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Flu engole reservas do Fla, impõe goleada e ressalta importância dos clássicos

Marcos Junior Fluminense Fla-Flu 2018 Arena Pantanal

(Fluminense / Divulgação)

Gilberto Fluminense Fla-Flu 2018 Taça Rio Arena Pantanal

(Fluminense / Divulgação)

De maneira um tanto quanto desconectada da realidade, principalmente em um ambiente moldado a resultados como o futebol, construiu-se recentemente a inexplicável lógica de que clássicos em campeonatos estaduais são meros passatempos, sem nenhum tipo de obrigação, servidos apenas como aperitivos de melhor qualidade à espera dos grandes filés na temporada. Ledo engano. Nos clássicos locais são fomentadas as rivalidades que tornaram os clubes tão gigantes como os que existem no futebol brasileiro. Constroi-se a ponte com a arquibancada, pavimentando um caminho mais seguro, ajustando a temperatura do ambiente para a sequência do ano. Há, num clássico, sempre espaço para a História. Sedento, o Fluminense engoliu os apáticos reservas do Flamengo com impecáveis 4 a 0 na Arena Pantanal, em um Fla-Flu que Marcos Júnior terá na memória como o seu.

Sim, um clássico, ainda mais um Fla-Flu repleto de capítulos históricos, tem sua enorme importância. Serviu para aumentar a auto-estima tricolor, um tanto abalada neste início de 2018 com o fracasso na Taça Guanabara e logo após o turbulento 2017. Há dois anos o Fluminense não vencia o rival. Pois foi à forra com sobras em Cuiabá. De forma incontestável. Abel Braga manteve o 3-5-2 que insiste em implantar desde janeiro. O desentrosamento do trio de zagueiros cobrou seu preço na Taça Guanabara. Mas o Fluminense parece já se entender melhor. Defende-se com maior consistência e libera os alas, Gilberto e Marlon, como armas importantes para surpreender o adversário. E dá liberdade a Sornoza, um camisa 10 que está longe de ser clássico. Participa do início da construção das jogadas ao sempre recuar antes do meio de campo e aparece, com qualidade no passe, no ataque. Feroz, sedento pela vitória, bastou um minuto ao Tricolor para estabelecer como seria a tarde no Fla-Flu.

Bola alçada na área pelo equatoriano, furada bisonha de Romulo, cochilo de Léo Duarte. Chute cruzado certeiro de Marcos Júnior. 1 a 0. A bofetada na cara pareceu tirar o Flamengo do prumo. Sim, um clássico tem sua importância. Mesmo para o até então invicto campeão da Taça Guanabara, recheado de reservas enquanto os titulares aguardam a estreia na Libertadores na próxima quarta-feira. O ambiente no Ninho do Urubu era totalmente favorável neste início de temporada. É válido poupar titulares diante da importância do torneio sul-americano. Mas é necessário deixar claro: priorizar uma competição não significa abdicar de outra. O Flamengo pareceu ter abdicado do clássico, principalmente ao sofrer gol de forma tão precoce. Lento, disperso, mostrou apatia. Paulo César Carpegiani tentou inovar. E talvez tenha dado a passada errada ao escolher o momento de fazer testes. Pois há maneiras de fazê-los. Jogos contra os pequenos, por exemplo. Em um Fla-Flu é arriscado.

O time parecia formar um 4-3-3. Mas logo no primeiro gol foi fácil entender: Romulo recuava ao centro dos jovens Thuler e Léo Duarte para formar uma trinca de defesa quando o time era atacado. Não era um zagueiro propriamente dito. Assim que a posse era recuperada, o camisa 27 deixava o posto entre os defensores e avançava para iniciar o jogo. À sua frente, Cuellar e Ronaldo alinhados, volantes com maior qualidade para distribuir a bola e não para criar jogadas ou dialogar com os atacantes. O Flamengo de três meias em 2018 não tinha nenhum no Fla-Flu. Era um desastre. Com Vinicius Junior entrincheirado por tricolores na esquerda e Marlos Moreno perdido pela direita, não havia contato com Vizeu, completamente isolado entre o trio de defesa do Fluminense. Neste buraco entre os pontas do Flamengo, o Tricolor engoliu o rival facilmente.

Flu no início: alas, Sornoza onipresente e Marcos Junior participativo

Ali se construiu o jogo. Um latifúndio no qual o Flamengo não brigava pela posse. Richard, Jadson e, principalmente, Sornoza. O equatoriano voltava com tranquilidade, recebia a bola e, pouco incomodado, avançava esperando apenas os avanços de Marlon e, principalmente, Gilberto nas costas de Klebinho e Trauco. Se o rival rubro-negro retomava por instantes a bola, a pressão era imediata. Uma busca clara pelo incômodo. Um time voraz pela vitória, outro atordoado pela falta de espaços. Não demoraria a sair o segundo gol. Escanteio na área, casquinha de Renato Chaves. Na rebatida em Trauco, a bola se ofereceu a Pedro, que ampliou. 2 a 0. O cronômetro apontava apenas 16 minutos. Era um baile verde, branco e grená.

Acuado, o Flamengo tentou fazer dos lançamentos de Trauco sua melhor alternativa para criar alguma oportunidade. O jogo rubro-negro não passava pelo meio de campo. O lateral peruano avançava até pouco mais da linha central e tentava a bola lançada para Vizeu fazer o pivô à la Guerrero. Funcionou pouco. Quando o jogo ainda estava 1 a 0, o atacante ajeitou para Marlos Moreno bater meio apertado, triscando a trave de Julio Cesar. Depois, ajeitou para Vinicius Junior, que já procurava o meio para fugir da vigília que sofria no lado esquerdo, bater por cima. Muito pouco. Carpegiani, aos berros na beira do gramado, mostrou insatisfação. Certamente com o time, mas talvez consigo, dada que a ideia de Romulo ficar entre os zagueiros confundiu Thurler e Léo Duarte no posicionamento. Seria um bênção o fim do primeiro tempo com apenas 2 a 0. Antes disso, porém, mais um cruzado do tricolor no queixo rubro-negro.

Fla no início: Romulo entre zagueiros e o vazio na criação

Os alas tricolores, liberados, avançavam como queriam pelas costas de Klebinho e Trauco. Tinham espaço e Romulo, entre os zagueiros, não conseguia cobrir. Cuellar e Ronaldo, tentando fazer as vezes de armadores, tampouco conseguiam compensar a ausência do camisa 27. Marlon recebeu bola livre pela esquerda e cruzou. A bola caiu nos pés de Marcos Júnior, que bateu de primeira para boa defesa de Diego Alves. Trauco acompanhava Gilberto, já dentro da área, até segundos antes. Mas o perdeu de vista. Só o achou quando, livre, ele apareceu na pequena área para completar para o gol. 3 a 0. O clássico estava decidido.

O segundo tempo trouxe duas tentativas de Paulo César Carpegiani evitar terra arrasada e um vexame no clássico. Tardias. Romulo deu lugar a Jean Lucas e Marlos Moreno deixou o campo para Geuvânio. Cuellar recuou a primeiro volante, mas sem formar um trio de defesa enquanto o time era atacado. O Fluminense, ciente de que o clássico estava no bolso, aguardou. Fechou-se com um bloco de cinco jogadores quando atacado, Gilberto e Marlon alinhando com os zagueiros. Mas a falha no jogo rubro-negro continuou: não havia, ainda, quem criar alternativas de ataque, abastecendo Vinicius Junior e Geuvânio. Diante disso, Sornoza continuou a desfilar pelo centro do campo. Com dez minutos ele achou Gilberto pela direita livre. Vinicius Junior tentou dar o combate, mas Trauco, dentro da área, só assistiu. O cruzamento achou Marcos Júnior, 1,66m, que se antecipou a Léo Duarte, 1,83m, com extrema facilidade. O toque no fundo da rede configurou a goleada tricolor e o vexame rubro-negro.

Ao fim, Flu com alas mais presos, explorando velocidade com atacantes

Coube a Carpegiani a mexida protocolar para evitar um desastre ainda maior. Patrick, um zagueiro, substituiu Trauco para segurar Gilberto. Abel sacou Richard, amarelado, e pôs Mateus Norton. Na frente, trocou Marcos Júnior e Pedro por uma dupla mais móvel, Robinho e Pablo Dyego. Apostava, ainda, na velocidade para quem sabe alcançar um histórico quinto gol. Ele não veio, mas a impiedosa goleada lavou a alma tricolor e deixou marcas no rival rubro-negro. É inocente negar consequências, ainda que menores, no dia a dia rubro-negro até a estreia na Libertadores, sem torcida, diante do River Plate.

Ao fim, Fla ainda impotente, sem criação e com zagueiro na lateral

Por mais que o time tenha sido formado por reservas, o Flamengo não ofereceu mínima resistência ao rival. O ambiente altamente positivo do início de temporada sofreu um impacto com o fim da invencibilidade de forma tão traumática em um clássico. A leveza extrema se dissipou. Claro, o time titular carrega o crédito de boas atuações na temporada, mas os olhares serão ainda mais rigorosos diante do River Plate no Engenhão. E, de quebra, o resultado reabriu o baú de dúvidas sobre o real potencial do elenco e da efetividade de jogadores mais experientes como Romulo, Geuvânio e Trauco e de jovens como Léo Duarte e Ronaldo – embora estes com as ressalvas de jovens em início de carreira.

Sorriu, então, o Fluminense. Após um 2017 tumultuado, com tragédia pessoal, Abel Braga parece acertar na montagem da equipe mesmo com as perdas de importantes de Henrique, Gustavo Scarpa e Henrique Dourado. Em um clássico, o Fluminense mostrou entendimento do rival, ajuste defensivo e capacidade de tornar Sornoza o seu eixo, apoiado pelos alas e com a explosão de Marcos Júnior no ataque. Se será competitivo em nível nacional no futuro próximo, ainda é cedo dizer. Mas é óbvio enxergar uma evolução em quase dois meses de trabalho. As temperaturas dos ambientes de Flu e Fla já são distintas na noite deste sábado. No fim, clássicos importam. É importante reconhecer.

FICHA TÉCNICA
FLUMINENSE 4X0 FLAMENGO

Local: Arena Pantanal, em Cuiabá (MT)
Data: 24 de fevereiro de 2017
Horário: 17h
Árbitro: Maurício Machado Coelho (RJ)
Público e renda: 15.884 pagantes / R$ 918.140,00
Cartões Amarelos: Ibañez, Marcos Júnior e Richard (FLU) e Romulo e Léo Duarte (FLA)
Cartão vermelho: Cuellar (FLA), aos 38 minutos do segundo tempo
Gols: Marcos Junior (FLU), a um minuto e Pedro (FLU), aos 17 minutos e Gilberto (FLU), aos 42 minutos do primeiro tempo; Marcos Júnior (FLU), aos dez minutos do segundo tempo

FLUMINENSE: Julio Cesar; Renato Chaves, Gum e Ibañez; Gilberto, Richard (Mateus Norton, 30’/2T), Jadson, Sornoza e Marlon; Marcos Junior (Robinho, 22’/2T) e Pedro (Pablo Dyego,
Técnico: Abel Braga

FLAMENGO: Diego Alves; Klebinho, Thuler, Léo Duarte e Trauco (Patrick, 17’/2T); Romulo (Jean Lucas / Intervalo), Cuellar e Ronaldo; Marlos Moreno (Geuvânio / Intervalo), Felipe Vizeu e Vinicius Junior
Técnico: Paulo César Carpegiani

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