Natural que dúvidas pairem sobre o Fluminense, com elenco recheado de jovens, praticamente nenhuma estrela e que alternou jogos muito bons com exibições abaixo da média em 2017. Mas há nas Laranjeiras uma ideia totalmente concebida por Abel Braga, com o gosto pelo contra-ataque veloz, eficiente e que sabe trabalhar quando tem espaço. É um time organizado e letal diante de oportunidades claras. Neste domingo houve um teste pesado, contra o Atlético-MG, em pleno Independência. Um jogo de gente grande. E o Fluminense passou com louvor. Há muito pelo que brigar no Brasileiro.
Na primeira rodada, o Atlético foi até o Maracanã e encontrou pela frente um Flamengo que gosta de ter a bola e impor o seu jogo. Teve de se adaptar até se encontrar em campo para fazer o rival sofrer. Diante do Fluminense, não. O Tricolor tem gosto pelo contra-ataque e chama o rival ao seu campo. Claro que o Atlético não negaria o convite desde o início. Sem Robinho, poupado, Roger mandou a campo a equipe em um 4-4-2 com Otero pelo lado esquerdo, Elias na direita e Cazares solto à frente próximo de Fred.
Enquanto vai ao ataque, o Galo mantém praticamente os zagueiros, Felipe Santana e Gabriel, com um dos laterais atrás da linha do meio de campo. Ataca com sete, tenta sufocar o rival. E concentrava o jogo na esquerda. Fábio Santos com Otero, troca de passes, infiltrações. Orejuela tentava vigiar Cazares de perto. O Fluminense se segurava bem. Sabia que sofreria pressão, mas tinha esquematizado o contra-ataque em cima de um dos laterais atleticanos que subiam constantemente.
Geralmente, a brecha surgia em cima de Marcos Rocha, com o disparar de Richarlison às suas costas. Era o Fluminense de sempre, em um 4-3-3, com Scarpa em campo, ainda longe da forma ideial, na vaga de Wellington, pela direita. Mas com Wendel e Sornoza em tarde soberbas. Facilidade para fechar o meio de campo e trabalhar a saída de bola em velocidade para o contra-ataque. Era um risco calculado dos dois lados. Ambos queriam fazer o seu jogo. O Fluminense entendia que seria necessário permitir a pressão em volta de sua área para contragolpear. O Atlético sabia que ao subir com tantos jogadores ao mesmo tempo deixaria espaços que poderiam ser fatais em uma simples perda de bola.
O embate, de forma traiçoeira, parecia inclinar mais ao time da casa, que rondava sempre o ataque. Cavalieri já defendera chute de Fred e Felipe Santana, em escanteio, quase abrira o placar de cabeça. Mas o Fluminense, em dias inspirados, é fatal quando tem espaço, principalmente pelos lados. Henrique Dourado matou a bola no peito no centro do gramado e lançou Richarlison na esquerda, diante de um desesperado Marcos Rocha que voltava do ataque. O lateral até conseguiu parar o atacante, mas com falta e já dentro da área. Ceifador cobrou com a categoria costumeira e abriu o placar. 1 a 0.
O gol sofrido deixou o Atlético um tanto quanto perdido em campo. Bastaram, então, dois minutos. Henrique Dourado foi à direita, girou e cruzou na grande área, sobre Felipe Santana e de novo nas costas de Marcos Rocha. Richarlison, de cabeça, mandou no canto esquerdo de Victor. 2 a 0. Fatal, o Tricolor. Pressionado, o Atlético. Que buscou o jogo ainda no primeiro tempo. Cazares, em escanteio, achou Gabriel sozinho para tocar de cabeça para o gol na grande área. 2 a 1. Antes do intervalo, Cazares ainda escapou pelo meio e bateu forte, no alto, mas Cavalieri foi buscar.
No segundo tempo, Roger entendeu que seria necessário ocupar os lados, apesar da disputa ferrenha no meio. Queria bloquear as saídas de Richarlison e Scarpa. Sacou Rafael Carioca e pôs Maicosuel centralizado em um 4-2-3-1, com Otero à esquerda e Cazares à direita, com Fred à frente. Elias recuou ao lado de Adilson. O Atlético tentou tabelas que levariam ao centro do ataque tricolor, mas o Fluminense estava bem postado e se avolumava no meio de campo. Wendel aparecia em todos os cantos. Ocupava a esquerda, a direita e ainda tinha fôlego para ajudar Orejuela na marcação à frente da área. Henrique Dourado, em jogada individual, quase ampliou, mas Victor espalmou. Roger mudou tudo de novo. Era hora de apostar no jogo aéreo.
Otero deixou o campo e Rafael Moura fez a dupla de torres gêmeas na área tricolor com Fred. Atrás, um bloco de quatro com Maicosuel, Elias, Adilson e Cazares. De volta a um 4-4-2. E tome bolas alçadas na área. Até o fim do jogo seriam 48 cruzamentos. Nenhum daria em gol. Alguns chegariam próximo. Em cruzamento de Elias, Rafael Moura amansou a pelota e tocou par Maicosuel, de frente para Cavalieri. Ele bateu por cima, perdendo grande chance. Abel sacou Scarpa, cansado, e colocou Douglas para reforçar o meio. Wendel foi mais à frente. Marcos Junior na vaga de Richarlison era a opção para manter a velocidade no contra-ataque e matar a partida. Mas Sornoza torceu sozinho o tornozelo e deixou o time com menos um em campo. O primeiro grande obstáculo ao Fluminense. O segundo seria a postura inexplicável do árbitro Jean Pierre Lima.
Mais do que compreensível que o Fluminense tentasse segurar a bola para ganhar os minutos finais e manter o placar de 2 a 1. Mas, por vezes, os tricolores acabaram derrubados com faltas claras que o árbitro preferiu ignorar. Marcos Júnior, na linha de fundo, foi derrubado de maneira indecente por Maicosuel. O árbitro, de novo, mandou seguir. Abel, transtornado à beira do campo, mandava o time manter três homens à frente da área, com Henrique e Marcos Junior buscando os lados para atacar. O Galo parecia pagar o preço da sequência de jogo com um time na faixa dos 30 anos. Elias, ponta direita e artilheiro diante de Flamengo e Godoy Cruz, mostrava dificuldade para manter a vitalidade. Talvez por isso tenha perdido a última chance da partida, chutando diante de Cavalieri. Um jogo que deixou o torcedor tricolor orgulhoso. Diante de um dos postulantes ao título, o Fluminense teve apenas 40% de posse de bola, mas fez uma apresentação de gente grande. Pela primeira vez em 2017, o Galo caiu no Horto. Há com o que sonhar no Brasileiro.
FICHA TÉCNICA
ATLÉTICO-MG 1X2 FLUMINENSE
Local: Estádio Independência, em Belo Horizonte (MG)
Data: 21 de maio de 2017
Horário: 16h
Árbitro: Jean Pierre Gonçalves Lima (RS)
Público e renda: 16.145 pagantes / R$ 453.335,00
Cartões Amarelos: Nogueira, Sornoza, Marcos Junior, Douglas, Richarlison e Renato (FLU)
Gols: Henrique Dourado (FLU), aos 36 minutos, Richarlison (FLU), aos 38 minutos e Gabriel (ATL), aos 40 minutos do primeiro tempo
ATLÉTICO-MG: Victor; Marcos Rocha, Felipe Santana, Gabriel e Fábio Santos; Adilson, Rafael Carioca (Maicosuel / Intervalo), Elias e Otero (Rafael Moura, 15’/2T); Cazares e Fred
Técnico: Roger
FLUMINENSE: Diego Cavalieri; Lucas (Renato/intervalo), Nogueira, Henrique e Léo; Orejuela, Wendel e Sornoza; Gustavo Scarpa (Douglas, 20’/2T), Henrique Dourado e Richarlison (Marcos Junior, 28’/2T)
Técnico: Abel Braga