(Marcelo Cortes / CRF)
Há vantagens em ser um técnico novato. O estilo ainda está em busca de maturação, os adversários pouco sabem sobre o que esperar. E, mais do que isso, é possível se adaptar, ousar. Filipe Luís, em seu quarto jogo à frente do Flamengo, mostrou que de fato bebe em diversas fontes. E respondeu a um grande desafio ao mostrar a capacidade de se inspirar em seu maior mestre: Diego Simeone. Com atuação defensiva à beira da perfeição, o Flamengo ultrapassou mais de 70 minutos com um homem a menos diante do Corinthians em Itaquera e segurou o empate sem gols. Pelo terceiro ano consecutivo é finalista da Copa do Brasil.
Foi interessante. Tão logo foi apresentado, Filipe Luís foi exaustivamente comparado a Jorge Jesus. Do estilo de jogo até corridas nos treinamentos ao lado de jogadores . O gosto ofensivo também despertou amores. Marcação alta, pressão sobre adversário, agressividade. A partida de ida da semifinal contra o Corinthians arrancou elogios. Desta vez, Filipe comprovou: pode até ter preferência em seguir na maior parte do tempo o caminho de Jorge Jesus. Mas sabe bem, muito bem ser Simeone quando necessário.
A atmosfera em Itaquera foi formada para tentar honrar a promessa de “clima hostil” dito por Matheuzinho. Ramon Díaz tentou ajudar da mesma maneira. Time ofensivo, num 4-3-3, pronto para explorar os lados com bolas invertidas nas costas dos laterais com Romero e Talles Magno. O Flamengo de Filipe estava no 4-4-2 usual, transformado num 4-2-4 ao atacar. Havia calma rubro-negra pela vantagem de 1 a 0. Bruno Henrique tentava explorar as costas de Matheuzinho com velocidade. Um jogo igual até seu momento-chave: a expulsão do Camisa 27 por uma entrada descuidada e descabida em Matheuzinho. Expulsão justa e convocação obrigatória aos técnicos a interferir no jogo. Filipe não titubeou. Foi corajoso e rápido. Crucial.
Seria fácil, trivial demais sacar um meia e pôr um atacante velocista – Michael ou Plata – em busca de um jogo que não existiria. Filipe rapidamente pensou e executou. Precisava evitar a qualquer custo a euforia da Neo Química Arena, a atmosfera favorável diante da expulsão. Sofrer um gol seria fatal na guerra mental do confronto. Saiu do usual: sacou Gabigol, até então nulo, e pôs Fabrício Bruno. Zagueiro velocista para impedir o ataque de corintianos rápidos à defesa rubro-negra em bola esticada. Mais: formou uma linha defensiva de cinco. Alargou o campo, protegeu os lados e elevou a estatura contra bolas aéreas no miolo da zaga. Ficou mais à frente apenas com seus meias: teria menos a posse. Mas, quando tivesse, seria fundamental mantê-la pelo maior tempo possível. De La Cruz, Arrascaeta e, principalmente, Gerson. Em fase esplendorosa, maduro, o capitão da camisa 8 comanda o time em campo com maturidade. O Flamengo esfriou a Arena e desceu ao vestiário satisfeito com o empate.
Filipe Luís, perspicaz, leu os detalhes do jogo. Alex Sandro é lateral que cai por dentro, constroi. E já estava amarelado. Foi substituído por Ayrton Lucas. Mais rápido, capaz de pressionar corintianos mais à frente e, com a bola, arrancar com um espaço que o Corinthians fatalmente cederia ao buscar o gol. Ramon Díaz tentou oxigenar o meio com Carrillo. Foi pouco. Mesmo com Coronado posteriomente, o Corinthians parava no cinturão defensivo do Flamengo. Rodava bola lateralmente e, afoito, alçava bola na área. Foram mais de 30.
Mentalmente mais forte a cada minuto, o Flamengo pôs vigor em campo. Alcaraz, Plata. E contava com a força de Wesley à direita e a lucidez de Pulgar no centro. Rossi, experiente, mostrou liderança necessária a um goleiro e testou o limite de torcedores e arbitragem a cada reposição e tiro de meta. O jogo é, essencialmente, mental. E o Flamengo equilibrado, maduro diante de um enorme revés, pôs a vaga no bolso. Foi uma enorme classificação, com recados para o futuro e a indicação que Filipe Luís não é Jorge Jesus e tampouco Diego Simeone. Mas é capaz de se adaptar ao estilo de ambos diante do que pede o jogo. E neste domingo ele clamava uma defesa quase perfeita. Pelo terceiro ano seguido, o Flamengo está na decisão da Copa com Brasil. Com Filpe Luís. Desta vez à la Simeone.
FICHA TÉCNICA
CORINTHIANS 0X0 FLAMENGO
Data: 20 de outubro de 2024
Local: Neo Química Arena
Árbitro: Anderson Daronco (RS – Fifa)
VAR: Wagner Reway (MT – Fifa)
Acréscimos: 7’/1T e 6’/2T
Público e renda: 46426 pagantes / 46.977 presentes / R$ 3.023.876,00
Cartões amarelos: Gustavo Henrique e Pedro Henrique (COR), Gerson, Alex Sandro e Pulgar
Cartão vermelho: Bruno Henrique (FLA), aos 27 minutos do primeiro tempo
Gols:
CORINTHIANS: Hugo Souza, Matheuzinho (Giovane, 22’/2T), Gustavo Henrique (Felix Torres / Intervalo), Charles (Igor Coronado, 22’/2T), Martínez (Carrillo / Intervalo), Garro, Talles Magno (Pedro Henrique, 29’/2T), Yuri Alberto
Técnico: Ramon Díaz
FLAMENGO: Rossi, Wesey, Léo Ortiz, Léo Pereira e Alex Sandro (Ayrton Lucas / Intervalo); Pulgar, De La Cruz (Alcaraz, 8’/2T), Arrascaeta (Plata, 37’/2T), Bruno Henrique e Gabigol (Fabrício Bruno, 30’/1T) Técnico: Filipe Luís