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Leva quem joga: Flamengo se impõe sobre acadelado Inter e abre vantagem

Bruno Henrique Flamengo gol Internacional Libertadores 2019

(Flamengo / Divulgação)

Filipe Luís Guerrero Flamengo Internacional Libertadores 2019

(Flamengo / Divulgação)

Há no Rio Grande do Sul uma expressão muito utilizada para indicar um time amedrontado, acometido por uma covardia quase inexplicável. Acadelado. Espera-se usualmente que em um duelo de dois clubes gigantes por um torneio tão importante como a Libertadores o jogo seja, mesmo, jogado. Existam dois times dispostos a se agredir. Afinal, leva o jogo quem joga. Na noite desta quarta-feira, no Maracanã, apenas o Flamengo jogou. Por isso construiu a boa vantagem de 2 a 0 nas quartas de final da Libertadores diante de um acadelado Internacional. Vitória da bola sobre a covardia.

Nem é possível afirmar que o Flamengo cumpriu uma atuação soberba. Teve, também, de guerrear em alguns momentos para cumprir a cartilha da competição. Mas, como dito, jogou. Trocou passes, teve paciência para achar espaços diante de um Colorado entrincheirado. Jorge Jesus, uma vez mais, mostrou a capacidade de transformar o Flamengo sem receios. Como todos à disposição, pôs Gerson no banco, voltou com Everton Ribeiro e indicou um 4-2-3-1 inicial. Wilian Arão segurou um pouco mais ao lado de Cuéllar, com Bruno Henrique à direita, Everton por dentro e Arrascaeta à esquerda no trio atrás de Gabigol. Uma trinca que trocava insistentemente de posições, tentando confundir a zaga colorada, impôr o jogo. Houve dificuldades.

Fla no início: trocas na trinca atrás de Gabigol para furar bloqueio

A estratégia inicial de Odair Helmmann ao mandar o Internacional a campo em um 4-1-4-1 foi simplesmente segurar o Flamengo. Picotar ao máximo os 20 minutos iniciais, entre faltas, jogadas mais ríspidas e provocações copeiras. Por isso contava com jogadores cascudos pelos lados, D´Alessandro e Rafael Sobis. O atacante, inclusive, mostrou que sabe jogar a Copa. Estourou bola em cima de Gabigol, provocou o rival, gritou na cara de Jorge Jesus. Um Inter pilhado, disposto a não ceder espaços ao Flamengo. Ao gosto da tradicional arbitragem sul-americana, como a do chileno Roberto Tobar. No início funcionou. De tão agrupado, o Colorado limitava bem o jogo rubro-negro, permitindo um avanço apenas até a intermediária. Everton Ribeiro tem facilidade em ditar o ritmo a partida e buscava um vazio no setor de Rodrigo Lindoso. Pouco conseguiu. Uma partida truncada, disputada. E que forçou o Flamengo a arriscar lançamentos em busca da velocidade de Bruno Henrique. Até que o Inter, então, decidiu dar passos atrás e entregar ainda mais campo ao Flamengo. Que aceitou. Passou a iniciar o jogo com Cuéllar, na saída entre os zagueiros, e daí aos laterais que buscavam construir o jogo por dentro.

Inter no início: defesa forte, mas sem tentar agredir o Flamengo

O ferrolho colorado funcionava, com Patrick e Edenílson alternando avanço na saída de bola rubro-negra e formando trinca forte com Rodrigo Lindoso. Mas era pouco. O Internacional se limitava a tentar evitar o jogo do Flamengo. Nem mesmo Sobis e D´Alessandro eram esperanças ofensivas, já que se preocupavam mais em fechar os lados e pouco tinham velocidade para um arranque às costas dos laterais rubro-negros. Um jogo pobre, dependente de bolas lançadas para o tradicional pivô de Guerrero. Aí é necessário um parêntese. O atacante peruano foi o que apresentou na maior parte de sua passagem pelo Flamengo: pouco efetivo no ataque, irritadiço, reclamando constantemente com a arbitragem e em choque constante com zagueiros. Mérito para Rodrigo Caio. De volta após quase um mês parado, o zagueiro fez partida exemplar. Quase sempre se antecipou a Guerrero e mostrou força física para ganhar jogadas no corpo. O 9 colorado não teve chances e foi derrotado também mentalmente. Ao contrário. Forçou cavada inexplicável ao fim da primeira etapa, em busca de um pênalti inexistente em uma rara aparição gaúcha na defesa do Flamengo.

A rigor, o time rubro-negro teve uma chance evidente no primeiro tempo, além de chutes de fora da área defendidos por Lomba. E foi um ensaio para o que viria no segundo tempo. Filipe Luís participando da construção das jogadas, mais ao meio, como um volante, do que como um lateral pelo lado do campo. Assim achou Everton Ribeiro em um passe rasteiro na entrada da área. O raciocínio rápido do camisa 7 deixou Gabigol em condições de finalização. Mas Moledo, veloz, conseguiu travar a finalização e ajudar Lomba. O intervalo chegou sem gols.

Jorge Jesus se viu obrigado a modificar a equipe no segundo tempo. Arrascaeta, disperso e claramente sem condições de dar agilidade ao jogo devido ao quadro viral, deu lugar a Gerson. O 4-2-3-1 virou um 4-4-2, Gerson à esquerda, Everton Ribeiro à direita, Cuéllar e Willian Arão por dentro. Bruno Henrique de volta ao seu habitat, como atacante pelo lado esquerdo. Gabigol, incessante, fazendo o movimento de deixar a área, buscar a direita e abrir espaço para a entrada dos meias. O Flamengo pareceu se entender melhor assim. Trocava passes na intermediária com mais paciência, girando o jogo de lado a lado, mas ainda apresentava dificuldades para penetrar na defesa colorada. Gerson alternou com Everton Ribeiro e foi à direita. O camisa 15 dá outra rotação ao Flamengo. Mais forte e taticamente mais inteligente do que no início da carreira, o meia vive ótima fase, principalmente ao reter a bola e só entregá-la quando assim deseja. Prender e acelera ao seu bel-prazer. Deu trabalho aos colorados, chamando até Moledo para caçá-lo quando buscava o setor por dentro.

Embora o Flamengo fosse superior, com presença efetiva no campo ofensivo, o Internacional pareceu entender que tinha o controle do jogo. Não tinha. Odair Helmann pôs Wellington Silva e Nico López pelos lados nas vagas de D’Alessandro e Rafael Sobis, deixando claro que a partir dali especulava com a possibilidade de ter velocidade para buscar o ataque. Mas o Inter estava acadelado demais. Aceitava demais o Flamengo em seu campo. Não à toa que Filipe Luís teve mais liberdade de cair ao meio. Sem um adversário tão agrupado como no primeiro tempo e Edenílson de volta de lesão, o ritmo colorado na marcação caiu. A equipe se desorganizou e os espaços apareceram.

E com espaço o Flamengo de Bruno Henrique é fatal. Filipe Luís desarmou Edenílson, tocou em Gabigol e recebeu de volta. Achou Everton Ribeiro à esquerda. O buraco no meio da defesa colorada era enorme. Moledo estava no meio de campo. O passe rasteiro e certeiro achou Bruno Henrique ao seu estilo: do lado para dentro. Cuesta ainda dividiu com o atacante e Gerson mostrou inteligência: em vez de estourar na defesa ao tentar a finalização, deu toque sutil para o camisa 27, pelo meio, tocar mansinho. O Maracanã de prender o suspiro com a tensão da partida explodiu. O Inter perdeu a única arma que tinha na partida. Sem qualquer ofensividade, restava apostar na defesa organizada. Sem essa característica, não tinha mais nada.

Fla ao fim: gols no bolso e bloqueio ao Inter num 4-5-1

O pulsar do Maracanã manteve o Colorado atordoado diante de uma estratégia falha. Não existiam mais linhas definidas na equipe de Odair Hellmann os botes em vão abriam clarões. Bastou Filipe Luís uma vez cair pelo meio, dar meia-trava diante de um distante Edenílson que teve um latifúndio pelo centro para enxergar Gabigol, às costas de Lindoso, avançado e tentando marcar a saída rubro-negra. O passe de qualidade achou o camisa 9 em plena movimentação e Bruno Henrique, de novo, fez as vezes de centroavante ao receber a pelota. Domínio, giro em Cuesta e ajeitar do corpo para bater cruzado, sem chances para Lomba. Flamengo dois. Inter, tonto, zero. Solto, com a torcida rubro-negra em êxtase, o Flamengo passou a ter mais confiança diante de espaços para jogar. Gerson, flutuante, fez mais um lançamento de cinema para Bruno Henrique, da direita à esquerda, como já ocorrera contra o Vasco. O passe rasteiro só não se transformou em terceiro gol por um erro fatal no tempo de bola de Gabigol.

Ao fim, Inter tardiamente em busca do gol salvador, que não chegou

Tardiamente, Odair tentou jogar, agredir. Buscar o gol que daria enorme sobrevida ao Inter em Porto Alegre. Sacou um extenuado Edenílson, pôs Nico López por dentro e abriu Guilherme Parede à direita. Jesus respondeu com Berrío na vaga de Everton Ribeiro e um Flamengo basicamente em um 4-5-1. Terceira formação na mesma partida, característica que já é usual no trabalho do português. Quase foi penalizado com um erro bobo de Pablo Marí, geralmente sério, ao ser desleixado na tentativa de um domínio pela esquerda. Para sorte rubro-negra, a postura do Inter não foi injustamente presenteada graças a uma finalização muito infeliz de Nico López, com drible fácil em Rodrigo Caio e batida fraca, no contrapé de Diego Alves, para fora. Ficou por aí.

Vitória de um Flamengo que teve 61% de posse de bola, sete finalizações corretas contra duas, trocou 534 passes contra apenas 202 do rival e teve 26 desarmes*. Seis apenas de Willian Arão, um jogador renovado sob o comando de Jorge Jesus, com enorme pegada sem a bola, capaz de encher um mapa de movimentação estatístico e ser um dos melhores em campo em duelo forte de Libertadores. Uma representação do Flamengo. Que marcou e quis jogar. Nem sempre é assim. Mas é o mais lógico. Acadelar-se, jamais. Quem joga, leva.

*Números App Footstats Premium

FICHA TÉCNICA
FLAMENGO 2X0 INTERNACIONAL
Local: Maracanã
Data: 21 de agosto de 2019
Árbitro: Roberto Tobar (CHI)
VAR: Julio Bascuñan (CHI)
Público e renda: 60.797 pagantes / 66.366 presentes / R$ 4.758.998,75
Cartões amarelos: Willian Arão, Rafinha (FLA) e Guerrero, Patrick (INT)
Gols: Bruno Henrique (FLA), aos 29 e aos 33 minutos do segundo tempo

FLAMENGO: Diego Alves, Rafinha, Rodrigo Caio, Pablo Marí e Filipe Luís; Cuéllar e Willian Arão; Bruno Henrique (Piris da Motta, 50’/2T), Everton Ribeiro (Berrío, 44’/2T) e Arrascaeta (Gerson / Intervalo); Gabigol
Técnico: Jorge Jesus

INTERNACIONAL: Marcelo Lomba, Bruno, Rodrigo Moledo, Cuesta e Uendel; Rodrigo Lindoso; D’Alessandro (Nico López, 21’/2T), Edenílson (Guilherme Parede, 42’/2T), Patrick e Rafael Sobis (Wellington Silva, 15’/2T); Guerrero
Técnico: Odair Hellmann

  • Wendell Souza

    Ótima análise. Ganhou quem quis jogar futebol. SRN