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Na derrota do Flamengo, o dilema de Zé Ricardo abre a porta para o oportunismo

Diego Flamengo Vitória 2017

Diego Flamengo Vitória 2017

Há um folclore em torno de Márcio Araújo. A própria menção ao volante no início destas palavras indica isso. Queira ou não caímos numa discussão que é vazia. Márcio Araújo é um jogador limitado tecnicamente e que tem errado com frequência nos jogos. Um fato. Não foi a barração dele que permitiu ao Vitória vencer o Flamengo por 2 a 0 na Ilha do Urubu neste domingo. A insistência de Zé Ricardo com o volante apenas simbolizou a ideia de um jogo mais burocrático em detrimento de alternativas mais técnicas no próprio elenco. Ao tentar fugir desse dilema quase em um ato de desespero, o técnico abriu a porta para o oportunismo.

No início: Arão à frente da defesa

Curioso como em tempos de redes sociais um discurso rapidamente ganha corpo para se apresentar como solução definitiva. No caso, Zé teria cedido às pressões, errou na escalação e, por isso, o Flamengo ficou entregue na Ilha do Urubu. É o contrário. O Flamengo fervilha devido a um acúmulo de atuações questionáveis justamente pelo fato de o técnico insistir em erros diante dos fatos e ignorar visões opostas, como as de torcida e imprensa. Um dos problemas não é a ausência de Márcio Araújo. Mas, sim, a sua presença excessiva, minando resultados e a paciência da arquibancada, pilares essenciais para dar tranquilidade para o desenvolver do trabalho. Zé, talvez tardiamente, percebeu e tentou modificar.

Na coletânea de bons momentos que apresentou no Brasileiro, o Flamengo pareceu se entender melhor no 4-1-4-1, como ocorreu diante de Corinthians e Grêmio. Minutos que indicaram uma saída para Zé Ricardo. Pois ele montou o time assim para enfrentar o Vitória. Com um porém: Arão, que tem a infiltração como ponto forte, virou o volante à frente da defesa em vez de formar um meia no segundo bloco de quatro jogadores. Na ponta, a velocidade e força de Berrío foram trocadas pela habilidade de Geuvânio. Ainda assim, o time claramente funcionou melhor.

Com Diego e Everton Ribeiro pelo meio, a equipe escapou do vício de acionar sempre as pontas para alçar bola na área. Trocava passes mais curtos, girava a bola e jogadores em busca de um espaço para entrar na área do Vitória. Evitava a quantidade abusiva de cruzamentos e lançamentos de outros jogos. Talvez a ausência de Guerrero, lesionado e sempre pronto para fazer o pivô, fosse um dos motivos. Mas o jogo rubro-negro era o de melhor qualidade em algum tempo. Muito mais no chão, consciente, tentando tabelas e passes verticais para furar a defesa baiana. Mas parou na velha ineficiência para definir as jogadas.

Vizeu teve algumas oportunidades. Em uma perdeu o tempo do arremate e bateu rente à trave de Fernando Miguel, que ainda assim espalmou. Em outra, chegou atrasado após boa trama que culminou em cruzamento rasteiro de Everton. O Vitória parecia pronto para pegar um rival no tradicional 4-2-3-1 e ficou um pouco confuso. Diego, por algumas vezes, recuava para o meio e deixava Arão avançar. Flamengo dominante. Ocorre que há sempre o risco do erro individual, ainda mais em um time sob pressão como o rubro-negro. Ao entender melhor o jogo o Vitória passou a pressionar o Flamengo por dentro, tentando vantagem numérica de Neilton e Yago em cima de Arão logo na saída de bola. Não havia espaço para erro. Um passe errado e tudo ruiu.

Mais ofensivo, Arão tentou sair jogando em vez de rebater uma bola dentro da área. A pelota parou nos pés de Yago, que armou o chute e mandou uma bomba no canto de Diego Alves. 1 a 0. Melhor no jogo, o Flamengo tomava um golpe seco no queixo. E logo despertava o oportunismo: talvez se o Márcio Araújo estivesse em campo…

No fim, um Fla ofensivo e confuso

Em outros 16 jogos no Campeonato Brasileiro ele esteve. Mas errou botes, passes e deixou livres adversários decisivos. No encaixar do discurso conveniente o sorriso do canto de boca apontava que um time sem um volante marcador à la anos 90 estaria obviamente fadado ao fracasso. Há no elenco rubro-negro ao menos outras três opções com bom passe e característica mais defensiva do que Arão: Cuellar, Romulo e Ronaldo. Apenas o colombiano jogou como o homem à frente da defesa, no 4-1-4-1, diante do Grêmio. Mas parecia ser tarde demais para corrigir na manhã dominical.

Após nova derrota em minutos diante do Santos e um embate feroz com torcedores no desembarque, o Flamengo se perdeu. Voltou para o segundo tempo confuso, ansioso, sem a calma para girar a bola e tentar retomar as rédeas do jogo que tinham sido tiradas no chute de Yago. O pulsar dos torcedores enfurecidos a poucos metros não mais permitia. A bola queimava e livrar-se dela era solução rápida para diminuir as queixas da arquibancada. O resultado foi o velho festival de cruzamentos. De acordo com o site Footstats foram 41 ao longo de todo o jogo – 28 deles apenas na segunda etapa.

A estratégia de Vitória permaneceu a mesma. Dar o bote na intermediária para aproveitar a vantagem sobre Arão, que avançava mais na ânsia de ajudar o time na derrota. Em uma dessas, a bola quicou, enganou Réver e em lance confuso com Tréllez o pênalti foi marcado. O segundo gol do Vitória, de Neilton, apenas fez ampliar a fúria da arquibancada e deixar o Flamengo ainda mais tonto, já bloqueado pelos lados. Zé passou a empilhar jogadores mais ofensivos, formando o bagunçado 4-2-4 de outros fins de partidas. Paquetá e Diego no meio como autênticos volantes e um bloco de quatro jogadores ofensivos à frente. Muito coração, pouca razão.

O Brasileiro, a 18 pontos de distância, é miragem praticamente impossível. Não só pela tabela, mas pelo futebol apresentado. Não, o Flamengo não foi derrotado por não ter Márcio Araújo. Apenas abriu a porta para tal tipo de falácia oportunista. Ao optar por um esquema que prioriza a maior qualidade, Zé Ricardo tentou resolver seu dilema, abrir mão de antigas convicções, mas sabia que qualquer erro seria fatal. Culpa do ambiente desgastado causado por outras partidas sem resultado e com baixo desempenho. Todas com Márcio Araújo.

FICHA TÉCNICA:
FLAMENGO 0X2 VITÓRIA

Local: Estádio Luso-Brasileiro, a Ilha do Urubu
Data: 06 de agosto de 2017
Horário: 11h
Árbitro: Raphael Claus (SP)
Cartões amarelos: Réver, Diego, Everton e Berrío (FLA) e Wallace e Yago (VIT)
Público e renda: 16.521 pagantes / 18.133 presentes / R$ 1.099.895
Gols: Yago, aos 42 minutos do primeiro tempo e Neilton, aos 20 minutos do segundo tempo

FLAMENGO: Diego Alves; Pará, Rhodolfo, Réver e Trauco; Willian Arão (Lucas Paquetá, 35’/2T); Geuvânio (Berrío, 15’/2T), Diego, Everton Ribeiro e Everton (Vinicius Junior, 26’/2T); Felipe Vizeu
Técnico: Zé Ricardo

VITÓRIA: Fernando Miguel; Caíque Sá, Kanu, Wallace e Geferson; Ramon, Fillipe Soutto, Yago (Patric, 15’/2T), e David (René, 39’/2T); Neilton (Júnior, 27’/2T) e Tréllez
Técnico: Vagner Mancini

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