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No precoce raiar de 2019, Abel manda recados do seu Flamengo

Uribe gols Florida Cup Ajax

(Flamengo / Divulgação)

Vitinho Florida Cup 2019 Ajax Flamengo

(Flamengo / Divulgação)

Nem bem uma semana de trabalho em 2019 e o primeiro jogo, ainda que em caráter amistoso, chegou ao Flamengo. Em um primeiro momento surgiram notícias de que a nova comissão técnica rubro-negra demonstrou contrariedade com a ideia de ter de encarar uma competição de forma tão precoce. Mas o empate em 2 a 2 com o Ajax – vitória nos pênaltis – válido pela Florida Cup, apareceu como uma oportunidade a Abel Braga. Experiente, o técnico não titubeou em mandar recados com ações. Apresentou ideias, esboços de caminhos a seguir.

A começar pela simples revelação da equipe. De cara, a dúvida externa sobre o goleiro parece ter sido sepultada. Diego Alves retomou a vaga com confiança de quem irá vestir a camisa 1 com respaldo integral da área técnica. César deverá mesmo ser a primeira opção no banco de reservas. Em uma primeira amostra, saldo positivo. Diego Alves foi responsável direto pelo empate na partida, disputada pela metade com uma equipe praticamente reserva. Fez ótimas defesas, demonstrou reflexos em dia. E ajudou a dissipar o clima de desconfiança criado após tumulto interno em 2018. Ano novo, vida nova.

Fla no início: Arão à esquerda, Diego à direita e pontas no vaivém incessante

O torcedor que, preocupado, esperava um Abel Braga retranqueiro por confundir o perfil mais verborrágico e imponente com estilo de jogo talvez tenha se surpreendido. O Flamengo de Abel certamente não será defensivo por opção, com todas as peças disponíveis. Em princípio, o técnico manteve o 4-1-4-1 utilizado na maior parte da temporada passada. Mas houve mudanças no posicionamento. Cuellar segue como o primeiro homem à frente da defesa. Diante dele novidades. Willian Arão à esquerda e Diego à direita. O inverso de 2018. Everton Ribeiro e Vitinho nas pontas, com Uribe em franca movimentação à frente. E Abel deu sua pitada na equipe já com poucos minutos de temporada: em vez da farta posse de bola, com passes laterais, pacientes, à espera do rival, saída rápida, com muita velocidade, em busca de finalizar a jogada.

Com a maior parte do time formado por reservas, o Ajax pressionou o Flamengo nos minutos iniciais em Orlando. Apertou a marcação no ataque, mas talvez tenha ficado surpreso com a utilização da velocidade de adversário que vivia seus primeiros momentos na temporada. Toques rápidos, agudos, buscando espetadas com qualidade para o arranque de Uribe ou Vitinho. Houve volume interessante de ataque e agressividade enquanto o Flamengo teve pernas, por cerca de 30 minutos. Ao ser atacado, Uribe tentava pressionar a saída de bola Ajax, com Arão e Diego logo atrás. Nos lados, o recado claro de que Abel vai precisar de opções para manter o fôlego: Everton Ribeiro e Vitinho fechavam espaços pelas laterais, posicionados quase na defesa. Com a retomada de bola, a expectativa é por um passe com qualidade de um deles. Assim saiu o primeiro gol, já de empate. Everton Ribeiro bem atrás, na direita, enxergou Uribe entrando em diagonal pela defesa. O passe de três dedos encheu os olhos e o colombiano mostrou qualidade ao tocar com muita categoria sobre o adiantado – e atrapalhado – Lamprou.

O segundo gol rubro-negro, também de empate, reforçou que a ideia de Abel é explorar ao máximo os lados com jogadores de bom passe e capacidade de arrancada. Vitinho, mais solto fisicamente do que os companheiros, passeou livre algumas vezes pela esquerda. Encontrava espaço para contra-atacar. Foi justamente em um desses avanços próximos à área que ele enxergou Diego livre pelo meio. O chute do camisa 10 não foi tão bom, mas Lamprou colaborou uma vez mais e Uribe, de novo, foi esperto para tocar o rebote para o gol. Um Flamengo com características ofensivas e à espera de Arrascaeta e Gabigol, elevando o sarrafo. Mas nem tudo, claro, foram flores neste pontapé inicial do Flamengo em 2019. O time mostrou dificuldades defensivas conhecidas. Deve-se reconhecer que, em parte, o condicionamento físico foi mais um entrave no confronto. Jogadores geralmente destacados pelo ótimo vigor ao longo de uma temporada, Cuellar e Renê estavam claramente travados, sem mobilidade. Faltava arranque, fundamental para o estilo de ambos. No fim do primeiro tempo, o time acabou mais espaçado talvez pela cobrança do físico. Não havia pernas para recompor o sistema defensivo de forma eficiente. Com buracos, o Ajax soube trabalhar.

Fla ao fim: reservas na defensiva, em busca de resistência

O segundo gol surgiu com tabela de quatro jogadores do time holandês na frente da área. Vitinho e Arão não quebraram o início da jogada, o miolo da defesa bateu cabeça e deixou Labyad livre para tocar para o fundo da rede de Diego Alves. Talvez fruto do desentrosamento dos zagueiros e do novo posicionamento. Willian Arão à esquerda não fez boa partida. Até no posicionamento do corpo, meio torto, parecia fora de sintonia. Natural para quem, em seus melhores momentos, rendeu sempre pela direita. Foi neste setor, aliás, a origem do primeiro gol do Ajax. De forma bem conhecida. Nas costas de Pará, uma ultrapassagem rápida de Cerny, com cruzamento ao meio para Huntelaar, sem acompanhamento de um volante ou zagueiro bater livre para o fundo da rede.

A etapa final trouxe uma enxurada de modificações, com a estreia de Rodrigo Caio na zaga, pelo lado esquerdo, ao lado de Léo Duarte. E o passar de Everton Ribeiro mais ao meio, com Berrío buscando velocidade pela direita. Piris da Motta deu mais força defensiva no lugar de Arão. Porém, o Flamengo foi muito pressionado e manteve estilo mais defensivo, contando com a eficiência de Diego Alves no gol. A vitória nos pênaltis, muito bem cobrados pelos rubro-negros, abre caminho para a disputa do título da competição no sábado, contra o alemão Eintracht Frankfurt. Algo simbólico para um elenco em fase reestruturação e sempre acusado de não ter tanto gosto pela conquista.

Abel soube passar seus recados. Dissipou a névoa sobre o gol, abriu o leque de opções ofensivas com um Uribe mais afiado e as chegadas de Gabigol e Arrascaeta. De quebra, buscou seduzir Diego a permanecer em todo 2019, ainda que como opção importante do elenco. Deu ao camisa 10 a faixa de capitão e um posto de titular, mais à direita, com liberdade para se aproximar da área. Entende que vai precisar rodar o elenco para tornar o Flamengo competitivo em todas as frentes. Há, claro, muitas dúvidas pela frente. Os dados rolam há apenas uma semana. Chegarão novos jogadores, o elenco será formado, diversas opções de time encaixadas. Será necessário dançar ao som de cada partida. Um grupo de qualidade, Abel sabe, ele terá. Mas que foi importante estrear de forma digna em 2019, não há dúvidas. Recados dados.

FICHA TÉCNICA
AJAX (3) 2X2 (4) FLAMENGO

Local: Orlando City Stadium, em Orlando (EUA)
Data: 10 de janeiro de 2019
Horário: 22h (de Brasília)
Árbitro: Estaban Rosano (EUA)
Cartões Amarelos: Piris da Motta e Jean Lucas (FLA)
Gols: Huntelaar (AJAX), aos 15 minutos e Uribe (FLA), aos 18 minutos e Labyad (AJAX), aos 33 minutos e Uribe (FLA), aos 43 minutos do primeiro tempo

FLAMENGO: Diego Alves; Pará (Rodinei / Intervalo), Léo Duarte (Dantas, 17’/2T), Rhodolfo (Rodrigo Caio / Intervalo) e Renê (Trauco / Intervalo); Cuellar (Ronaldo, 17’/2T); Everton Ribeiro (Thiago Santos, 14’/2T e depois Vitor Gabriel, aos 42’/2T), Diego (Jean Lucas / Intervalo), Willian Arão (Piris da Motta / Intervalo) e Vitinho (Berrío / Intervalo); Uribe (Henrique Dourado / Intervalo)
Técnico: Abel Braga

AJAX: Lamprou; Kristensen, Schuurs (Veltman / Intervalo), Magallan e Sinkgraven (Bakker, 32’/2T); Eiting (Jensen, 41’/2T), Gravenberch (De Wit, 13’/2T) e Labyad; David Neres (Ekkelenkamp / 14’/2T), Cerny (Lang, 30’/2T) e Huntelaar (Traoré / Intervalo)
Técnico: Erik Ten Hag

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