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Insistência em erros, expectativa frustrada e o ano mágico desfeito: o 2017 do Flamengo

Diego pelo Flamengo

Guerrero Flamengo Botafogo semifinal Carioca 2017

As recordações de 2017 obrigarão o torcedor rubro-negro a suspirar. Um lamento contido diante de tamanha expectativa frustrada. Talvez a maior em quase duas décadas. O Flamengo teve elenco forte, estrutura, um estádio para chamar de seu e plena confiança de que o clube, enfim, subiria o degrau decisivo na escalada iniciada em 2013. Prometia ótima temporada. Não cumpriu. Perdeu-se ao insistir em erros, retardar mudanças e assimilar uma filosofia de negação contínua de que caminhava para o lado errado. A fantasia do ano mágico se desfez.

O time terceiro colocado no Brasileiro de 2016 e que por rodadas ameaçou a liderança do campeão Palmeiras foi encorpado no início da temporada. Romulo chegou para assumir a vaga no meio de campo, Trauco para substituir Jorge. E Mancuello fazia as vezes na ponta direita à espera de Conca. Berrío também era nova opção. Zé Ricardo deu indícios de estar livre das pressões imediatadas de resultado de seu primeiro ano de profissional. Teria uma nova temporada pela frente. Apostava no mesmo 4-2-3-1, mas em um jogo baseado na vasta troca de passes, no conforto dos volantes. Parecia querer consertar uma característica deficiente com Márcio Araújo no ano anterior. Ledo engano.

Diante de adversários frágeis no Campeonato Carioca, o Flamengo de Zé passou sem maiores problemas. Foram 39 gols marcados em 17 jogos, com 12 vitórias, cinco empates e nenhuma derrota. Mas o Fla-Flu da Taça Guanabara, com um sistema defensivo frágil, permitiu ao técnico recuar em suas ideias. Preferiu abraçar suas peças de segurança. Márcio Araújo voltou ao time no 4-1-4-1 diante da Universidad Católica pela Libertadores. O Flamengo jogou bem, mas perdeu. Repetiria o roteiro diante do Atlético-PR, fora de casa. Um bom jogo, mas nova derrota. Desta vez com erros claros de suas peças de sempre: Muralha e Gabriel. Zé, então, buscou fórmulas para mudar a equipe. Contra o mesmo Furacão, no Maracanã, utilizou Trauco no meio de campo. Venceu. E até convenceu.

Sem Diego, lesionado no joelho direito, Zé testou fórmulas, fez apostas. E contou com Guerrero em fase artilheira. O peruano decidiu a semifinal do Campeonato Carioca diante do Botafogo num bom jogo da equipe. Mais racional, menos emocional. Zé indicava evolução. Sabia sobreviver sem o fator Diego. Na decisão final do Carioca, travou o Flu no primeiro jogo e soube controlar o segundo para conquistar a taça. Sinais de maturação? Em dias, o Flamengo respondeu que não.

Chegar ameaçado na última rodada da primeira fase da Libertadores, grande objetivo do ano, contra um San Lorenzo sedento por vitória em seu território foi um erro grave. Mas fatal, mesmo, foi a postura. Utilizar Gabriel centralizado na função de Diego. Presa fácil, o Flamengo acabou eliminado de forma cruel, no último lance da partida. Ali se deu a ruptura. Clara, cristalina. A comunidade rubro-negra estava em choque com mais uma vexame na Libertadores. Seriam necessárias mudanças mais profundas, a fim de corrigir a rota. Restabelecer metas para as 37 rodadas restante do Campeonato Brasileiro. Abrir chances para os novos contratados. Não houve nem mesmo um afago na alma do torcedor rubro-negro.

Eduardo Bandeira de Mello, presidente geralmente afável, educado, de palavras com informações econômicas, destemperou-se em coletiva de imprensa. Indicou “falsos rubro-negros”. Também em posse da vice-presidência de futebol, Bandeira teve dificuldades ao lidar com a situação. Preferiu a blindagem a cobranças e mudanças a doses homeopáticas, quase invisíveis ao mundo exterior, mas claras no Ninho do Urubu. Como se os responsáveis pelos erros estivessem fora das paredes do CT, longe de nomes como Fred Luz e Rodrigo Caetano.

A falta de ação imediata no vexame da Libertadores teve consequências em toda temporada. Ainda impactado, o Flamengo apresentou queda de rendimento visível. O futebol do time empobreceu, em queda livre. Zé Ricardo, pressionado, não conseguia nem mesmo retomar o padrão antes da eliminação na principal competição do ano. O time se esfarelava. 4-2-3-1, 4-1-4-1, até 4-2-4. Tiros no escuro com um um barco à deriva. Zé também se recusava a mudar. Mantinha Márcio Araújo, o absoluto, e Rafael Vaz, recorrentes em erros cruciais, na equipe. O fim do primeiro turno sem mais chances de título, a 18 pontos de distância do líder Corinthians e com uma equipe completamente confusa, deixou claro: Zé Ricardo, o técnico que insistiu em seus pecados, deveria sair.

A aposta em Reinaldo Rueda teve efeito imediato. O colombiano assumiu o time às vésperas da semifinal da Copa do Brasil contra o Botafogo. Oxigenou a equipe com as efetivações de Cuellar e Juan entre os titulares. Aumentou o poder defensivo, embora ainda pecasse na parte ofensiva. A ida à final contra o Cruzeiro deixou exposto o erro de avaliação dos goleiros: apesar do bom primeiro jogo no Maracanã, o Flamengo sofreria sua sina. Primeiro no erro de Thiago no Rio. Depois, com Alex Muralha, que não conseguiu ameaçar uma defesa dos pênaltis para impedir a taça cruzeirense. Novamente abatido, o Flamengo demonstrou apatia e velhos erros também sob o comando de Rueda. O impacto negativo da inoperância após a Libertadores ainda ecoava no Ninho do Urubu.

Um elenco sob pressão, com nervos à flor da pele, exposto na briga entre Vizeu e Rhodolfo diante do Corinthians. A vaga para a competição sul-americana alcançada por caminho tortuoso no Brasileiro era o mínimo a ser almejado na temporada. A perda da Sul-Americana em casa, diante do Independiente, apenas deixou o departamento de futebol do clube nu: não existiam mais argumentos para uma boa temporada. Um elenco que jogou demais – 83 jogos oficiais – marcou 135 gols, sofreu 73 e teve 58% de aproveitamento. Uma taça, talvez a menos cobiçada do ano, na galeria. Pouco. No futuro, o Flamengo tem erros a reconhecer, um departamento de futebol a ser cobrado por resultados que ainda comprometem a boa gestão financeira, resolver o dilema Guerrero e o caso Rueda. 2018 chega no Ninho mais esvaziado de expectativas do que 2017, o ano mágico que se desfez.

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