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A ideologia quixotesca do Botafogo e o vitimismo

Vinicius Junior Flamengo Botafogo Taça Guanabara

(Gilvan de Souza / Flamengo)

Vinicius Junior Flamengo Botafogo Taça Guanabara

(Gilvan de Souza / Flamengo)

Um ano depois, Carlos Eduardo Pereira já não é mais o presidente do Botafogo. Cedeu o cargo a Nelson Mufarrej, embora ainda habite os corredores de General Severiano com a manta de vice-presidente geral. A ideologia encampada por CEP, porém, se mantém. Tal e qual um Dom Quixote, o Botafogo elegeu o moinho rubro-negro como seu mais feroz rival. Cego pelo ódio, deseja combatê-lo a qualquer custo. Ainda que seja prejudicial a si. Ainda que reforce a imagem de vítima da qual tenta se afastar.

A nota oficial que confirma o veto do Estádio Nilton Santos, o Engenhão, à final da Taça Guanabara entre Boavista e Flamengo pautado pela provocação de um garoto de 17 anos é absolutamente esdrúxula. Sim, o Botafogo continua a ter total autonomia sobre o Engenhão, um estádio sob sua concessão dede 2007. Mas o clube, asfixiado financeiramente, precisa de uma gestão profissional, pautada pelo bom senso, não por seguidas bravatas quixotescas.

Ao exigir desculpas de Vinicius Junior ou do Flamengo, o Botafogo cai em contradição. Nega a própria história e assume nova identidade. O clube de Garrincha, de Manga e de Túlio Maravilha, das recentes alfinetadas em redes sociais e de jogadores como Pimpão, abraça o vitimismo infundado. Reforça a pilha de chororô. Dá munição aos rivais ao reverberar três dias depois, em papel timbrado, um acontecimento em campo de um garoto de 17 anos no fervor da explosão de gol.

Pois Vinicius Junior, ali no seu íntimo, pode ter extravasado instintivamente o sentimento ao ter sua família alvo de injúrias raciais em um clássico no Engenhão. Mais provável: o atacante era um molecote de sete para oito anos na ocasião do episódio do chororô. Graça de criança. Resultado de um espetáculo quase circense criado pelo próprio Botafogo, contra o próprio clube. A cena de jogadores, técnico e presidente chorando foi tão mal planejada como a nota oficial dez anos depois.

Sem Libertadores e já precocemente fora da Copa do Brasil, o Botafogo deveria compensar a perda de receitas ao oferecer suas instalações para os rivais. Fazê-los indiretamente bancar parte do estádio e gerar um consequente fôlego financeiro para que o clube possa responder às provocações de Vinicius Junior em campo. Sensatez profissional sobre a paixão de torcedor. Mas apegado à sua ideologia quixotesca, o Botafogo cavalga com fúria, cego, rumo aos moinhos rubro-negros. Renega a sua história. O custo pode ser uma dura queda do cavalo.