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Hesitação, erros e a perda da passada: o Flamengo que não soube voar em 2018

Henrique Dourado Diego Lucas Paquetá Flamengo 2018

(Gilvan de Souza / Flamengo)

Vinicius Junior Flamengo Lucas Paquetá

(Gilvan de Souza / Flamengo)

O passo em falso foi dado antes do início da temporada. Na hesitação de Reinaldo Rueda, na falta de notícias sobre o futuro. Na falta de ação. O Flamengo preferiu esperar tudo se acomodar. E se perdeu. Apresentou-se ainda em 2017 de maneira confusa para 2018. Ora, a cartilha básica é clara. Sem rodeios. E diz que é justamente no adormecer de um ano que se pavimenta o caminho para a temporada seguinte. Pautada pelo profissionalismo, a gestão de Eduardo Bandeira de Mello, de novo, foi em direção contrária justamente no seu carro-chefe, o departamento de futebol. Entendeu de novo que tudo deveria se ajustar por si só, quase como se os astros alinhassem sozinhos para fazer o Ninho do Urubu viver a sua temporada de sucesso. Não ocorreu. O Flamengo errou a passada. Uma vez mais, o clube não soube voar.

Depois do fim de ano promissor em 2016 e a grande frustração em 2017, encerrada com um melancólico vice-campeonato da Copa Sul-Americana, seria natural aguardar que o derradeiro ano de mandato de Eduardo Bandeira de Mello refletisse aprendizados. Ao insistir em perder todo dezembro com o aguardo sobre Reinaldo Rueda, à espera de uma multa rescisória com a saída para a seleção chilena, o Flamengo pagou caro. E apenas reforçou a ideia quando Paulo César Carpegiani, o coordenador técnico, desembarcou de para-quedas no Ninho do Urubu para abafar o incêndio de um cargo de técnico vago. A própria entrevista coletiva de apresentação deixara claro o passo em falso. O Flamengo comprometera ali toda uma temporada. O discurso foi bonito. Um time de volta às origens do clube, 4-1-4-1, com os meias em fartura, valorizando a posse de bola.

O início do Campeonato Carioca com a pré-temporada dos profissionais ainda em andamento permitiu a Carpegiani observar garotos. Trazer aos olhos de torcedores Jean Lucas, Vinicius Junior e Lincoln. Abrir o leque de opções para a temporada. A vitória do time principal sobre o Botafogo na semifinal da Taça Guanabara, de forma imponente e com gol do estreante Henrique Dourado, parecia indicar um patamar interessante à equipe rubro-negra. A protocolar vitória na final diante do Boavista pouco alterou a percepção. Seria dali a dias, na estreia na Libertadores contra o River Plate, que o Flamengo mostraria o que tinha a oferecer. O empate com um gol sofrido no fim, falha do goleiro Diego Alves, deixou claro que faltava solidez ao time para encarar suas maiores aventuras na temporada. Uma mera rachadura faria o trabalho fragilizado de Carpegiani no comando esfarelar.

Não foi surpresa, portanto, que a eliminação de maneira vexatória para o Botafogo na semifinal do Campeonato Carioca, quando carregava a vantagem do empate, tenha feito eclodir a primeira crise no Ninho do Urubu. Carpegiani e Rodrigo Caetano, com trabalho pálido, acabaram vitimados. De novo, o Flamengo tinha dúvidas se iria voar em 2018. Titubeou sobre qual caminho a seguir. Respaldado por Eduardo Bandeira de Mello, o Flamengo optou por dar a Mauricio Barbieri sua primeira grande chance profissional. De novo, o Flamengo arriscou seu caminho com o incerto. Um erro. Não havia mais tempo para trabalhar com dúvidas. O discurso que mantém o clube refém de uma hegemonia do futuro fez borbulhar a pressão. A margem de erro diminuía. E a gestão do futebol hesitava. Levava dia por dia. Remediava depois de feito. Dificilmente teria sucesso.

Houve acertos quase por acaso. Vinicius Junior, por exemplo. Prata da casa, o garoto ganhou um jogo para chamar de seu contra o Emelec, fora de casa, no Equador. Indicava ali que já pedia passagem para ocupar definitivamente o lado esquerdo. Só o teve quando Everton decidiu ser negociado com o São Paulo. Caso contrário, permaneceria no banco em troca de minguados minutos. Preso ao presente desgastado, o Flamengo se recusava a olhar para frente. O encaixe do garoto fez florescer Lucas Paquetá. E, com justiça, por um dedo de Barbieri. Após sopapos no aeroporto, o Flamengo ressurgiu na temporada na ótima vitória de 3 a 0 sobre o Ceará, fora de casa. O simples que corrigiu rota. Paquetá, mais recuado, Diego mais avançado. Vinicius e a finalização letal. Estava ali uma fórmula que faria o time surfar em boa onda no Campeonato Brasileiro. Em seu êxtase, fez do Maracanã um palco convidativo, uma festa dos garotos. Vinicius Junior e Lucas Paquetá, a ponte com a arquibancada. Líder, o Flamengo não deveria abrir mão disso.

Pois ali, aos trancos e barrancos, conseguiu embalar de maneira rara em anos recentes. No topo da tabela, casa cheia, pratas da casa levantando a arquibancada. Nada de apatia. Jogo bem jogado. Por linhas tortas, o Flamengo parecia indicar que chegaria lá. Classificado por antecipação na Libertadores, líder do Brasileiro. Bastaria manter o ritmo. Não o fez. Vinicius Junior deixou o clube de forma emocionada, deixando uma saudade de tudo que ainda não se viu. Mantê-lo por mais seis meses seria a contratação mais importante da temporada. Sem êxito, encontrar o substituto a tempo de aliar condições físicas com entrosamento para o retorno da parada da Copa, essencial. Em um devaneio, o clube perdeu tempo em sonho com o holandês Ryan Babel. Só acordou para a flechada certeira mais tarde, com Vitinho. A folga na liderança do Brasileiro, porém, já fora quebrada. De novo, o futebol rubro-negro perdeu a passada. Confuso, lento, sem eletricidade, acabou abatido pelo São Paulo em pleno Maracanã no retorno pós-Copa. O time nunca mais voltou à rotação que o fizera liderar o campeonato.

Exceção feita ao duelo contra o Grêmio nas quartas de final da Copa do Brasil, com atuação soberba no primeiro jogo, o futebol da equipe sob o comando de Barbieri diminuiu. Erros básicos, como a escalação do pendurado Paquetá contra o River Plate e sua consequente suspensão para o primeiro jogo das oitavas de final da Libertadores, diante do Cruzeiro, cobraram o preço. Pressionado, o técnico fez a aposta alta em agosto: pouco houve revezamento. Em todas as frentes, o Flamengo atuaria com o seu melhor. Faltou gás. Faltou inteligência. Faltou priorizar o que já tinha em mãos. E o Campeonato Brasileiro escorreu. A Copa do Brasil aumentou a lista de vexames da temporada, diante de um frágil Corinthians. A chegada de Dorival Júnior apresentou um Flamengo revigorado, ainda esperançoso em dar o bote final. Mas, de novo, houve erros de gestão. Se acertou ao se preocupar com o passado, ao reverenciar o ídolo Julio Cesar em uma bela despedida no Maracanã, pouco se alertou com o futuro. Em meio à reta final, Lucas Paquetá acabou negociado com o Milan. O futebol do garoto empalideceu, a mente foi para a Europa. O banco de reservas na reta final tornou a despedida do camisa 11 melancólica. O improvável foi atingido pelo Flamengo. Um vice-campeonato brasileiro não é, nem de perto, o suficiente.

O adiar constante de conquistas com inúmeros erros fez o patamar ser elevado a um nível de exigência pouco visto nos últimos anos. Ao Flamengo não satisfaz mais uma boa campanha. Um terceiro lugar. Um segundo lugar. O legado estrutural e financeiro deixado pela gestão Eduardo Bandeira de Mello é enorme. A base para que o clube enfim decole está plantada. Falta, porém, o ajuste essencial. A grande falha da administração que deixa o comando do Flamengo após seis anos foi justamente a gestão do carro-chefe do clube. O futebol rubro-negro acumula falhas. Sofreu um baque na mentalidade histórica do clube. Rodolfo Landim e sua equipe terão a chance, desde já, de mudar a trajetória de frustrações em 2019. 2018 já foi. E ficará marcado, uma vez mais, como um ano em que o Flamengo não soube voar.

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