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Flamengo inverte sua lógica, passa coração à frente da razão e arrebata Maracanã

Guerrero Flamengo Libertadores 2017 Universidad Católica
Rodinei Flamengo 2017 Maracanã Libertadores Universidad CAtólica

Rodinei comemora seu gol contra a Universidad Católica no Maracanã

Em um time que perdeu apenas três vezes em oito meses é natural que a razão esteja acima de qualquer impulso do coração. A frieza, na maioria das vezes, resulta em um time organizado, mais cerebral, que entende o plano de jogo e mantém uma regularidade ao dominar rivais. Mas há momentos em que se exige coração para avançar. Superar defeitos da organização na base da raça. Entregar-se ao jogo. Na vitória de 3 a 1 sobre a Universidad Católica, no Maracanã, o Flamengo inverteu sua própria lógica. Passou o coração à frente da razão. Deixou-se contaminar. Conviveu com nervosismo, impaciência e pulsou. Uma característica fundamental para conquistas.

Há na Gávea um clima de ansiedade excessiva quando a partida seguinte é válida pela Libertadores. Ainda que as condições sejam favoráveis, o temor de um erro parece sobrepor a confiança de uma vitória. Um nervosismo que passa para a arquibancada e, às vezes, invade também o campo mesmo diante de um time normalmente frio, como este Flamengo de Zé Ricardo. Sem Romulo, lesionado, o técnico mandou o time a campo, em estreia de camisa nova, com Mancuello. Não era o 4-1-4-1 do Fla-Flu. Parecia um 4-4-2, com o argentino avançado. Às vezes um 4-3-3 no ataque. A leitura exata era difícil. Pois o Flamengo não estava tão organizado como sempre. Os jogadores corriam muito, tentavam abafar, mas de maneira confusa. No apito, lançou-se ao ataque, sedento pela vitória. Precisava dela em um Maracanã lotado.

Flamengo no primeiro tempo

Gabriel disparava pela direita, Everton pela esquerda, Mancuello já se posicionava mais à frente, próximo de Guerrero. Em grande fase, o peruano era o retrato da ansiedade. Bola no pé, virava-se para o gol e chutava. Chutava e chutava. O jogo era nervoso. A Católica, posicionada em um 4-3-2-1, estava muito bem postada e aproveitava a euforia rubro-negra para sair no contra-ataque com toques, muitos dele em passes verticais. Com o de Maripán, que achou Fuenzalida nas costas de Rafael Vaz. De cara para Muralha, o jogador da Católica bateu para fora e perdeu chance incrível. O Maracanã prendeu o fôlego. E protestou.

A cada erro de passe, não raro, a arquibancada chiava. Irritada, caiu em cima de Gabriel. O Flamengo sentiu. Nervosa, a equipe era dominada pelo coração ao sair ao ataque sem o mínimo de organização. Bola longa ou correria. Era o quarto jogo sem Diego e, pela primeira vez, o meia fazia uma enorme falta. Sem ele, não havia quem parasse a bola, fizesse o time respirar, girar o jogo e acalmar os ânimos. Ou ajudasse Guerrero em sua tarefa de finalizador solitário. O coração rubro-negro pulsava. Mancuello, em noite ruim, mostrava não ter fôlego para ir ao ataque e voltar ao meio para fechar a equipe quando atacada. Tampouco criava. O intervalo fez todo mundo respirar. E pensar.

Zé Ricardo decidiu explorar o lado esquerdo da defesa da Católica. E deslocar Gabriel, nulo na direita, para o meio. Mancuello saiu e Rodinei entrou em campo para revezar a faixa da direita com Pará. Mexida já feita neste ano, na estreia no Carioca contra o Boavista. Um 4-2-3-1, mais confortável. O Flamengo se reencontrou. Com minutos, já se impunha de novo no campo da Católica, mas bem mais organizado. Triangulações entre Arão, Pará e Rodinei, volta e meia aproveitando também o pivô de Guerrero. Com cinco minutos, Álvarez derrubou o peruano na entrada da área. O próprio camisa 9 bateu, a bola beijou a barreira e voltou para Rodinei, que de chapa, com o pé esquerdo, mandou no ângulo direito de Toselli. Belo gol. O Maracanã explodiu com o time, pulsante. Um só coração. 1 a 0.

Fla ao fim da partida: Trauco no meio

Rodinei, pela direita, complicava a Católica. Noir, muito avançado no primeiro tempo, teve de recuar para tentar conter o ímpeto do camisa 2. Mas o Flamengo chegava bem mais. Guerrero para Arão e o volante mandava por cima do gol. A torcida batia palma, reverenciava Zico. Mas a Libertadores é traiçoeira. Em um cruzamento de Fuenzalida diante de Trauco na ponta direita, a bola viajou até a primeira trave, passando por Rafael Vaz e encontrando a cabeça de Santiago Silva, à frente de Réver. Dali para a rede, 1 a 1. E o Maracanã ameaçou sentir o golpe. Mas o time rubro-negro não deixou. Deu um bico na razão e lançou-se ao ataque. Ferveu o estádio, mostrou a importância do jogo. Uma característica pouco vista nesse Flamengo tão racional de Zé Ricardo.

Foi um time que acionou o modo de bola-no-Guerrero. Pelos lados ou pelo meio, todas os companheiros procuravam o atacante. Cabia a ele resolver. Na raça, no peito, no coração. Encharcado de confiança, ele resolveu. Ao receber a bola na entrada da área, girou sobre Parot e chutou cruzado, no canto de Toselli. 2 a 1. Explodiu em gritos junto com a arquibancada. De novo, um só coração. De novo, pulsante. Um Flamengo caloroso, sedento pela vitória. Ela viria mesmo que na marra.

À essa altura, Zé já chamara Renê para entrar em campo na vaga de Gabriel. Trauco acabou centralizado no meio, atrás de Guerrero, com a companhia de Everton e Rodinei pelos lados. Diante de tanto coração, a Católica já se entregara. Constatou que seria muito difícil bater o rival. E entregou ainda mais campo, praticamente abdicando do ataque. O Flamengo se avolumou, com quatro jogadores se lançando ao ataque. Márcio Araújo, em ótima noite, corria para se antecipar ao possíveis avanços de Buonanotte, que não viu bola.

Havia em campo a ansiedade pelo terceiro gol, contrariando a característica da equipe. 2 a 1 não era suficiente. Rodinei tabelou com Guerrero e achou Trauco na entrada na área, mas Toselli defendeu. Em seguida, Réver cabeceou em cobrança de escanteio e Toselli de novo tentou parar a volúpia rubro-negra. Em vão.

No apagar das luzes, o símbolo da persistência rubro-negra na partida. Trauco invadiu a área e trombou com Magnasco, que tentou o corte, mas furou a redonda. Maripán, caído, foi mais uma a tentar parar o lateral peruano, que disputava a bola. Tampouco conseguiu. Na dividida, Trauco bateu de direita para o fundo do gol. Terceira explosão do Maracanã na noite. 3 a 1.

Em seu quinto jogo na Libertadores, o Flamengo mudou a tônica. Não teve amplo domínio do adversário. Nem mesmo optou por girar a bola. Teve menos posse, com 46%, de acordo com o site Footsats. Mas buscou, sempre, chegar à área rival a cada jogada. Tentou o gol a cada instante. Foram 23 finalizações contra oito da Universidad Católica. Claramente ansioso, queria a vitória a qualquer custo. Mesmo que o preço fosse a desorganização. Ha momentos em que o jogo pede a característica da raça, principalmente em uma Libertadores. Pois essa é a boa nova. No Maracanã, o Flamengo mostrou que diante de dificuldades e com nervos à flor da pele, sabe inverter a própria lógica. E colocar o coração à frente da razão.

FICHA TÉCNICA:
FLAMENGO 3X1 UNIVERSIDAD CATÓLICA

Local: Maracanã
Data: 03 de maio de 2017
Horário: 21h45
Árbitro: Victor Carrillo (PER)
Cartões amarelos: Pará e Réver (FLA) e Espinoza e Maripán (UCA)
Público e renda: 54.555 pagantes / 61.353 presentes / R$ 3.314.405,00
Gols: Rodinei (FLA), aos cinco minutos e Santiago Silva (UCA), aos 21 minutos, Guerrero (FLA), aos 27 minutos e Trauco (FLA), aos 40 minutos do segundo tempo

FLAMENGO: Alex Muralha; Pará, Rever, Rafael Vaz e Trauco; Márcio Araújo; Gabriel (Renê, 29’/2T), Willian Arão, Mancuello (Rodinei / Intervalo) e Everton (Cuellar, 42’/2T); Guerrero
Técnico: Zé Ricardo

UNIVERSIDAD CATÓLICA: Toselli; Espinoza, Álvarez (Magnasco, 26’/2T), Maripán e Parot; Fuentes (Espinosa, 7’/2T), Kalinski (Gutiérrez, 33’/2T) e Buonanotte; Fuenzalida e Noir; Santiago Silva
Técnico: Mario Salas

  • Diogo Henrique

    Ótimo texto. Como sempre.

  • Samuel Jr.

    Perfeito! ????
    #Raça-Fla ✊