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20 abril 01:51
Julio Cesar despedida Flamengo Maracanã
O que faz um ídolo?
22 abril 03:18

No protagonismo do adeus, Julio Cesar garante ao Fla a primeira vitória no Brasileiro

Julio Cesar Flamengo despedida aposentadoria

(Divulgação / Flamengo)

Henrique Dourado gol Flamengo Maracanã América-MG

(Gilvan de Souza / Flamengo)

Em um Maracanã carregado de emoções, a dificuldade de arquibancada e time era manter a concentração. O entorno era pouco convidativo a uma postura estritamente profissional. Placas, gritos, discurso, cantorias e paixão em torno de um ídolo que se preparava para dizer adeus de forma derradeira. Mas a frieza do futebol indicava que ali havia também um jogo com três pontos a conquistar para somar ao longo da procissão de quase oito meses na temporada. Não poderia ser apenas pano de fundo. Não foi. Graças ao ídolo. Talvez todo jogador deseje encerrar a carreira assim: com grande atuação, responsável direto pela vitória, nos braços da torcida. Inesquecível. Julio Cesar conseguiu. Tornou-se o heroi da vitória de 2 a 0 do time sobre o América-MG e apaziguou qualquer tentativa de crise. Jogou por si e pelo Flamengo.

No anúncio da escalação no telão do Maracanã, a própria torcida mostrou estar dividida. Com urros exaltou Julio Cesar, Paquetá e Vinicius Junior. Com vaias, previamente condenou Renê, Arão e Geuvânio. Dividida entre a festa e a cólera do empate com o Santa Fé no meio de semana. Mas era mesmo aquilo: havia um jogo a jogar. Pontos a disputar. E um ídolo a festejar. Sem Diego, lesionado, e Everton Ribeiro, suspenso devido ao episódio com o Vitória, Mauricio Barbieri tirou o time do 4-1-4-1 e voltou ao 4-2-3-1 das últimas temporadas.

Fla no início: Arão mais à frente, Cuellar sobrecarregado e Vinicius como escape

Tinha ali a dupla de volantes, Cuellar e Willian Arão, com Vinicius Junior pela esquerda, Geuvânio à direita, Lucas Paquetá centralizado. Um time rejuvenescido, com mais fôlego para marcar a saída de bola do América-MG e responder o Maracanã lotado. O início foi promissor. Cumprindo a cartilha de visitante, o América-MG alternava entre o 4-2-3-1 e, na maior parte do tempo, o 4-4-2. Defendia-se para entender melhor o que faria o Flamengo. O time rubro-negro saía o jogo com Cuellar pelo centro, Arão disparava ao campo rival para ajudar a pressão sobre os rivais. Geuvânio, elétrico, cumpria bem o vaivém pelo lado direito e mostrava disposição que agradava os torcedores. Paquetá, centralizado, tentava brindar a equipe com o que Diego, camisa 10, pouco tem feito. O passe vertical, buscando os atacantes.

A opção mais constante era Vinicius pela esquerda. Mas o garoto era bem vigiado por Noberto e ao menos mais dois companheiros, muitas vezes Juninho e Aylon. Diante disso, a criatividade rareava. O Flamengo girava a bola e não conseguia criar, de fato, lances de perigo. Acaba invariavelmente recorrendo ao alçar de bolas na área, tão pouco produtivo quanto previsível. Após 20 minutos iniciais, o América-MG entendeu defeitos do time rubro-negro e passou a avançar ao ataque. Sentiu-se confiante. Arão pouco voltava para ajudar e sobrecarregava Cuellar. Mais do que isso: arriscava demais no ataque, tentava apresentar algo diferente como se quisesse responder a arquibancada. Errava passes e lançamentos, ganhando o efeito contrário.

Serginho se movimentava e buscava Aylon, alternando entre as pontas com Luan, e tentava muitas vezes jogar às costas de Rodinei. Era um Flamengo já com dificuldades e que, ironicamente, contribuiu para Julio Cesar começar a brilhar em sua despedida, principalmente em uma bomba de Carlinhos de fora da área após escanteio. A arquibancada observava de canto de olho. Segurava o pique de qualquer vaia certamente por respeito à noite de Julio Cesar. Com dificuldade no coletivo, o Flamengo foi salvo por suas boas individualidades.

América-MG no início: fechado para dificultar investidas do rival

Com o América adiantado, Renê conseguiu bom desarme pela esquerda e achou Vinicius no campo de ataque. O garoto sambou para cima de Messias e mostrou a sua melhor característica: a insistência. É um jogador sem medo do erro. Tenta novamente. Por duas vezes, parou no zagueiro. Na terceira, recolheu a bola para si pela esquerda, ergueu a cabeça e mostrou visão de jogo para achar Henrique Dourado na segunda trave, em um mergulho típico de centroavante. Carrinho no fundo da rede. 1 a 0. Um alívio sobre Julio Cesar e a torcida rubro-negra. No pulsar do Maracanã, o goleiro deve ter lembrado por minutos de momentos-chave da carreira pelo clube. Quando o ensurdecer da arquibancada atordoava o adversário a ponto de fazê-lo esquecer sua estratégia. Por momentos, no explodir de sua gente, o Flamengo retomou as rédeas do jogo. E aproveitou. De novo, com a individualidade. De novo, com Vinicius Junior.

Pois lá foi o garoto vendido ao Real Madrid rabiscando um, dois e disparando rumo ao ataque. A bola caiu em Paquetá que, cabeça em pé e consciente, viu Dourado correr por trás da defesa. O Ceifador arriscou o drible e acabou derrubado por Messias, apesar da dúvida do árbitro. Pênalti confirmado e a técnica quase inexplicável de Dourado fez o goleiro cair de um lado, com a bola do outro. Mais uma vez. 2 a 0. Julio Cesar, aos 38 anos, pulava como um garoto feliz recém-promovido. Em minutos, um céu de brigadeiro em sua estreia.

Ao fim, um Fla mais defensivo, preocupado em não arriscar a vitória

O placar parecia indicar um segundo tempo à vontade, ainda mais festivo, sem grande exigência. Mas o Flamengo, de repente, amansou. Desplugou a energia que emanava da arquibancada e entrou mais lento, quase confortável, no segundo tempo. O time ficou mais espaçado. E o América-MG, com a troca de Luan por Marquinhos, investiu no lado direito. Aproveitar a dificuldade de Renê na marcação, com apoio mais tímido de Vinicius Junior na defesa do que de Geuvânio do outro lado. Arão continuava à frente, deixando Cuellar sobrecarregado e com extrema dificuldade em auxiliar o lado esquerdo. O América aproveitava o espaço. Posicionou-se mais à frente, trabalhou pelos lados. E fez Julio Cesar chamar a noite para si.

Ao fim, América mais ofensivo, apostando na velocidade pelos lados

O camisa 12 passou a colecionar defesas para o delírio da arquibancada. Rafael Moura parou nele, indicava o América-MG perigoso. Barbieri decidiu agir. Após recuar uma vez, efetivou a substituição que diminuiu a criatividade da equipe para segurar o jogo. Vinicius Junior por Jonas. Paquetá foi ao lado esquerdo, Cuellar adiantou com Arão e os pontas. 4-1-4-1. Faltavam ainda quase 20 minutos. Ouviu vaias e gritos de burro. Chamou o América-MG ao jogo abdicando de seu melhor jogador de linha. E completou a estratégia sacanado Geuvânio, aplaudido mais pelo esforço, e Paquetá, esgotado. Pôs Marlos Moreno e Jean Lucas. No fim do jogo, um Flamengo posicionado quase todo em seu campo diante do América-MG no Maracanã. Por linhas tortas, um presente a Julio Cesar.

Veterano e consagrado, o goleiro mostrou reflexos em dia ao executar mais duas belas defesas em chute de Carlinhos e cabeçada de Juninho. Rápido embaixo, presença forte em cima. Encerrou a carreira aclamado por mais de 50 mil pessoas no mesmo Maracanã que o acolheu há 21 anos, no início da estrada. Deixou o Flamengo com a vitória, a liderança provisória. Arrancou lágrimas, aplausos. Será mais um entre tantos milhões, na torcida para que o time se ajuste. Deixou seu legado em campo. Sim, Henrique Dourado fez dois gols. O Flamengo segue com problemas para resolver na sequência da temporada. Deve ajustar a criatividade, a marcação, buscar pelo amadurecimento do jovem técnico . Mas, talvez por tudo isso, o goleiro teve o protagonismo de sua última partida da carreira.

FICHA TÉCNICA
FLAMENGO 2×0 AMÉRICA-MG

Local: Maracanã
Data: 21 de abril de 2018
Horário: 19h
Árbitro: Leandro Bizzio Marinho (SP)
Público e renda: 47.175 pagantes / 52.106 presentes / R$ 1.641.395,00
Cartões Amarelos: Geuvânio (FLA) e Rafael Lima (AME)
Gols: Henrique Dourado (FLA), aos 27 minutos e aos 34 minutos do primeiro tmepo

FLAMENGO: Julio Cesar; Rodinei, Rever, Léo Duarte e Renê; Cuellar e Willian Arão; Geuvânio (Marlos Moreno, 35’/2T), Lucas Paquetá (Jean Lucas, 44’/2T) e Vinicius Junior (Jonas, 27’/2T); Henrique Dourado
Técnico: Mauricio Barbieri

AMÉRICA-MG: Jori; Norberto, Messias, Rafael Lima e Carlinhos; Christian (Leandro Donizete, 32’/2T) e Juninho; Aylon (Capixaba, 38’/2T), Serginho e Luan (Marquinhos / Intervalo); Rafael Moura
Técnico: Enderson Moreira

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