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Flamengo em ritmo lento vence um Vasco que se recusa a acreditar em si

Gabigol gol Vasco semifinal Campeonato Carioca 2022

(Marcelo Cortes / Flamengo)

Andreas Pereira Flamengo Vasco semifinal Campeonato Carioca 2022

(Marcelo Cortes / Flamengo)

O Campeonato Carioca foi apontado desde o início como uma espécie de grande laboratório para Paulo Sousa. Carta branca para trocar, mexer, fazer experiências e buscar variações, formações e testar ideias de olho no momento decisivo da temporada. Pois o momento decisivo da temporada começou a se apresentar já nesta quarta-feira, no Maracanã, contra o Vasco, no jogo de ida na semifinal do Estadual. A partir daí há pouco espaço para arriscar muito alto. Quase três meses de trabalho se convertem em cobranças por vitórias, títulos e desempenho. A vitória de 1 a 0, gol de Gabigol, ampliou a vantagem para o time chegar à decisão, mas apontou um time ainda aquém do que espera a torcida. Como traçamos linhas por aqui após o clássico do Engenhão, a diferença entre Vasco e Flamengo nunca foi tão grande na História. É óbvio que rubro-negros queiram que ela se traduza em campo. Não foi o que ocorreu mais uma vez. É uma diferença tão gritante entre os elencos que impacta no próprio Vasco. De novo, o time foi armado e se apresentou de uma maneira que indica alguém que recusa a crer em si. Uma incredulidade na própria capacidade de vencer o rival e ir à final do Carioca.

O primeiro confronto entre as equipes há poucos dias ainda estava fresco na memória dos dois treinadores. Um Vasco que foi digno e segurou o Flamengo até o último instante no Engenhão, mas tombou dias depois na Copa do Brasil. Talvez a falta de confiança indique por que Zé Ricardo de novo mandou a campo a equipe com receio. Muito mais cautela do que ousadia. Aliás, sem um pingo de ousadia no primeiro tempo. Uma espécie de 6-3-1, de novo. Com um minuto de jogo era muito simples observar que a linha de seis de Zé estava lá novamente para impedir o Flamengo de explorar o fundo do campo. Os quatro defensores – Léo Matos, Quintero, Anderson Conceição e Edimar – ganhavam o apoio pelos lados de Gabriel Pec e Weverton. Zé Gabriel e Juninho fechavam bem o corredor central com ajuda ora de Nenê, ora de Raniel. Uma tentativa de forçar o Flamengo a buscar os lados obstruídos. É válido bloquear o adversário. Mas é necessário, também, tentar jogar. Atacar. O Vasco no primeiro tempo não tentou. Abdicou do jogo.

Do outro lado, Paulo Sousa mandou o Flamengo a campo no que indicava o time no 3-4-2-1 usual de seu início de trabalho. Com Everton Ribeiro de ala pela esquerda, Bruno Henrique mais à direita do ataque, com Gabigol e Arrascaeta. Willian Arão e Andreas como volantes por dentro. Logo no início, Andreas arriscou um passe bem agudo por dentro, da esquerda para a direita. Perdeu a bola, teve de fazer falta para impedir o contra-ataque e com cinco minutos estava amarelado. Marcado pela final da Libertadores, o erro no Engenhão e o peso de uma iminente compra de R$ 60 milhões, o volante deveria ter um maior instinto de autopreservação no momento. Emendar uma sequência de tentativas simples, consolidar confiança para, enfim, voltar a arriscar lances como passes agudos com cinco minutos de clássico decisivo. E deve, também, melhorar a proteção da bola, claramente uma deficiência. Em seguida a Andreas, Matheuzinho também recebeu o cartão amarelo ao derrubar Pec num contra-ataque. E o Flamengo se reajustou. Everton Ribeiro deu passos à direita, basicamente no mesmo modo como ocorreu contra o Bangu, alternando sistematicamente com Gabigol, por dentro e lado. E Bruno Henrique assumiu o seu papel de ala. É possível até colocar ala entre aspas na função cumprida pelo atacante.

Bruno tem pouca característica defensiva. Mas tem enorme explosão e facilidade em fazer a diagonal, caindo do lado para dentro do campo e, obviamente, explorar o fundo. Posicionou-se muitas vezes avançado diante de um rival tão recuado. Matheuzinho, do outro lado, colava na linha lateral e buscava alargar ao máximo o campo para tentar esgarçar a defesa vascaína. O Flamengo buscava criar os espaços que o Vasco tentava não conceder. Com os cruzmaltinos tão entrincheirados, Filipe Luís ficou ainda mais à vontade do que em outros jogos e subiu com ainda maior fluidez. Não é porque atua como terceiro zagueiro que o lateral de ofício fica alheio do jogo ofensivo. Ao contrário. Filipe participa como construtor de jogadas, principalmente por dentro. Assim o fez e por vezes conseguiu ir até o fundo e aparecer na área com constância.

Vasco no primeiro tempo: linha de seis para abdicar de jogar

Foi basicamente jogo de uma só equipe no primeiro tempo. O Flamengo alternando entre os lados em busca de espaço e do fundo do campo negado pelo Vasco. No comando absoluto dos três zagueiros, David Luiz mostra imponência. Desarma, antecipa e avança. Com facilidade no passe, arrisca. Principalmente nos longos. Tem sido uma das grandes tentativas da equipe de Paulo Sousa. Esticadas com qualidade especialmente para Matheuzinho pelo lado direito. O problema é que a equipe em outros jogos criou chances e teve pouca eficácia. No clássico desta quarta, a criação também foi baixa. A rigor, o time teve um bom lance no primeiro tempo, com enfiada de Bruno Henrique a Gabigol pelo lado esquerdo. O atacante preferiu o chute forte a rolar para o meio da área a outros companheiros. Thiago Rodrigues defendeu.

O Flamengo tinha permanência no campo rival, bloqueio forte do Vasco por dentro e a barreira da linha de seis a atrapalhar pelos lados. Precisava de triangulações e criar espaços para ultrapassagens para movimentar o seu jogo pelos lados. Não teve tanto sucesso. Everton Ribeiro, móvel e alternando entre o centro e lado direito, teve boa atuação na primeira parte. Enxerga bem o jogo, como Arrascaeta, mas o uruguaio estava em noite ruim. A opção de jogadores com dribles curtos para furar defesa também era inexistente. Vitinho é quem mais se aproxima, por exemplo. E mais atrás, por dentro, talvez a troca mais acelerada de passes fosse uma alternativa. O gol acabou por sair após o VAR assinalar pênalti na bola rebatida na mão de Anderson Conceição. Gabigol, com a categoria usual, marcou de pênalti.

Fla no primeiro tempo: BH ala, Ribeiro alternando com Gabi

O segundo tempo trouxe um Flamengo diferente na escalação – e não formação – por necessidade. Bruno Henrique, depois de dores no ombro, cedeu lugar a Lázaro. Mudaram jogador e característica. Lázaro contribuiu mais defensivamente e fecha os espaços no auxílio a Filipe Luís se necessário. Por outro lado, tem menos intensidade e explosão do que Bruno Henrique. Busca menos o fundo. Seria naturalmente um Flamengo mais tímido pelo setor. E o Vasco? Bom, ao Vasco só restava soltar um pouco um time inexistente no ataque no primeiro tempo. A vantagem de dois resultados iguais no confronto está do outro lado. Com a derrota parcial, a obrigação de vencer por dois gols no segundo jogo existiria – e assim permaneceu após o placar consumado.

Vasco ao fim: mais solto, em busca de empate e ao menos agredir rival

Figueiredo entrou na vaga de Weverton e o time avançou mais, desfazendo a linha de seis de maneira tão rígida. Mas que poderia se refazer caso atacado. O Flamengo, por sua vez, permaneceu mais em seu campo. Ao se defender, o time de Paulo Sousa desde o início do trabalho do português forma uma linha de quatro defensores em um 4-4-2. O que confundiu, por vezes, e gerou algumas observações de que o Flamengo atuava o tempo inteiro nesta formação. Ela ocorre em um momento sem a bola. Matheuzinho fecha o lado direito, Everton puxa também no meio, Lázaro do outro. À frente Arrascaeta e Gabigol. Pareceu uma opção rubro-negra chamar o Vasco a seu campo, tirá-lo do seu conforto defensivista armado por Zé Ricardo e tentar criar algo em velocidade, no contra-ataque. As entradas de João Gomes, Rodinei e posteriormente Marinho indicavam um time com mais vigor e velocidade. Houve até uma chance, com Marinho em chute cruzado dentro da área. E só. O Flamengo seguiu lento ao recuperar a bola e avançar. Sem troca rápida de passes para criar espaços, confundir a marcação. Longe da intensidade entendida e absorvida pela torcida com a maior deste elenco desde 2019. Atitude que frustra a arquibancada.

Fla no segundo tempo: mais atrás, Lázaro com mais apoio defensivo

Do seu lado, o Vasco tentou agredir com a limitação técnica que o elenco impõe. Figueiredo assustou Hugo em chute de longe, que obrigou a uma boa defesa. Zé Ricardo sacou os volantes de maior pegada, deixou o time mais leve pelo centro e tentou acionar velocidade pelos lados para explorar qualquer saída do Flamengo. Alçou bolas à área. Pouco conseguiu. Lázaro ocupava bem o seu lado no auxílio a Filipe Luís, Marinho também contribuía. E depois, com Pedro no lugar de Gabigol, o Flamengo ficou com menor mobilidade na reta final. A vitória chegou, mas o ritmo lento mostrou um time em rotação muito abaixo do esperado em um clássico decisivo. Burocrático.

Com tamanha diferença técnica é natural que se espere que o campo responda da mesma maneira. Um Flamengo com rotação alta, presente no campo adversário, com alternativas, chances criadas, finalizações e bom desempenho. De novo, não ocorreu. A atuação foi até acima do clássico no Engenhão. Mas boa, mesmo, apenas em parte do primeiro tempo. É início de trabalho, processo de construção, mas já houve atuações melhores da equipe de Paulo Sousa, como na decisão da Supercopa. É necessário retomar esse caminho. O time teve 62% de posse de bola*, mas finalizou apenas duas bolas no gol vascaíno. É pouco.

Do lado vascaíno, um primeiro tempo inexplicável, de novo na trincheira como um convite para que o Flamengo ocupasse seu campo. O segundo tempo mostrou a limitação técnica, mas um desenho mais minimamente mais ousado, um time mais avançado e com perspectiva de ao menos tentar agredir o rival e ser digno no confronto em busca de uma vaga na decisão. Deu alguma perspectiva à torcida que fez bela presença na arquibancada, em lindo duelo com os rubro-negros numa noite que despertou nostalgia dos clássicos, com cantos de lado a lado. Foram dez finalizações contra 11 dos rubro-negros. Mas no alvo a superioridade foi vascaína: 5×2, um reflexo óbvio do segundo tempo, quando o Vasco deu todos os chutes no gol e o Flamengo, nenhum. Há jogo a jogar no domingo. E há, sim, uma vaga ainda aberta.

*Números do Sofa Score

FICHA TÉCNICA
VASCO 0X1 FLAMENGO

Local: Maracanã
Data: 16 de março de 2022
Árbitro: Felipe da Silva Paludo (RJ)
VAR: Carlos Eduardo Nunes Braga (RJ)
Público e renda: 33.999 pagantes / 37.867 presentes / R$ 1.139.360,00
Cartões amarelos: Juninho, Figueiredo, Léo Matos (VAS) e Andreas e Matheuzinho (FLA)
Gol: Gabigol (FLA), aos 41 minutos do primeiro tempo

VASCO: Thiago Rodrigues, Léo Matos, Juan Quintero, Anderson Conceição e Edimar; Zé Gabriel (Luiz Henrique, 35’/2T), Juninho (Yuri, 17’/2T), Weverton (Figueiredo / Intervalo) e Nenê (Vitinho, 30’/2T); Gabriel Pec (Bruno Nazário, 30’/2T) e Raniel
Técnico: Zé Ricardo

FLAMENGO: Hugo Souza, Fabrício Bruno, David Luiz e Filipe Luís; Matheuzinho (Rodinei, 14’/2T), Wilian Arão, Andreas Pereira (João Gomes, 14’/2T) e Bruno Henrique (Lázaro / Intervalo); Everton Ribeiro (Marinho, 27’/2T), Arrascaeta e Gabigol (Pedro, 37’/2T)
Técnico: Paulo Sousa

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