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Mais um choque de ideias: Flamengo e Inter empatam em jogo eletrizante no Beira-Rio

Everton Ribeiro Pedro Flamengo Internacional Beira-Rio Brasileiro 2020

(Marcelo Côrtes / Flamengo)

Vitinho Flamengo Patrick Internacional

(Marcelo Côrtes / Flamengo)

Há pouco mais de um ano, em um Maracanã abarrotado, um duelo de técnicos estrangeiros encantava o Brasil por apresentar um choque de ideias. Confronto de futebol marcado por opções táticas, ótima qualidade técnica, ação e reação. Jorge Jesus x Jorge Sampaoli num Flamengo x Santos capaz de hipnotizar qualquer um que os assistisse. Neste domingo, no Beira-Rio, a ausência da torcida foi a diferença. No campo tudo parecia igual. Ação e reação. Embate de maneiras de ver o futebol, indicar caminhos, contra golpear as movimentações rivais com ajustes na própria equipe. O empate em 2 a 2 entre Internacional e Flamengo não teve um vencedor, mas conseguiu reafirmar como acrescentam ao futebol brasileiro novas ideias. Ainda que em meio à loucura do calendário.

Inter no início: enorme pressão na saída rival, Patrick e M.Guilherme incansáveis

Com os times poupados nos jogos do meio de semana ficou claro o entendimento de que a busca pela liderança do Brasileiro passaria pelo vigor físico. Jogadores descansados durante a maratona para render executar em alto nível as ideias de parte a parte. Minutos de apresentação abaixo do razoável e qualquer plano poderia naufragar. Eduardo Coudet pôs o Internacional em campo no 4-1-3-2, com Abel Hernández e Thiago Galhardo à frente, uma trinca com Patrick à esquerda, Edenílson mais ao centro e Marcos Guilherme à direita por trás. Rodrigo Lindoso à frente da defesa. A ideia? Sufocar o Flamengo. Pressioná-lo na saída de bola e ir além: anular as possíveis válvulas de escape no fluir do jogo rubro-negro, como Willian Arão, Filipe Luís e Gerson. Funcionou. Com minutos, o Colorado já havia assustado duas vezes. Primeiro em uma cabeçada livre de Abel Hernández na pequena área, depois em bola enfiada na direita para Heitor, que chutou para defesa de Hugo Neneca.

Não que marcação na saída do rival seja uma novidade. Mas o Flamengo talvez tenha se surpreendido com o ritmo muito, muito intenso do Inter logo de saída. Demorou minutos até entrar na partida. E algo ajudou o time gaúcho além da ausência de Rodrigo Caio, zagueiro capaz de passes mais verticais. Filipe Luís era vigiado por Marcos Guilherme, Arão pressionado por Edenílson. A bola voltava para a defesa porque Gerson, geralmente a opção de maior desafogo e capacidade de proteger a bola sem sofrer desarme, estava avançado, à esquerda.

No 4-2-3-1 de Domènec Torrent, o Camisa 8 estava numa ponta, Everton Ribeiro na outra e Vitinho por dentro, após boas atuações no setor. Willian Arão e Thiago Maia mais atrás, Pedro à frente. Houve dificuldade. A bola não fluía. Ia a Arão que, pressionado, não tinha a opção de um também marcado Filipe Luís. A bola voltava a Natan que tentava abrir em Isla. De novo, o Inter avançava, apertava. Sufocava. E foi assim, sufocado, que o lateral chileno tentou prender a bola e girar para ter alguma opção de passe. Erro crasso ao permitir que Patrick o desarmasse, fosse ao fundo e rolasse para Abel Hernández, livre na área, completar para o gol. Cenário perfeito para o líder do Brasileiro. 1 a 0.

Fla no início: dificuldade na saída e Gerson inofensivo à esquerda

Caberia, então, ao Flamengo tentar responder de maneira quase imediata. Encontrar soluções. Conseguiu curiosa e rapidamente com Isla. Pela direita, o lateral avançou ao receber a bola e numa bela quebrada de corpo enxergou Pedro pouco depois do meio de campo. O erro, então, foi colorado. Zé Gabriel tentou caçar o centroavante bem longe da área. Um drible seria fatal. Pedro dominou, girou e teve o campo aberto. Avançou com belo domínio e enxergou Vitinho acelerar à direita, deixando o solitário Rodrigo Moledo hesitante. Foi o que bastou para um corredor se abrir e a possibilidade de finalização aparecer. Pedro não tem perdoado. Chapou a bola rasteira, com categoria, no canto esquerdo de Marcelo Lomba, que nem se mexeu. Um belo gol do melhor finalizador do Brasil e artilheiro do Flamengo na temporada, com 17 gols. Mas a pressão colorada continuou. Ainda havia muito jogo pela frente.

O Flamengo tentou agir e também avançar um pouco o time para inibir o Inter. Mas Gerson estava muito fora de um jogo que era vertical ao extremo. A bola não girava de um lado a outro, como costumeiramente ocorre no Flamengo. Batia e voltava por méritos de um Internacional que pressionava. E, de novo, um jogador rubro-negro colaborou com terrível falha individual. Na retomada de bola e a falta de opção de passe, o jogo voltou à defesa. Arão já fixo mais atrás, pronto para a saída de três, a Gustavo Henrique, bem à direita. Bola de volta a Arão, que desta vez tentou Isla. Edenílson se aproximou e Gustavo Henrique recebeu de novo o passe. Havia possibilidade de virar o jogo à esquerda, para Natan ou Filipe Luís, que chegou a sinalizar um raro momento sem pressão. O zagueiro recuou a bola para os pés de Thiago Galhardo. Houve o domínio e a batida na saída de Hugo. 2 a 1.

Méritos da pressão colorada, mas segundo gol em falha individual. Não coletiva. Culpar Domènec por optar por uma saída de bola com qualidade seria covardia ou mera implicância. Galhardo ainda teve a chance de ampliar ao receber bolas nas costas de Natan e bater cruzado para a defesa de Neneca. Superior no primeiro tempo, o Internacional desperdiçou ótima oportunidade de descer mais tranquilo para o vestiário. O nível de intensidade aplicada no primeiro tempo claramente cobraria um preço, principalmente diante de um Flamengo que aprendeu desde a passagem de Jorge Jesus a dosar energias para aumentar o ritmo de acordo com as fraquezas adversárias. Assim foi campeão da Libertadores contra o River Plate, por exemplo.

Dome reconheceu o erro de colar Gerson à linha lateral do campo. Trocou sua posição com Vitinho. E o Flamengo voltou imponente no segundo tempo. Ao seu conhecido estilo: girar a bola, passando sempre pelo eixo chamado Gerson, que dava fluidez à posse. De um lado a outro e com maneira bem agressiva. Vitinho colava à linha lateral, Everton caía ao meio abrindo espaço para Isla. Um Flamengo bem aberto para tentar esgarçar a defesa colorada. Fato que o Internacional teve ainda duas boas chances para chegar ao terceiro gol. O chute rasteiro de Marcos Guilherme da entrada da área – problema insistente deste Flamengo de Dome – no pé da trave de Neneca e Patrick, em contra-ataque, num chute cruzado para fora. Pouco. Sem fôlego, o Internacional instintivamente deu passos atrás e passou a ser empurrado pelo Flamengo a seu campo de defesa. Posse de bola rubro-negra, giro de jogo, aproximação entre os jogadores. A superioridade do time carioca era maior do que a dos gaúchos antes do intervalo. O jogo ficou ao gosto.

Na inversão de bola de um lado a outro, Isla invariavelmente aparecia sozinho pela direita, quando Uendel tentava fechar o centro da área com os zagueiros. E o Flamengo conta com Pedro em fase exuberante. Não só por ser o melhor finalizador do futebol brasileiro. Consegue fazer o pivô, driblar e preparar jogadas de forma ágil. É jogador raro. As duas grandes chances saíram de seus pés. Primeiro ao receber bola de Isla e girar para cima de Zé Gabriel com facilidade. No rebote de Lomba, Filipe Luís apareceu no centro da área para explodir o travessão com o gol aberto. Um lance que demonstrava a superioridade do Flamengo a olhos vistos: o lateral finalizou com calma por já avançar pelo meio como construtor, sem sofrer a pressão de Marcos Guilherme como no primeiro tempo. Vitinho, Everton Ribeiro, Gerson acompanhavam a jogada na área. Em seguida, Pedro aproveitou de novo a caça de Zé Gabriel fora da área. Girou e viu Vitinho entrar. Tocou com suavidade, mas o atacante driblou Lomba e chutou para Heitor salvar o gol. Pedro bateu no rebote e Heitor, de novo, foi salvador. O Inter já não bloqueava o rival como antes. Coudet admitiu que era preciso apenas resistir. Diante da ação de Dome devolveu a sua reação.

Ao fim, Inter mais recuado, sem força física para reagir à imposição rival

Sacou Marcos Guilherme e Abel Hernández e pôs Rodrigo Dourado e D’Alessandro. A sustentação defensiva imaginada não ocorreu. O Flamengo cada vez mais empurrava o líder ao próprio campo. Rondava a área, perdia chances de cabeça com Gerson e Gustavo Henrique. Dome, então, decidiu apostar as últimas fichas diante de um Inter que recuava tanto Edenílson e Patrick a quase formar uma linha defensiva de cinco. Lincoln e Michael nas vagas de Vitinho e Arão. O Flamengo tentava ainda mais esgarçar a defesa adversário e ter maior ocupação na área. O gol seria questão de tempo. Se é que houvesse. E, de fato, houve. Sete minutos de acréscimos depois de oito substituições, motivo de reclamação infundada colorada.

Fla ao fim: Gerson no comando da fluidez, Filipe por dentro e Pedro

Gerson, multihomem, passou a ocupar todos os setores da frente, girar com a bola e também alternar os espaços. E chegou, então, daquelas ironias. O meia saiu da esquerda para o centro da área após tabelar com Filipe Luís. Na entrada, levantou de pé direito para a cabeçada certeira de Everton Ribeiro, em uma noite abaixo, no cantinho de um outra vez imóvel Lomba. 2 a 2. Um resultado mais de acordo com a partida, embora as falhas individuais tenham colaborado para o sucesso colorado e o segundo tempo rubro-negro tenho sido bem mais efetivo. Um Flamengo com 72% de posse de bola, 16 finalizações e incríveis 617 passes trocados contra 244 do rival.* Tudo isso com uma enormidade de desfalques pesados – Diego Alves, Rodrigo Caio, Arrascaeta, Diego, Gabigol e Bruno Henrique. E o time carioca desta vez poderia ir além, ao reclamar da não consulta do VAR em um lance de pênalti, com Pedro empurrado na área. Mas, no fim, teve um adversário à altura.

Não é ao acaso que o Internacional de Coudet lidera o Brasileiro por saldo de gols, embora com a mesma pontuação rubro-negra. Um time que apresentou intensidade para combater e dificultar o Flamengo e seu gosto por imposição. Em parte, teve sucesso. Mas Dome soube reagir à estratégia e se adaptar. Ritmo intenso, boas jogadas, alto nível competitivo. 13 meses após o Flamengo x Santos no Maracanã ação e reação. Estudo mútuo. Mesmo em meio ao calendário insano do futebol brasileiro. Um bico no preconceito contra técnicos estrangeiros. E mais uma amostra do que ocorre quando há busca por novas ideias.

*Números do app SoFa Score

FICHA TÉCNICA
INTERNACIONAL 2X2 FLAMENGO

Local: Beira-Rio
Data: 25 de outubro de 2020
Árbitro: Wilton Pereira Sampaio (GO)
VAR: Elmo Resende Cunha (GO)
Público e renda: portões fechados
Cartões amarelos: Marcelo Lomba, Thiago Galhardo, Rodrigo Moledo, Rodrigo Dourado, Danilo Fernandes (INT) e Thiago Maia, Vitinho, Gustavo Henrique, Natan, Willian Arão (FLA)
Gols: Abel Hernández (INT), aos seis minutos, Pedro (FLA), aos dez minutos, Thiago Galhardo (INT), aos 24 minutos do primeiro tempo e Everton Ribeiro (FLA), aos 49 minutos do segundo tempo

INTERNACIONAL: Marcelo Lomba, Heitor, Zé Gabriel, Rodrigo Moledo e Uendel (Moisés, 38’/2T); Rodrigo Lindoso (Musto, 38’/2T), Edenílson, Patrick, Marcos Guilherme (Rodrigo Dourado, 23’/2T); Thiago Galhardo (William Pottker, 33’/2T) e Abel Hernández (D’Alessandro, 22’/2T)
Técnico: Eduardo Coudet

FLAMENGO: Hugo Neneca, Isla, Natan, Gustavo Henrique e Filipe Luís; Willian Arão (Lincoln, 42’/2T) e Thiago Maia; Everton Ribeiro, Vitinho (Michael, 42’/2T) e Gerson; Pedro (Léo Pereira, 52’/2T)
Técnico: Domènec Torrent

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