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Na libertação de Diego, um Flamengo em comunhão com a massa explode o Maracanã

Diego Flamengo Maracanã Corinthians

(Gilvan de Souza / Flamengo)

Vizeu Vinicius Junior Flamengo Maracanã Corinthians

(Gilvan de Souza / Flamengo)

Seria injusto – até estúpido – indicar a um jogador de futebol que simplesmente ignore e coloque em segundo plano o sonho de jogar uma Copa do Mundo. Pois as fantasias que povoam a mente de qualquer guri que chute uma pelota numa rua, quadra ou campo incluem defender a sua seleção no torneio mais nobre futebol. É natural. É válido. É humano. Seria, portanto, até egoísmo recomendar que Diego deixasse a Seleção Brasileira de lado enquanto Tite, a cada entrevista, acalentava seu sonho. O ritmista. Indicava que, mesmo aos 33 anos e longe do auge, ele poderia realizá-lo. Não pode mais.

É daquelas incoerências que preenchem: Diego parece estar livre. Desfeito o sonho da convocação e sem as amarras necessárias para vivenciá-lo, voltou a jogar o que o Flamengo e sua massa esperam dele. Sob a batuta do camisa 10, 50 mil vozes empurraram o time rubro-negro em mais um daquelas tardes de fábula do Maracanã. 1 a 0, gol do garoto renegado Vizeu. Todos testemunhas da libertação de Diego. A camisa 10, enfim, corre solta pelo gramado. Livre.

Fla no início: jogo em Vinicius, mas forte troca entre a trinca de meias

No processo de libertação é natural que o meia encare momentos com fúria. Que exploda, comande, agite, cobre. Esteja por vezes até acima do tom, pulsante. Estará fora do Fla-Flu, suspenso pelo terceiro cartão amarelo, justamente por isso. Mas era um jogo grande para o Flamengo: desdenhado por enfrentar, supostamente, adversários menos qualificados até então, tinha pela frente o atual campeão brasileiro. Com uma identidade, uma paciência, um jogo que se adapta de forma magistral a estes grandes momentos. Mauricio Barbieri encaixou uma maneira do seu Flamengo jogar. É o 4-1-4-1, com um volante à frente da defesa. Neste caso, Jonas, com Cuellar ainda impedido pela Federação Colombiana.

Mantém pegada e perde no passe. O que exige uma participação maior de Paquetá, um dos três meias, no iniciar do jogo. O interessante é ver como o Flamengo cresce. Como se entende melhor com o passar do jogos e quando têm fôlego em dia. Diego por dentro pela direita e esquerda. Paquetá por dentro, às vezes direita, às vezes esquerda. Quando tem fôlego, executa bem os movimentos e cada um parece entender onde está o companheiro. Vinicius Junior, à esquerda, é prova disso.

Corinthians no início, ainda com Jadson: mais retraído e dominado

17 anos, vendido ao Real Madrid, enorme pressão nas costas. O garoto aos poucos vai encorpando como homem, ganhando músculos explosivos e movimentos mais fatais. Ali pela esquerda ele tinha vigília pela frente. Mas, acreditem, esse camisa 20 rubro-negro é um inferno. O sorriso escancarado cativa, o jeito malemolente de carregar a bola e partir rumo ao adversário levanta arquibancada. O Corinthians de Osmar Loss sabia: deveria marcar bem o garoto, tentar sufocá-lo. Inicialmente, o Corinthians indicou o seu 4-2-4, apenas com Gabriel e Maycon por dentro, Mateus Vital e Pedrinho mais à frente. Rodriguinho e Jadson soltos. Era essa a ideia. Mas logo viu que não seria possível. Elétrico, vibrante, com muita movimentação, o Flamengo tomou o jogo para si. Ditava o ritmo e contralava as ações. No Maracanã manda o preto e o vermelho. Mateus Vital e Pedrinho tiveram de recuar, formando na maior parte do tempo um 4-4-2.

Ainda assim, o Flamengo forçou o jogo pelo lado esquerdo. Mantuan, inseguro, tentava caçar Vinicius de todas as maneiras. Acompanhá-lo e empurrá-lo o mais próximo da linha lateral. Vinicius não deixava ser encontrado. Tentava o centro ou carregava à linha de fundo. Trocava com Diego e Paquetá. Mantuan o acompanhava e deixava um espaço em branco. Exigia, então, que Balbuena deixasse a área para fazer caça no setor vazio. Por ali, derrubou Paquetá e, na cobrança de falta de Diego, o próprio camisa 11 quase abriu o placar com um leve desvio. O Flamengo batia na casa dos 80% de posse de bola. Sim, o Corinthians sabe sofrer. Mas nem tanto. O perigo rondava. Mas, claro, o Flamengo não era perfeito.

Faltava ao time rubro-negro finalizar. Diego recebia a bola, acelerava, lançava Vinicius ou trocava passes com Paquetá. Mas o time arriscava pouco. Tem a característica de aproximar, tocar de pé em pé até ter a chance ideal de arrematar ao gol. Prejudica, claro, o jogo de Henrique Dourado. Foi uma partida ruim do camisa 19. O estilo mais pesado pede apenas o toque final. O time, mais técnico, pede quem saia da área e saiba dialogar com quem se aproxima. Com o bom rendimento da equipe, obviamente que outros dez jogadores não irão se adaptar ao atacante. Inseguro, Dourado falhou quando teve chance. Everton Ribeiro, pela esquerda, avançou e teve espaço para cruzar ao meio da área, de onde o Ceifador, da marca do pênalti, isolou. E fez crescer a tensão da arquibancada.

O Corithians, já sem Jadson, substituído com lesão muscular por Roger, passou a deixar mais o campo defensivo. O camisa 9 prendia mais a bola no ataque. E teve sorte: Jonas levou amarelo infantilmente ao chutar uma bola no adversário e, com isso, diminuiu a pegada na marcação. Hesitante com a possibilidade de ser mal interpretado pelo apito e receber o segundo amarelo, cercava mais do que buscava o contato direto pela roubada de bola. Pelo setor, Rodriguinho apareceu com mais espaço – faltava maior presença de ao menos dois dos três meias rubro-negros para auxiliar Jonas com mais frequência. Por dentro, o time paulista conseguiu dois arremates perigosos. O primeiro ainda com Jadson em campo, que passou rente à trave. O segundo com Gabriel, defendido por Diego Alves. Um intervalo que chegou com 70% de posse rubro-negra.

Ao fim, Flamengo de forma parecida, com Diego chamando a responsabilidade

Dominante, o Flamengo precisava ser mais rompedor. Trabalhar mais pelo centro. Arrematar. Tarefa difícil. O Corinthians tem como ponto positivo o bloqueio justamente pelo meio. Mas o Flamengo tinha Diego. Esqueça o papo de ritmista, de quem enxerga o jogo e, com visão por trás, o cadencia, esperando as peças se encaixarem. Diego foi rompedor. Não foi raro vê-lo no segundo tempo elétrico, mais à esquerda, próximo à área, driblando um, dois, três. Lembrou um pouco o garoto que surgiu no Santos, ágil, suportando trombadas e servindo os companheiros que ultrapassavam pelos lados. Um Diego em fúria. Um Diego livre. O Diego que o Flamengo necessita. Na passada do camisa 10, o Maracanã pulsou. Apoiou o time incondicionalmente, lembrando o período entre 2007 e 2009. Comunhão a olhos vistos entre campo e arquibancada. “Mengo ôôô”. Num tom só.

É, até mesmo para um Corinthians acostumado às grandes massas, um ambiente nada convidativo. Com maior participação de Paquetá no combate por dentro, o Corinthians, já em um 4-2-3-1, reduziu as investidas no ataque. Ao paso que, pela direita, o time paulista exigiu de Pedrinho maior auxílio a Mantuan no combate a Vinicius Junior. Inteligentemente, o Flamengo inverteu a balança. Passou a acionar mais o lado direito. Por ali tinha segurança: Léo Duarte, em partida soberba, antecipava bem em Roger e Mateus Vital, liberando Rodinei para dar aproveitar o espaço deixado por Everton Ribeiro ao buscar o meio. Diego, batuta debaixo do braço, inclinou o jogo ao setor. O Flamengo, embalado, precisava de velocidade que Dourado não permitia. Ao errar um passe em contra-ataque fácil, deu permissão a Barbieri para sacá-lo por Felipe Vizeu.

Ainda que pareça mais pesado do que o ideal, Vizeu tem mais mobilidade do que o Ceifador. Sai da área, tentando ocupar a faixa entre zagueiros e volantes, um tormento para a marcação. Por ali, passou a fazer o pivô e acionar os lados. Fosse Vinicius ou Everton Ribeiro. O Flamengo chegava em bloco no campo ofensivo e também colaborava na marcação, desafogando Jonas, que cresceu. A equipe mostrou maturidade: rodava a bola de um lado a outro até achar espaços, recuando aos zagueiros, já no meio de campo, se necessário fosse. Paciência para superar o jogo mental tão bem executado pelo Corinthians há anos. Diego, raivoso, insistia no jogo por dentro. Foi derrubado por Gabriel e bateu próximo à trave de Walter. Faltava pouco. Faltava a redenção de Diego.

Corinthians ao fim: referência na frente e jogadores ofensivos pelo empate

O gol nem foi dele. Mas a fúria de buscá-lo indicava um meia livre de ideias implesmente para agradar Tite e seus dogmas. Rhodolfo lançou da zaga à lateral esquerda. Diego dominou a bola e não a cadenciou. Dane-se o ritmista. Lembrou o guri de 16 anos do Santos. Moleque como Vinicius Junior. Puxou a bola e arrancou pelo meio, campo livre. Atraiu a atenção para si. Ao ser combatido, não travou a bola. Não girou o corpo. Serviu Paquetá pela direita. A chapada na bola foi bonita, a espalmada de Walter nem tanto. No rebote, Vizeu fez o Maracanã explodir, representar a sinergia da massa, completamente tomada pela sensação de alegria que percorria o Maracanã. Era quase palpável. Flamengo, líder absoluto do Brasileiro, na frente.

O Corinthians tentou suas cartadas com Marquinhos Gabriel e o esforçado Kazim nas vagas de Pedrinho e Gabriel. Jean Lucas substituiu Everton Ribeiro em um fim de jogo nervoso. Faltou bom senso de Anderson Daronco, em mais uma arbitragem incoerente, ao encerrar o jogo antes da conclusão da jogada corintiana na área rubro-negra. Talvez seja premiado com mais um grande jogo na próxima rodada. Mas, no fundo, o atual campeão brasileiro não conseguiu ter o controle de jogo que tanto preza. Foi envolvido por um rival mais organizado e por uma massa pulsante, em plena de lua de mel. Sim, o Flamengo derruba barreiras. Continua líder, supera desconfianças ao bater o Corinthians. Um jogo grande, de candidato a título. A Copa não é mais possível para Diego. Mas foi neste 3 de junho, líder, vibrante, combativo que o camisa 10 encontrou a liberdade para conquistar de vez o mundo…rubro-negro.

FICHA TÉCNICA
FLAMENGO 1X0 CORINTHIANS

Local: Maracanã
Data: 3 de junho de 2018
Árbitro: Anderson Daronco (RS)
Público e renda: 44.075 pagantes / 49.222 presentes / R$ 2.033.277,00
Cartões amarelos: Jonas, Renê e Diego (FLA) e Balbuena (COR)
Gol: Felipe Vizeu (FLA), aos 35 minuto do segundo tempo

FLAMENGO: Diego Alves; Rodinei, Léo Duarte, Rhodolfo e Renê; Jonas; Everton Ribeiro (Jean Lucas, 40’/2T), Lucas Paquetá, Diego e Vinicius Junior (Marlos Moreno, 45’/2T); Henrique Dourado (Felipe Vizeu, 22’/2T)
Técnico: Mauricio Barbieri

CORINTHIANS: Walter; Mantuan, Balbuena, Henrique e Sidcley; Gabriel (Kazim, 39’/2T) e Maycon; Pedrinho (Marquinhos Gabriel, 29’/2T), Jadson (Roger, 32’/1T), Rodriguinho e Mateus Vital
Técnico: Osmar Loss

  • Phelipe Hassum

    Lendo sua análise e assistindo o jogo no estádio dá pra ver claramente como um atacante mais móvel, que sai da área arrastando zagueiro e distribuindo o jogo para os pontas faz diferença nesse esquema do Flamengo. O Vizeu fora de forma e meses sem jogar parecia estar ali faz tempo na posição, sabendo acionar Ribeiro e Vínicius no momento certo. Vai ser quase impossível encaixar outro tipo de jogador mais avançado sem essas características. Uma pena que talvez não tenham mais Guerrero porque é exatamente o jeito que ele rende bem. Dourado vai continuar matando bola na canela, as vezes ganhando algumas de costas mas nem de longe vai ser cômodo jogar nesse time que cada vez cruza menos bolas.

  • Paulo Renan França

    Ótimo texto! Virei fã.