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No clássico carioca, vitória de um Botafogo que entende melhor o que vê no espelho

Igor Rabello Luis Fabiano

Igor Rabello Luis Fabiano

Ter o pleno conhecimento de suas limitações é premissa básica para ser eficiente no futebol. Ainda que um time não possua um conjunto de valores técnicos, pode compensar isso com muita organização e alcançar o resultado. É uma tarefa que o Botafogo não parece esquecer jamais. Uma ideia que o Vasco, empolgado com resultados positivos, por vezes se recusa a abraçar. Tecnicamente, ambos são limitados. Mas os 3 a 1 do Alvinegro sobre os vascaínos, no Estádio Nilton Santos, o Engenhão, explicou bem o porquê de o Botafogo alçar voos tão altos na temporada e o Vasco tropeçar com frequência. Uma das equipes compreende melhor o que enxerga no espelho.

Botafogo no início: 4-4-2 fechado

Talvez até escaldado por resultados ruins quando houve mudanças, o Botafogo dificilmente sai sua fórmula de segurança. Um 4-4-2 extremamente fechado, com Pimpão e Bruno Silva fechando os lados e, sem Camilo ou Montillo, João Paulo fazendo as vezes do homem mais próximo de Roger. Uma consciência da própria limitação. A equipe preza pela transpiração com marcação forte no meio de campo e saída veloz em contra-ataque. Não é um poço de talentos, com facilidade para abafar o adversário. Pelo contrário. Deseja ser atacado para dar a falsa impressão de controle ao rival e, aí, executar o bote fatal. Contra o Vasco bastaram quatro minutos.

Foi o tempo suficiente para Bruno Silva cair pela direita, puxar para o meio e dar um passe, não um cruzamento, na cabeça de Roger, sozinho entre Paulão e Breno. A resvalada não deu chances a Martín Silva. Uma arremate alvinegro, 1 a 0 no placar. Fatal. O Vasco sentiu. Novamente no 4-2-3-1, o time tinha em campo Nenê e Luis Fabiano, assim como ocorreu diante do Avaí. Se contra o lanterna, em São Januário, teve dificuldades, é fácil imaginar como foi o embate diante de um Botafogo organizado e com vantagem tão precoce.

Vasco com o 4-2-3-1: Nenê na ponta

A solução foi explorar bolas alçadas à exaustão por Nenê, de novo como um ponta esquerda, tendo de avançar e fechar o lado quando o time era atacado. Ocorre que o Vasco tinha a bola concedida pelo Botafogo, mas nenhum espaço para penetração ou tabelas. Sem qualidade técnica para um drible ou enfiada de bola para furar os dois blocos de quatro jogadores, buscava sempre os lados, geralmente o esquerdo, para Nenê levantar a bola. Foram 18 cruzamentos só no primeiro tempo. Isso, claro, quando não era desarmado e via o Botafogo subir em bloco ao ataque. Uma falsa impressão de domínio vascaíno. Mesmo com mais finalizações e posse de bola, o perigo de um gol iminente era, na verdade, nenhum.

Pimpão combatia Pikachu bem pelo lado esquerdo da defesa, Bruno Silva trabalhava com ajuda de Arnaldo sobre Nenê. Luis Fabiano, isolado, pouco contribuía. Nem os laterais, Gilberto ou Henrique, achavam espaço para chegar ao fundo. Um Vasco preso e até inocente, acreditando que ter a bola seria suficiente. Não era. É necessário saber o que fazer com ela e enxergar bem o reflexo do espelho. Em uma investida do Botafogo, Paulão derrubou João Paulo na entrada da área. A pancada de Victor Luis pôs 2 a 0 no placar e talvez devolveria o Vasco à realidade. Que nada.

Com o jogo praticamente perdido, o Vasco voltou com uma troca. Pikachu saiu para a entrada do garoto Paulo Vitor, que foi para a esquerda, com Nenê caindo pela direita. Ainda um 4-2-3-1, mas com Douglas mais adiantado, na ânsia de ajudar o ataque e evitar o revés tão grande. Claro que não funcionou. Ter um Vasco afoito, espaçando os setores e flertando com a desorganização era o ambiente ideal do Botafogo para matar a partida. Vá lá que Gilberto, num lance fortuito na entrada da área, tenha acertado a trave de Gatito. Mas Milton Mendes, inquieto, tentou sacar uma surpresa para tentar mudar o panorama. Confundiu ainda mais.

Botafogo ao fim: mesma postura

Henrique deixou a lateral esquerda, ocupada por Gilberto. Madson entrou em campo para assumir o lado direito. Depois de inverter os pontas, inversão de laterais. Não deu nem tempo de testar a eficácia. João Paulo alçou bola na área, Bruno Silva disputou com Paulão e Roger, completamente sozinho, aproveitou o rebote para afundar a rede. 3 a 0. Jair Ventura tirou Rodrigo Lindoso e pôs Montillo em campo. É interessante notar como o Botafogo tem plena convicção em sua postura em campo. Nem com três gols a mais no placar moveu um milímetro em sua organização. João Paulo recuou ao meio, como volante, e Montillo fez seu papel próximo a Roger. O Vasco ainda tinha um bloqueio pela frente.

Vasco ao fim: dupla de atacantes

Milton Mendes acreditava ser possível modificar o panorama. Desfez o 4-2-3-1 com a entrada de Caio Monteiro na vaga de Mateus Vital. Foi ao 4-4-2, com o segundo bloco avançando quase em conjunto para se aproximar de Caio e Luis Fabiano. Mas, na prática, mudou pouco. O Botafogo não é espaçado, não dá brechas. Obriga a um time com menos técnica a se desesperar e alçar bolas de longe. Nenê continuou a fazer esse papel. E, ironia, o gol de honra saiu em uma jogada pelo chão. Luis Fabiano recebeu do camisa 10, derrubou com falta ignorada Igor Rabello e tocou para Caio Monteiro na pequena área fazer. 3 a 1.

Um resultado que escancarou maneiras de como se olhar no espelho. Vitorioso nas partidas em São Januário, o Vasco talvez tenha cometido o mesmo erro do jogo contra o Corinthians. Lançar-se ao ataque por ser uma partida no Rio de Janeiro, como se houvesse obrigação em algum manual do Brasileiro. A briga vascaína é para fugir da degola. Há de ter consciência da limitação e entender que a equação Luis Fabiano e Nenê é difícil de ser resolvida. Não pode ceder um gol de maneira tão fácil, tão rápida, a ponto de interferir na estratégia para a partida. Foram 38 cruzamentos, 16 finalizações e 60% de posse de bola, de acordo com o site Footstats. Apenas um gol. Do outro lado, o Botafogo, consciente de sua limitação, sempre bem fechado, sem ceder vantagem ao rival, teve 15 cruzamentos e seis finalizações. Metade virou gol. Transformar o reflexo do espelho em eficiência. Foi o clássico do Engenhão.

FICHA TÉCNICA:
BOTAFOGO 3X1 VASCO

Local: Estádio Nilton Santos, o Engenhão
Data: 21 de junho de 2017
Horário: 21h
Árbitro: Leandro Pedro Vuaden (RS)
Público e renda: 13.287 pagantes / 15.048 presentes / R$ 363.610,00
Cartões amarelos: Victor Luis, Dudu Cearense, Carli, Roger e João Paulo (BOT) e Breno (VAS)
Gols: Roger (BOT), aos quatro minutos e Victor Luis (BOT), aos 49 minutos do primeiro tempo e Roger (BOT), aos 15 minutos e Caio Monteiro (VAS), aos 39 minutos do segundo tempo

BOTAFOGO: Gatito; Arnaldo, Carli, Igor Rabello e Victor Luis; Bruno Silva (Guilherme, 30’/2T), Rodrigo Lindoso (Montillo, 18’/2T), Matheus Fernandes (Dudu Cearense, 26’/2T) e Rodrigo Pimpão; João Paulo e Roger
Técnico: Jair Ventura

VASCO: Martín Silva; Gilberto, Breno, Paulão e Henrique (Madson, 13’/2T); Jean e Douglas; Yago Pikachu (Paulo VItor / Intervalo), Mateus Vital (Caio Monteiro, 28’/2T) e Nenê; Luis Fabiano
Técnico: Milton Mendes

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