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Mais do que a vitória do Flamengo, o triunfo de uma ideia na Ilha do Urubu

Cuellar gol Santos Flamengo Ilha do Urubu Copa do Brasil

Cuellar gol Santos Flamengo Ilha do Urubu Copa do Brasil

O viajar da bola, a curva precisa, o encaixe no ângulo esquerdo e o sorriso escancarado do camisa 26 refletiram o explodir da Ilha do Urubu. Mais do que sacramentar a vitória diante do Santos, o golaço marcado por Cuellar foi o triunfo, ainda que momentâneo, de uma ideia. Sim, volantes técnicos têm vez. Contribuem para o jogo. Para vitórias. Fazem gols. Sabem marcar. E sabem passar. Foi o volante colombiano quem mais trocou passes no Flamengo nos 2 a 0 sobre o Santos, pela Copa do Brasil. Tentou 57 vezes. Acertou 54, de acordo com o site Footstats. Um alento a um time que ainda precisa ressurgir e evoluir. E que, enfim, teve boa atuação após as cinzas da Libertadores.

Fla no início: Cuellar mais recuado

Talvez os dois resultados recentes, diante de Chapecoense e Bahia, em que pesem atuações nada brilhantes, tenham contribuído para restabelecer o mínimo de confiança para o Flamengo reencontrar o seu jogo. Diante do Santos, no mesmo 4-2-3-1 de sempre, foi uma equipe rubro-negra mais ao chão do que pelo alto. Não que tenha abandonado o jogo aéreo. Ainda é um time que tem gosto por jogar a bola nas pontas para explorar cruzamentos ou busque lançamentos pelo meio. Mas havia uma mudança. Cuellar estava de volta ao time. Embora alternasse com Márcio Araújo em poucas vezes, mais como primeiro volante na primeira etapa. Iniciava o jogo com mais qualidade, fazia a bola girar. Havia espaço no meio.

O Santos era um time que não disputava a bola. Esperava, pelos acasos da partida, tê-la no pé para enfim jogar. Também em um 4-2-3-1, o time de Levir Culpi incomodou pouco o Flamengo. Não conseguia entrar no jogo pelas pontas. Pelo lado direito, Zé Ricardo acertou em cheio ao escalar a dupla Pará e Berrío. Ambos cumprem muito bem o papel defensivo, anulando Copete, e davam trabalho no ataque, diante do mais uma vez improvisado Jean Mota. O atacante colombiano foi quem tumultuou a vida de Vanderlei. Em um lançamento de Everton, matou a bola com categoria, cortou Jean Mota e bateu no contrapé. O arqueiro pegou. Minutos depois, ele chutou de novo por dentro e mais uma vez parou em Vanderlei. Era bom o jogo.

Santos no início: jogo só com bola no pé

Pois o Flamengo tinha um volante com a qualidade de saber sair para o jogo. Cuellar, como dito, postava-se mais como primeiro homem, recebendo a bola dos zagueiros e iniciando o jogo. Márcio Araújo, o conhecido cão de guarda, estava mais à frente, correndo atropeladamente e, por vezes, até marcando a saída de bola santista ao lado de Diego e Guerrero. Pois bem. Com o início centrado em Cuellar, o jogo girava. Foi ele quem iniciou um lance do campo defensivo, invertendo bola da direita para a esquerda.

O Flamengo trocou passes, para frente e para trás, para os lados. Esgarçando o meio de campo santista. De repente, com a bola no pé, o zagueiro Rever avançou e enxergou um buraco. Com passe rasteiro, viu Guerrero. O toque de letra do peruano deixou Everton de frente para o gol. Batida de chapa, com o pé direito, por cima de Vanderlei. No bonito estufar da rede, um belo gol. 1 a 0. O Santos tinha dificuldades. Porque até tinha espaço pelo meio, já que o Flamengo tinha Cuellar mais atrás, com Diego por vezes também recuando para pegar a bola. Mas Lucas Lima não aproveitava, tímido na criação. Bruno Henrique, vá lá, ainda tentava superar Trauco. Mas Kayke, estático, era inexistente. Levir percebeu.

Fla ao fim: Cuellar posicionado mais à frente

No segundo tempo, colocou Vitor Ferraz mais avançado. Talvez na esperança de dar um diálogo no passe para Lucas Lima e criar as jogadas. Mas, também, fez o Santos ser mais combativo, brigar pela posse da bola. O time atendeu. Adiantou-se e pressionou um Flamengo que, inteligentemente, cedeu campo para tentar matar o jogo no contra-ataque. Mas encontrou, de novo, o velho problema. Fixou-se pelos lados para cruzar bolas em excesso. O jogo passou a ser menos pelo chão.

Em um desses lances, Berrío quase marcou de bicicleta. Parou de novo nele mesmo, Vanderlei. O goleiro santista já evitava um prejuízo ainda maior. Levir sacou Jean Mota e tentou frear as voadas de Berrío pela direita colocando Caju, mais ofensivo, na lateral esquerda. Funcionou pouco. O jogo, na verdade, não parecia ter saído das mãos do mandante, mesmo com o Santos em melhor nível. Ainda era um time muito pálido na criação. Com o passar do tempo, o Flamengo voltou a avançar casas. Cuellar, responsável pelo nascedouro do jogo, já estava mais à frente.

Santos ao fim: mais marcador, pouco criativo

Márcio Araújo posicionou-se no velho papel de perseguir adversários a partir da intermediária defensiva. Por vezes, iniciava o jogo, mas a diferença era tremenda. Atropelava as passadas diante de tanto espaço e, por vezes, errava o toque ou era desarmado. Cuellar, não. Projetava-se à frente, dava botes mais precisos quando ia ao ataque. Evitava viagens perdidas. Acabou recompensado no fim. Guerrero tentou a jogada individual sobre Lucas Veríssimo. Entrou na área, foi desarmado, mas voltou a ter a bola. Olhou para trás e viu Cuellar pela esquerda, na entrada da área. Não é dos volantes que olham para o lado e apenas passam a bola, em vão. Também não faz o tipo de girar para atrás, segurar a vitória magra e rolar para a defesa. Com espaço, ajeitou o corpo e mandou no ângulo esquerdo de Vanderlei. Golaço.

O triunfar de uma ideia. Com menos posse de bola, o Flamengo trocou perto de 400 passes e teve 12 finalizações contra cinco do Santos. Mandou sete bolas na meta. Vanderlei salvou cinco. Uma ideia de um time técnico, digno do tamanho do elenco, que acabou representada na noite desta quarta-feira por Cuellar. Um volante que passou 54 passes certos, desarmou oito vezes e fez um gol. Um alento. A não ser que a ideia novamente seja relegada à reserva já no próximo jogo. Sim, há espaço para vida inteligente na saída do jogo rubro-negro.

FICHA TÉCNICA:
FLAMENGO 2X0 SANTOS

Local: Estádio Luso-Brasileiro, a Ilha do Urubu
Data: 28 de junho de 2017
Horário: 21h45
Árbitro: Ricardo Marques Ribeiro (MG)
Cartões amarelos: Márcio Araújo (FLA) e David Braz e Lucas Veríssimo (SAN)
Público e renda: 14.498 pagantes /15.564 presentes / R$ 945.610,00
Gols: Everton (FLA), aos 26 minutos do primeiro tempo e Cuellar (FLA), aos 42 minutos do segundo tempo

FLAMENGO: Thiago; Pará, Rever, Juan (Rafael Vaz, 30’/2T) e Trauco; Cuellar e Márcio Araújo; Berrío (Vinicius Junior, 32’/2T), Diego e Everton; Guerrero (Leandro Damião, 46’/2T)
Técnico: Zé Ricardo

SANTOS: Vanderlei; Victor Ferraz, Lucas Veríssimo, David Braz e Jean Mota (Caju, 26’/2T); Leandro Donizete e Renato; Bruno Henrique (Thiago Ribeiro, 35’/2T), Lucas Lima e Copete; Kayke (Victor Bueno / Intervalo)
Técnico: Levir Culpi

  • silasT

    Excelente matéria.