Diego Pimpão Flamengo Botafogo 2017
Mais do que rivalidade, Botafogo e Fla abrem semifinal com duelo de estilos
16 agosto 03:37
Vinicius Junior Lucas Paquetá Flamengo 2017
No brilho de Vinicius Junior, o olhar de Rueda cria nova alternativa para o Flamengo
20 agosto 00:20

No Engenhão, um Botafogo pragmático e um Fla mais consciente com Rueda no empate

Até por se tratar apenas da primeira perna do confronto e de um empate sem gols, não é possível dizer quem saiu verdadeiramente sorridente do Engenhão. Não ter sido vazado em casa dá a vantagem de um empate com gols na partida de volta, no Maracanã, ao Botafogo. Mas, diante das atuações recentes, o Flamengo deixou o Engenhão com boa expectativa para o futuro. Um time mais consciente e técnico que conseguiu evitar a principal arma do rival, o contragolpe. Uma equipe que, sim, já bebeu um pouco da água de seu novo treinador, Reinaldo Rueda.

Botafogo em seu tradicional 4-4-2

A dúvida pairava sobre como seria a escalação do colombiano com tão pouco tempo de casa. Em dois dias, ele optou por um Flamengo com jogadores técnicos no meio. Cuellar como o primeiro volante, iniciando o jogo rubro-negro. À frente, Arão em um bloco de quatro com Berrío, Diego e Everton. Mas o camisa 5 alternava com Cuellar durante a partida. Um recuava, outro avançava. Organização e troca de passes, bem longe da desastrosa atuação contra o Atlético-MG no fim de semana. Se há dúvidas sobre a influência de Rueda, desista. Não há outra explicação para tamanha mudança de postura. Ainda que apenas na conversa.

Refletiu no Botafogo, que não utilizou a tática dos últimos jogos no seu Nilton Santos, com marcação de muita pressão no ataque logo nos minutos iniciais. Sentiu que o Flamengo estava bem postado, trocando passes e evitando ao máximo rifar a bola. Então o Alvinegro foi pragmático. Manteve-se bem fechado, no 4-4-2 de sempre, João Paulo aproximando de Roger e a tentativa de saída rápida de Pimpão e, principalmente, Bruno Silva pelos lados. Na espera de um erro.

Fla à la Rueda: volantes técnicos e que revezam

A dificuldade encontrada foi enfrentar um Flamengo mais consciente. Nos tempos de Zé Ricardo, ao bater de frente com um rival tão bem fechado, as bolas viajariam pelo ar até a área com frequência possibilitando o contra-ataque fulminante do mandante diante da zaga lenta. Desta vez, não. Toque de pé em pé, pacientemente, tentando abrir espaços e buscando bolas enfiadas, mais verticais, principalmente com seus volantes. Até como tentativa de ter a bola, manter o controle e apertar o Botafogo em seu campo e ainda assim não ceder o contra-ataque. Foram dez cruzamentos de cada lado no primeiro tempo, segundo o site Footstats.

O jogo foi bem disputado no meio de campo. Carregava a eletricidade de uma decisão por mata-mata. Diego, em noite ruim, tentava demais e errava na mesma proporção, dribles e passes. Sem Guerrero, Vizeu não conseguia fazer o pivô e o time perdia uma possibilidade no coletivo. O Botafogo entendeu que precisava avançar um pouco, sair da toca e jogar. Teve mais a bola na reta final da primeira etapa, principalmente quando teve um pouco de espaço. Pimpão tentou por vezes a tradicional jogada pela esquerda invertendo para a infiltração de Bruno Silva pela direita. Mas era um domínio momentâneo como fora o rubro-negro: sem criação efetiva de oportunidades de gol. O melhor lance aconteceu em um cruzamento de Rodinei que Gatito soltou e Berrío, no rebote, perdeu chance clara.

A etapa final parecia reservar melhores chances aos times e um deleite maior aos torcedores. O Botafogo avançou casas, posicionou Pimpão e Bruno Silva mais em cima dos laterais rubro-negros Rodinei e Renê. E aí uma ironia. Acabou quase vitimado pelo contra-ataque, sua principal arma. Deu espaço ao Flamengo em suas costas. Na recuperação rápida, o time de Rueda não mais tocava a bola lateralmente, com saída lenta. Busca o jogo mais vertical. Assim, Diego tocou para Everton antes de ser derrubado por Matheus Fernandes. O camisa 22 só foi parado com falta por Rodrigo Lindoso. Em um lance, dois amarelos para os volantes. E Diego cobrou a falta que caprichosamente beijou a trave de Gatito, na melhor chance da partida.

Botafogo ao fim: Guilherme solto na frente

O desenrolar final, sim, mostrou a diferença de ter técnicos há um bom tempo no cargo. Jair entendeu que poderia ter jogadores expulsos e sacou Pimpão, amarelado após entrada desclassificante em Berrío, para e pôr Guilherme. E pôs Gilson na vaga de Matheus Fernandes. Ensaiaria um time mais agudo, com dois atacantes de ofício próximos à área. Rueda, em início de trabalho, optou pelo básico com a lesão de Berrío. Primeiro pôs o contestado Márcio Araújo, adiantou Cuellar, em noite excelente, e empurrou Arão na direita. Depois tirou Everton, em importante papel pela esquerda ao segurar Bruno Silva e Luis Ricardo, e pôs Vinicius Junior. O confronto de ideias seria interessante e talvez proporcionasse um jogo mais ofensivo de parte a parte, aberto. Mas Anderson Daronco decidiu ser protagonista. E acabou com o jogo por si só.

Fla ao fim: Diego mais solto à frente

Provavelmente receoso por ter de amarelar Carli pela segunda vez e gerar uma expulsão apenas de um lado, decidiu por vermelhos diretos após uma disputa de bola trivial entre Muralha e o zagueirão alvinegro no ar. Uma advertência verbal resolveria. Daronco decidiu acabar com o jogo, influenciar a partida seguinte e, consequentemente, o confronto. Com dez de cada lado e a dez minutos do fim não havia muito o que fazer. Rueda sacou Vinicius Junior após breves sete minutos, repôs o gol com Thiago e manteve Vizeu para fechar o lado esquerdo, com Diego  mais à frente, solto. Jair sacou o centroavante Roger para colocar Marcelo na zaga. O jogo morreu, com trocas de passes laterais e sem nenhuma ousadia nos minutos finais.

Um empate sem gols que deixa o Botafogo à vontade para fazer o seu jogo no Maracanã. Mesmo resultado, pênaltis. Se o adversário avançar e o Alvinegro fizer um gol no contragolpe só será eliminado com derrota. Nada, no entanto, que esteja perdido para o Flamengo. Em dois dias, o time mudou de postura com palavras de Rueda. Com uma semana, a tendência é melhorar o entendimento da ideia do técnico colombiano. Da média de quase 30 cruzamentos sob o comando de Zé Ricardo e de um time esfarelado, o Flamengo sobreviveu sem ferimentos no Engenhão. E com apenas 19 cruzamentos. Um número simbólico e que deixa o duelo de estilos aberto e pronto para o segundo capítulo no Maracanã.

FICHA TÉCNICA:
BOTAFOGO 0X0 FLAMENGO

Local: Estádio Nilton Santos, o Engenhão
Data: 16 de agosto de 2017
Horário: 21h45
Árbitro: Anderson Daronco (RS)
Cartões amarelos: Diego (FLA) e Rodrigo Lindoso, Matheus Fernandes, Carli e Rodrigo Pimpão (BOT)
Cartões vermelhos: Alex Muralha (FLA) e Carli (BOT), aos 33 minutos do segundo tempo
Público e renda: 26.575 pagantes / 28.757 presentes /R$ 747.825,00
Gols:

BOTAFOGO: Gatito; Luis Ricardo, Carli, Igor Rabello e Victor Luis; Bruno Silva, Rodrigo Lindoso, Matheus Fernandes (Gilson, 31’/2T) e Rodrigo Pimpão (Guilherme, 21’/2T); João Paulo e Roger (Marcelo, 36’/2T)
Técnico: Jair Ventura

FLAMENGO: Alex Muralha; Rodinei, Rever, Juan e Renê; Cuellar; Berrío (Márcio Araújo, 25’/2T), Willian Arão, Diego e Everton (Vinicius Junior, 29’/2T e Thiago, aos 37’/2T); Felipe Vizeu
Técnico: Reinaldo Rueda

Os comentários estão encerrados.