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Na reestreia de Julio Cesar, um Flamengo ainda pálido na busca respostas para 2018

Lucas Paquetá Flamengo

(Gilvan de Souza / Flamengo)

Julio Cesar reestreia Flamengo 2018 Carioca

(Gilvan de Souza / Flamengo)

Não é exagero afirmar que o Flamengo em dois meses de temporada já alternou o nível do futebol apresentado e empalideceu. Ainda que tenha vencido o Boavista por um folgado placar de 3 a 0 em Volta Redonda, no jogo que ficará marcado como o retorno do ídolo Julio Cesar, o time não transmite confiança. Parece ter regredido. Abaixo da equipe que se impôs e passou com facilidade pelo combalido Botafogo na semifinal da Taça Guanabara ou até mesmo que bateu o próprio Boavista na final do turno. O Flamengo parece entender que lhe falta algo. Não sabem, porém, apontar o quê.

Ao abandonar o 4-2-3-1 das duas últimas temporadas e efetivar o 4-1-4-1, com apenas um volante, Paulo César Carpegiani pareceu querer realizar em campo a ideia do Flamengo de 1981. Os melhores, tecnicamente, em campo. Não há, obviamente, nenhum Zico, Júnior, Adílio ou Andrade no elenco atual. Mas há, para os padrões sul-americanos, bons valores técnicos. Diego e Everton Ribeiro, por exemplo. Podem mais. Devem mais. Mas não apresentam. No toca-toca lateral, o Flamengo tornou-se um time apático, pouco objetivo.

Fla no início: o 4-1-4-1 com pontas invertidos foi pouco efetivo

A tentativa diante do Boavista foi inverter os pontas. Everton Ribeiro à esquerda, Lucas Paquetá à direita, ainda que eles alternassem por alguns momentos com Diego e Everton, ambos por dentro. Não funcionou. O time toca a bola lateralmente, quase sem objetivo, quase conformado com o pouco espaço dado pelo Boavista, fechado em um 4-4-2 que, por vezes, tornava-se um 4-5-1. Há alternativas para superar retrancas. O passe é uma delas. Everton Ribeiro, contratado por essa qualidade, estava mal tecnicamente. Diego, também. Voltava a prender a bola, a reter o jogo em vez de buscar um passe profundo.

A outra opção é o drible. Mas Everton não tem essa característica. Paquetá, então, se destaca no meio de campo do Flamengo ao tentar somar os dois: drible e passe. Ao tentar rabiscar adversários na frente da área, invariavelmente era derrubado. Com o jogo mais restrito ao camisa 11, o Flamengo tocava, girava a bola, mas de forma inútil. Virar o jogo de um lado para o outro para, enfim, achar uma bola que desmonte a defesa é compreensível. O Flamengo parece não tentar. Talvez até desligado do jogo, de fato só houve boa chance quando Renê, já no fim da primeira etapa, achou Everton dentro da área. Ele chutou de primeira e Rafael fez boa defesa. Foi um primeiro tempo sofrível.

O segundo tempo trouxe um Flamengo mais interessado no jogo. Buscando romper a retranca do Boavista de forma efetiva, sem o toca-toca lateral. Everton Ribeiro achou o xará Everton dentro da área, tal e qual Renê no primeiro tempo. Novo chute, nova defesa de Rafael. O estilo modorrento de jogo rubro-negro prejudica, também, Henrique Dourado. Contratado para ser o homem-gol da equipe, o Ceifador só poderá sê-lo caso esteja em um time que crise chances com maior fartura. Mesmo com suas limitações, o Fluminense de 2017 fez isso com Gustavo Scarpa e Sornoza. O Flamengo com Everton Ribeiro e Diego quase não faz. Parece estar viciado no estilo à la Guerrero: bola alçada para o centroavante dividir com os defensores e servir de pivô a quem chega pelos lados. Henrique Dourado é o definidor. Precisa da última bola, como fez seu primeiro gol, contra o Botafogo.

Verdade que até o atacante estava disperso no jogo. Perdeu chance inacreditável ao, sozinho na frente de Rafael, finalizar com desleixo ao acreditar que estava impedido em lançamento de Everton. Não estava. A arquibancada, impaciente, clamou por Guerrero. Mas o time e a torcida devem entender: Henrique Dourado tem outro estilo. Não adianta ignorá-lo e, ainda assim, cobrar por sua eficiência no arremate. O maior interesse no jogo fez o Flamengo avançar alguns passos na tentativa de empurrar o Boavista ainda mais para o seu campo. A consequência é direta.

Ao fim, um retorno ao esquema com dois volantes, Diego centralizado

Com apenas mu volante e laterais mais seguros, o Flamengo precisa de zagueiros que saibam sair jogando. Rever, por vezes, arrisca-se nessa função. Seu substituto em campo, Rhodolfo disparou pela direita e foi quase à linha de fundo para tabelar com Diego. No cruzamento para o camisa 10, a finalização resvalou na defesa e resultou em escanteio. Na cobrança, o rebote caiu nos pés de Rodinei, que bateu de primeira e a bola, fraca, foi recebida com carinho por Rafael em falha feia. 1 a 0.

O gol deixou o campo mais aberto ao Flamengo. O Boavista em nada lucraria ao manter a postura defensiva ao extremo. Rhodolfo, de novo, se animou. Desta vez pelo lado esquerdo, ele recebeu bola como um lateral e cruzou na cabeça de Everton Ribeiro, na segunda trave. O meia perdeu chance clara de ampliar o placar e lamentou. Acabou substituído por Willian Arão no mesmo instante em que Dourado deu lugar a Vizeu. O time se ajustou ao 4-2-3-1, com Everton e Paquetá nas pontas, Diego centralizado e doi volantes: Cuellar e Arão, mas invertidos em relação ao ano passado. O primeiro mais à direita, o segundo mais à esquerda.

Com o jogo sob controle, o Flamengo passou a rondar a área do Boavista com frequência. Em duas boas cobranças de falta, de Diego e Lucas Paquetá, sacramentou o placar final. Geuvânio ainda entrou na vaga de Everton e foi para o lado direito, deslocando Paquetá à esquerda. O camisa 11 não foi brilhante, mas de novo entregou o que a torcida ao menos espera: dedicação, inteligência no posicionamento e busca pelo drible e o arremate. Encarna, naturalmente, o espírito da arquibancada aliado à necessidade de entender seu papel tático. É o sopro de vitalidade em um Flamengo que vence, mas não convence. Assim como Julio Cesar.

De volta ao gol do Flamengo após pouco mais de 13 anos, o camisa 12 representa uma tentativa de retomada de identidade tão carente no futebol rubro-negro. A emoção na fala aos companheiros no vestiário antes da partida (veja abaixo) arrepiou a torcida. Desde a foto diante dos goleiros da base rubro-negra até o discurso improvisado, Julio Cesar carrega o sentimento de ser Flamengo na alma. Ao menos tentar estender o compromisso do arqueiro até o fim da temporada deveria ser uma das metas a partir desta quinta-feira no Ninho do Urubu.

Em campo, natural que a desconfiança tenha aumentado após o empate frustrante contra o River Plate na estreia da Libertadores. Mas cabe ao Flamengo e seu departamento de futebol buscar alternativas para tornar o time mais competitivo e, principalmente, mais criativo para enfrentar as dificuldades como o ferrolho do Boavista com facilidade. Os três gols nasceram em jogadas de bola parada. O Flamengo teve, de acordo com o Footstats, a posse por 63% do tempo. Mas cruzou 35 bolas na área rival. Reflexo de pouca criatividade de um time com três bons meias – Everton Ribeiro, Diego e Lucas Paquetá. A uma semana de confronto decisivo na Libertadores, contra o Emelec, fora de casa, o Flamengo ainda busca uma maneira de jogar de forma eficiente. Está, ainda, pálido.

FICHA TÉCNICA
BOAVISTA 0X3 FLAMENGO

Local: Estádio Raulino de Oliveira, em Volta Redonda (RJ)
Data: 07 de março de 2018
Horário: 21h45
Árbitro: João Ennio Sobral
Público e renda: 2. 842 pagantes / 3.601 presentes / R$ 67.000,00
Cartões Amarelos: Elivelton (BOA) e Diego e Lucas Paquetá (FLA)
Gols: Rodinei (FLA), aos 18 minutos, e Diego (FLA), aos 35 minutos e Lucas Paquetá (FLA), aos 42 minutos do segundo tempo

BOAVISTA: Rafael; Cassimiro, Gustavo, Elivelton, e Julio Cesar; Willian Maranhão, Douglas Pedroso (Renan Donizete, 34’/2T), Lucas e Tartá; Marquinho (Thiaguinho, 24’/2T) e Felipe Augusto
Técnico: Eduardo Allax

FLAMENGO: Julio Cesar; Rodinei, Rhodolfo, Juan e Renê; Cuellar; Lucas Paquetá, Diego, Everton (Geuvânio, 36’/2T) e Everton Ribeiro (Willian Arão, 30’/2T); Henrique Dourado (Felipe Vizeu, 30’/2T)
Técnico: Paulo César Carpegiani

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