passes de parte a parte, assim como dez finalizações*. A diferença se deu em bolas na rede. Segunda vitória seguida sobre o Corinthians, caminho aberto para a chegada de Jorge Jesus. Mais do que vivo em todas competições, o Flamengo avançou em um duelo dos grandes. E mostrou que há caminho para evolução.

*Números app Footstats Premium

FICHA TÉCNICA
FLAMENGO 1X0 CORINTHIANS
Local: Maracanã
Data: 4 de junho de 2019
Árbitro: Leandro Vuaden (RS)
VAR: Daniel Nobre Bins (RS)
Público e renda: 55.586 pagantes / 60.171 presentes / R$ 3.571.041,25
Cartões amarelos: Léo Duarte, Gabigol (FLA) e Michel e Clayson (COR)
Gol: Rodrigo Caio (FLA), aos 42 minutos do segundo tempo

FLAMENGO: Diego Alves, Pará, Léo Duarte, Rodrigo Caio e Renê; Piris Motta e Willian Arão (Ronaldo, 37’/2T); Everton Ribeiro (Berrío, 49’/2T), Diego e Bruno Henrique (Vitinho, 30’/2T); Gabigol
Técnico: Marcelo Salles

CORINTHIANS: Cássio, Michel Macedo, Henrique, Manoel e Danilo Avelar; Ralf (Régis, 44’/2T); Jadson Junior Urso (Boselli, 31’/2T), Sornoza (Gustagol, 19’/2T) e Clayson; Vagner Love
Técnico: Fábio Carille

  • Gleydstone Silveira

    Como sempre, um análise racional sobre o jogo. Parabéns!.