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Iguais só no placar: Flu domina um Botafogo com ideias que agradariam ao velho Zé

Paulo Henrique Ganso Fluminense Botafogo 2019

(Mailson Santana / Fluminense FC)

Diego Souza Botafogo estreia

(Mailson Santana / Fluminense FC)

Quando Zé Ricardo surgiu no futebol profissional, em 2016, ainda no Flamengo, chamou atenção por ter um sistema defensivo organizado, com poucos riscos, mas também o gosto de manter a posse de bola, buscando troca de passes para atacar. Seria ótimo que aquele treinador cruzasse os bigodes com Fernando Diniz ainda com as mesmas ideias na cabeça. Não é possível, ao menos por agora. As ideias de Zé Ricardo parecem ter mudado. Seu Botafogo, como já fora o Vasco, é um time que tenta se defender e acelerar a saída pelos lados, muitas vezes esticando bolas longas. Embora o placar tenha acabado em 1 a 1 no Maracanã, o panorama do jogo apontou um Fluminense superior. Muito por ter um técnico com ideias que seriam admiradas pelo velho Zé Ricardo. Diniz, uma vez mais, sorriu.

Flu no início: campo para sair da marcação pressão, organizado

Claro, não por completo. O resultado favorável é o objetivo final. Mas a construção da equipe tricolor desde o início da temporada é um mérito que deixa o torcedor orgulhoso na arquibancada. Há limitações técnicas e certamente elas são responsáveis por impedir mais vitórias, principalmente diante de rivais mais qualificados. Mas quem observa o Fluminense desde o início do ano já sabe como a a equipe joga. Não abre mão. Matheus Ferraz e Léo Santos abrem, Airton se junta a eles pelo centro, Gilberto dispara, Bruno Silva vigia seu setor, Caio Henrique faz a bola girar pelo outro lado. Ganso, solto pelo meio, acelera ou cadencia, sempre buscando um passe agudo para os três velocistas da frente. Quando o Fluminense chega ao ataque, chega sempre em bloco.

Zé Ricardo mandou seu Botafogo a campo no 4-1-4-1, com força pelo meio formado por Jean, mais recuado, Cícero e Alex Santana. Aos lados, Luiz Fernando e Erik. Diego Souza, o estreante da noite, permaneceu à frente. De início, o Botafogo buscou pressionar a saída de bola do Tricolor – algo diferente do que fizeram Vasco e Flamengo neste Carioca. Claro, causará problemas e pode gerar um erro fatal. Mas o Fluminense de Fernando Diniz anseia por essa oportunidade. Pois treina assim. Sair sob pressão para aproveitar o campo dado às costas. Um lance foi simbólico no primeiro tempo: Gilberto cobrou lateral e tabelou com Matheus Ferraz e Airton, diante de botafoguenses desesperados pela bola, até tocar em Ganso. Com o Botafogo adiantado, o camisa 10 esticou linda bola para Caio Henrique, à esquerda. Campo livre, ele adiantou até Luciano na direita, que gingou e bateu forte. A bola carimbou em Gabriel. Foi o suficiente para o Botafogo alternar a ideia de pressão. Recuou, deu mais espaço e tentou deixar o Fluminense menos confortável.

Bota no início: meio fechado, tentativa de saídas rápidas pelos lados

Ocorre que o Botafogo tinha em Cícero o seu termômetro. O camisa 10 não avançava tanto para fechar o centro e dar suporte às saídas constantes de Jonathan, ajudando a pressionar o início de jogo tricolor. Com isso, os buracos na defesa alvinegra era consideráveis, principalmente em seu lado esquerdo. Por ali, Gilberto e Luciano eram infernais. Foi exatamente por onde nasceu o gol. Diante do desorganizado Botafogo, Gilberto dominou, trouxe a bola para dentro e Everaldo saiu da esquerda para a direita. Jonathan acompanhou o lateral e forçou Marcelo Benevenuto a deixar a área e caçar o ponta. Gabriel marcou o primeiro pau. Na ginga de Everaldo, a bola cruzada passou pelos dois zagueiros e sobrou, livre, para Ganso, como elemento-surpresa e sem vigia de Cícero e Jean, na pequena área. 1 a 0.

O Botafogo insistiu no jogo pelo alto, buscando uma casquinha de Diego Souza para os velocistas nas pontas. Pouco – e a frequência dessas investidas continuariam ainda mais fortes no segundo tempo. Foram incríveis 39 lançamentos em toda a partida. E números crueis do primeiro tempo: quase 70% de bola tricolor, com nove finalizações. Na volta para o restante do clássico, uma ironia: o gol de empate do Botafogo chegou com bola dominada, colocada no chão e troca rápida de passes. Erik, Diego Souza e Alex Santana, com corte seco em Léo Santos e Gilberto e toque para o fundo da rede. 38 segundos da etapa final. 1 a 1. Um mérito para quem era o melhor jogador do time na partida.

Ao fim, Flu aperta o rival, com troca de passes e alternância dos lados

Se o Botafogo insistia em esticar bola nos lados e preferir o alto em vez do chão, Alex Santana destoava. Com boa estatura, o achado de mercado do clube na temporada avança e marca com a mesma vitalidade. Tem facilidade para sair ao jogo, além de ser perigoso nas finalizações de fora da área. O Fluminense sentiu o golpe inicial do primeiro tempo e se desorganizou por alguns momentos. Deu espaços na defesa talvez por simples desconcentração, mas, também, pelo físico. Com elenco curto, Diniz repetiu a equipe que jogara no meio de semana. Há desgaste para manter a marcação pressão na saída rival, a troca intensa. Nem assim o Botafogo aproveitou. Pareceu time de uma nota só, até mesmo previsível em suas substituições, mantendo a pobre ideia de jogo. Pimpão substituiu Luiz Fernando. João Paulo, Cícero. Gustavo Bochecha, Jean. A pressão pelo resultado para seguir pulsante no Carioca era toda do Botafogo. As trocas indicaram um time mais preocupado em segurar a força no meio. Foi pouco. E acabou quase punido.

Ao fim, Botafogo mantém estratégia, arriscando mais bolas a Diego Souza

Passado o momento de impacto minutos após o gol, o Fluminense voltou a tramar o mesmo jogo. Acelerava demais com Everaldo na esquerda, Ganso tinha espaço pelo meio para tocar a bola e avançar à área. Caio Henrique atacava com facilidade no setor em que um Marcinho já vivia ansioso com as investidas de Everaldo. O time recuperou parte da vitalidade com as entradas de Allan no meio e Mateus Gonçalves à frente, nas vagas de Bruno Silva e Yony González. O toque de bola tricolor aumentou, a movimentação do trio de ataque, também. O Botafogo recuou. Mesmo com um resultado que o deixaria virtualmente eliminado do campeonato, não combateu o Fluminense. Graças a defesa espetacular de Gatito em chute de Luciano após cruzamento da direita, não acabou derrotado. No placar. No campo das ideias, Diniz superou um burocrático Zé Ricardo.

A temporada ainda está no início, peças devem chegar às duas equipes. Diego Souza certamente será útil ao longo do ano, mas está longe de ser um grandalhão que prefere a disputa no jogo aéreo. O gol provou isso: a tabela entre ele, Erik e Alex Santana mostrou ser o melhor caminho para chegar ao gol rival. Mas o atual Zé Ricardo leva o Botafogo a um vexame com a virtual eliminação precoce do Carioca. Aceitou a imposição do Fluminense. Um time que terá desafios maiores na temporada, diante de grandes adversários. Mas está bem treinado, ciente do que deve fazer. O seu limite será técnico, não tático. Prefere ter a bola, ditar regras e já impacta psicologicamente nos adversários. Terminou o jogo com 60% de posse de bola*, 512 passes trocados contra 250 do adversário. Números que, certamente, o velho Zé Ricardo gostaria de ver sua equipe exibir.

*Números do app Footstats Premium

FICHA TÉCNICA
FLUMINENSE 1×1 BOTAFOGO

Local: Maracanã
Data: 17 de março de 2019
Horário: 21h30
Árbitro: Rodrigo Carvalhaes
Público e renda: 17.173 pagantes / 18.732 presentes / R$ 559.075,00
Cartões Amarelos: Airton (FLU) e Marcinho, Jean e Alex Santana (BOT)
Gols: Paulo Henrique Ganso (FLU), aos 24 minutos do primeiro tempo e Alex Santana (BOT), aos 38 segundos do segundo tempo

FLUMINENSE: Rodolfo; Gilberto, Matheus Ferraz, Léo Santos e Caio Henrique; Airton e Bruno Silva (Allan, 23’/2T); Luciano, Ganso e Everaldo; Yony González (Matheus Gonçalves, 34’/2T)
Técnico: Fernando Diniz

BOTAFOGO: Gatito Fernández, Marcinho, Marcelo Benevenuto, Gabriel e Jonathan; Jean (Gustavo Bochecha, 40’/2T) e Alex Santana; Erik, Cícero (João Paulo, 33’/2T) e Luiz Fernando (Rodrigo Pimpão, 27’/2T); Diego Souza
Técnico: Zé Ricardo

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