Nenhuma vitória em três jogos oficiais na temporada, apenas dois pontos e a lanterna do Grupo C do Campeonato Carioca. Esse reflexo que o torcedor tricolor encontra ao se olhar no espelho contribui para uma explosão de emoções que permite o protesto na arquibancada de Edson Passos ao fim do empate sem gols com a Portuguesa. Empate este arrancado com uma dose de sorte. Entre tantas chances permitidas, o Fluminense viu a bola beijar a própria trave duas vezes e deixou questões a serem debatidas além da Taça Guanabara, onde a classificação parece improvável.
O discurso natural de qualquer torcedor indicaria que Campeonato Carioca tem pouco impacto no restante da temporada. Ocorre que o Fluminense de Abel Braga abriu sua maleta em pôs-se a fazer experiências como num laboratório. Em 2017, o clube ao menos chegou à final diante do rival Flamengo e ainda assim cumpriu temporada sofrível a seguir, entre desfalques por lesão ou transferências como a de Richarlison.
Sem reforços de grande impacto, a primeira medida de Abel na temporada foi impedir que o time continuasse a ser vazado com tanta facilidade. Afinal, deixar o adversário passar à frente para só então tentar se recuperar era uma estratégia suicida, embora não deliberada. A solução foi a utilização de três zagueiros. Renato Chaves, Gum e o jovem Ibañez. Nenhum, no entanto, é plenamente confiável. Em vez de protegido, o time ficou instável. Mesmo contra a frágil Portuguesa. Ainda que tenha quase vencido o Botafogo, o time da Ilha tem clara deficiência técnica.
Mas foi o suficiente para assustar o Fluminense. Bastou abrir dois jogadores pelos lados, casos de Romarinho e Everton Sena, para esgarçar a defesa tricolor. A ideia de defender com cinco jogadores, com o recuo de Gilberto e, no caso, Ayrton, não foi eficaz. Talvez por falta de entrosamento, os zagueiros tricolores insitem em sair para o combate em um a um com os rivais. O resultado é um time desequilibrado. Alas que pouco apoiam, volantes – Jadson e Douglas – que tentam alternar entre defesa e ataque e Marcos Junior doando-se ao máximo, mas sem o menor raciocínio. Nesse Fluminense recheado de espaços, o convite foi grande.
A sorte tricolor foi a já decantada deficiência da Portuguesa. Não fosse ela, Jhonnatan teria feito 1 a 0 até com tranquilidade ao receber, livre na pequena área, cruzamento de Sassá pela esquerda. A finalização foi torta para fora e abriu a discussão: como com três zagueiros o volante conseguiu aparecer livre na área tricolor? Falta de entrosamento para acertar a posição. Ficou evidente quando, no fim do primeiro tempo, Sasssá aproveitou o deixa que eu deixo entre Gum e Renato Chaves, recuperou a bola e invadiu a área. O lance só não terminou em maior perigo porque o árbitro ignorou o puxão de Gum que resultaria em um pênalti. E o Fluminense desceu para o intervalo aliviado.
Abel entendeu que o testes colocavam o jogo em risco. E talvez tenha lembrado da necessidade da vitória. Sacou Renato Chaves, pôs Robinho na ponta esquerda e abriu o time em um 4-3-3. Mas ficou ainda pior. Desajutado, o Fluminense entregou ainda mais campo à Portuguesa, que apareceu sempre na grande área e parou…em si mesma. Maicon Assis disparou em contra-ataque perseguido por, pasmem, Marcos Junior. Mas não conseguiu rolar certo para Sassá, livre na grande área. Fabinho acertou a trave em chute cruzado na área, enquanto Marcão, de cabeça, também parou na baliza. Em pânico, o Fluminense congelou.
Abel tentou a velha arma de 2017, empilhar jogadores ofensivos na equipe. Sacou Douglas, Gilberto e Marcos Junior. Pôs Matheus Alessandro, Caio e Pablo Dyego. Pouco adiantou. Ainda que com jogadores de características ofensivas, o time já parecia traumatizado em perder a bola no ataque. Avançava com insegurança, às vezes com os dois laterais ao mesmo tempo, e não tinha calma para a troca de passes. Apenas enfiadas de bola e tentativas de lançamentos para a explosão de Matheus Alessandro pelo lado direito, com Pablo Dyego no suporte. Não foi suficiente.
Da arquibancada, o pedido insistente por novos jogadores se justifica. Com Sornoza expulso no último minuto de jogo, Abel não tem grandes alternativas para o setor de criação. Se pretende avançar com a ideia de três zagueiros, ao menos um defensor deve ser confiável. Os primeiros passos em 2018 assustam.
FICHA TÉCNICA
FLUMINENSE 0X0 PORTUGUESA
Local: Edson Passos, em Mesquita (RJ)
Data: 24 de janeiro de 2017
Horário: 21h45
Árbitro: Grazziani Maciel Rocha (RJ)
Público e renda: 1.270 pagantes / 1.414 presentes / R$ 21.135,00
Cartões Amarelos: Sornoza, Matheus Alessandro e Pablo Dyego (FLU) e Luan, Sassá, Maicon Assis e Abuda (POR)
Cartão vermelho: Sornoza (FLU), aos 45 minutos do segundo tempo
Gols: –
FLUMINENSE: Júlio César; Renato Chaves (Robinho / Intervalo), Gum e Ibañez; Gilberto (Pablo Dyego, 28’/2T) Jadson, Douglas (Matheus Alessandro, 13’/2T), Sornoza e Ayrton; Marcos Junior (Caio, 28’/2T) e Pedro
Técnico: Abel Braga
PORTUGUESA: Milton Raphael; Cássio, Luan, Marcão e Diego Maia; Muniz (Abuda, 25/’2T), Johnnatan, Maicon Assis (Raylan, 21’/2T), Sassá (Fabinho, 21’/2T) e Romarinho (Philip Luis, 21’/2T); Alexandro (Tiago Amaral, 36’/2T)
Técnico: João Carlos Ângelo