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Na Vila Belmiro, o Flamengo leva a vaga e um problema para resolver no espelho

Diego Santos Vila Belmiro Copa do Brasil Flamengo 2017

Diego Santos Vila Belmiro Copa do Brasil Flamengo 2017

A derrota impactante do Flamengo para o Santos por 4 a 2 na Vila Belmiro poderia ser admitida diante de circunstâncias anormais, um comportamento fora da curva que poderia ser facilmente corrigido com minutos de conversa antes do seguir da temporada. Não é o caso. Houve, no fundo, uma triste reunião de circunstâncias normais do elenco rubro-negro em 2017. Antes de resolver questões táticas e técnicas, o Flamengo tem um problema a resolver com ele próprio: a atitude. É necessário modificá-la, torná-la um norte para o desenrolar de outros processos que compõem o pacote de um time vitorioso. O Flamengo ainda não o é.

Fla no início: 4-2-3-1 tradicional

Simplesmente porque este elenco comandado por Zé Ricardo não demonstra capacidade de dominar as ações de seus passos. Tem uma ideia, um plano de jogo desde o início, mas se deixa levar pelas incertezas e nuances de uma partida irregular em suas emoções. Note bem: o Flamengo foi à Vila Belmiro com uma vantagem de 2 a 0 no placar construída em casa. Não pensou em momento algum em recuar o time, basear seu jogo no contra-ataque. Quis, como sempre, agredir, ter a bola. Ainda que, tecnicamente, o Santos fosse um time capaz de cruzar os bigodes sem espanto.

Pois no 4-2-3-1, com Berrío e Everton pelas pontas, o Flamengo apostaria no velho esquema de eficiência comprovada na maior parte do Brasileiro de 2016. Começou bem, com espaço no meio de campo, bem mais à vontade do que diante de rivais fechados. Havia campo para jogar. Diego, então, achou Berrío nas costas de Jean Mota, uma pintura de passe concluída com extrema categoria pelo colombiano. 1 a 0. Então, a partir dali o Santos deveria fazer quatro gols para se classificar. Parecia improvável. A atitude do Flamengo dizia que não.

Santos no início: lados explorados

Porque por mais que ainda jogasse e deixasse jogar, com uma bela vantagem dada pelo regulamento, este Flamengo de Zé Ricardo vive à mercê de um gatilho para acionar um curto-circuito que já lhe rendeu uma eliminação vexaminosa na primeira fase da Libertadores. Para chegar a esse gatilho, Zé Ricardo contribui seguidamente com atalhos de reconhecida dificuldade técnica. Alex Muralha, Rafael Vaz e Márcio Araújo são exemplos. Como fusíveis que queimam constantemente e comprometem todo um circuito que tem capacidade para ser muito funcional.

Com tanto espaço, o Flamengo, como dito, deixou-se também ser atacado. O Santos chegava de pé em pé, sem cruzamentos. Esticava dois homens nas pontas, com Ricardo Oliveira na área e Lucas Lima mais atrás, em aproximação conjunta com Vecchio. Numa ginga de Bruno Henrique pela esquerda da área, um chute de rara beleza no ângulo esquerdo de Muralha. Golaço.

Fla ao fim: assustado e em curto-circuito

O 1 a 1 no placar indicou que os fusíveis rubro-negros estavam a postos de falhar e comprometer toda a estrutura. O time se acomete de um nervosismo, abre ainda mais espaços e cega diante de erros recorrentes. A bola esticada entre o zagueiro e um volante ou lateral foi fatal diante de Cruzeiro e Palmeiras. Nessa, Lucas Lima viu espaço entre Réver e Márcio Araújo para achar Bruno Henrique. A queda na área, por exatos 71 segundos, foi comprometedora. Mas o quarto árbitro corrigiu Leandro Vuaden a tempo de evitar um pênalti indevido. O Flamengo, no entanto, já era envolvido. Mesmo com espaços, cogitava a possibilidade de eliminação a olhos vistos. Por sorte, o primeiro tempo acabou sem maior prejuízo.

Na volta do vestiário parecia que o time rubro-negro, enfim, tinha dominado as ações. Começou de novo agressivo, no campo santista. Com segundos, a boa jogada de Everton, em ótima fase, deixou Guerrero pronto para vencer Vanderlei pela esquerda. 2 a 1. Seria altamente improvável uma reviravolta para um elenco que vive em circunstâncias normais. Não é o caso deste Flamengo. Há seus fusíveis prontos para ativar o gatilho e destruir o circuito. Rafael Vaz talvez seja o principal. Dotado de uma incompreensível autossuficiência, o zagueiro insiste em ignorar o coletivo e o panorama.

Santos ao fim: todos ao ataque

Em cruzamento rasteiro de Victor Ferraz, o 33 rubro-negro dominou a bola. Bastaria o simples para despachá-la. Ao tentar driblar Copete, cedeu o escanteio. Na cobrança, Lucas Lima colocou na cabeça de Copete, que contou com o apagar de outro fusível na defesa: Alex Muralha. A partir daí, o Flamengo foi engolido pela própria atitude. Tornou-se o time confuso eliminado pelo San Lorenzo. Irritadiço, amedrontado, sem saber tramar qualquer tipo de tabela. O plano de jogo, o domínio das ações simplesmente se esvaiu. Assim, com o Santos em alta voltagem, rondando a área, a virada demorou apenas mais um minuto.

Então o último fusível apagou. Márcio Araújo por duas vezes perdeu dividida pelo alto com Bruno Henrique. A bola sobrou para Copete ajeitar para um Victor Ferraz livre, de chute cheio no fundo da rede de Muralha. Um 3 a 2 que indicava ali não ter como consertar tática ou técnica sem antes retomar a atitude. Zé Ricardo deu fôlego ao time ao trocar Berrío, amarelado, por Rodinei. Desejava respirar, sair nos contra-ataques. Embora tenha equilibrado o jogo, jamais deixou de pensar na possibilidade de ser eliminado. Ainda que faltassem dois gols. Há uma insegurança neste Flamengo, uma falta de confiança clara.

O gol de Copete de cabeça, em nova falha de Muralha, só não encaminhou uma nova hecatombe no Ninho do Urubu por falta de tempo. São 47 jogos na temporada e, pela primeira vez, o time sofreu quatro gols. A vaga na semifinal foi conquistada com o regulamento, é justa, mas novamente a atitude rubro-negra deixou a desejar. É característica forjada com o tempo, em grandes dificuldades, com tomadas de decisão sensatas que seguram o plano inicialmente bem executado. Mais uma vez, a equipe se desmanchou no meio de uma partida decisiva e quase entregou os pontos. Vem antes da tática. Antes da técnica. Uma nova atitude, impedindo que fusíveis comprometam o circuito. O Flamengo tem um problema para resolver no espelho.

FICHA TÉCNICA:
SANTOS 4X2 FLAMENGO

Local: Vila Belmiro
Data: 26 de julho de 2017
Horário: 21h45
Árbitro: Leandro Pedro Vuaden (RS)
Cartões amarelos: Lucas Veríssimo e David Braz (SAN) e Márcio Araújo, Berrío e Guerrero (FLA)
Público e renda: 12.507 pagantes / R$ 525.080,00
Gols: Berrío (FLA), aos nove minutos e Bruno Henrique (SAN), aos 33 minutos do primeiro tempo e Guerrero, aos 45 segundos, Copete (SAN) aos oito minutos, Victor Ferraz (SAN), aos nove minutos e Copete (SAN), aos 48 minutos do segundo tempo.

SANTOS: Vanderlei; Victor Ferraz, Lucas Veríssimo, David Braz e Jean Mota; Yuri (Rafael Longuine, 24’/2T) e Vecchio (Léo Cittadini, 41’/2T); Bruno Henrique, Lucas Lima e Copete; Ricardo Oliveira (Vladimir Hernández, 31’/2T)
Técnico: Levir Culpi

FLAMENGO: Alex Muralha; Pará, Rever, Rafael Vaz e Trauco; Cuellar (Willian Arão, 45’/2T) e Márcio Araújo; Berrío (Rodinei, 15’/2T), Diego e Everton (Gabriel, 34’/2T); Guerrero
Técnico: Zé Ricardo

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