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Na fé da arquibancada, a mudança do universo rubro-negro

Em pouco mais de dois segundos, o universo de uma geração de torcedores do Flamengo mudou. Do caprichoso pé de Petkovic ao gol de Helton, a bola girou no ar para estufar não só a rede, mas também a alma rubro-negra. Deu ali, em pleno gramado do Maracanã, a prova da mística da camisa 10 a milhares de flamenguistas que não tiveram a sorte de ver Zico, o sinônimo do número dourado da Gávea, atuar na plenitude. Ao seu estilo, de falta, no ângulo. 43 minutos do segundo tempo. Daqueles milagres possíveis apenas diante de uma sinergia entre torcida e time, quase como quem conjura uma oração que apenas os que compartilham da mesma fé conseguiriam entender. A fé da arquibancada. O Maracanã exalava vibrações. Era ali não apenas um templo do futebol, mas, também, da fé. Mesmo a dois minutos do fim e com um gol ainda a anotar, os rubro-negros mantinham a confiança de que o terceiro título consecutivo sobre os vascaínos seria questão de tempo. Baseariam tanta confiança em quê? Em nada que se explique com alguma racionalidade. Apenas sente-se. Assim que Edilson foi derrubado por Fabiano Eller, o mundo da bola prendeu o fôlego.

Algumas mãos se ergueram, trêmulas, na arquibancada, tentando transmitir energia. Outras se juntaram num pedido aos céus. O 27 de maio de 2001 estava mesmo disposto a entrar para a História e mudar o universo dos rubro-negros. Sentia-se no ar. A mística dos grandes dias do futebol era tão palpável que invadiu até mesmo as transmissões esportivas. “São Judas Tadeu acaba de chegar ao Maracanã”, disse, profético, um radialista. Na tv, o locutor decidiu não ignorar a imagem que vira no banco de reservas do Flamengo. O lateral-direito Alessandro, mãos unidas, representava de forma literal a fé unida de campo e arquibancada. “Reza Alessandro”.

E Petkovic bateu a falta. Viajou com a bola a mudança sem volta da História rubro-negra. Diriam os pessimistas que ela passaria por cima da meta vascaína, em um lance que se perderia com o tempo. Teriam certeza os otimistas que ela buscaria o ângulo do goleiro vascaíno para se guardar na rede da História. Em pouco mais de dois segundos, Helton se esticou como pôde, a rede tremulou e a bola descaiu dentro do gol, satisfeita. Petkovic, o camisa 10 da Gávea, europeu sisudo, abriu os braços e, absorvido com a explosão da massa, correu como o mais tresloucado geraldino. Em transe, já próximo à lateral, deixou-se cair no gramado. Estirado. Esgotado. Eternizado. A fé da arquibancada move bolas, dá títulos, elege heróis, permite milagres. E mudou o universo rubro-negro em um de seus mais épicos capítulos.

*Texto escrito para o livro “2001 – Isso Aqui é Flamengo”, de Cláudio Portella e Roberto Assaf

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