E tudo se resume ao Fla-Flu: clássico reassume protagonismo com estilo ofensivo
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Na primeiro jogo da final, Zé lança antídoto, trava o rival e Fla engole Flu no Maracanã

Everton Flamengo Fla-Flu Maracanã final 2017

Everton Flamengo Fla-Flu Maracanã final 2017

Em sua essência, o Fla-Flu é um clássico espelhado. São os donos das torcidas que levam o colorido à arquibancada do futebol carioca. Um nasceu do outro. Rivais que fizeram seu confronto virar expressão na boca do povo. Tudo é um Fla-Flu. Duas décadas depois do último embate decisivo, a primeira parte do novo duelo foi rubro-negra. Não apenas pelo placar de 1 a 0, gol de Everton. Mas por que Zé Ricardo adaptou o lema da história ao campo. Fla é Flu. Flu é Fla. Para frear o rival e superá-lo, o técnico rubro-negro optou por um antídoto igual ao veneno. Deu certo.

Talvez Abel Braga não esperasse a entrada de Berrío no time rubro-negro. Pois o veloz colombiano estava lá. Flamengo no que parecia ser um 4-1-4-1 como nos outros jogos. Um ledo engano. Ao atacar, o time formava um 4-3-3 ferrenho e veloz. Como o Tricolor em 2017. Que acabou travado com a surpresa. Berrío e Everton acompanhavam Léo e Lucas de perto. Pará e Trauco cuidavam de Wellington e Richarlison. Sim, o time de Zé Ricardo formava um bloco de seis marcadores ao ser atacado. Preocupava-se, primeiro, em defender e com o rival travado avançava seu domínio. O Fluminense não soube o que fazer. Acabou engolido.

Flu no primeiro tempo: engessado

Sem a saída de bola dos laterais para os pontas, cabia à dupla de zaga tricolor, Henrique e Renato Chaves, dar início ao jogo. Wendel e Sornoza estavam isolados no meio. Os defensores utilizaram, muito, dos lançamentos. A bola parava em pés rubro-negros. E voltava de passe em passe. Everton disparava pela esquerda, Berrío pela direita. Velocidade contra um Fluminense tradicionalmente veloz. Antídoto no veneno. Guerrero fazia o pivô. Arão avançava, Romulo mantinha o bom posicionamento mais à esquerda. Márcio Araújo estava bem nas antecipações com Réver. O Fla-Flu era inteiramente rubro-negro no primeiro tempo.

Corria o risco, porém, de o time de Zé Ricardo cair no pecado de partidas anteriores, nas quais teve o domínio, girou a bola, mas não foi incisivo e desperdiçou chances na frente do goleiro rival. Desempenho sem resultado. A entrada de Berrío já diminuía esse conceito. O colombiano mostrou pulmão para acompanhar as investidas de Léo e também aparecer ao lado de Guerrero na frente, o que faltou diante do Atlético-PR, por exemplo. Mas ainda assim o destino deu uma ajuda. Romulo sofreu uma entorse no joelho direito deixou o campo. Mancuello entrou em seu lugar.

Um Flamengo mais agressivo, com passe vertical e possibilidade de finalização diante das bolas ajeitadas de forma magistral por Guerrero, com o peito. No primeiro lance do argentino, Cavalieri se viu obrigado a fazer boa defesa e evitar o gol em chute da entrada da área. O Flamengo pressionava, era melhor. Por isso foi até cruel a ironia de o gol ter saído de uma falha bisonha da defesa tricolor. Lançamento despretensioso de Pará para a área. Renato Chaves furou, Everton aproveitou o vacilo e bateu com categoria, no alto de Cavalieri. 1 a 0.

Fla no primeiro tempo já com Mancuello

Saltava aos olhos. O Fluminense, dono de um ataque envolvente e de muita movimentação, com 55 gols marcados em 2017, estava travado. Verdade, jogava mal. Mas não por opção. Era mérito rubro-negro, que encurralava as melhores jogadas do rival e o pressionava. Sornoza chegou a deixar a intermediária do ataque e aparecer na lateral esquerda para buscar a bola. Era um time sufocado. Queria espaço para se desenvolver. Na tarde de domingo, não tinha. Enquanto isso, via o rival com Everton finalizando pela esquerda, Berrío entrava na área na direita.

Restava ao Fluminense um contra-ataque em desatenção do rival. Aconteceu no fim do primeiro tempo. Com Berrío na frente, Wellington saiu da esquerda para o meio e levou Pará. O rolar de bola achou Léo livre de marcação dentro da área. O lateral cruzou e Rafael Vaz interceptou na primeira área. Fim do primeiro tempo. O Maracanã era muito mais Fla do que Flu. Mas o clássico é espelhado…

No início do segundo tempo, Abel não fez trocas. Mudou o posicionamento de Wellington, da esquerda para a direita, com Richarlison. O camisa 11 ainda buscou mais o meio, alternando com Lucas. Buscava sair da parede de marcação de seis homens do Flamengo. Pelo menos confundi-los. Deu certo por breves 15 minutos. Mas aí importante notar a mudança de característica. O Fluminense veloz, com troca de posições e infiltrações na área não aparecia. Por isso, o time insistiu em cavar faltas ao redor da área para levantar a bola. O time que se caracterizou pelo jogo no chão buscava a saída pelo alto. Também não conseguiu.

Flu no fim: dois centroavantes na área

A chance mais realista foi um chute de Richarlison, de fora da área, que desviou em Rafael Vaz e triscou o travessão de Muralha. Guerrero e Réver indicaram que o jogo aéreo não era o caminho, com tantas rebatidas na defesa. O ânimo tricolor arrefeceu. O Flamengo, antes postado para buscar o contra-ataque, avançou o time, bem agrupado. Mancuello fez as vezes de atacante ao lado de Guerrero. O peruano, esperto, recebeu bola na direita do ataque e bateu cruzado, dando trabalho a Cavalieri no contra-ataque. Abel cansou. Tinha de mudar. O controle do jogo ainda era rubro-negro, embora a posse já repousasse mais tempo em pés tricolores.

De uma vez só, sacou Wellington e Wendel para colocar Marcos Junior e Douglas. Sornoza avançou, tentando ajudar Henrique Dourado, figura quase nula em campo. Zé se viu obrigado a tirar um esgotado Guerrero para entrada do esforçado Damião. 4-2-3-1 ou 4-5-1. Apenas números. A defesa rubro-negra ainda era feita com cinco homens. Abel tirou Richarlison e colocou Pedro ao lado de Ceifador. Dois centroavantes. Um sinal claro. Como não havia espaço pelo chão, uma bola pelo alto poderia resolver o problema tricolor da primeira partida da final. Mas o antídoto era amargo demais ao paladar tricolor. Matheus Sávio e Mancuello quase ampliaram justamente em contra-ataque, com velocidade. Muralha, esquisito, assustou os rubro-negros no último lance, em bola levantada na área. Mas o primeiro Fla-Flu já tinha dono.

Fla já no fim do jogo: ainda veloz

Um Flamengo que leva a vantagem do empate para levantar uma taça após três anos de jejum. Zé manteve o gosto pela posse de bola do time, mas surpreendeu o rival ao apostar em dois pontas agudos e velozes que ocuparam defesa e ataque. Finalizou 18 vezes contra seis tricolores. Um time ajustado ao adversário. Contra um Fluminense veloz e fatal no contra-ataque, um time também veloz ao atacar. Antídoto e veneno. Teve um dos melhores jogos do ano – senão foi o melhor. Na quarta-feira, contra a Universidad Católica, mais uma decisão na temporada. A exigência física será grande.

Problema que Abel não terá para a segunda partida, diante da semana livre. E testar um novo veneno para sair do antídoto de Zé. Ainda com a melhora do segundo tempo, a inversão de posse de bola, foi pouco. O Fluminense não assustou o Flamengo na primeira partida da final. Terá, então, de vencer na segunda partida para se manter vivo. Tarefa difícil diante de uma equipe invicta no Campeonato Carioca e que sofreu três derrotas, todas por um gol, desde outubro. Sim, a decisão do Campeonato Carioca está aberta. Mas, desta vez, dominar foi vencer. E o Flamengo engoliu o Fluminense no Maracanã.

FICHA TÉCNICA
FLUMINENSE 0 X 1 FLAMENGO

Local: Maracanã
Data: 30 de abril de 2017
Horário: 16h
Público: 34.926 pagantes / 40.898 presentes / R$ 1.660.605,00
Árbitro: João Batista Arruda (RJ)
Cartões amarelos: Henrique, Léo e Sornoza (FLU); Márcio Araújo, Trauco e Mancuello (FLA)
Gol: Everton (FLA), aos 33 minutos do primeiro tempo

FLUMINENSE: Diego Cavalieri, Lucas, Renato Chaves, Henrique e Léo; Orejuela, Wendel (Douglas, 27’/2T) e Sornoza; Wellington (Marcos Junior, 28’/2T), Richarlison (Pedro, 36’/2T) e Henrique Dourado
Técnico: Abel Braga

FLAMENGO: Alex Muralha, Pará, Rever, Rafael Vaz e Trauco; Márcio Araújo, Rômulo (Mancuello, 17’/1T) e Willian Arão; Berrío (Matheus Sávio, 41’/2T), Guerrero (Leandro Damião, 33’/2T) e Everton
Técnico: Zé Ricardo

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