Neymar PSG rindo gargalha
A fina linha entre Ronaldinho e Neymar
03 fevereiro 12:16
Vinicius Junior Flamengo Botafogo Taça Guanabara
A ideologia quixotesca do Botafogo e o vitimismo
13 fevereiro 13:08

Flamengo se impõe a Botafogo e indica diferença de patamar também no campo

Henrique Dourado Ceifador estreia Flamengo Botafogo gol
Diego Flamengo Botafogo semifinal Taça Guanabara 2018

(Gilvan de Souza / Flamengo)

Se o torcedor buscar na história recente do confronto, o clássico entre Flamengo e Botafogo foi geralmente marcado pelo equilíbrio. A semifinal da Taça Guanabara em Volta Redonda fugiu ao padrão. Poucas vezes, em tempos recentes, se viu uma supremacia tão grande de um time sobre o outro neste embate. Diante de um Botafogo confuso, espaçado, tecnicamente limitado e moralmente abatido com o fracasso recente na Copa do Brasil , um Flamengo organizado, técnico e sob a batuta do jovem Lucas Paquetá se impôs. No fundo, o 3 a 1 ficou barato, muito em conta de um certo desinteresse rubro-negro a partir dos 2 a 0 construídos. E ficou evidente: em campo, o Flamengo conseguiu traduzir a diferença de patamar atual entre os clubes.

Fla no início: movimentação constante no meio e de Dourado

O início de ano produtivo do Flamengo, com cinco vitórias e um empate em seis jogos, oito gols marcados e apenas um sofrido pode, claro, ser explicado pelo baixo nível dos rivais no Campeonato Carioca. Mas o trabalho comandado por Paulo César Carpegiani teve de ser obrigatoriamente devagar. Com jogadores chegando quase em turnos semanais, o time foi encorpando a conta-gotas. Tanto que o capitão Réver só neste sábado de carnaval estreou em 2018. Mas a equipe titular tem uma cara evidente: 4-1-4-1, com Cuellar como o volante, Everton Ribeiro, Diego, Lucas Paquetá e Everton à frente. Preferência pela posse como melhor alternativa para chegar ao gol rival.

Ficassem os jogadores estáticos, guardando posição, provavelmente a tarefa do Botafogo seria facilitada na semifinal. Mas não. Neste sábado este Flamengo de Paulo César Carpegiani foi organizado e tentou, aos poucos, sincronizar o revezamento entre seus meio-campistas. Tende a melhorar com o tempo e o consequente entrosamento, mas já funcionou muito bem em Volta Redonda. Everton Ribeiro e Diego alternando a direita pelo centro. Na esquerda, Everton fazendo o mesmo com Lucas Paquetá. Mas o garoto, agora mais maduro e dono da camisa 11, merece um capítulo para si.

Botafogo no início: espaçado, Valencia e pontas inoperantes

Paquetá leva consigo a inteligência e criatividade de quem tem talento para jogar futebol. Adapta-se nas mais variadas posições, tanto que já foi de ponta a centroavante, passando por meia centralizado. Ao jogar por dentro, ao lado entre Diego e Everton, o garoto se mostra à vontade. Ajuda Cuellar no início da construção do jogo, carrega a bola e ainda aparece na área – ou dentro dela – para finalizar. É o que se espera de um jogador moderno no meio. Nem volante, nem meia. Um meio-campista que marca e cria, acelerando o jogo. E com uma gana de contagiar os companheiros. Passava por seus pés a construção de jogadas do time.

Do outro lado, o Botafogo mostrou inúmeras dificuldades. Felipe Conceição, ameaçado, desfez o infeliz esquema com três zagueiros que o vitimou na Copa do Brasil. Sacou Carli e manteve Marcelo, mais veloz, talvez uma tentativa de acompanhar as subidas rápidas de Everton se necessário. Em um 4-2-3-1, o time apresentava vários problemas. Espaçada, a equipe ainda não se reconhece em campo. Deve construir o jogo com posse e marcação adiantada ou dar passos atrás, atrair o rival e sair em contra-ataques fulminantes? Não há resposta. Nesta dúvida, o Flamengo se impôs. Leo Valencia errava passes e era nulo pelo meio ao ser facilmente desarmado. Luiz Fernando e Pimpão eram bem acompanhados por Everton Riberto e Everton pelos lados. No meio, com o vaivém incessante rubro-negro, Matheus Fernandes e João Paulo ficaram em apuros constantemente.

Fla ao fim: Everton por dentro, Vinicius aberto e aproximando do gol

Mesmo girando bem a bola, tentando construir jogadas e entender sua saída do tradicional 4-2-3-1 de 2017 para este 4-1-4-1 de 2018, o Flamengo ainda manteve certos vícios do passado. Mas neste confronto um deles, a tentativa de cruzamentos para a área, poderia mesmo ser visto como alternativa quase obrigatória. Por dois motivos claros: a dificuldade do Botafogo em conter essa jogada e a presença de Henrique Dourado, o Ceifador, que finalmente fez sua estreia. Será de grande ajuda ao time. Ainda que esteja longe de ser um primor tecnicamente, Dourado sabe fazer bem o pivô e busca sempre o gol. Tem faro e desejo por colocar a bola na rede. Esforçou-se demais, ao pressionar sempre a saída de bola e travar um duelo à parte com Igor Rabello, de quem conseguiu desarmar algumas bolas.

Com o Botafogo acuado, impotente, o Flamengo levou o time à frente, pressionou o rival e o gol seria consequência. Dourado, de cabeça, quase marcou após bola levantada na área. Paquetá, no capricho, cobrou falta na trave de um Jefferson que só pôde assistir a viagem da pelota. Na cobrança de falta na medida de Diego, o Ceifador arrastou dois marcadores e deixou o pequenino Everton livre para tocar de cabeça com tranquilidade no gol de Jefferson. 1 a 0. O botafoguense na arquibancada certamente agradeceu aos ceus quando o intervalo chegou sem maiores ferimentos.

O segundo tempo trouxe uma troca de cada lado. O Flamengo poupou Juan e pôs Rhodolfo em campo. Sem nenhuma finalização e completamente engolido, o Botafogo depositou as esperanças em Renatinho no lugar de Leo Valencia. Na prática, não houve mudanças. O Flamengo continuou a mandar no jogo com seu meio de campo, alternando posições diante deum Botafogo que cedia espaços. Paquetá, em segundos, só não ampliou por ter finalizado mal ao receber uma bola de Everton pela esquerda. Era evidente a superioridade rubro-negra.

Dois minutos depois, um forte indício de como este novo Flamengo pode funcionar. Everton Ribeiro, claramente em melhor estágio físico do que em 2017, buscou o meio e viu a ultrapassagem de Diego. A rolada de bola foi boa, mas o camisa 10 errou a passada e bateu forte para o outro lado. Paquetá, de novo na área, ajeitou para trás onde Henrique Dourado tocou para ceifar pela primeira vez em 2018. 2 a 0 com incrível facilidade. Talvez um jogo tão bom fosse até inesperado pelo time, que se deixou seduzir pelos gritos de olé da arquibancada.

Botafogo ao fim: ainda espaçado, mas com Renatinho e Kieza mais efetivos

Na farta troca de passes, o Flamengo começou a se desligar do jogo. Everton Ribeiro e, principalmente, Cuellar exageravam na ginga de corpo antes de soltar a bola. Acabaram desarmados algumas vezes. Aos poucos, a parte física de um time que em sua maioria se apresentou há menos de um mês pesou. Carpegiani demorou a perceber e fazer trocas. O Botafogo já tinha Ezequiel e Kieza na vaga de Pimpão e Brenner. Convidado ao jogo, foi.

Paquetá perdeu bola na intermediária ofensiva para Renatinho, que avançou sem problemas e enxergou o velho espaço entre Réver e Pará, bem aproveitado por rivais em 2017. Kieza dominou, avançou e bateu forte, no fundo da rede de César. 2 a 1. Por minutos, o controle do jogo pareceu escapar das mãos rubro-negras, com alguns contra-ataques para o Botafogo. Mas por pouco tempo. Jamais a vaga esteve, de fato, ameaçada. Carpegiani enfim colocou Vinicius Junior na partida, oficializando Everton por dentro. O garoto entrou mal.

Parecia desatento, perdeu chance clara ao furar cruzamento de Diego. Mas deu aquele tapa com luva de pelica nas cornetadas aos 48 minutos do segundo tempo. Puxou para dentro e tentou arremate parecido com o que tinha feito em 2017. Naquela vez, bola no travessão. Agora, um mergulho no ângulo esquerdo de Jefferson, com perfeição. 3 a 1.  Na comemoração, o gesto de chororô de um garoto de 17 anos que arrematava o placar de um clássico. Que perdoem os puristas, mas provocações molecas são naturais. Resultado justo dada a supremacia rubro-negra em todo o clássico. De acordo com o sites Footstats, o Flamengo teve 57% de posse, finalizou 18 vezes contra quatro do rival. Cruzou 31 bolas na área contra 14. Trocou 388 passes contra 267. O Botafogo se encolheu. Há tempos a diferença não era tão grande dentro de campo. Hoje, a realidade é dura com os alvinegros. Flamengo e Botafogo estão em patamares completamente distintos no futebol brasileiro.

FICHA TÉCNICA
FLAMENGO 3X1 BOTAFOGO

Local: Raulino de Oliveira, em Volta Redonda
Data: 10 de fevereiro de 2017
Horário: 16h30
Árbitro: Bruno Arleu de Araújo (RJ)
Público e renda: 5.460 pagantes / 6.955 presentes / R$ 257.600,00
Cartões Amarelos: Cuellar e Vinicius Junior (FLA) e Matheus Fernandes, João Paulo e Ezequiel (BOT)
Gols: Everton (FLA), aos 35 minutos do primeiro tempo e Henrique Dourado (FLA), aos três minutos e Kieza (BOT), aos 23 minutos e Vinicius Junior (FLA), aos 48 minutos do segundo tempo

FLAMENGO: César; Pará, Rever (Jonas, 25’/2T), Juan (Rhodolfo / Intervalo) e Renê; Cuellar; Diego, Everton Ribeiro, Lucas Paquetá (Vinicius Junior, 31’/2T) e Everton; Henrique Dourado
Técnico: Paulo César Carpegiani

BOTAFOGO: Jefferson; Arnaldo, Marcelo, Igor Rabello e Gilson; Matheus Fernandes e João Paulo; Luiz Fernando, Leo Valencia (Renatinho / Intervalo) e Rodrigo Pimpão (Ezequiel, 10’/2T); Brenner (Kieza, 19’/2T)
Técnico: Felipe Conceição

Os comentários estão encerrados.