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07 março 00:39
Guerrero Flamengo Fluminense Taça Guanabara 2017
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07 março 03:28

Estado de sítio, decisão adiada e pênaltis: o último encontro entre Fla e San Lorenzo

Rivais na estreia da Libertadores nesta quarta-feira, Flamengo e San Lorenzo já protagonizaram um duelo histórico em um torneio sul-americano. Há pouco mais de 15 anos, na decisão da Copa Mercosul de 2001. Os clubes tiveram um confronto com direito a expulsão no Maracanã lotado, jogo de volta suspenso por crise econômica argentina, decisão por pênaltis, invasão de campo de torcedores em Buenos Aires. Uma finalíssima que começou em um ano e só terminou em outro, com desfalques de ambos os lados. A taça acabou com o Ciclón.

Em 2001, o Flamengo chegava ao fim da temporada completamente esgotado. Não apenas fisicamente, já que o elenco disputara 74 jogos no ano até a semifinal da Mercosul. Meses antes, o time fora tricampeão carioca com o gol de falta histórico de Petkovic sobre o Vasco e campeão da Copa dos Campeões sobre o São Paulo, que resultara em uma vaga na Libertadores de 2002. No Campeonato Brasileiro, no entanto, o ambiente desandou.
Em meio a uma crise financeira, os salários atrasaram e as desavenças aumentaram. Petkovic e Edilson, estrelas do elenco, trocavam farpas públicas e em treinos. A ameaça de rebaixamento no Campeonato Brasileiro derrubou o técnico Zagallo e coube a Carlos Alberto Torres, o Capita, assumir e livrar o time do rebaixamento.

Fla da partida de ida, no Maracanã

Livre da degola, a equipe decolou no torneio sul-americano, do qual já tinha sido campeão dois anos antes, em 1999. Já na fase de grupos, o encontro com o San Lorenzo. Mas, nos dois jogos, em Brasília e em Buenos Aires, o Flamengo sorriu com duas vitórias por 2 a 1. A chave ainda contava com Nacional, do Uruguai e Olimpia, do Paraguai. Na quartas de final, eliminou o Independiente. Na semifinal superou o Grêmio nos pênaltis. O adversário da final, no entanto, era o mesmo clube da primeira fase, mas um time diferente, em ótima fase. Dirigido pelo chileno Manuel Pellegrini, com o apoiador Romagnoli em fase inspirada e o atacante Romeo afiadíssimo, o San Lorenzo chegara à decisão após golear na semifinal o Corinthians por 4 a 1 em Buenos Aires. Um show do meia e camisa 10, além de dois gols do centroavante.

Na decisão, o jogo de ida seria no Maracanã. Torcedores enfrentaram filas quilométricas para garantir os ingressos. O mais barato custava R$ 8, na arquibancada. Os cambistas vendiam a R$ 15. 83.317 torcedores pagaram para ver o time entrar em campo. Mas demorou. Literalmente. Por conta do trânsito carioca, o trio de arbitragem paraguaio e a delegação do San Lorenzo demoraram a chegar ao Maracanã.

A partida começou com 30 minutos de atraso. Foi um jogo duro. Ofensivo, o Flamengo não conseguia furar o bloqueio de um San Lorenzo que claramente desejava esfriar a pressão da torcida e levar a decisão para Buenos Aires. No primeiro tempo, Petkovic sentiu uma lesão na coxa esquerda e deixou o campo, substituído por Roma. Foi o primeiro baque nos rubro-negros.

Tão logo a bola rolou no segundo tempo, Edilson foi expulso por revidar, com uma cotovelada, uma provocação física de Michelini. Mesmo com um a menos, o Flamengo abdicou qualquer tática responsável e foi ao ataque. Quase sofreu um gol de Romeo, salvo por Julio César cara a cara. Reinaldo perdeu chance clara no fim, também de frente pra Saja. O empate sem gols levou a decisão sem vantagem para a Argentina, na semana seguinte.

Fla da partida de volta, já em 2002

Mas a instabilidade do país vizinho foi o grande oponente rubro-negro na decisão diante do San Lorenzo. Diante de enorme crise econômica, Buenos Aires foi tomada por saques e o caos se instalou. O presidente Fernando de La Rúa decretou estado de sítio e o jogo foi suspenso. Os jogadores do Flamengo só souberam da decisão quando já estavam dentro do ônibus, a caminho do estádio. Temerosos, os líderes do elenco rubro-negro, com o goleiro reserva Clemer e o meia Petkovic, se recusaram a jogar na capital argentina diante do clima instável. A partida, então, foi marcada para o dia seguinte, com portões abertos. Mas não aconteceu diante da manutenção do estado de sítio, que vetava a realização de eventos. Depois de muita discussão, com a possibilidade de disputar a finalíssima depois do Natal, o jogo acabou adiado para o fim de janeiro de 2002. Um golpe nas duas equipes, mas, principalmente, no Flamengo.

Devido à crise financeira, o Conselho Deliberativo do clube obrigara o departamento de futebol a reduzir o orçamento da temporada em R$ 16 milhões para 2002. A taça da Mercosul valeria dois milhões de dólares. A folha salarial custava cerca de R$ 2,6 milhões por mês e passaria por cortes drásticos. Petkovic não aceitava sofrer redução salarial, mas acabou permanecendo. Representava cerca de R$ 400 mil, sozinho. Edilson, suspenso do segundo jogo e às turras com o presidente Edmundo dos Santos Silva, acabou emprestado ao Cruzeiro.

Beto não renovou o contrato. Reinaldo, negociado com o PSG, saiu. Coube a Carlos Alberto Torres escalar o ataque com Leandro Machado, que voltava de empréstimo, e Roma. Leandro Ávila, outro que retornava de empréstimo, assumiu vaga no meio de campo. O San Lorenzo perdeu Romeo, artilheiro do torneio com dez gols, negociado com o Hamburgo por cinco milhões de dólares. Atualmente, ele é gerente de futebol do Ciclón. Do elenco atual do Flamengo, em 2017, há um remanescente: o zagueiro Juan, titular nos dois jogos em 2001. Mas a lembrança é amarga.

O Globo no dia seguinte da decisão

Com grande pressão, o Flamengo deixou a pré-temporada e entrou em campo para decidir o torneio sul-americano no estádio Nuevo Gasometro lotado. Torres optou por um meio fechado por três volantes (Jorginho, Leandro Ávila e Rocha) e Petkovic na armação. O time rubro-negro começou bem. De cabeça, Leandro Machado abriu o placar aos dez minutos de jogo. Mas após muita pressão, com direito a bola na trave, o San Lorenzo chegou ao empate com Estevez, que aproveitou o rebote dado por Julio César após defender um cruzamento violento da esquerda.

Sem previsão de gol qualificado no regulamento, o campeão seria conhecido nos pênaltis. Saja defendeu o primeiro, de Juan. Julio César respondeu ao defender a cobrança de Acosta. Petkovic colocou o Flamengo à frente. Julio César, de novo, brilhou ao defender o pênalti de Serrizuela, no meio do gol. A bola ainda tocou na trave. Andrezinho abriu 2 a 0 ao deslocar Saja. O título parecia encaminhado. Parecia. O craque Romagnoli converteu o seu com emoção. Julio César chegou a encostar na bola, mas ela morreu dentro do gol.

Cássio isolou a bola e colocou o Ciclón de novo na disputa. Pusineri marcou. O lateral-direito Edson converteu em seguida para o Flamengo. Mas o próprio goleiro rival, Saja, vazou Julio César ao cobrar no meio do gol e evitou que o título fosse parar a Gávea. Nas cobranças alternadas, Roma bateu mal, à meia-altura, no lado esquerdo de Saja, que defendeu. Neste instante, parte da torcida do San Lorenzo, ansiosa, invadiu o gramado acreditando que o título fora conquistado. O árbitro Oscar Ruiz paralisou a partida até que todos voltassem à arquibancada. Capria, então, cobrou no alto e fez o o gol do título, fechando o placar em 4 a 3 no Nuevo Gasometro e finalizando uma decisão que começou em um ano e terminou em outro.

PRIMEIRO JOGO
FLAMENGO 0X0 SAN LORENZO

Local: Maracanã
Data: 12 de dezembro de 2001
Árbitro: Epifaneo Gonzalez (PAR)
Público: 83.317 pagantes
Cartões amarelos: Jorginho (FLA), Pusineri e Paredes (SAN)
Cartão vermelho: Edilson (FLA)
Gol:

FLAMENGO: Julio César; Alessandro (Bruno Carvalho), Juan, Fernando e Cássio; Jorginho, Rocha, Beto e Petkovic (Roma); Reinaldo e Edilson
Técnico: Carlos Alberto Torres

SAN LORENZO: Saja; Serrizuela, Ameli, Capria e Paredes; Zurita (Pusinerí), Michelini, Erviti e Romagnoli (Filomeno); Franco (Santana) e Romeo
Técnico: Manuel Pellegrini

SEGUNDO JOGO:
SAN LORENZO (4) 1X1 (3) FLAMENGO

Local: Nuevo Gasometro
Data: 24 de janeiro de 2002
Árbitro: Oscar Ruiz (COL)
Cartões amarelos: Fernando, Edson e Roma (FLA), Michelini, Esteves e Acosta (SAN)
Gols: Leandro Machado (FLA), aos dez minutos do primeiro tempo e Estevez (SAN), aos 22 minutos do segundo tempo.

SAN LORENZO: Saja; Serrizuela, Ameli, Capria e Paredes; Michelini, Erviti, Franco (Pusineri) e Romagnoli; Estevez (Leo Rodriguez) e Acosta
Técnico: Manuel Pellegrini

FLAMENGO: Julio César; Édson, Juan, Fernando (André Bahia) e Cássio; Jorginho, Leandro Ávila, Rocha (Andrezinho) e Petkovic; Roma e Leandro Machado (Jackson)
Técnico: Carlos Alberto Torres

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