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Libertadores se pelea: mesmo abaixo, Flamengo sustenta empate com o Racing

Gabigol Flamengo Racing gol 2020 Libertadores

(Alexandre Vidal / Flamengo)

Willian Arão Flamengo Racing Argentina

(Alexandre Vidal / Flamengo)

A conquista da América em 2019 promoveu um entorpecer de parte da torcida do Flamengo. Ao abraçar apenas os bons momentos e esquecer as dificuldades que marcaram a trajetória do time não só no bicampeonato, mas por décadas, é possível fantasiar. Imaginar uma Libertadores sem percalços, apenas com classificações sem sustos. Rogério Ceni já tinha avisado antes do jogo: seria uma partida contra um time argentino, na Argentina, pela Libertadores. Nunca é fácil. Pois Libertadores, amigos, se pelea. E o Flamengo, ainda que com atuação abaixo, conseguiu sustentar o empate mesmo com um jogador a menos por mais de dez minutos. Não é pouco. Mas, claro, poderia ser melhor. Bem melhor. O importante, porém, é seguir pulsante no mata-mata da América.

Na mesma etapa da edição de 2019, aliás, o Flamengo de Jorge Jesus retornou bem abatido do Equador após a derrota para o Emelec em Guayaquil. 2 a 0. Desta vez volta ao Rio com a vantagem de avançar de fase se não sofrer gols no Maracanã. Mas será mesmo uma vantagem para este Flamengo? Difícil crer. Não se trata apenas de fragilidade tática e técnica defensivamente. Há, também, uma fragilidade mental. Talvez isso explique o porquê Rogério Ceni decidiu optar por Renê para substituir Isla, vetado de última hora. Mais experiência, mais consistência defensiva. Não se ignora a Libertadores. Um time argentino, na Argentina. Mesmo com desfalques. Com a volta do quarteto de ouro depois de 26 jogos, Rogério modificou uma pouco a estrutura da equipe. Sai o 4-4-2 que fez sucesso com o Coritiba, volta o 4-2-3-1. Novidade? Nem tanto.

Ao fim, Racing ocupando o campo rival, na tentativa do gol da vitória

Na final da própria Libertadores do último ano Jorge Jesus alternou do 4-4-2 ao 4-2-3-1 justamente para fugir da pressão do River Plate. Bruno Henrique e Everton Ribeiro pelos lados, Gabigol mais à frente. Houve dificuldades. Principalmente porque o Racing repetiu uma fórmula que tem dado bem certo contra o Flamengo: marcar forte a saída de bola. A insegurança salta aos olhos. Ao contrário de Domènec Torrent, Rogério Ceni tem optado pela manutenção de uma dupla de zaga. Thuler e Léo Pereira. Mas há muita falta de confiança. Por vezes Léo Pereira hesitou ao receber a bola e quase comprometeu na dúvida entre o chute à frente e o passe ao lado, geralmente a Filipe Luís. O jogo tinha pouco desenrolar e o Flamengo apelava a bolas longas.

Fla no início: 4-2-3-1 com Gabigol mais à frente, Bruno Henrique à esquerda

Ainda que desfalcado, o Racing tinha postura agressiva. No que indicava ser um 5-3-2, o time de Sebastian Beccacece tentava fechar os lados ao Flamengo com cinco defensores, mas ao ter a bola Nery Domínguez avançava por dentro e Mena e, principalmente, Fabricio Domínguez subiam demais ao ataque. Lisandro López perturbava a defesa entre os defensores enquanto Reniero atormentava especialmente Léo Pereira. Pressão em qualquer bola dominada pelo zagueiro. Diante de tantas incertezas, o Flamengo acumulou falhas ao sofrer logo o gol. Fabricio Domínguez passou fácil por Gerson e Filipe Luís, claramente com dificuldades físicas no retorno após lesão. Sem arranque do lateral, Léo Pereira saiu para a cobertura. Mas não tinha o direito de falhar o bote. Não deu em bola. Foi um jogo de dominós a despencar. Thuler largou a área e também foi para a esquerda. Em vão. Sobrou apenas Renê para tentar frear o cruzamento rasteiro para Fertóli, que atravessava a área rapidamente. Diego Alves não fechou o canto e a bola morreu na rede no toque bem manso. 1 a 0.

Era o que o Flamengo não precisava. Um jogo de mata-mata, fora de casa, e com indicações da velha fragilidade defensiva. Hesitante. O jogo não fluía justamente pela dificuldade no seu início. Arrascaeta e Everton Ribeiro tinham poucos espaços e o campo pesado dificultava a mobilidade com a chuva torrencial. Os problemas de saída de bola faziam com que os meias voltassem para ter a posse. Em um desses movimentos houve ajuda na rápida reação rubro-negra. Arrascaeta deu combate, recuperou a bola, tocou em Filipe Luís, que deu em Léo Pereira. O uruguaio pediu de novo na intermediária. Ainda que a bola tenha vindo por cima, espinhosa, ele dominou e viu Bruno Henrique disparar às costas de Fabricio Domínguez. O jogador do Racing ainda tentou parar o atacante, mas em vão. Com campo livre, Bruno avançou e cruzou na medida, com estilo, para Gabigol. Mortal. 1 a 1. Mas nem o empate fez o Flamengo voltar ao jogo com domínio. Tinha mais posse, mas muita dificuldade na saída. Gabigol, abaixo fisicamente, não se movimentava como de costume. Havia outro problema: o time estava engessado pela esquerda para atacar.

Com Renê no lugar de Isla o Flamengo até conseguia manter a consistência defensiva até então. Mas perdia demais na capacidade ofensiva. Agudo, o chileno geralmente ocupa o corredor deixado por Everton Ribeiro, que cai ao centro e preenche a área. Não havia essa opção, já que Renê pouco ou nada avançava. Além, claro, da dificuldade por ser um canhoto na direita. Os ataques, então, se concentravam pela esquerda e muito com Bruno Henrique. Em boa noite, o atacante incomodou demais Fabrício Domínguez. Quase fez um gol de placa ao dar corte no meia improvisado e bater com capricho no travessão, no ângulo esquerdo de Arias. O Racing, desfalcado e sem torcida, era afinal um time argentino, na Argentina. O que isso significa? Que sabe atuar, encarar a competição. Libertadores se joga e se pelea. Sabem como poucos. Perturbar a defesa rubro-negra a todo instante com a presença de Lisandro López, mais do que experiente, entre eles. Assim ele quase marcou de cabeça ainda no primeiro tempo, exigindo boa defesa de Diego López. Léo Pereira, sempre afoito, caçava Reinero até no campo de ataque. Mas o intervalo chegou com empate.

O segundo tempo trouxe um Racing uma vez mais adiantado, pressionando a saída de bola rubro-negra e com uma inversão: em vez de aproveitar mais Fabricio Domínguez pela direita, Mena foi mais acionado em cima de Renê, à esquerda, com a participação de Fertóli. Houve um momento de instabilidade no setor. Renê não se achou mais na marcação, errou passes e tentou avançar ao ataque talvez para antecipar que a bola rondasse a área. Rogério preferiu correr riscos mesmo diante da dificuldade e manteve o Camisa 6 em campo. O time rubro-negro evoluía pouco. Não tinha o domínio real do jogo, era incomodado na defesa. A partida retomava o panorama da primeira parte do primeiro tempo. De tanto alçar bola na área, o time argentino acharia dois gols. Ambos anulados. O primeiro por uma falta de Mena em Everton Ribeiro na linha de fundo. Passível de discussão, mas uma falta. O segundo por um correto impedimento de Lisandro López no início da jogada.

Racing de início: jogo pela direita e marcação no campo rival

Rogério Ceni sacou Gabigol, como combinado, e pôs Vitinho. Centralizou Bruno Henrique e esticou o Camisa 11 à esquerda. Houve maior fluidez. Vitinho foi mais participativo na partida, com entendimento pelo centro com Arrascaeta. De cara, o atacante participou pela direita, com movimentação, de um gol bem anulado do uruguaio. Deu mais mobilidade ao ataque e maior fluidez ao time. E aí vale o essencial: o Flamengo esteve mais confortável na partida muito pela muito boa atuação de Willian Arão. Melhor jogador da equipe na final do Mundial em dezembro, o volante viveu de novo os bons tempos sob o comando de Jorge Jesus. Atento, intenso e uma ótima válvula de escape para fazer a bola circular. Arão, novamente, passou a observar as opções de passe antes de receber a bola. Sobe de rendimento. O jogo flui melhor e os zagueiros têm melhores opções. O Flamengo cresceu. Everton Ribeiro, de cabeça, e Vitinho tiveram boas chances criadas do meio para o lado. Girar de bola e tentar ser agudo. O Racing, afinal, dava mais espaços.

Ao fim, Flamengo mais recuado e valorizando o empate

Beccacece já tinha percebido e sacado Fabricio Domínguez, amarelado e desgastado. Pilludi mais inteiro para acompanhar as subidas de Filipe Luís pelo setor. Quando estava melhor, com circulação rápida da bola, o Flamengo acabou abatido com um erro grave de Thuler. O carrinho desnecessário em Lisandro López foi denunciado pelo VAR. Merecido cartão vermelho, que ainda abocanhou Natan, por reclamação, no banco de reservas. Vale então outro parênteses: Libertadores é diferente. Time argentino, na Argentina. Difícil apostar que jovens saibam manter o controle mental para desenvolver o futebol sem sobressaltos diante de ambientes assim. É difícil a escolha de Rogério. Sem o zagueiro, o técnico sacou seus meias e recuou Arão primeiro para a defesa e depois, com a entrada de Bruno Henrique, para fechar o lado direito. O Flamengo tinha um bloco de cinco jogadores na frente dos quatro defensores. Quando atacado, Bruno Henrique e Vitinho ajudava a combater pelos lados. Na contagem dos minutos, o empate já era bom negócio para o Flamengo. As bolas aéreas cruzadas pelo Racing indicavam que a estratégia final de Rogério foi acertada.

Sim, o Flamengo esteve abaixo do que pode render. Teve mais posse e poucos bons momentos no jogo. Quando começava a controlar a partida ao seu estilo a expulsão de Thuler freou qualquer investida. Há bons e maus motivos para analisar a partida em Avellaneda. A produção pode ser superior, como foi contra o Coritiba – um adversário sem dúvidas bem menos competitivo. Mas é bom lembrar: o Flamengo de 2019 saiu em apuros no jogo de ida das oitavas de final da Libertadores. Era até então o normal do clube. Desta vez, deixa Buenos Aires com uma vantagem e pontos a corrigir, com jogadores provavelmente em melhores condições físicas. Afinal, Rogério lembrou: um adversário argentino, na Argentina. Libertadores se joga. Mas também se pelea.

FICHA TÉCNICA
RACING 1X1 FLAMENGO

Local: El Cilindro de Avellaneda
Data: 24 de novembro de 2020
Árbitro: Alexis Herrera (VEN)
VAR: Jesús Velenzuela
Acréscimos: Um minuto no primeiro tempo e oito minutos no segundo tempo
Público e renda: portões fechados
Cartões amarelos: Fabricio Domínguez, Sigali (RAC) e Gerson (FLA)
Cartões vermelhos: Thuler (FLA) e Nathan (FLA), aos 36 minutos do segundo tempo
Gols: Fertoli (RAC), aos 12 minutos, Gabigol (FLA), aos 14 minutos do primeiro tempo

RACING: Arias; Fabricio Domínguez (Pillud, 20’/2T), Sigal e Nery Domínguez; Soto, Rojas, Miranda, Fertóli (Godoy, 45’/2T) e Mena; Matías Rojas, Reniero e Lisandro López
Técnico: Sebastián Beccacece

FLAMENGO: Diego Alves, Thuler, Léo Pereira e Renê (Gustavo Henrique, 48’/2T); Willian Arão e Gerson; Everton Ribeiro (João Gomes, 40’/2T), Arrascaeta (Diego, 40’/2T) e Bruno Henrique; Gabigol (Vitinho, 11’/2T)
Técnico: Rogério Ceni

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